Boletim Letras 360º #644

DO EDITOR
 
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Thomas Mann.  Foto: Thea Goldmann





LANÇAMENTOS
 
Chega o primeiro volume da tetralogia José e seus irmãos, obra-prima de Thomas Mann que, inspirada num breve episódio bíblico do Livro dos livros, ocupa posição singular na literatura do século XX.
 
Através das centenas de páginas da tetralogia José e seus irmãos, vemos o espraiar de uma jubilosa festa da narrativa, conforme enfatiza o “prelúdio” às “Histórias de Jacó”, abertura dos quatro livros — a serem publicados em três volumes pela Companhia das Letras — que acompanhariam Thomas Mann durante os longos anos de exílio. Expandindo o relato do livro de Gênesis, Mann criou uma das maravilhas da literatura moderna, um romance de formação ambientado na Palestina bíblica e no Egito faraônico. Refletindo em suas profundezas simbólicas a ascensão do fascismo, assim como as forças de uma humanidade encarnada na figura do herói que, ao emergir do poço ao qual foi lançado por seus irmãos, ascende à condição de “provedor” de todo um reino. Com a luminosa história de José, o autor de “A montanha mágica” buscou, em suas próprias palavras, tirar religião e mitologia “das mãos do fascismo” e amoldá-las à esfera humana. Com a consagrada tradução de Agenor Soares de Moura, este primeiro volume de José e seus irmãos reúne os livros As histórias de Jacó e O jovem José com notas de Reginaldo Gomes de Araújo, posfácio de Irmela von der Lühe e organização de Marcus Vinicius Mazzari. Você pode comprar o livro aqui.
 
Como nas melhores comédias italianas, Os Sorrentinos mistura o riso com o choro, o destino de uma família com o de um país, a vida bem vivida com a mais valiosa das heranças.
 
Há pouco mais de um século, uma família deixou Sorrento, na Itália, rumo a Mar del Plata, Argentina, onde abriu um hotel e, depois, uma trattoria à beira-mar. Poderia ser apenas mais uma entre tantas famílias de imigrantes, mas essa teve um papel singular na cultura local: criou os sorrentinos — uma massa que hoje é presença garantida nas mesas de todo o país. A trattoria passou de geração em geração até chegar a Chiche, o irmão caçula — um homem excêntrico e encantador, apaixonado por cinema, porcelanas europeias e boas conversas. Com uma sensibilidade afiada e um humor irresistível, Chiche transformava acontecimentos banais em histórias memoráveis, daquelas contadas por anos nos almoços em família. A partir de memórias e fragmentos de histórias familiares, Virginia Higa compõe um romance delicado e cheio de vida. Em Os Sorrentinos, ela nos apresenta personagens de aparência simples, mas marcados por amores eternos, solidões profundas, mortes, traições, músicas, previsões de videntes e o desejo por terras distantes — todos unidos pelo idioma afetivo de um clã inquebrantável. Tradução de Sílvia Ornelas; publicação da Autêntica Contemporânea. Você pode comprar o livro aqui.
 
O mais recente livro do autor de Edouard Louis aborda sua relação com seu irmão mais velho, morto precocemente aos 38 anos.
 
Fruto do primeiro casamento de sua mãe, o irmão de Louis é o mais velho dos cinco filhos. Logo nas primeiras linhas deste romance, que é considerado um dos mais sombrios do autor, o narrador afirma não ter sentido nada ao saber da morte do irmão. “Aprender a conhecer meu irmão era aprender a odiá-lo”, diz, a determinada altura. É tomando essa distância ― física e afetiva ― que o narrador esmiúça a existência de seu irmão, entrevistando pessoas próximas de seu convívio, como uma professora e algumas ex-companheiras, e relembrando momentos decisivos da relação fraternal. Para reconstruir esse personagem, o narrador se vale das ciências sociais, da literatura, da psicologia e da memória, resultando em um romance único e inesquecível, de força e sensibilidade inigualáveis. O desabamento sai pela Todavia; a tradução é de Marilia Scalzo. Você pode comprar o livro aqui.
 
Sigrid Nunez visita os Woolf através de uma sagui.
 
Em uma quinta-feira de julho, 1934, Leonard e Virginia Woolf dirigiram até Cambridge para visitar Victor e Barbara Rothschild e conheceram a sagui que Victor comprara em uma loja de quinquilharias. Foi amor à primeira vista: ela se apaixonou por Leonard, que acabou ganhando­-a de presente. Mitz viveu com os Woolf em Londres e Sussex, desenvolveu relacionamentos especiais com os cocker spaniels da família e os vários amigos de Virginia e Leonard, entre eles T.S. Eliot e E. M. Forster, e até de­sempenhou um papel vital ajudando-os a escapar de uma situação difícil com os nazistas pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Sigrid Nunez pesquisou diários, cartas e as memórias dos Woolf e, com uma boa dose de ficção, reconstruiu a vida de Mitz em Bloomsbury já em seus anos de crepúsculo. O resultado é este romance afetuoso e cheio de humor que dá ao leitor uma visão impressionante de vidas sombreadas pela guerra, pela morte, por problemas mentais, mas também pela alegria e produtividade que a pequena criatura inspirou. Tradução de Carla Fortino. Mitz: a sagui que não teve medo de Virginia Woolf sai pela editora Instante. Você pode comprar o livro aqui.
 
