Que motivos estão por trás da publicação do novo livro de Harper Lee, 50 anos depois?

Por Marc Bassets

Harper Lee em Monroeville, em 1951.

Um dos maiores mistérios das letras contemporâneas se esconde atrás das paredes de um lar para idosos num povoado de 6.500 habitantes no sul dos Estados Unidos. O local se chama The Meadows e é um edifício modesto numa rua próxima ao centro de Monroeville, Alabama.

Um dia em princípios de maio, dois guardas da segurança, um branco e outro negro, vigiavam a entrada de The Meadows. Sua missão era impedir a passagem de desconhecidos.

– Não posso responder nenhuma pergunta, disse um dos guardas.

Há tempo que não aparece nenhum jornalista, mas estão preparados.

Ali, custodiada pela segurança e protegida ante o assédio de desconhecidos, vive Harper Lee, a autora de um romance quase perfeito, O sol é para todos. A história se passa em Maycomb, um lugar fictício inspirado em Monroeville, durante os anos da segregação racial. Publicado em 1960 e premiada com Pulitzer, o livro já vendeu mais de 30 milhões de exemplares e marcou gerações de leitores em todo o mundo. A versão cinematográfica com Gregory Peck de protagonista ganhou três Oscar em 1963.

Harper Lee, que tem 89 anos e problemas de ouvido e visão desde que sofreu um acidente vascular cerebral em 2007, não tem convivido com o público. Depois de O sol também se levanta não voltou a publicar. Lee, como disse Churchill para descrever a Rússia, é “uma adivinhação envolta num mistério e no interior de um enigma”.

Não concede entrevistas desde 1964, embora na década passada tenha desenvolvido a amizade com uma jornalista de Chicago, Marja Mills, que depois publicou um livro sobre ela e sua irmã Alice.

– Harper não permitiria sequer que Barack Obama a entrevistasse, ainda que este lhe pedisse, avisa por telefone o historiador Wayne Flynt, amigo da escritora e professor emérito da Universidade de Alabama.

Pelo empenho em preservar sua intimidade e por seu silêncio literário, Harper Lee pertence à mesma estirpe que J. D. Salinger: escritores que numa época de extensa exposição midiática evitaram os focos de atenção e deixaram de publicar.

A estes dois mistérios – por que Harper Lee só publicou um romance e por que se escondeu depois – junta-se um novo.

Em fevereiro, a editora Harper Collins anunciou que no dia 14 de julho publicará Go Set Watchman, um título retirado do livro de Isaías no Antigo Testamento. O novo romance se apresenta como uma causa de O sol é para todos. Na realidade, foi escrito antes. Tonja Carter, a advogada de Harper Lee, descobriu o manuscrito em meados de 2014 e o apresentou a Lee, segundo um comunicado da editora. “Não tinha consciência de que [o manuscrito original] havia sobrevivido, assim foi uma surpresa e uma alegria quando minha querida amiga e advogada Tonja Carter o descobriu”, disse Lee, citada no comunicado. “Depois de muito pensar, compartilhei com algumas pessoas nas quais confio e me alegrou escutar que o consideravam digno de publicação”.

Harper Lee e o seu pai 1961. Getty Images

O sol é para todos narra três anos na vida de Maycomb, entre 1932 e 1935, através do olhar de Scout, uma menina de quase seis anos que vive com seu irmão Jem, em véspera de completar dez anos, e seu pai viúvo, o advogado Atticus Finch. O romance entrelaça três histórias: a da descoberta do mundo por parte de três crianças, Scout, Jem e seu amigo Dill; a de um vizinho, Boo Radley, que vive recluso na sua casa e dá pé a todo tipo de fantasia por parte das crianças, e a do julgamento de um negro do povoado acusado falsamente de estuprar uma mulher branca, cuja defesa é assumida por Atticus.

Go Set a Watchman é a história de Scout já crescida. Nos anos cinquenta vive em Nova York, como a própria Harper Lee na época, e volta a Maycomb para visitar seu pai. O regresso a obriga enfrentar e entender as atitudes do pai ante a sociedade em mudança e sobre seu lugar no povoado de sua infância. Este é o ponto de partida. Ninguém, exceto os editores da Harper Collins e uma quantidade restrita de pessoas, conhece o restante do conteúdo. Sob contrato de segredo ninguém disse nada e ninguém também explicou por que, depois de meio século de silêncio, Lee decidiu publicar este romance oculto, ou perdido, quando durante todo este tempo a escritora deu a entender que sua obra começava e terminava com O sol é para todos. “Primeiro, por todo dinheiro do mundo não estou disposta a submeter-me a toda pressão e à publicidade porque passei com O sol é para todos”, disse uma vez a um amigo numa conversa que a jornalista Mills transcreveu no livro The Mockingbird Next Door. “E segundo, disse que o que dizer e não voltarei a repeti-lo”.

