LANÇAMENTOS
Chega o primeiro volume da
tetralogia José e seus irmãos
, obra-prima de Thomas Mann que, inspirada
num breve episódio bíblico do Livro dos livros
, ocupa posição singular
na literatura do século XX.
Através das centenas de páginas da
tetralogia
José e seus irmãos, vemos o espraiar de uma jubilosa festa da
narrativa, conforme enfatiza o “prelúdio” às “Histórias de Jacó”, abertura dos
quatro livros — a serem publicados em três volumes pela Companhia das Letras —
que acompanhariam Thomas Mann durante os longos anos de exílio. Expandindo o
relato do livro de Gênesis, Mann criou uma das maravilhas da literatura
moderna, um romance de formação ambientado na Palestina bíblica e no Egito
faraônico. Refletindo em suas profundezas simbólicas a ascensão do fascismo,
assim como as forças de uma humanidade encarnada na figura do herói que, ao
emergir do poço ao qual foi lançado por seus irmãos, ascende à condição de
“provedor” de todo um reino. Com a luminosa história de José, o autor de “A
montanha mágica” buscou, em suas próprias palavras, tirar religião e mitologia
“das mãos do fascismo” e amoldá-las à esfera humana. Com a consagrada tradução
de Agenor Soares de Moura, este primeiro volume de
José e seus irmãos reúne
os livros
As histórias de Jacó e
O jovem José com notas de
Reginaldo Gomes de Araújo, posfácio de Irmela von der Lühe e organização de
Marcus Vinicius Mazzari.
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Como nas melhores comédias
italianas, Os Sorrentinos
mistura o riso com o choro, o destino de uma
família com o de um país, a vida bem vivida com a mais valiosa das heranças.
Há pouco mais de um século, uma
família deixou Sorrento, na Itália, rumo a Mar del Plata, Argentina, onde abriu
um hotel e, depois, uma
trattoria à beira-mar. Poderia ser apenas mais uma
entre tantas famílias de imigrantes, mas essa teve um papel singular na cultura
local: criou os sorrentinos — uma massa que hoje é presença garantida nas mesas
de todo o país. A
trattoria passou de geração em
geração até chegar a Chiche, o irmão caçula — um homem excêntrico e encantador,
apaixonado por cinema, porcelanas europeias e boas conversas. Com uma
sensibilidade afiada e um humor irresistível, Chiche transformava acontecimentos
banais em histórias memoráveis, daquelas contadas por anos nos almoços em
família. A partir de memórias e fragmentos de histórias familiares, Virginia
Higa compõe um romance delicado e cheio de vida. Em
Os Sorrentinos, ela
nos apresenta personagens de aparência simples, mas marcados por amores
eternos, solidões profundas, mortes, traições, músicas, previsões de videntes e
o desejo por terras distantes — todos unidos pelo idioma afetivo de um clã
inquebrantável. Tradução de Sílvia Ornelas; publicação da Autêntica
Contemporânea.
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O mais recente livro do autor
de Edouard Louis aborda sua relação com seu irmão mais velho, morto
precocemente aos 38 anos.
Fruto do primeiro casamento de sua
mãe, o irmão de Louis é o mais velho dos cinco filhos. Logo nas primeiras
linhas deste romance, que é considerado um dos mais sombrios do autor, o
narrador afirma não ter sentido nada ao saber da morte do irmão. “Aprender a
conhecer meu irmão era aprender a odiá-lo”, diz, a determinada altura. É
tomando essa distância ― física e afetiva ― que o narrador esmiúça a existência
de seu irmão, entrevistando pessoas próximas de seu convívio, como uma
professora e algumas ex-companheiras, e relembrando momentos decisivos da
relação fraternal. Para reconstruir esse personagem, o narrador se vale das
ciências sociais, da literatura, da psicologia e da memória, resultando em um
romance único e inesquecível, de força e sensibilidade inigualáveis.
O
desabamento sai pela Todavia; a tradução é de Marilia Scalzo.
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Sigrid Nunez visita os Woolf através
de uma sagui.
Em uma quinta-feira de julho,
1934, Leonard e Virginia Woolf dirigiram até Cambridge para visitar Victor e
Barbara Rothschild e conheceram a sagui que Victor comprara em uma loja de
quinquilharias. Foi amor à primeira vista: ela se apaixonou por Leonard, que
acabou ganhando-a de presente. Mitz viveu com os Woolf em Londres e Sussex,
desenvolveu relacionamentos especiais com os
cocker spaniels da família
e os vários amigos de Virginia e Leonard, entre eles T.S. Eliot e E. M.
Forster, e até desempenhou um papel vital ajudando-os a escapar de uma
situação difícil com os nazistas pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Sigrid
Nunez pesquisou diários, cartas e as memórias dos Woolf e, com uma boa dose de
ficção, reconstruiu a vida de Mitz em Bloomsbury já em seus anos de crepúsculo.
