Por Pedro Belo Clara Afresco de uma jovem nomeada Safo. Pompeia, 55-79 d. C. Se passares por Creta 1 vem ao templo sagrado, onde mais grato é o pomar de macieiras e do altar sobe um perfume de incenso. Aqui, onde a sombra é a das rosas, no meio dos ramos escorre a água, e no rumor das folhas vem o sono. Aqui, no prado onde todas as flores da primavera abrem e os cavalos pastam, a brisa traz um aroma de mel. … Vem, Cípris 2 , a fronte cingida, e nas taças de oiro voluptuosamente entorna o claro vinho e a alegria. *** E de súbito a madrugada de sandálias de oiro. *** No ramo alto, alta no ramo mais alto, a maçã vermelha ali ficou esquecida. Esquecida? Não, em vão tentaram colhê-la. *** Vésper 3 , tu juntas tudo quanto dispersa a luminosa aurora, trazes a ovelha, trazes a cabra, só à mãe não trazes a filha. *** Desejo e ardo. *** ...
Ilustração: T. Hanuka O sexo sempre esteve presente na literatura, embora nem sempre de maneira explícita. Há escritores que mergulharam em sua própria sexualidade como se a arte pudesse ser campo para um exercício psicanalítico e findaram por revelar a partir dessa intimidade o lado mais escuro sobre. Esta lista apresenta um conjunto de livros nos quais os escritores se desnudam, livros que dispensam o pudor para narrar cenas de elevado tom. Christine Angot, até o presente uma romancista francesa quase desconhecida no Brasil embora tenha sido autora de um livro chamado Pourquoi le Brésil ?, tem sido lida como uma das principais figuras que se filiam à tradição da qual faz parte nomes como o de Anaïs Nin. Em 1999, ela publica L’Inceste , a obra pela qual sempre tem sido lembrada, por se tratar de uma narrativa que recupera a relação incestuosa entre um pai e uma filha. Les Petits , outra obra sua, já inicia com uma felação sob o chuveiro que termina numa penetração anal an...
Por Raúl Rojas Ilustração de Diego Rivera para Popol Vuh . Os maias foram a única cultura na América indígena que chegou a ter um sistema de escrita avançado. Tão desenvolvido, de fato, que lhes permitiu esculpir seus mitos e lendas em estelas de pedra, capturá-los em cerâmica ou murais, ou registrá-los em livros feitos de finas folhas de casca de árvore, os chamados códices. Poucos exemplares dessa incipiente literatura mesoamericana sobreviveram à destruição na fogueira, produto do fanatismo religioso dos clérigos espanhóis. No entanto, o Popol Vuh , a narrativa sagrada dos maias quiché, pode ser salva do esquecimento. Antes da conquista, as lendas maias eram transmitidas principalmente oralmente, algumas das quais com séculos de existência. Após a conquista, talvez em 1550, o Popol Vuh foi preservado usando o alfabeto latino. Aparentemente os autores da transcrição eram nobres maias da área cultural quiché, onde hoje fica Santa Cruz, na Guatemala. Popol Vuh sig...
Por Pedro Belo Clara Rabindranath Tagore. Foto: Curatorial Assistance Inc. / E.O. Hoppé Estate Collection O PRIMEIRO BEIJO O céu ficou silencioso e de olhos baixos, Os pássaros calaram todos os seus cantos; O vento emudeceu; a música das águas acabou De repente; o murmúrio da floresta Morreu lentamente no coração da floresta. Na margem deserta do rio tranquilo, Nas sombras do anoitecer desceu silenciosamente O horizonte sobre a terra muda. Nesse momento no silencioso e solitário alpendre Beijámo-nos pela primeira vez. Nesse momento exacto, ao longe e perto Repicaram os sinos e soaram os búzios Nos templos dos deuses apelando ao culto. Um estremecimento percorreu o infinito mundo das estrelas E os nossos olhos encheram-se de lágrimas. INTERMINÁVEL AMOR Parece-me que te amei de inúmeras maneiras, inúmeras vezes, Na vida após vida, em eras após eras eternamente. O meu coração enfeitiçado fez e voltou a fazer o colar das canções Que tomaste como uma pre...
Marte e Vênus. Carlo Saraceni [Diotima*] Eis, com efeito, em que consiste o ceder corretamente nos caminhos do amor ou por outro se deixar conduzir: em começar o que aqui é belo e, em vista daquele belo, subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que de nada mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é belo. Nesse ponto da vida, meu caro, Sócrates, se é que em outro mais, poderia o homem viver, a contemplar o próprio belo. Se algum dia o vires, não é como ouro ou como roupa que ele te parecerá ser, ou como os belos jovens adolescentes, a cuja vista ficas agora aturdido e disposto, tu como outros muitos, contanto que vejam seus amados e sempre estejam com eles, a nem comer nem beber, se de algum modo fosse possível, mas a só contemplar e estar ao seu lado. Que pensamos então que ...
Por Afonso Junior Epiteto. Retrato imaginado. Oxford, 1715. Recentemente, a série Adolescência tornou-se um sucesso global por trazer à tona vários problemas relativos à nova configuração entre crescimento, redes sociais e violência: por um lado, os pais não têm tempo ou interesse nos filhos, por outro, a machosfera está pronta para radicalizar os meninos, vulneráveis nessa época em que precisariam ainda de apoio, mas estão sozinhos; outros pais se preocuparam em dar todo o conforto material, mas não são capazes de ouvir seus problemas. A paranoia de que as mulheres odeiam os homens acaba “exigindo” ação perversa — mais ou menos, guardadas as proporções, como o povo judeu foi descrito pela ideologia dos anos 1930 como perigoso. Aquilo que os adultos teriam a ensinar foi substituído pelo ensino das telas — com seu iminente fanatismo e preconceito. Os antigos tinham até mesmo um deus, Janus, de duas faces, deus dos portais, para observar essa transição — Carl Jung deu atenção ao mito do...
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