Este é o terceiro mistério que divide Monroeville e estende uma sombra sobre a notícia literária do ano, possivelmente da década. Por que agora decidiu? Harper Lee decidiu por sua própria vontade publicar o romance ou foi manipulada por alguém?

Se não fosse pela indústria turística ligada a O sol é para todos, Monroeville seria hoje um povoado a mais no deep South, o sul profundo, dos Estados Unidos. Na primeira metade do século XIX a exploração de escravos nos campos de algodão foi o motor econômico desta parte do país. Em 1861 declararam a separação do resto dos Estados Unidos e combateram contra o norte numa guerra civil que perderam. Abraham Lincoln aboliu a escravidão, mas em estados como Alabama a segregação racial seguiu em alta até um século depois e nunca foi, de fato, algo de um todo sepultado.

“Existe algo em comum entre nós, tanto no norte como no sul, a convicção profunda de que o sul é outra terra que se diferencia com clareza do resto da nação americana e exibe em seu interior uma homogeneidade relevante”, escreveu W. J. Cash em The Mind of the South, um ensaio clássico sobre esta região publicado em 1941, recomendado por Harper Lee a seus conhecidos. W. J. Cash citava em seu livro uma frase do escritor Carl Carmer: “O Congo não é mais diferente de Massachusetts ou Kansas ou Califórnia [que Alabama]”.

A estrada que dá acesso a Monroeville é acompanhada por bosques, casas abandonadas, campos de algodão e igrejas, muitas igrejas: batistas, metodistas, pentecostais. Ir à igreja, disse a narradora de O sol é para todos, “era o principal recreio de Maycomb”. A Avenida South Alabama, que leva ao centro do povoado, é como tantas ruas nos povoados e cidades dos Estados Unidos: marcada por restaurantes de fast-food, grandes supermercados Wal Mart, postos de gasolina, lojas de penhores e de armas, motéis, uma concessionária de automóveis, comércios abandonados. Ao fim da avenida, uma cúpula da Old Courthouse, “todavia ali, presidindo o povoado como um pequeno e mágico Taj Mahal”, nas palavras do historiador Flynt. É o velho tribunal, hoje sede do museu dedicado a O sol é para todos e da sala de audiências, onde se desenvolve a cena principal do romance e do filme.

“Maycomb era um povoado antigo, mas um povoado antigo e cansado quando o conheci”, se lê em O sol é para todos. “Então a gente se movimentava lentamente. Passeavam pela praça, arrastavam os pés ao entrar e sair de seus comércios e tomavam seu tempo para fazer qualquer coisa”. Maycomb, 1932; Monroeville, 2015. Se algo permanece inalterado, é o ritmo de vida pausado e o sorriso dos habitantes, livres da hiperatividade dos grandes centros como Washington ou Nova York.

– Lenta, lenta... Diz Eric Hurst, um mecânico negro, para descrever a vida em Monroeville – Tudo vai para baixo.

Em 2009 fechou a fábrica da empresa têxtil Vanity Fair. Quando se instalou nos anos 1930, pouco depois das ações narradas em O sol é para todos, a fábrica contribuiu por transformar a cidadezinha de uma economia agrícola para uma economia industrial. O desemprego é mais elevado que a média do Alabama. “É um povo em declive”, constata Wayne Flynt.

Truman Capote e Harper Lee

Woody Bullard, vendedor numa concessionária local, saúda os vizinhos que circulam pela Avenida South Alabama, a mesma rua onde vivia Harper Lee e onde passava os verões seu amigo de infância, o escritor Truman Capote.

– Era uma mulher direita, disse Bullard. – Diziam que ela não tinha cabeça.

Bullard tem 16 anos que trabalha na concessionária. Disse que Lee dirigia veículos Buick. Como outros, fala dela no passado. Antes frequentava os restaurantes locais ou tomava café no McDonald’s. Nos últimos anos, poucos a viram sair da residência dos idosos.

– Trouxe fama e dinheiro ao nosso pequeno povoado, diz Pat Childs, camareira em Radley’s Fountain Grille, restaurante que tem o nome do enigmático personagem de O sol é para todos, Boo Radley, o homem que se esconde de seus vizinhos, que se fecha em sua casa e evita ser o centro das atenções; o homem que, simplesmente, quer que o deixem em paz. Childs recorda que às vezes Harper Lee vinha ao Radley’s à noite, depois de jantar, pedia uma sobremesa. Mas, há anos que não apareceu mais.

