Julio Ramón Ribeyro: um homem com cigarro apagado

Por Javie Goñi


Assim o recordo. Um homem com um cigarro apagado. De face magra. Ou absorvendo – com raiva, com convicção, tanto faz – o fumo de seu cigarro. Então, era permitido fumar nas livrarias; fumava-se em todos os lugares. Fumava-se. A equipe da TVE – até princípios dos anos oitenta, não havia outra televisão –, abundantemente. Abundantemente como se fosse o Real Madri em estado de graça; duas pessoas por posto: o câmera e o seu ajudante; a câmera de cinema num tripé – então se gravava com câmera de cinema; o chispas se encarregava do foco para os três, devidamente bem colocados. Em certas ocasiões, se era em casa onde se gravava, podiam soltar os pombos; o encarregado do som, às vezes com ajudante, para que se preparasse, para que aprendesse, para que fizesse número; o diretor, ah, o diretor com veemências de D. W. Griffith ou de Cecil B. DeMille, com calça esporte e camiseta sem mangas: diretor ou ajudante de diretor, este também com veemências; o da produção; e o assessor contratado, o mais fraco da cadeia de produção da TVE, Prado del Rey, se queres escrever para mim já sabes meu paradeiro: o assessor, este o acima ou o abaixo signatário não o vi, nesta altura da redação do texto onde vai a fé de vida de alguém. O assessor, alguém, o único que sabia dessa manhã de primavera de 1983, em Madri, na livraria Antonio Machado, da rua Fernando VI, quem era o homem moreno, magro, magérrimo: digamos, frágil, e fiquemos por isso.

Um homem frágil, que encadeava um cigarro após outro, esperando: sabe-se que não gostava muito de entrevistas e menos – apertava a face, absorvia, absorvia e jogava com raiva, com decisão, a fumaça do cigarro – as de televisão; aquela, com toda a parafernália da TVE de então, a única. Talvez nessa espera de corredor da morte, ele, o homem com cigarro apagado, o assessor, o acima-abaixo contratante, a parte mais frágil da cadeia de produção, e a editora, a mítica editora, Beatriz de Moura, a mulher mais atraente do universo editorial espanhol; talvez, nesse momento, vendo-os traquinar para os da TVE, Beatriz de Moura contou que, na primavera de 1983, uma equipe de TVE havia estado – ou ia estar: me parece ser preciso ver no Google de quando é O amante – em Paris, na casa de Marguerite Duras, a empregada doméstica de Enrique Vila-Matas, como todo mundo sabe; um minúsculo apartamento, o de Duras, e no vai-e-vem da grande equipe da TVE se fez em pedaços um valioso jarro, se não chinês, vietnamita, pel’O amante, pela Cochinchina francesa; valioso, digo, pelos desconsoladas aias de Duras, espanholas, mondieu.

Contava Beatriz de Moura, nessa manhã de primavera de 1983, que havia ocorrido ou que ia ocorrer, e aquele homem frágil, frágil, magro, chupava seu cigarro, ele tão vizinho como Duras de Paris, e assentia, escutava; e este assessor, enquanto repassava/assentia, repassava/escutava suas perguntas. Doze no total, aqui está a cartilha para ambas as caras. A máquina (de escrever: uma Lettera 33). Doze perguntas. A primeira: “Se não havia surpreendido aquela nevasca em Munique, no início de 1956, haveria acabado sendo romancista do mesmo jeito? ”. O homem frágil que apagou o cigarro, pela enésima vez, contesta: soprou para o foco, é preciso voltar e começar tudo de novo. O ajudante de direção, Griffith, B. DeMille, grita ação – perto na Plaza de Alonso Martínez uma revoada de pombos se espanta como se fossem gaivotas com o cheiro do mar – e a coisa segue. E, por fim, a última pergunta: “Se aquele imperador chinês, de que fala em Prosas apátridas havia destruído de verdade o alfabeto e todas as pegadas da escrita, que você havia feito, como justificaria sua vida?”

Você, Julio Ramón Ribeyro, o grande escritor peruano (1929-1994), um dos melhores autores de contos contemporâneos em língua espanhola. Como deixou escrito, em seu momento, outro peruano ilustre e amigo deste, Alfredo Bryce Echenique, “Julio Ramón Ribeyro pode ser facilmente considerado como nosso Borges ou nosso Rulfo, isto é, um mestre da arte de narrar e até um escritor francamente genial”.