Ricardo Terto reedita um dos seus principais livros com textos inéditos e revistos.
 
Após o sucesso da edição de 2017, a coletânea de crônicas Marmitas frias, que marcou a estreia do autor nas publicações e se tornou um cult, volta a navegar pelos “intervalos” da vida entre o trabalho precarizado, a periferia e as andanças pela cidade de São Paulo. Nessas viagens, o narrador-autor, que se descreve como um “nerdão, lerdão de briga, bicho acuado”, mostra uma perspectiva crua e bem-humorada do cotidiano e das experiências humanas. Das brincadeiras da infância à porção de frango a passarinho dividida com um amigo no happy hour, nada escapa à escrita mordaz de Terto. Abordando temas como trabalho, desigualdade social, passagem do tempo e relações em diferentes espaços — casa, periferia, faculdade, centro da cidade — e coberto pelo manto da ironia e do humor que nos faz sobrepassar o sofrimento, Terto explora aspectos que se confundem com sua própria trajetória, desde os múltiplos empregos na área de telemarketing até a entrada no “minúsculo universo da Comunicação & Artes da classe média de São Paulo”. O autor discute a raiva como uma força motriz e de sobrevivência, e a indignação como uma parte de sua personalidade que se apresenta desde a infância. Com um estilo autêntico e sem “firula”, Marmitas frias: e requentadas é um convite a mastigar as histórias com força, com a promessa de que “a sutileza virá no arroto”. Publicação da editora Fósforo. Você pode comprar o livro aqui.
 
Aline Bei volta a explorar temas como maternidade e infância.
 
Numa humilde casa de portão laranja em Belva, vivem avó e neta. Enquanto Laura vai à escola, brinca com as amigas e pouco a pouco se despede da infância, Margarida lê mãos numa feira de antiguidades para prover o sustento da família. A avó se devota por completo ao cuidado da menina, elo mais forte com sua filha, com quem não tem contato. Da mesma forma, Laura entrega a Margarida o amor desmedido de uma criança. O universo particular das duas, porém, se quebra com a chegada de Filipa, bisavó de Laura e mãe de Margarida. A idosa, que perdera o lugar onde morava, logo se apodera dos pequenos cômodos com suas caixas e amarguras. A mudança na rotina provoca transformações imediatas. Laura se vê sozinha, sem a atenção de quem mais ama, além de ter que se habituar à estranha presença da bisavó. Margarida, por sua vez, passa a se dedicar integralmente aos cuidados da mãe. Sobrecarregada com o aumento das tarefas domésticas, ela encontra em Camilo, um amigo da feira, a ajuda de que precisava para seguir atendendo seus clientes. Em Uma delicada coleção de ausência, Aline Bei observa as mulheres em detalhes: os corpos jovens e envelhecidos, os desejos primitivos, as frustrações geracionais, o trabalho de cuidado, as incontáveis violências às quais são submetidas. Ao mesmo tempo, como não poderia deixar de ser, a autora investiga a determinação inabalável feminina, os afetos que salvam e a força para romper com sofrimentos que parecem não ter fim. Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Eva Baltasar nos faz pensar sobre amadurecimento, liberdade feminina, laços familiares e solidão.
 
Coberta por um permafrost ― é assim que se enxerga a narradora deste livro, uma mulher cínica e com tendências suicidas, interessada apenas em arte e sexo. Obrigada a conviver com a mãe controladora e a irmã irritantemente otimista, ela mantém sua proteção ao mundo numa camada de gelo que ora derrete, ora racha, mas que em geral se mantém dura e fria. Com a linguagem concisa e poética característica de Eva Baltasar, temos aqui uma narrativa que nos faz pensar sobre amadurecimento, liberdade feminina, laços familiares e solidão. Com tradução de be rgb, Permafrost sai pela editora Dublinense. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Nova edição revista de Guerra em surdina, romance de Boris Schnaiderman.
 
