Boletim Letras 360º #661

DO EDITOR

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Georges Simenon. Foto: Philippe Le Tellier



LANÇAMENTOS

Depois de passar por diversas casas editoriais que nunca completaram a publicação da obra de Georges Simenon, uma nova promessa: a Coleção Georges Simenon da Editora Unesp reinicia esse trabalho. A tradução integral da obra do autor belga se publica organizada em ordem cronológica.
 
1. O primeiro volume da Série Comissário Maigret, formada pelas célebres histórias policiais do também célebre personagem, o imperturbável comissário Jules Maigret, traz muitas delas ainda inéditas no Brasil. Nos quatro romances que abrem a série, o leitor encontrará todos os traços que se tornariam marcas registradas de seu protagonista. Em Pietr, o letão Maigret espera prender o criminoso internacional Pietr em Paris. Mas um homem com a descrição do letão é achado morto em um trem, enquanto outro, idêntico, se hospeda num hotel de luxo. Quem é quem neste jogo de espelhos? Em O finado Sr. Gallet, o assassinato de um caixeiro-viajante revela um enigma. Maigret descobre que a vítima levava uma vida dupla, com identidades falsas e segredos chocantes, desvendando a complexa teia por trás de um homem aparentemente banal. Em Um crime na Holanda, Maigret, a contragosto, é encarregado da investigação do assassinato de um professor em Delfzijl, pequena cidade na Holanda. Em meio a uma cultura que lhe é estranha, o comissário busca a verdade. Já em A cabeça de um homem, o detetive arrisca sua carreira ao orquestrar a fuga de um homem condenado à morte, que ele acredita ser inocente. A investigação o leva a um jogo psicológico tenso contra um adversário frio e manipulador. As traduções são de Paulo Neves, André Telles, Julia da Rosa Simões e Eduardo Brandão. Você pode comprar o livro aqui.

2. O segundo volume reúne Cavalariço da Providence, em que o assassinato de uma mulher em uma eclusa leva Maigret ao mundo da navegação fluvial em torno do principal suspeito, que é o taciturno cavalariço da balsa Providence; O cachorro amarelo, narrativa que articula uma série de atentados que aterroriza uma pequena cidade portuária, enquanto um misterioso cão amarelo intriga os moradores e piora o clima de tensão, levando Maigret a enfrentar a histeria local e a conspiração de silêncio para investigar antigos segredos na busca pelo culpado; O enforcado de Saint-Pholien, em que durante uma investigação, Maigret contribui involuntariamente para o suicídio de um suspeito e tempos depois, o comissário tem a oportunidade de perscrutar os motivos secretos que levaram o homem àquela decisão extrema; e Inferno a bordo, quando Maigret mergulha no mundo fechado dos pescadores da Terra Nova para investigar a morte de um capitão, crime que tem como principal suspeito um jovem atormentado, mas o comissário sente que a chave do crime pode estar em um drama antigo, guardado a sete chaves no mar. Traduções de André Telles e Eduardo Brandão. Você pode comprar o livro aqui.

3. Outra série da coleção agora apresentada está intitulada Romances e outros escritos e reúne os chamados “romances duros”, nos quais Simenon exercita sem limitações e sob aclamação universal sua exploração das questões existenciais humanas. No volume inaugural desta série, quatro narrativas inéditas em português. Em A pousada da Alsácia o furto de uma quantia considerável de dinheiro do quarto de um hóspede atrai a atenção da polícia, que vê no crime uma possível conexão com um importante caso não resolvido. N’O asno vermelho, o jovem e promissor jornalista Jean Cholet se embriaga em uma festa e termina a noite no cabaré que dá título ao livro. Ali começa uma jornada arriscada pelo submundo da noite e por suas promessas de liberdade e prazer. O passageiro do Polarlys se passa no cargueiro Polarlys em seu trajeto rotineiro rumo à Noruega, quando o capitão Petersen, isolado em alto-mar, é forçado a investigar um crime em meio a um grupo heterogêneo e suspeito de viajantes. Este volume encerra com O homem de Londres: Louis Maloin, sinaleiro de um porto francês, testemunha um crime e recupera uma mala de dinheiro. O ato o lança num turbilhão de culpa, medo e paranoia, transformando em pesadelo seu sonho de uma vida nova. O livro foi adaptado para o cinema por Béla Tarr e Ágnes Hranitzky em 2007, com roteiro coassinado pelo ganhador do Nobel de Literatura László Krasznahorkai. Traduções de Tulio Kawata. Você pode comprar o livro aqui.

