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Sobre o ser sozinho e sobre ler Clarice Lispector

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Por Rafael Kafka O aniversário de Clarice Lispector foi dia 10 de dezembro. Somente hoje consigo me sentar no computador para começar um texto sobre ela. Os motivos do atraso são dois: a falta de inspiração e a falta de tema. Por algum motivo desconhecido, ando sem ideias quentes para pôr no papel, fato esse que me preocupa demais, mesmo que dure apenas uns poucos dias. Para que o leitor tenha uma noção do problema, eu estava sem tema até agora há pouco. Tudo se resolveu somente quando uma frase veio a minha cabeça: “existem diversas vantagens em estar sozinho”. Todos os leitores atentos da obra de Clarice sabem que seus personagens são verdadeiros amantes da solidão. Por mais que ela os incomode, eles dedicam-se em seus muitos momentos sozinhos a sentir e a entender por meio de seus pensamentos fragmentados o que ocorre com eles e ao seu redor. Os romances de Clarice Lispector quebram a lógica narrativa descrita como romanesca por Walter Benjamin para explorarem ao máximo...

Madrugada suja, de Miguel Sousa Tavares

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  Por Pedro Fernandes Pela leva de títulos editados no Brasil e pela recepção grandiosa de sua obra – há títulos incluídos no rol dos mais vendidos – o escritor português Miguel Sousa Tavares é o tipo de figura que dispensa apresentações mais bem elaboradas. Antes de Madrugada suja , que é seu último trabalho editado por aqui, a Companhia das Letras colocou em mãos dos leitores brasileiros pelo menos outros cinco títulos: Equador , o mais conhecido de todos, motivo de seriado para TV e seriado também exibido por aqui, Rio das flores , No teu deserto , além dos infantis Ismael e Chopin e O segredo do rio . Madrugada suja está longe de ser um texto capaz de incutir alguma revolução estética no interior do campo da linguagem e desconfio que o interesse de Miguel Sousa tenha aí seu lugar; tenho mesmo a sensação que o que prevalece na obra do escritor português é sua capacidade de inventar histórias, constituindo-se, portanto, na escassa figura de um sujeito fabulador, li...

A Papoila e o Monge, de José Tolentino Mendonça (Parte I)

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    Por Pedro Belo Clara O poeta português José Tolentino de Mendonça. O livro que hoje lhe apresento, caro leitor, é o mais recente trabalho publicado por este proeminente autor português. Lançado ao público somente no passado mês de Novembro, encerra em si uma inovação notável, deveras significativa até, no que à obra deste autor diz respeito. Em suma, o livro reúne seis volumes distintos onde o autor apresenta uma enorme diversidade de haikus – uma face que, até agora, havia permanecido desconhecida. A ser verdade, quase que se adivinharia a intenção do autor em reunir todos os livros que criou sob as leis desta específica forma poética e publicá-los, juntos, sob uma só epígrafe. Contudo, não terá sido bem o caso. O que instigou, então, o poeta a publicar um livro somente de haikus? Um género no qual nunca antes se havia aventurado? A explicação surge na introdução da obra, escrita pela mão do próprio autor: “este livro deve tanto a Jack Kerouac como ...

Boletim Letras 360º #43

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Anualmente, fazemos nossas indicações de títulos bons para presentear os amigos neste fim de ano. Porque, afinal, não há presente melhor do que um livro. Este ano, a lista de dicas começará a ser publicada em nosso Instagram. E, por falar em presentes, devemos ou não devemos fazer uma promoção de Natal? Responda a essa pergunta abaixo nos comentários, dizendo “sim” ou “não” e o porquê. A depender da demanda de respostas poderemos continuar numa brincadeira que dará alguns títulos interessantes aos leitores. Segunda-feira, 09/12 >>> Brasil: Nélida Piñon é a vencedora do Prêmio Cátedra Enrique Iglesias, em Washington É o primeiro ano do prêmio que passa a ser atribuído pelo Centro de Cultura do Banco Internacional de Desenvolvimento com o objetivo de afirmar a cultura como componente essencial para o desenvolvimento mundial. O prêmio passará a ser anual e distinguirá os melhores talentos da América Latina e Caribe cuja excepcional contribuição para a cultura e o des...

Crônica de um leitor de O jogo da amarelinha (7)

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Por Juan Cruz Ruíz Julio Cortázar e Juan Carlos Onetti Agora se estabelece o tempo como um melro ou como um corvo sobre O jogo da amarelinha e alguns dizem, os que são como corvos, que se passou o arroz, enquanto que os que são como melros  (ou os que somos como melros) atraímos a este tempo para que siga sendo o som da primeira vez que este livro começou a dizer-nos o que nos parecia que queríamos escutar. Imprimiu-se certo dia como este ano em Buenos Aires há meio século; outros livros saíram então e antes; surpreende que seja o de Julio Cortázar precisamente aquele que recebe mais verificações de pesquisa, como se o livro mesmo fosse responsável de sua velhice, ou como se sua velhice fosse um acidente capital e não um mérito ou uma circunstância que se acrescenta ao feito mesmo para que ele continue existindo. Enfim. O certo é que desse livro já se falou tanto, e se seguirá falando tanto, que nem sequer o eco que merece se escuta sem diminuir, como se O jogo da a...

A nova poesia feminina potiguar

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A poesia feminina potiguar tem revelado, ao longo da sua história, grandes vozes líricas, dignas dos mais altos elogios e louvores. Como exemplo, poderíamos citar Auta de Souza, Palmyra Wanderley, Zila Mamede, Diva Cunha, Marize Castro, Carmen Vasconcelos, e mais recentemente, Anchella Monte e Ada Lima. Eis que surge Leocy Saraiva com seu livro   Cantos e Espantos  e mais uma  prova excelente dessa tradição tão forte e arraigada em nossa terra. O título foi publicado em 2010 pela Editora Sol e revela o exercício de uma poetisa em amadurecimento, porém realizada, com plenitude e segurança.  Leocy Saraiva pratica a palavra meticulosamente, visando à medida certa da expressão, nada se perde em seus versos, claros e ricos em imagens e sugestões poéticas. No livro nada é disperso; a essencialidade parece ser a fidelidade em procurar a melhor linguagem e a interação exata entre a ideia e a forma, a limpidez da palavra para expressar o conteúdo poético do...