Ilustrações macabras para a Divina Comédia, de Dante Alighieri
Há muito que a Divina
Comédia, de Dante Alighieri tem servido à imaginação visual dos artistas
plásticos; como o trabalho feito para outras obras literárias, ganhou destaque
desde sempre, os desenhos detalhistas de Gustave Doré, o mestre, sem dúvidas,
na arte de ilustrar. Entre os que penetraram os nove círculos do inferno de
Dante está o nome do surrealista Salvador Dalí, arte sobre a qual tivemos privilégio de apresentar e comentar nesta mesma coluna outro dia.
O trabalho de Dalí certamente está no rol das curiosidades artístico-literárias,
mas haverão outros de igual valor, como este que apresentamos agora: em 1901,
Vittorio Alinari, então chefe da mais antiga empresa de fotografia do mundo,
teve a ideia de publicar uma nova edição ilustrada do livro de Dante.
Para divulgar a ideia,
Alinari anunciou a realização de um concurso para artistas italianos:
cada um que quisesse concorrer haveria de enviar ilustrações de pelo menos dois
cantos do poema épico; o vencedor assinaria contrato para a conclusão da
empreitada mais exposição dos desenhos. Entre os concorrentes estavam nomes
como os de Alberto Zardo, Armando Spadini, Ernesto Bellandi e Alberto Martini.
O último nome foi o vencedor da competição; Vittorio Sgarbi
quem escreveu o prefácio para aquela edição assinalou que o artista italiano
havia nascido para ilustrar a Divina
Comédia. Além das ilustrações para o concurso, Martini produziu outros dois
conjuntos de imagens, entre 1922 e 1944, totalizando quase trezentos trabalhos
compostos a partir de uma gama de estilos, desde desenhos comuns de lápis e
tinta a aquarelas. Entre os trabalhos, está ainda um conjunto de ilustrações –
seguindo o mesmo estilo macabro – para contos de Edgar Allan Poe e poemas de
Rainer Maria Rilke, produção que lhe valeu um dos poucos prêmios conquistados
pela sua arte.
Com forte fascinação pelo grotesco e o macabro o trabalho de
Martini foi um tanto influenciado pelo movimento do norte italiano conhecido
como maneirismo, um precursor do surrealismo; tanto que o artista era um dos
nomes favoritos de André Breton, mesmo que a crítica não estivesse nem um pouco
interessada nos experimentalismos seus.
As imagens que compôs para o épico de Dante estão preenchidas
com um sentido original de fantasia e consegue expor à superfície do olhar do
leitor os sentidos produzidos pelo texto literário. Reunimos um conjunto delas no nosso Tumblr, aqui.
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