Julio Ramón Ribeiro. Em 1975: quase 40 anos, vários livros publicados em editoras peruanas de curto alcance ou de acidentada divulgação; mãos descuidadas mudavam ali em seu país, mãe-madrasta, seus títulos. Um desconhecido na Pátria Mãe. Havia estado em Madri com magra bolsa, pensão, cigarros e apenas algo para comer no início dos anos cinquenta; como no final da década viveria outro ilustre compatriota seu, com ambições e interesse de triunfo, enquanto antes ganharia uma modesta pensão de um tal Menéndez Pelayo e num bar de esquina escreveria seu primeiro romance – este é Mario Vargas Llosa. O outro continua sendo Julio Ramón Ribeyro. Espíritos ideológicos não conseguiram nunca acabar a relação de amizade que durou muito tempo. Eram amigos: Julio Ramón, Vargas Llosa e Bryce Echenique. Mas “foi, sem dúvida alguma, pela idade e pela qualidade literária, o escritor mais injustamente excluído daquele festim da literatura que chamaram de boom da narrativa latino-americana” – deixou escrito sobre Ribero seu amigo Alfredo Bryce Echenique.



Em 1975, digo, em Espanha, nos almejados e míticos “Cadernos marginais” da Tusquets, apareceram como uma raridade – há muitas raridades nessas publicações, marginais ou ínfimas, algumas douradas, outras prateadas, de ambas busco há muito títulos que me faltam – suas Prosas apátridas, um livrinho que carrega um esclarecedor e informativo – desconhecíamos quase tudo dele – do então prestigiado professor peruano, ligado a uma ou a várias universidades estadunidenses, José Miguel Oviedo.  Para este, estas Prosas eram “um autorretrato espiritual”, uma sorte de caixa onde cabia tudo:

“Tantos livros, meu Deus, e tão pouco tempo e, por vezes, tão pouca vontade de os ler! A minha própria biblioteca, que só recebia um volume depois de previamente lido e digerido, vai-se infestando de livros parasitas, que ali chegam muitas vezes não se sabe como e que, através de um fenômeno de magnetização e de aglutinação, contribuem para cimentar a montanha do ilegível; e, entre esses livros, perdidos, encontram-se os que eu escrevi. Não digo em cem anos, mas em dez, vinte, o que restará de tudo isto?” E algumas linhas abaixo, “Entrar numa livraria é pavoroso e paralisante para qualquer escritor, é como que a antecâmara do esquecimento: nos seus nichos de madeira, os livros já se preparam para dormir o seu sono perpétuo, muitas vezes antes de terem vivido”.

Antecâmara do esquecimento, sim, mas as livrarias, nichos de madeira? Temo que as máquinas de escavar destes tempos, destes costumes, removem periodicamente esses nichos – frágeis – de maneira e jogam, em aterros de esquecimento, essa vala comum, livros e livros, nomes e nomes, autores e autores, sonhos e sonhos. Julio Ramón Ribeyro, sim, e outros que temos agora. Em 1975 – eu já era leitor –, sim, e unicamente de suas Prosas apátridas. Mas então já havia publicado em Lima, em meados dos anos cinquenta, um livro de contos, Urubus sem penas; logo viriam outros livros do gênero – para ele o conto era um gênero maior – e romances: o primeiro, Crônica de São Gabriel,  que escreve em Munique, isolado pela neve na casa de uma família de trabalhadores que o acolheu; três meses depois, quando acabou, havia deixado de nevar, aparecia a primavera; outro é, Os elfos de domingo, um romance limeño – quero dizer um romance de noites, boemias, cigarros, álcool, sonhos.

Mas estes livros, todos, tiveram um triste e acidentado pesar, ou estar, não chegavam a todos os leitores. Ribeyro havia deixado Lima no começo dos anos cinquenta e teve um errático percurso pela Europa. Em Madri, como já disse, em Bruxelas, Munique – sem saber nada de alemão –, Paris, onde chegou-lhe o amor. Depois de quase uma década, a dos anos cinquenta, vivendo muito mal na Europa, com trabalhos esporádicos que só davam para o essencial (cigarros e os demais, nessa ordem) decide que é hora de regressar ao Peru, ver o que se passava com sua vida e com seus livros.  O regresso nunca soluciona nada e ele não se estabeleceu, por mais que tenha provado (outros) mil trabalhos.