Mestre de gerações de pesquisadores e tradutores de literatura russa no Brasil, Boris Schnaiderman, na juventude, tomou parte ativa na campanha da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial, lutando na Itália contra as forças do nazifascismo. O relato dessa experiência que o marcaria pelo resto da vida está em Guerra em surdina, publicado pela primeira vez em 1964. Combinando narração em primeira e terceira pessoa, passagens de diário e fluxos de consciência, este livro incomum detalha como poucos a crise de valores provocada num indivíduo pela chamada “névoa da guerra”. Ao mesmo tempo, conta com objetividade o percurso do primeiro escalão da FEB, desde seu desembarque em Nápoles em 1944 até a euforia da vitória no norte da Itália no ano seguinte. As hierarquias do exército, o convívio com os norte-americanos, o desamparo da população italiana, os abismos de classe, de raça, de gênero e, sobretudo, o estado de ânimo dos pracinhas — seja no início da campanha, seja em momentos cruciais da guerra, como na árdua tomada de Monte Castelo —, tudo isso é descrito por um olhar sensível e questionador. Esta edição incorpora a última revisão feita em vida pelo autor e traz fotos inéditas da guerra, de sua coleção pessoal, e um posfácio da psicanalista e cineasta Miriam Chnaiderman, que comenta o processo de escrita de Guerra em surdina enquanto faz um retrato lúcido e afetuoso do homem e do intelectual Boris Schnaiderman. Publicação da Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Os novos da Cosac Edições. A casa abre a linha editorial dedicada a cinema, artes cênicas e fotografia com dois livros: um estudo de Alvaro Machado dedicado ao escritor Tulio Carella, um argentino que percorreu a baixa cena na América Latina; e outro de Donny Correia dedicado ao cinema de Walter Hugo Khouri.
 
Dostoiévski por Joseph Frank. A Edusp reimprime o esgotado primeiro volume da monumental biografia do escritor russo. As sementes da revolta 1821 a 1849 dão contas dos primeiros anos da vida familiar do autor, sua educação escolar religiosa, o dilema entre a vocação literária e a carreira militar, a escrita dos primeiros contos e novelas e seu ingresso nos círculos literários de São Petersburgo.
 
E, por falar em biografia. Sai pela Editora BEC a biografia de Jens Peter Jacobsen escrita pelo crítico e escritor dinamarquês radicado nos Estados Unidos Morten Høi Jensen. A tradução é de Mariana Donner da Costa. Jacobsen, o autor de, entre outros, Niels Lyhne, tem sido resgatado pela casa.   

DICAS DE LEITURA
 
1. Tarás Bulba, de Nikolai Gógol (Trad. Nivaldo dos Santos, Editora 34, 176p.) Uma novela que revisita um dos interesses que dominou outros nomes da literatura russa, como Púchkin, Tolstói e Bábel: os cossacos. Aqui narra-se os sangrentos conflitos entre esses ucranianos e poloneses no século XVI. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Três novelas femininas, de Stefan Zweig (Trad. Adriana Lisboa e Raquel Abi-Sâmara, Zahar, 176p.) Uma amostra da rica habilidade do escritor austríaco com a arte de contar histórias: os abismos do amor, um amor às avessas e história dos impulsos femininos sem tabus. Você pode comprar o livro aqui
 
3. A extraordinária Zona Norte, de Alberto Mussa (Todavia, 232p.) Situado na Zona Norte do Rio de Janeiro de 1974, a narrativa deste romance policial é o desaparecimento do detetive Antenor Baeta em 1966. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
A Companhia das Letras realiza desde há três anos uma campanha para promoção e divulgação da literatura brasileira produzida atualmente. Em 2025, entre as ações da casa editorial, está o envio por e-mail de um conto diariamente. A iniciativa começa no dia 23 e segue até o dia 30 de junho. Entre os escritores selecionados estão Paulo Henriques Britto, Morgana Kretzmann, Natércia Pontes e Oswaldo de Camargo.
 
BAÚ DE LETRAS
 
No último dia 20 de junho cumpriu-se os 20 anos da morte de Emil Cioran. O escritor romeno radicado na França é encontrado em duas entradas no nosso arquivo. Uma delas, bem recente, é um ensaio de Amanda Fievet Marques que disserta sobre o tema da morte em quatro dos livros de ensaio; a outra é de 2020, um breve perfil.
 
Ainda na superfície deste baú, este texto de Juliano Pedro Siqueira, sublinha a Magnum Opus de Thomas Mann que começa a ser reeditada no Brasil, destaque na edição deste boletim. O texto do nosso colunista saiu em maio deste ano — aqui.
 
Já, Guerra em surdina, de Boris Schnaiderman, reeditado neste mês, foi lido e comentado por Joaquim Serra; a resenha de janeiro de 2021, está disponível por aqui. A edição mais recente do romance fora publicada pela antiga Cosac Naify.
 
DUAS PALAVRINHAS
 
A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal. 

— Em Iaiá Garcia, de Machado de Assis

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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.


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