Cena do filme O sol é para todos. 1962.

O sol é para todos é mais que um romance: é um monumento nacional. É lido nas escolas e segue ganhando reimpressões. Atticus é um modelo de pai, de advogado, de cidadão. O livro, cheio de conselhos para a vida prática (“Nunca entenderás uma pessoa de verdade até que vejas as coisas de seu ponto de vista..., até que te metas na sua pele e caminhe dentro dela”), é um manual ético, uma Bíblia cívica.

Lee o escreveu num dos piores momentos do terrorismo branco no Alabam, quando as notícias de negros assassinados eram frequentes. Monroeville está a uma hora e meia de carro da capital do estado, Montgomery. Ali, em 1º de dezembro de 1955, uma mulher negra, Rosa Parks, recusou-se ceder assento a um homem branco, um ato de desobediência que impulsionou o movimento pelos direitos civis.

A relação entre Harper Lee e Monroeville sempre foi incômoda. O sol é para todos, embora tenha um olhar benévolo de uma criança sobre seus habitantes, é um retrato implacável de um povo racista e classista. Lee abandonou o Alabama em 1949. Nova York lhe esperava. Nos anos 1950 trabalhou para a companhia aérea Eastern Airlines até que sofreu o acidente vascular. Continuo morando na cidade, num pequeno apartamento em Upper East Side, mas todos os anos passava temporadas em Monroeville. Ao contrário de sua irmã Alice, uma figura apreciada e ativa na comunidade, a senhorita Nelle – assim a chamam alguns em Monroeville: seu nome completo é Nelle Harper Lee – não se sentia à vontade no povoado: considerava um lugar sufocante, disse seu amigo, o historiador Flynt.

A tensão saltou em 2013, quando Lee processou o Museu do Condado de Monroe, situado na sede do velho cartório, por tentar à força “capitalizar a fama” do romance e vulnerar seus direitos de autor ao vender merchandising inspirado em seu livro. O processo findou num acordo em 2014.

– Não creio que possa falar disto, mas lhe direi que construímos um acordo em todos os termos requeridos por ela e sentimos que estamos preparados para encarar o futuro juntos, disse a diretora do museu, Stephanie Rogers. – Todo esse tempo queríamos que as pessoas tivessem certeza de que o que fazemos aqui é honrar a Senhorita Lee. E creio que isto é muito evidente em nossas exposições e na maneira como apresentamos sua história literária e sua contribuição à nossa cidade. Somos muito respeitosos.

Outro conflito é pela obra de teatro baseada em O sol é para todos que se apresenta cada ano num cenário fora do edifício do julgamento e dentro da sala de audiências original. Há algum tempo a Dramatic Pubishing Co., a empresa que possui os direitos, ameaçou retirar a companhia do local. Haper Lee criou em abril uma empresa sem fins lucrativos que deu os direitos e permitirá a encenação da obra em Monroeville. (“O museu não terá mais responsabilidades sobre a produção a partir de 2016, mas seguirá sendo apresentada em Monroeville”, diz o comunicado enviado por Rogers).

Sobre as acusações de que não foi Harper Lee quem decidiu publicar o novo romance, Rogers se sobressai: “Minha opinião não importa”.

Depois do anúncio da publicação desse romance, a denúncia anônima de um médico que aparentemente conhecia Harper Lee levou o serviço social do Estado do Alabama abrir uma investigação por fraude a uma pessoa em estado vulnerável. Mesmo que o governo tenha encerrado as investigações, as suspeitas permanecem vivas entre os moradores de Monroeville.

– É o que andam falando toda a gente – comenta uma garçonete de Radley’s Fountain Grille. A maioria dos rumores circula nas conversas em particular entre as pessoas que não conhece diretamente a Senhorita Nelle; só algumas dizem de maneira mais aberta.

À entrada de um ato religioso da jornada nacional de oração, na sala de audiências do julgamento, uma mulher dizer haver visitado recentemente a residência de idosos onde vive Lee. Explica que nesse dia a cumprimentou e cinco minutos depois já não se lembrava dela:

– Só lhe digo uma coisa. Não está bem de saúde.