Desorientado em sua própria terra, recorda que uma vez na Antuérpia havia acertado com uma amiga belga diante da Notre Dame, com dia e hora – 22 de novembro de 1960 às seis da tarde. Nada mais e nada menos. Assim que decide cumprir e embarca para a Europa. Como quem colhe circunstâncias.  

As mulheres em Julio Ramón Ribeyro. Escreve em Prosa apátridas: “Conhecer o corpo de uma mulher é uma tarefa tão lenta e tão louvável como aprender uma língua morta. A cada noite que passa, acrescenta-se um novo território ao nosso prazer e uma nova palavra ao nosso já considerável vocabulário. Mas haverá sempre mistério por desvendar. O corpo de uma mulher, todo o corpo humano, é por definição infinito. Começa-se por ter acesso à mão, esse apêndice utilitário e instrumental do corpo, sempre à mostra, sempre disposto a entregar-se a quem quer que seja, que lida com todo o tipo de objetos e adquiriu, à força da sociabilidade, um carácter quase impessoal e anódino, como se fosse o funcionário ou o porteiro do palácio humano. Mas é o que se conhece em primeiro lugar: cada dedo vai-se individualizando, adquirindo um estatuto familiar, e depois cada unha, cada veia, cada ruga, cada imperceptível sinal. Além disso, não é só a mão que conhece a mão: também os lábios conhecem a mão e lhe emprestam um sabor, um odor, uma consistência, uma temperatura, um grau de suavidade e aspereza, uma comestibilidade. Há mãos que se devoram como a asa de um pássaro; outras acostam-se na garganta como um eterno cadafalso. E que dizer do braço, do ombro, do seio, da coxa, do...? Apollinaire fala das sete Portas do corpo de uma mulher. Apreciação arbitrária. O corpo de uma mulher não tem portas, como o mar”.

As mulheres, em Ribeyro. Aquela circunstância diante de Notre Dame, pela qual regressa a Europa. Chega a Paris, alguém pode contar, mas melhor que seja ele: Chego à cidade e na hora convencionada e, coisa estranha, a mulher está ali. Passamos uma temporada maravilhosa, mas logo ela desaparece. Inteiro-me mais tarde que regressou a Antuérpia para casar-se com um joalheiro israelita”.

Outra vez o avesso em sua vida. Paris, com chuva ou sem chuva, mas sem um franco para dormir, comer e comprar cigarros, é dura, nada de cité de la lumière. Vargas Llosa, o amigo, arranja-lhe um posto de tradutor na Agência France-Presse: ao fim de sua vida, leu Ramón Chao, um escritor e jornalista espanhol que viveu muitos anos em Paris e que agora é o pai de Manu Chao, embora tenha sido durante muito tempo Ramón Chao, um galego bem relacionado com os escritores latino-americanos e com a cultura francesa. Ribeyro tentou cobrar sem sucesso seu salário e é que a burocracia da agência conservava num velho legado administrativo uma nota inquisitorial de uso francês: “Os deveres do jornalista são incompatíveis com a leitura de horas no escritório de Em busca do tempo perdido”.   

Ainda assim, ou por isso, por ler Proust e pela interseção de Vargas Llosa ficou definitivamente em Paris. E em Paris continuou nos anos sessenta escrevendo seus livros que iam aparecendo em seu país, com os da década anterior, livros com pequenas tiragens, alguns com prejudiciais erratas nos títulos. Já o recordava o professor José Miguel Oviedo no texto citado que acompanhava a edição espanhola de Prosas Apátridas: em 1964 publicou em Lima um par de livros de contos. Um se intitulava As garrafas e os homens embora o impressor que tenha preferido que fosse Os homens e as garrafas (e não seria de estranhar que as duas formas tenham aparecido durante algum tempo nas bibliografias). O outro se intitulava Três histórias sublevantes, um adjetivo que ia muito bem ao texto, pois no dizer de Oviedo não havia página marcada a fogo por uma mas várias erratas; teve que esperar muito tempo até que nova edição restaurasse o texto original, convenientemente podado de erratas e desatinos.