2. Outras quatro histórias inéditas no Brasil formam o segundo volume da série Romances e Outros Escritos. Enluamento tem a narrativa situada em uma opressiva colônia na África e como protagonista um jovem francês consumido pelo calor e por uma paixão doentia. Envolvido em um crime, ele mergulha em uma espiral de decadência moral que expõe a podridão ao seu redor e dentro de si mesmo. No segundo livro, O mal de terra, Jean Nalliers é epilético. Recém-casado, em lugar de conforto, encontra na fazenda que ganhou do pai apenas hostilidade, humilhação e morte. Nesta trama sufocante, Simenon mergulha nos segredos inconfessáveis de uma família infeliz. Em O noivado do Senhor Hire, um homem solitário e voyeur se torna o principal suspeito de um assassinato. Sua obsessão por uma vizinha se transforma em um amor impossível que o levará à ruína, encurralado pelo preconceito e pela crueldade da sociedade. O volume conclui-se com A família da frente; situado numa cidade soviética, um diplomata isolado fica obcecado por seus misteriosos vizinhos. A vigilância constante e a paranoia o consomem, borrando a linha entre a realidade e a loucura sob um regime opressor. As traduções são de Mariana Echalar. Você pode comprar o livro aqui.

Um dos romances mais desafiadores do Prêmio Nobel de Literatura Jon Fosse.

Heptalogia é um monólogo interior que nos coloca na mente do protagonista, Asle, um pintor viúvo que vive isolado em um fiorde na costa ocidental da Noruega e que só tem dois amigos, o vizinho pescador Åsleik e o galerista Beyer.  A narrativa, que desafia convenções de tempo e espaço, desdobra-se em um fluxo de consciência que se assemelha a um rio caudaloso, mesclando memórias, reflexões filosóficas e o presente. Através de Asle, somos apresentados ao espelho de sua existência: um outro Asle, seu duplo, um artista que vive em Bjørgvin e luta contra o alcoolismo. Essa dualidade de personagens não é meramente um recurso literário, mas a própria essência do livro, explorando a ideia de que somos formados por fragmentos de nós mesmos. Jon Fosse constrói uma prosa única, caracterizada pela ausência de pontuação tradicional, o que cria um ritmo contínuo e meditativo. O leitor é levado a uma experiência sensorial, quase musical, em que cada frase ecoa na anterior, construindo uma densa tapeçaria de imagens e pensamentos. A solidão, a fé e o vazio existencial são temas recorrentes, abordados com uma sensibilidade que carrega o livro de voltagem poética. Aclamado pela crítica internacional como um “místico” e “profeta da palavra”, Fosse mergulha nos recantos mais profundos da alma humana. Com uma escrita minimalista e profunda, o norueguês exige uma entrega total do leitor, que é recompensado com uma obra de beleza rara e poderosa. Em Heptalogia, a vida de Asle é um microcosmo que reflete a jornada universal em busca de redenção e paz. O livro é um convite à introspecção, uma oportunidade de nos perdermos na vastidão da mente de um homem para, talvez, nos encontrarmos, numa jornada quase religiosa. Uma experiência transcendental que redefine os limites da ficção e consagra Jon Fosse como uma das vozes mais importantes da literatura contemporânea. Prepare-se para ser arrebatado. Uma experiência transcendental que redefine os limites da ficção e consagra Jon Fosse como uma das vozes mais importantes da literatura contemporânea. Prepare-se para ser arrebatado. Com tradução de Leonardo Pinto Silva, o livro sai pela Fósforo. Você pode comprar o livro aqui.

Livro reúne poemas inéditos de Helena Kolody.

Helena Kolody foi uma poeta brasileira, filha de imigrantes ucranianos, e é considerada uma das grandes representantes literárias do Paraná. Foi a primeira mulher no Brasil a publicar haicais, sendo reconhecida por essa contribuição à literatura. Sua obra abrange temas do cotidiano, cenas familiares, sentimentos e sensações, e até mesmo assuntos como a corrida espacial e a tecnologia. Appassionata é uma obra inédita, lançada 21 anos após o falecimento da autora em 2004. Os versos inéditos foram descobertos pelo sobrinho-neto de Kolody, Eduardo Kolody, e dedicam-se a uma paixão vivida pela escritora na década de 1940. Publicação da editora Arte & Letra. Você pode comprar o livro aqui.