Todas estas conjeturas – “teorias conspirativas”, segundo o historiador Flynt, “típicas fofocas de um povo do sul”, aponta Tonja Carter, a advogada do escritório Barnett, Bugg, Lee and Carter que descobriu o manuscrito e está à frente das negociações com a publicação pela Harper Collins. O escritório tem história. Fundado em 1901, teve entre seus sócios A. C. Lee, pai de Harper e Alice e figura que inspirou a composição de Atticus Finch. Alice trabalhou aí desde 1944. Aos 100 anos ainda seguiu na ativa. Morreu em novembro de 2014, aos 103. Tonja Carter, que trabalhava como ajudante, mas não se gradou pela Escola de Direito da Universidade do Alabama até há pouco, tomou a frente.

Harper Lee fotografada no escritório de advocacia do pai.

Barnett, Bugg, Lee and Carter se encontra numa rua perpendicular a Avenida South Alabama. Na mesma onde há uma joalheria (Johnson’s, desde 1946, “compramos ouro”, diz um cartaz) e uma livraria cristão (My Time is in his Hands – Meu tempo está em suas mãos).

É quinta-feira pela manhã e passo ao escritório que está aberto. Detrás da mesa da recepção não há ninguém. Uma porta aberta conduz a umas salas. Passam-se uns 20 segundos e, do fim do corredor, uma mulher responde as saudações aos recém-chegados.

– Poderíamos falar com Tonja Carter?

– Hoje não está – responde.

Sobre um móvel da recepção são exibidas velhas recordações. Um exemplar antigo do livro The Panorama of Modern Literature, um diploma do Superior Tribunal do Alabama a “Nelle Harper Lee”.

Não haverá forma de falar com Tonja Carter. Dois e-mails dos quais não vêm respostas.

Um pouco mais próximo do vulnerável escritório encontra-se o Courthouse Café, um dos três ou quatro restaurantes do centro de Monroeville. A proprietária, Janet Sawyer, se senta numa mesa para expor ao visitante sua opinião sobre o caso Lee. É uma das poucas pessoas que, com nome e sobrenome, acusa diretamente a advogada Tonja Carter de manipular Harper Lee.

– Não acredito que ela [Harper Lee] tenha decidido, disse numa alusão à publicação do novo romance. Sugere que Tonja Carter queira ser beneficiária nalguns lucros, mas não revela quais.

No funeral de Alice, alguns amigos viram Harper “divagando e falando sozinha”, disse Sawyer. Suspeita que a escritora “não está mais lúcida”.

“A mantêm como prisioneira”, disse. Sawyer sublinha ser uma anomalia que uma das pessoas mais ricas do mundo literário viva na residência idosos do povoado: “Deveria viver numa casa com uma pessoa que cuidasse dela”.

– Por que iria decidir publicar um livro quando tem já 89 anos e vive em The Meadows? – se pergunta – A cobiça move muitas coisas.

Ainda que pese todas as acusações, à pergunta que lança de si para si, se lerá Go Set a Watchman, responde veemência, “Claro que sim!”.

Kathy McCoy, primeira diretora do museu local e da obra de teatro, não concorda com os receios: “Creio que há um pequeno grupo de pessoas que parecem querer difamá-la. Não entendo muito bem. Lee lhes deu um dos maiores livros do século XX. E creio que há gente que tenha medo que o novo livro desestabilize o mérito do antigo”.

Harper Lee numa de suas últimas aparições públicas.


A livraria Ol’Curiosities & Book Shoppe encomendou 5 mil exemplares do novo romance. Tantos, que deve de alugar um local para armazená-los quando chegar. Pensem o que pensar sobre os motivos de Harper Lee ou de sua advogada para publicar Go Set a Watchman, todos os entrevistados em Monroeville esperam impacientes o dia 14 de julho.

Talvez só consigam uma decepção.

Wayne Flynt, o professor emérito da Universidade do Alabama, prognostica que o retrato de Monroeville – o Maycomb fictício – não será nada amável no novo romance, menos que o de O sol é para todos, visto pelo olhar de uma criança; em Go Set a Watchman é o de uma adulta que viveu em Nova York, que se empapou de notícias, dia sim e dia também, sobre a segregação e a violência sulista do Alabama. Talvez, e isto é uma especulação, adverte Flynt, Atticus Finch já não apareça como o pai idealizado, se não como um homem que busca justiça, mas sem questionar o sistema de segregação legal nos Estados do Sul. O pai de Harper Lee, o homem em que se inspirou para compor Atticus Finch, “era um segregacionista suave”, como a grande maioria dos brancos de seu tempo no Alabama. Só as gerações mais jovens, como Harper ou mesmo Flynt, que também é do Alabama, começaram a se distanciar a partir dos anos 1950 destas posições que representavam um status quo.

– Não será tão amável como é, prediz Flynt.

