À procura do insólito
Por Andrea Chapela

No início do filme, um meteorito atravessa a atmosfera da Terra e cai em um farol. Algo começa a se expandir, uma radiação que avança lentamente, cobrindo o terreno ao redor. A área afetada, dentro desse véu que altera a luz e as percepções, é a Área X, onde o DNA dos seres vivos — plantas, animais e humanos — pode se combinar para formar criaturas estranhas. É algo incomum, desconhecido, perigoso, e por isso, como se para compreendê-lo, o governo envia seus melhores cientistas para investigar, mas apenas um deles, uma bióloga chamada Lena, retornou.
Essa é a história, pelo menos o começo, de Aniquilação (2018), um filme baseado no livro homônimo de Jeff VanderMeer, um dos mais conhecidos expoentes do gênero New Weird. Ele próprio, juntamente com sua esposa Ann VanderMeer, editou as antologias The New Weird (2007) e The Weird (2012), que deram nome ao gênero e reacenderam a discussão em torno dele. Nesse gênero, o cotidiano se torna estranho e o estranho se torna cotidiano, as regras do mundo perdem sua solidez e a capacidade humana de compreensão é posta em questão.
Esse gênero, desde o início do milênio, não se restringiu à literatura anglo-saxônica. Como um brilho radiante, permeou o restante da literatura, e hoje podemos falar que existe, por exemplo, uma nova ficção latino-americana do insólito. Isso fica evidente no fato de que, na última década, autores começaram a experimentar com as ferramentas do New Weird, hibridizando-o com as paisagens e as preocupações inerentes aos seus territórios e introduzindo elementos de outras disciplinas para abordar a realidade. Especialmente agora, enquanto lidamos com os efeitos da crise climática, as histórias desse gênero nos oferecem maneiras alternativas de nos conectar com a natureza e compreender nossa época.
Não é surpresa que, no início do século XIX, no auge da Revolução Industrial, tenham começado a surgir as primeiras histórias que formariam o movimento antecessor, lançando algumas das bases estilísticas que VanderMeer e outros autores resgatariam um século depois. O weird, como ficou conhecido, é um gênero de ficção especulativa que se concentra na criação de histórias que misturam a fantasia, o sobrenatural, o terror, o pensamento científico da época e até mesmo o alienígena. Em outras palavras, essas histórias desconsideravam as fronteiras dos gêneros, tomando emprestado elementos de todos eles para narrar, às vezes, o macabro e o sinistro, mas acima de tudo, para evocar admiração e medo do desconhecido. A revista mais famosa daquela época era a Weird Tales, e entre seus autores de destaque estavam H. P. Lovecraft, Arthur Mache e M. R. James.
O passo seguinte surgiu nas décadas de 1960 e 70 com a chegada da New Wave, um movimento de autores, principalmente britânicos, como Michael Moorcock e J. G. Ballard, que combinavam gêneros, utilizavam referências a expressões artísticas clássicas e populares, interessavam-se pela experimentação formal e tinham uma clara intenção política e crítica. A isso se somava o horror grotesco e perturbador dos Livros de sangue de Clive Barker, nos quais a transformação e a transgressão corporal são especialmente importantes.
A combinação dessas duas estéticas e o renascimento das histórias weird foram pontos de partida para os autores que, no final do milênio, começaram a publicar histórias inclassificáveis com uma sensibilidade urbana e contemporânea, inspirando-se em novas tendências da ficção científica, da fantasia e do horror, tanto físico quanto existencial. Essas histórias, que transitavam entre vários gêneros, começaram a ser publicadas principalmente em revistas britânicas como a Interzone.
Em 2000, foi publicado Estação perdido, de China Miéville, que mais tarde seria categorizado como parte do movimento New Weird e cujo sucesso comercial ajudou a impulsionar o rótulo. Em 2003, o autor M. John Harrison escreveu uma postagem em um fórum questionando se esse gênero poderia existir, provocando um debate bastante polarizado. Finalmente, em 2007, quando Ann e Jeff VanderMeer publicaram sua antologia de textos, temendo uma reação negativa em relação ao termo New Weird, que eles definiram mais como um modo do que como um gênero, ficaram surpresos com o sucesso de vendas da antologia, e o debate continuou.