A autobibliografia de Patrick Chamoiseau

Escrever em país dominado é ao mesmo tempo a narrativa da formação de uma consciência e a saga íntima de uma escrita em busca de si mesma. Entre a memória da escravidão, o peso da língua imposta e a pulsação das culturas subterrâneas, Patrick Chamoiseau oferece uma reflexão contundente e original sobre os efeitos da colonização e o lugar do escritor diante da dominação e das disputas de imaginário. Costurado como uma “autobibliografia”, o livro emerge dos encontros do autor com o vasto repertório literário de sua formação, que ele interroga e expande. Mais do que um ensaio, a obra é também um manifesto que repensa a literatura como território de resistência e invenção, onde o sujeito colonizado afirma sua presença e reinventa o mundo. Com tradução de Ciro Oiticica e Mariana Patrício; publicação da editora Bazar do Tempo. Você pode comprar o livro aqui.

Novo livro no Brasil do escritor português Hugo Gonçalves. Um romance sobre esperança e medo, mães e filhos, amor e luta. Livro vencedor do prêmio Fernando Namora 2024.  

Revolução acompanha uma família portuguesa e seus conflitos em meio ao desmoronar da ditadura e o despertar da democracia no país, durante os intensos meses do processo revolucionário em curso. Um disparo perfura a noite na serra de Sintra. O epicentro do colapso tem origem muitos anos antes, entre o fim da ditadura e o início da Revolução dos Cravos. A matriarca da família Storm sabe que perdeu um dos três filhos. Maria Luísa, a filha mais velha, opositora clandestina do regime, é perseguida pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado. Frederico, o filho mais novo, está obcecado em perder a virgindade antes de ser enviado para a guerra nas colônias pelo governo de Salazar. E Pureza, a filha do meio, vê o sonho de uma perfeita família tradicional despedaçado pelo processo revolucionário em curso. Um romance ao mesmo tempo trágico e cômico, sobre a liberdade e as relações familiares, sobre as escolhas que nos definem e as omissões que nos revelam. Neste livro, Hugo Gonçalves cruza os destinos de uma família com a cronologia desenfreada de um país à beira da guerra civil, criando um retrato magistral de uma época que jamais deveria se repetir. Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.

O terceiro livro da septologia Sobre o cálculo do volume, uma meditação sobre o tempo e sobre o que nos faz humanos.

Tara Selter não está mais sozinha: conheceu alguém que, assim como ela, segue preso ao dia 18 de novembro. Junto com Tara, passamos a ter um novo olhar para a falha temporal, comparamos experiências e descobrimos como outra pessoa passou os 1148 (ou seriam 1149?) dias desde a primeira ocorrência da anomalia. Explorando outras possibilidades de se movimentar dentro dos dias repetidos, Tara e Henry D. — seu novo companheiro de jornada — abordam os enigmas da insólita situação em que se encontram: os alimentos que se esgotam, a tecnologia que parece sempre falhar e o grande abismo que se forma entre eles e as pessoas a seu redor. E se perguntam, insistentemente: haverá, enfim, o dia 19 de novembro? O que poderia ser feito de outra maneira se tivéssemos a oportunidade de viver o mesmo dia repetidamente? O que torna um dia melhor do que o outro? No desenrolar dessa saga do dia 18 de novembro, vamos tecendo possíveis respostas para essas perguntas. Publicação da editora Todavia; tradução de Guilherme da Silva Braga. Você pode comprar o livro aqui.

Annie Ernaux e o amor entrevisto na fotografia.

Em 2003, uma semana antes de começar um tratamento de câncer de mama, Annie Ernaux começa um relacionamento com o fotógrafo e jornalista Marc Marie, então recém-divorciado. Numa atmosfera que mescla o medo da morte com um forte impulso de vida, os dois passam a fotografar suas roupas abandonadas que foram pelos cômodos da casa antes do sexo. Dessas belas imagens ― publicadas coloridas nesta edição ―, cada um se propõe a escrever um texto sobre memória, desejo, doença, o poder da fotografia, a Guerra do Iraque que acabava de eclodir, a Bélgica da infância de Marie, e várias outras reflexões que se alternam com surpreendente sinergia entre os autores. Debruçando-se sobre as catorze fotografias feitas no decorrer daquele ano, Ernaux afirma que registrar tais vestígios de amor era como ter uma prova de que ainda estava viva. E diante da possibilidade da morte, ela passa a buscar uma forma literária que abarque toda sua biografia, a qual culminará em Os anos, sua obra magna escrita imediatamente depois deste O uso da foto. Diferente das descrições fotográficas dos outros livros da autora, feitas sobre retratos, aqui Annie e Marc partem da ausência. Porque, ainda que a inexistência de corpos remeta ao fim ocasionado pelo câncer, ela também potencializa o erotismo, sobretudo o daquele corpo que se transforma. Nessa espécie de diário do abandono ao prazer, cheio de intenção artística e reflexões originais sobre a fotografia, conhecemos uma fase decisiva da vida da vencedora do prêmio Nobel de literatura de 2022 e novas facetas do modo com que ela constrói seu projeto de escrita. “Não espero a vida me trazer temas, e sim organizações desconhecidas de escrita”, afirma Ernaux. Assim, em meio a meias-calças, sapatos, roupas íntimas e lençóis embolados, nos fascinamos com uma literatura capaz de apreender com agudez momentos tão fugidios. O uso da foto sai editora Fósforo; a tradução é de Mariana Delfini. Você pode comprar o livro aqui.

