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Orides Fontela, revisitações

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Por Pedro Fernandes Duas décadas depois de sua morte, Orides Fontela parece que saiu do esquecimento que dava sinais de tragá-la. Vivia no limbo. Apesar de muito aceita entre os leitores especializados como foi desde sua estreia, era pouco vista fora da redoma acadêmica. Pareceu que mesmo figuras como Hilda Hilst, para citar outro nome de repercussão nas últimas décadas e poeta acusada de hermetismo, teve maior penetração entre as camadas mais populares de leitores. Essa ressurreição, se pouco serve ao escritor, oferece alguma reparação à obra pela injustiça do silenciamento. Se o hermetismo constitui uma espécie de doença que carcome reconhecimento de obra, num país como o Brasil, de índices de leitura penosos, a simples caracterização do escritor por esse epíteto é um tanto paradoxal: primeiro denuncia nossa crise para o imaginativo e o simbólico, depois, curiosamente, é um elogio de estorvador benéfico com exclusivismos aos do poder. Sim, nossa intelectualidade sempr...

Maya Angelou: a arte de ter razão na autoficção negra

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Por Wagner Silva Gomes Maya Angelou, nos anos 1990. A poeta estadunidense Maya Angelou, conhecida também por sua luta junto à negritude daquele país para obter os direitos civis num mesmo intuito básico, ou seja, que os negros tivessem os mesmos direitos que os brancos, desconstruindo o racismo, atuando em atividades de resistência, ligadas a nomes como Malcolm X, Martin Luther King Jr., Angela Davis, James Baldwin, dentre tantos outros conhecidos e anônimos, em 1969 lançou sua aclamada autobiografia Eu sei por que o pássaro canta na gaiola . O livro tem requintes de autoficção, que é quando se trata fatos da vida real com uma visão imaginativa livre, sem a obrigação de se prender ao acontecido. Com esse título, entre os mais significativos, aliás, ela não poderia ficar presa mesmo, tendo testemunhado e sofrido tantas coisas danosamente inexplicáveis, que traduziu em forma de resistência. Sobre isso ela diz: “O que diferencia uma cidade sulista de outra, ou de uma...

Boletim Letras 360º #350

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Oh, grande e animada semana! Não temos outra coisa a dizer se não convidá-lo para a leitura da edição deste Boletim que reúne todas as novidades que fizeram o mural do blog no Facebook. Finaliza a publicação, as dicas de leitura (que traduzem um parte da beleza da semana), as recomendações de publicações nas fronteiras nossas e alguns revisitas a materiais já publicados por aqui. Não falta nada. Bom e rico final de semana! A edição mais completa de um dos livros mais marcantes sobre o Holocausto ganha tradução no Brasil direta do holandês. Falamos sobre O diário de Anne Frank  em edição com quase mil páginas que a Editora Record.  Segunda-feira, 28 de outubro Caixa reúne três peças da Companhia do Latão Publica-se pela Temporal em edição inédita e especial as peças: Os que ficam , Lugar nenhum  e O pão e a pedra . As obras são de autoria do dramaturgo Sérgio de Carvalho, em colaboração com o grupo teatral Companhia do Latão, e lançam olhar sobre o Br...

A Sra. Stoner fala: uma entrevista com Nancy Gardner Williams

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Por Patricia Reimann John Williams. Arquivo: University of Texas Press / Reprodução Nancy Gardner Williams, viúva de John Williams, vive em um pequeno bangalô em Pueblo, Colorado, próximo ao deserto. Esta cidade perto das Montanhas Rochosas já foi conhecida por sua indústria do aço. Nancy, uma mulher alta que se mantém ereta, é atenta e observadora, amigável embora um tanto reservada. Não é decididamente falante, mas entende-se de imediato que ela e o marido deviam estar bem alinhados. “Nenhum tumulto, nenhuma moda, nenhuma pompa”, como observou Dan Wakefield sobre John Williams. Isto parece valer também para ela. Nancy estudou literatura inglesa na Universidade Denver. Um de seus professores foi John Williams. Entrevistadora: Sra. Williams, você conheceu John em Denver em 1959. Ele foi seu professor. Como era ele? Williams: Ele sempre usava uma echarpe e estava sempre fumando, mesmo enquanto lecionava. Creio que jamais foi dar aulas sem sua echarpe. E era u...