O resultado é este romance afetuoso e cheio de humor que dá ao leitor uma visão
impressionante de vidas sombreadas pela guerra, pela morte, por problemas
mentais, mas também pela alegria e produtividade que a pequena criatura
inspirou. Tradução de Carla Fortino.
Mitz: a sagui que não teve medo de
Virginia Woolf sai pela editora Instante.
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Ricardo Terto reedita um dos
seus principais livros com textos inéditos e revistos.
Após o sucesso da edição de 2017,
a coletânea de crônicas
Marmitas frias, que marcou a estreia do autor
nas publicações e se tornou um cult, volta a navegar pelos “intervalos” da vida
entre o trabalho precarizado, a periferia e as andanças pela cidade de São
Paulo. Nessas viagens, o narrador-autor, que se descreve como um “nerdão,
lerdão de briga, bicho acuado”, mostra uma perspectiva crua e bem-humorada do
cotidiano e das experiências humanas. Das brincadeiras da infância à porção de
frango a passarinho dividida com um amigo no
happy hour, nada escapa à
escrita mordaz de Terto. Abordando temas como trabalho, desigualdade social,
passagem do tempo e relações em diferentes espaços — casa, periferia,
faculdade, centro da cidade — e coberto pelo manto da ironia e do humor que nos
faz sobrepassar o sofrimento, Terto explora aspectos que se confundem com sua
própria trajetória, desde os múltiplos empregos na área de telemarketing até a
entrada no “minúsculo universo da Comunicação & Artes da classe média de
São Paulo”. O autor discute a raiva como uma força motriz e de sobrevivência, e
a indignação como uma parte de sua personalidade que se apresenta desde a
infância. Com um estilo autêntico e sem “firula”,
Marmitas frias: e
requentadas é um convite a mastigar as histórias com força, com a promessa
de que “a sutileza virá no arroto”. Publicação da editora Fósforo.
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Aline Bei volta a explorar
temas como maternidade e infância.
Numa humilde casa de portão
laranja em Belva, vivem avó e neta. Enquanto Laura vai à escola, brinca com as
amigas e pouco a pouco se despede da infância, Margarida lê mãos numa feira de
antiguidades para prover o sustento da família. A avó se devota por completo ao
cuidado da menina, elo mais forte com sua filha, com quem não tem contato. Da
mesma forma, Laura entrega a Margarida o amor desmedido de uma criança. O
universo particular das duas, porém, se quebra com a chegada de Filipa, bisavó
de Laura e mãe de Margarida. A idosa, que perdera o lugar onde morava, logo se
apodera dos pequenos cômodos com suas caixas e amarguras. A mudança na rotina
provoca transformações imediatas. Laura se vê sozinha, sem a atenção de quem
mais ama, além de ter que se habituar à estranha presença da bisavó. Margarida,
por sua vez, passa a se dedicar integralmente aos cuidados da mãe. Sobrecarregada
com o aumento das tarefas domésticas, ela encontra em Camilo, um amigo da
feira, a ajuda de que precisava para seguir atendendo seus clientes. Em
Uma
delicada coleção de ausência, Aline Bei observa as mulheres em detalhes: os
corpos jovens e envelhecidos, os desejos primitivos, as frustrações
geracionais, o trabalho de cuidado, as incontáveis violências às quais são
submetidas. Ao mesmo tempo, como não poderia deixar de ser, a autora investiga
a determinação inabalável feminina, os afetos que salvam e a força para romper
com sofrimentos que parecem não ter fim. Publicação da Companhia das Letras.
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Eva Baltasar nos faz pensar
sobre amadurecimento, liberdade feminina, laços familiares e solidão.
Coberta por um permafrost ― é
assim que se enxerga a narradora deste livro, uma mulher cínica e com
tendências suicidas, interessada apenas em arte e sexo. Obrigada a conviver com
a mãe controladora e a irmã irritantemente otimista, ela mantém sua proteção ao
mundo numa camada de gelo que ora derrete, ora racha, mas que em geral se
mantém dura e fria. Com a linguagem concisa e poética característica de Eva
Baltasar, temos aqui uma narrativa que nos faz pensar sobre amadurecimento,
liberdade feminina, laços familiares e solidão. Com tradução de be rgb,
Permafrost
sai pela editora Dublinense.
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REEDIÇÕES
Nova edição revista de
Guerra em surdina, romance de Boris Schnaiderman.
