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Mostrando postagens de outubro 16, 2025

Trivialidade e dispersão em Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf

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Por Gabriella Kelmer Virginia Woolf. Foto: Fine Art Images/Heritage Images “Mrs. Dalloway disse que ela mesma iria comprar as flores”, diz o primeiro e ilustre período do mais conhecido romance de Virginia Woolf. A singeleza da sentença, de aparência externa pouco dada à abstração, é constituída pela absoluta trivialidade que nela se inscreve; são os dados aí registrados, entretanto, um sumário consistente de algumas das questões centrais do romance e da personagem que o intitula. Há o casamento, evidenciado pelo pronome de tratamento das senhoras; a iniciativa em assumir a tarefa que se presume de outrem (sendo por isso necessário afirmar que irá “ela mesma”); a expectativa da beleza a que se recorre na ação de comprar flores; a absoluta cotidianidade do tema e, portanto, da mulher a ele associada.  Tudo isso retorna sistematicamente ao longo da narrativa, expandindo-se a abertura inicial para lados muitas vezes imprevisíveis. Está esse início inteiramente afinado, no entanto, a a...