Na minha opinião de leitor entusiasta de Julio Ramón Ribeyro – e este texto me serviu para ocasião de reler muitas coisas suas, contos, folhear seus romances, conhecer algo mais de seu teatro, passear pelos seus diários – um dos seus melhores contos é “A juventude na outra margem” que deu título a um livro contos aparecidos, uma vez mais, em Lima por aqueles anos e que, como cabe imaginar apareceu ali como “A juventude no outro rio”.

Afortunadamente, com este título real, com a margem, apareceu na primavera de 1983, a primeira antologia de contos de Ribeyro que era publicada na Espanha. Foi editada pela esquecida Bibliotheca del Fenice que então levava para a – também esquecida – editorial Argos Vergara essa ave fênix com as plumas vazadas pelo chumbo da (boa ou má) vida que foi, por aqueles anos, Carlos Barral. Foi, A juventude na outra margem, o primeiro título de Ribeyro que desembarcou em março de 1983. Logo, em abril, se publicaria seu romance rural – o único que escreveu, ele sempre quis ser romancista urbano, limenho –, Crônica de São Gabriel e, em maio, Os elfos de domingo, um romance que recriava seus anos de estudante, boêmios – cigarros, álcool, cafés, amigos, namoradas, pensões, livros, sonhos –, e que quando se publicou vinte anos antes em Lima constituiu um verdadeiro escândalo (com erratas, claro). Estes dois romances foram editados pela Tusquets e o segundo, como não podia ser outra forma com esse título, cai esvoaçando, nos dias de julho, calorosos e madrilenos, um bilhetinho de (editora) apaixonada, uma nota manuscrita de Beatriz de Moura (Tusquets Editores, S.A., Iradier, 24, teléf. 2474170, Barcelona-17), e com sua letra estas palavras: “com atraso (por haver introduzido mudanças do autor nas provas), mas por fim chega a tuas mãos, segundo alguns, o melhor livro de Julio Ramón... Um abraço, Beatriz”.

Fora, sim, aqueles três livros, um de contos – 22 selecionados por ele dentre uma centena que então havia escrito, escreveria todavia alguns mais nos dez anos ainda que lhe restavam ainda de vida – e os dois romances, os três daquela primavera de 1983, os que nos fizeram ser – a alguns, a muitos talvez: é, sim, insisto um dos grandes contistas latino-americanos num continente que anda marcado por excelentes autores do gênero – nos fizeram ser, digo, ribeyristas para sempre. Aquela primavera de 1983 veio a Madri apresentar seus livros e foi quando unicamente o vi e o entrevistei para a TVE como já contei. Dez anos depois, entre o 30 de junho e o 3 de julho de 1994, o Ateneu Americano da Casa da América organizou, moderado por seu grande amigo Algredo Bryce Echenique, uma “Semana em torno de Julio Ramón Ribeyro”, na qual participaram amigos e admiradores espanhóis e peruanos.

Ele já estava então em Lima, com novos amigos, com uma namorada nova (gostava das mulheres: teve toda a vida uma, sua viúva literária, com a qual teve um filho, uma viúva que apascenta a obra de seu marido e veta, por agora, os diários de seus últimos anos, por serem demasiadamente íntimos ou próximos, ou talvez, infiéis?). Ele já estava aí, de volta ao seu país, despedindo-se – a má saúde, as cirurgias, os cânceres, as cicatrizes ocupam muitas linhas em sua cronologia vital – da literatura, da vida, de Lima, que havia lhe tratado como havia lhe tratado (regressou ao Peru dos anos noventa, o da violência de Sendero Luminoso: há por aí um texto quase póstumo em que apresenta um livro entre amigos numa livraria e estouram, fora, bombas que não tinham nada de celebração, nem de fogos de artifício, embora soem igual).