Mestre de gerações de pesquisadores e tradutores de literatura russa no
Brasil, Boris Schnaiderman, na juventude, tomou parte ativa na campanha da
Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial, lutando na
Itália contra as forças do nazifascismo. O relato dessa experiência que o
marcaria pelo resto da vida está em Guerra em surdina, publicado pela
primeira vez em 1964. Combinando
narração em primeira e terceira pessoa, passagens de diário e fluxos de
consciência, este livro incomum detalha como poucos a crise de valores
provocada num indivíduo pela chamada “névoa da guerra”. Ao mesmo tempo, conta
com objetividade o percurso do primeiro escalão da FEB, desde seu desembarque
em Nápoles em 1944 até a euforia da vitória no norte da Itália no ano seguinte.
As hierarquias do exército, o convívio com os norte-americanos, o desamparo da
população italiana, os abismos de classe, de raça, de gênero e, sobretudo, o
estado de ânimo dos pracinhas — seja no início da campanha, seja em momentos
cruciais da guerra, como na árdua tomada de Monte Castelo —, tudo isso é
descrito por um olhar sensível e questionador. Esta edição incorpora a última revisão feita em vida pelo autor e traz
fotos inéditas da guerra, de sua coleção pessoal, e um posfácio da psicanalista
e cineasta Miriam Chnaiderman, que comenta o processo de escrita de Guerra em
surdina enquanto faz um retrato lúcido e afetuoso do homem e do intelectual
Boris Schnaiderman. Publicação
da Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Os novos da Cosac Edições.
A casa abre a linha editorial dedicada a cinema, artes cênicas e fotografia com
dois livros: um estudo de Alvaro Machado dedicado ao escritor Tulio Carella, um
argentino que percorreu a baixa cena na América Latina; e outro de Donny Correia
dedicado ao cinema de Walter Hugo Khouri.
Dostoiévski por Joseph Frank.
A Edusp reimprime o esgotado primeiro volume da monumental biografia do
escritor russo.
As sementes da revolta 1821 a 1849 dão contas dos
primeiros anos da vida familiar do autor, sua educação escolar religiosa, o
dilema entre a vocação literária e a carreira militar, a escrita dos primeiros
contos e novelas e seu ingresso nos círculos literários de São Petersburgo.
E, por falar em biografia. Sai
pela Editora BEC a biografia de Jens Peter Jacobsen escrita pelo crítico e
escritor dinamarquês radicado nos Estados Unidos Morten Høi Jensen. A tradução
é de Mariana Donner da Costa. Jacobsen, o autor de, entre outros,
Niels Lyhne, tem sido resgatado pela casa.
DICAS DE LEITURA
1. Tarás Bulba, de Nikolai Gógol (Trad. Nivaldo dos
Santos, Editora 34, 176p.) Uma novela que revisita um dos interesses que dominou
outros nomes da literatura russa, como Púchkin, Tolstói e Bábel: os cossacos. Aqui
narra-se os sangrentos conflitos entre esses ucranianos e poloneses no século
XVI.
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2.
Três novelas femininas,
de Stefan Zweig (Trad. Adriana Lisboa e Raquel Abi-Sâmara, Zahar, 176p.) Uma amostra
da rica habilidade do escritor austríaco com a arte de contar histórias: os
abismos do amor, um amor às avessas e história dos impulsos femininos sem tabus.
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3.
A extraordinária Zona Norte,
de Alberto Mussa (Todavia, 232p.) Situado na Zona Norte do Rio de Janeiro de
1974, a narrativa deste romance policial é o desaparecimento do detetive Antenor
Baeta em 1966.
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VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
A Companhia das Letras realiza
desde há três anos uma campanha para promoção e divulgação da literatura
brasileira produzida atualmente. Em 2025, entre as ações da casa editorial,
está o envio por e-mail de um conto diariamente. A iniciativa começa no dia 23
e segue até o dia 30 de junho. Entre os escritores selecionados estão Paulo Henriques
Britto, Morgana Kretzmann, Natércia Pontes e Oswaldo de Camargo.
BAÚ DE LETRAS
No último dia 20 de junho cumpriu-se
os 20 anos da morte de Emil Cioran. O escritor romeno radicado na França é
encontrado em duas entradas no nosso arquivo. Uma delas, bem recente, é
um ensaio de Amanda Fievet Marques que disserta sobre o tema da morte em quatro
dos livros de ensaio; a outra é de 2020,
um breve perfil.
Ainda na superfície deste baú, este
texto de Juliano Pedro Siqueira, sublinha a Magnum Opus de Thomas Mann que
começa a ser reeditada no Brasil, destaque na edição deste boletim. O texto do
nosso colunista saiu em maio deste ano —
aqui.
Já,
Guerra em surdina, de
Boris Schnaiderman, reeditado neste mês, foi lido e comentado por Joaquim Serra;
a resenha de janeiro de 2021, está disponível por
aqui. A edição mais recente
do romance fora publicada pela antiga Cosac Naify.
DUAS PALAVRINHAS
A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal.
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