Atualmente, o New Weird é um gênero de ficção especulativa que se apropria de diversos estilos narrativos, onde abundam transformações grotescas e inesperadas, juntamente com discursos científicos e avanços tecnológicos, e com a própria linguagem na invenção de neologismos e na quebra da sintaxe. Há também um interesse na hibridização da natureza, da tecnologia e da humanidade. De fato, em muitas dessas histórias, especialmente as originárias da América Latina, o mundo natural desempenha um papel significativo, tornando-se, mais uma vez, desconhecido e incontrolável. É por isso que esse gênero desafia a noção de que a humanidade é capaz de conhecer e, portanto, controlar o mundo ao seu redor. Essa característica permitiu que os autores abordassem sistemas cada vez maiores e mais complexos, como a crise climática, sem colocar a humanidade no centro de todas as narrativas. Isso é especialmente importante ao tentar representar a era em que vivemos, o Antropoceno.
Esse termo, que designa a época geológica em que a humanidade se tornou a força mais significativa de mudança planetária, foi popularizado pelo químico ganhador do Prêmio Nobel Paul J. Crutzen, após descobertas que mostraram que o impacto de nossa espécie estava começando a deixar sua marca em escala geológica devido à perda de biomassa e à crise climática. Ele não é usado apenas nas ciências ambientais, mas aparece cada vez mais em pesquisas em outras áreas, como sociologia e economia. O ponto de partida é considerado 1712, quando a máquina de Newcomen foi inventada e a Revolução Industrial teve início.
Desde então, e com velocidade cada vez maior, a humanidade adquiriu a capacidade de modificar seu ambiente. Embora o termo seja muito útil para discutir o impacto humano no planeta, ele não foi universalmente aceito. De fato, em 2024, a União Internacional de Ciências Geológicas e a Comissão Internacional de Estratigrafia votaram contra o reconhecimento do Antropoceno como uma época geológica, visto que o registro sedimentar é recente demais para pesquisas conclusivas. Mesmo assim, essas organizações concordaram que o termo poderia continuar sendo usado em outros contextos, especialmente nas ciências ambientais, para descrever a força disruptiva da humanidade. Por outro lado, outros nomes foram propostos para designar esse período, como Capitaloceno ou Plantacioceno, cunhados por Donna Haraway, Jason Moore e Malcolm Ferdinand, para destacar não apenas o impacto geológico da humanidade, mas também para expor o sistema global baseado no colonialismo e na escravidão que impulsionou esses efeitos.
Independentemente do termo que usemos, uma coisa que essas ideias têm em comum é a narrativa subjacente de que a humanidade está no centro do universo e é a força de mudança mais importante — tão importante que destruirá o planeta se não mudar seus hábitos. Isso é verdade, mas gêneros como o New Weird subvertem essas ideias para mostrar que, apesar de nossa influência como espécie, há muitas coisas que não podemos saber ou entender, coisas que escapam à compreensão humana.
Essa característica do gênero é especialmente evidente nos romances latino-americanos que jogam com a estética do New Weird, como Miles de ojos, de Maximiliano Barrientos, El gusano de Luis Carlos Barragán, Iris de Edmundo Paz Soldán, Verde de Ramiro Sanchíz, A la sombra de las ballenas de Cynthia A. Matayoshi ou La mucama de omicunlé de Rita Indiana e os contos de autores como Liliana Colanzi, T. P. Mira de Echeverri ou Karen Andrea Reyes. No México, por exemplo, uma das figuras de destaque é a contista Iliana Vargas, que publica Noventa millones de Soles. Embora Vargas tenha começado como escritora de terror, nos últimos anos ela tem se interessado cada vez mais pelo estranho e pelas hibridizações entre a humanidade e a natureza, como se pode ver em seu conto “Destierro”, publicado pela revista de ficção especulativa Sofón em agosto deste ano.
Em 2020, durante os primeiros meses de confinamento, um artigo de opinião de Kim Stanley Robinson foi publicado na The New Yorker, no qual ele declarava que a ficção científica é o melhor gênero para narrar o presente. Nos últimos anos, tenho refletido bastante sobre esse artigo e sobre a capacidade dos gêneros especulativos — seja ficção científica, terror ou New Weird — de representar nossos problemas atuais: nossa relação com o meio ambiente, as mudanças climáticas, o fim do nosso sistema econômico, nossa relação com a tecnologia e as corporações transnacionais que compram e vendem nossa atenção. Nos últimos séculos, a humanidade buscou controlar e compreender tudo ao seu redor, da natureza ao inconsciente, mas, no fim, nos deparamos novamente com os recônditos obscuros onde todos os tipos de perigos podem espreitar. É através dessa perspectiva que uma nova sensação de estranhamento se insinua, esse retorno ao inefável, essa constatação de que não somos onipotentes.
* Este texto é a tradução livre de “En busca de lo insólito”, publicado inicialmente aqui, em Letras Libres.
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