Julio Ramón Ribeyro morreu em dezembro desse mesmo ano de 1994 (havia nascido em 1929). Antes, tão só alguns meses, em seu último verão, do terraço da sua casa limenha de onde se via o mar pacífico encolerizar-se com ondas iam romper na praia, a que via de sua janela. Antes, Ribeyro escreveu um conto excepcional “Surf”, excepcional por sua qualidade e também por seu sabor salgado de despedida, escrito testamentário. Esse conto, verdadeiramente intenso, emotivo, em que um escritor, ele, embora se chame Bernardo, luta com as últimas forças, com a vida que escapa, por preencher, uma vez mais, e outra, e outra (talvez a última vez), uma folha em branco e de frente, abaixo, entre as ondas do colérico mar pacífico vê os jovens nas ondas, surfando.  

Não conhecia esta conto e me emocionei vivamente, neste verão de cólera de sol, pois me recordei uma pequeno romance, onde os rapazes pegam ondas e cortejam suas namoradas: essa pequena obra-mestra que é Os cachorros, de Mario Vargas Llosa, esse livro que me marcou tanto num verão como aquele, o dos vinte anos, mas essa é outra história que não vem ao caso, e esta a de minha paixão por Julio Ramón Ribeyro (sua dedicatória em A juventude na outra margem: “Para Javier, com simpatia de Julio Ramón, Madri 83”: tive melhor dedicatórias, mas essa com o livro não troco por nada); esta história, esta paixão, tem que concluir.



Assim que enumeramos. Os livros citados, inencontráveis. Mas se há sorte, muito interessante, por ser muito completa e ter sido selecionado seus textos pelo próprio autor: Antologia pessoal (1994). Mais tarde editaram seus contos completos numa coleção que o tempo já amarelou. A edição mais completa (recolhe vários contos nunca publicados em livro e inclui essa joia quase póstuma que é “Surf”) é a que se intitula (como a edição peruana em vários tomos) A palavra do mudo. Saiu em 2010 e conta com mais de mil páginas; há dez anos, com prólogos de Ramón Chao, do romancista colombiano Santigo Gamboa, foi publicado parte de seu diário pessoal – a que cobre os anos de 1950 a 1978 com o título fabuloso de A tentação do fracasso.

E não queria terminar – agora de verdade – sem citar outra pequena joia publicada pela Menoscuarto, a que abre uma pequena coleção,  “Entretanto”; editada em 2009 com mais de setenta páginas e alguns dos melhores contos do escritor peruano – se eu fosse recomendar além dos três textos do gênero: um, o já citado “A juventude na outra margem”; o segundo, “Silvio no roseiral”; o terceiro, “Surf”, claro: chama-se Só para fumantes. Aí está um texto muito divertido, terno em algumas passagens, autobiográfico e um perverso e genial apelo sobre o fumo e seus benefícios.  

E como ainda Julio Ramón Ribeyro sempre tinha presente, embora seus livros estivessem no nicho da biblioteca de alguém, não queria deixar de citar um livro excelente, um magnífico relato jornalístico-biográfico, o livro cuja leitura me fez recordar o escritor peruano: Um homem frágil. Retrato de Julio Ramón Ribeyro, do jornalista peruano Daniel Titinger. É uma magnífica reportagem-entrevista em torno do escritor, realizada de forma itinerante, entre Paris e Lima onde pode encontrar-se muito de Ribeyro. É interessante a conversa que mantém com a jornalista Alida, a viúva, em sua casa em Paris; “Alida conheceu Julio Ramón Ribeyro. Casaram-se. Tiveram um filho. Não foram felizes, se diz. Quando seu esposo morreu, Alida de Ribeyro se converteu em feroz paradigma da viúva literária: uma mulher disposta a cortar o pescoço de quem pretende tocar no legado de seu marido”.

São linhas que não maltratam seu testemunho, muito rico em detalhes. É um livro absolutamente recomendável que cheira, em todas suas páginas, a cigarro aceso, a Julio Ramón Ribeyro. Isso foi: um homem com cigarro apagado.

* Esta é a tradução livre de "Julio Ramón Ribeyro: un hombre a un cigarrillo pegado" publicado em Lecturas sumergidas. 

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

Cinco coisas que você precisa saber sobre Cem anos de solidão

Dalton Trevisan

Boletim Letras 360º #603

Boletim Letras 360º #613

Boletim Letras 360º #604

Seis poemas de Rabindranath Tagore