REEDIÇÕES
 
Nova edição de Espinhos e alfinetes, de João Anzanello Carrascoza.

O menino aprende a enxergar a vastidão e a beleza pelo olhar do irmão mais velho. O taxista enxerga no retrovisor o olhar do passageiro perdido dentro de si, e busca-se em pensamentos no trânsito de São Paulo a caminho do aeroporto. O filho enxerga os pais, os pais enxergam o filho enquanto enxergam-se um ao outro, três pontos que convergem e divergem. Os onze contos deste livro, cada qual com seus próprios motores internos, são ligados por um fio invisível: o olhar sensível, singular e poderoso de cada um dos personagens. Deparam-se com os maravilhamentos e com a aridez da vida, duas faces entre tantas que vão moldando a alma humana sempre em construção diante da inexorabilidade do tempo. O extraordinário lirismo da escrita de João Anzanello Carrascoza é alinhavado com palavras precisas e resulta em construções sólidas, nem sempre (ou quase nunca) confortáveis. O autor consegue como poucos extrair grandiosidade dos pequenos gestos, das pequenas coisas. Nada é pequeno e desimportante no curso de um olhar ou na literatura de Carrascoza. Publicação da Grua Livros. Você pode comprar o livro aqui.

RAPIDINHAS 

Os 25 anos de uma obra de destaque. O romance Morreste-me, de José Luís Peixoto ganha uma edição comemorativa para marcar um quarto de século desde a sua publicação. Sai pela Dublinense com textos de Ana Claudia Quintana Arantes e de Reginaldo Pujol Filho.

DICAS DE LEITURA

1. Reika, de Helena Kolody (Arte & Letra, 56p.) Admirada e reconhecida pelo seu trabalho com o haicai, este livro marcou um ponto-alto da obra da poeta com o gênero japonês e foi reeditada em edição artesanal com ilustrações de Guilherme Petreca. Você pode comprar o livro aqui

2. Histórias de amor no novo milênio, de Can Xue  (Trad. Verena Veludo Papacidero, Editora Fósforo, 400p.) Um bem-humorada e onírica história em que as vidas de quatro mulheres carregam as idiossincrasias de suas condições numa China entre a modernidade e a tradição. Você pode comprar o livro aqui.

3. A vida fantástica, de Pío Baroja (Trads. Wagner Monteiro e Lucas Lazzaretti, 7 Letras, 520p.) Três romances que, à maneira do Dom Quixote com a novela de cavalaria, fazem a volta turca do romance folhetim. Você pode comprar o livro aqui

VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS

Os desenhos de Rainer Maria Rilke foram publicados pela primeira vez numa edição que reúne materiais encontrados por ocasião dos 150 anos de nascimento do poeta austríaco. Publicado na Alemanha, o livro reúne cerca de uma centena de imagens de variados estilos que tratam de esboços quase infantis ao registro do elegante cotidiano de seu tempo. A obra marca uma descoberta para o mundo literário não apenas porque revela uma face praticamente desconhecida do poeta, mas porque demonstra seu interesse de iluminar com imagens o curso do pensamento que se fez com palavras.

BAÚ DE LETRAS

Ainda na superfície do nosso baú. Acrescentamos na semana que termina um breve perfil da agora Prêmio Camões Ana Paula Tavares. Texto do nosso editor Pedro Fernandes.

E, por falar em Georges Simenon e em perfil, aqui, a tradução deste texto nos idos 2019 com um registro panorâmico da biobibliografia do escritor.
 
DUAS PALAVRINHAS

Entre a ficção e a realidade existem pontes. Eu vivo não no passado mas no quotidiano e vou, ao mesmo tempo, buscar coisas às tradições tentando passar (a escrita poética) para o dia de hoje.

— Ana Paula Tavares

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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.

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