Poucas pessoas têm tratado tanto, nos meses recentes, sobre Harper Lee, como Wayne Flynt. Sua esposa tem visitado a escritora uma dezena de vezes desde o início do ano. Inclusive foram vistas fora da residência The Meadows numa encenação de Rei Lear no Festival Shakespeare do Estado do Alabama, em Montgomergy. Flynt disse a Lee:

– Nele, serias um grande rei Lear. E poderias ser um rei Lear debilitado, posto que todo mundo em Monroeville acredita que estás louca.

– E tu serias meu bufão – respondeu ela.

“A demência torna impossível uma reflexão aguda dessas com tamanha rapidez”, disse Flynt. O historiador conta que, em suas conversas, a escritora recorda histórias de seus antepassados que participaram da guerra civil. Que é difícil ouvir e seus amigos têm que escrever, muitas vezes, quando lhe dizer alguma coisa. Mas que não perdeu a lucidez mental nem o sentido de humor.

Quando, num de seus encontros com Lee, Flynt lhe falou do novo romance, ela replicou:

– Que novo romance?

– O que foi encontrado e vão publicar.

Por um momento, Flynt pensou que sim, que a memória de Lee fraquejava e lhe falhavam as capacidades mentais.

– Não sei anda de um novo romance – respondeu Lee.

Go Set a Watchman.

De fato, Harper Lee escreveu Go Set Watchman antes de O sol é para todos.

– Não é meu novo livro. É meu velho livro.

**

OITO COISAS QUE JÁ SABEMOS SOBRE O NOVO ROMANCE DE HARPER LEE 

1. É produto de um descarte. Foi escrito antes de O sol é para todos, mas era para ser O sol é para todos. O projeto depois de pronto foi abandonado pela escritora que recebeu de seu amigo e editor Tay Hohoff outra possibilidade para a trama da obra. 

2. O manuscrito foi descartado por Harper Lee, mas a irmã Alice, que foi durante longo tempo advogada de Harper, apanhou e guardou os papéis numa caixa. O arquivo ficou guardado durante 50 anos e Tonja Carter, depois da morte de Alice, em 2014, encontrou-o e depois de ler o material, apresentou a Lee, que consultando alguns mais próximos, decidiu que poderiam publicá-lo.

3. A trama de Go Set a Watchman se passa pelo menos duas décadas depois das ações de O sol é para todos. No primeiro capítulo publicado on-line pelo The Guardian e vários outros jornais encontramos Scout (referida pelo seu nome completo, Jean Louise Finch) envolta numa nostalgia pelo afastamento de sua cidade; vive agora em Nova York, onde é movida pela força rebelde de sua juventude cujos traços já encontramos nela quando criança. Testemunha o crescimento de seu possível pretendente, Henry Clinton, mas ela prefere não casar-se e a abraçar a vida de solteirona.

4. Num dos parágrafos descartados por Lee (o livro é publicado sem revisões) revela-se que "o irmão de Jean Louise caiu morto um dia numa de suas trilhas". Esta é uma revelação que chocou os leitores do primeiro capítulo; o pai Atticus recupera-se bem da perda do filho depois de se tornar muito próximo de Jem Henry, que irá cuidar do pai Scout já na velhice. Atticus tem 72 anos, continua na ativa, mas por causa de uma artrite precisa de certa atenção.

5. Go Set a Watchman foi Best-Seller antes de ser publicado. Os números dão conta de que o livro em pré-venda superaram em muito o recorde que pertencia a Harry Potter e as relíquias da morte, de J. K. Rowling.

6. Uma das primeiras pessoas a ler o romance (claro, depois de editores do mundo inteiro) foi a atriz Reese Witherspoon; ela gravou uma versão em áudio.

7. O livro pode até ter passado pelo interesse de ser publicado nos anos 1950. Mas, era muito forte para época. Andrew Nurnberg, agente literário britânico de Lee, disse que o livro é muito político e logo muito importante do ponto de vista histórico porque o leitor tem uma noção real do que estava acontecendo na região sul dos Estados Unidos na Época. A obra faz referência a decisão de 1954 do Conselho de Educação ante o ato de banir a segregação racial das escolas públicas nos Estados Unidos cuja decisão foi impetrada pela Suprema Corte.

8. Não pode ser o último livro de Harper Lee. Todos têm certeza de que a escritora não parou com a publicação de O sol é para todos. Há outros romances (alguns inacabados) e muita correspondência. "Pode haver pelo menos mais 10 romances que ela teria escrito e agendado para publicação depois de sua morte", escreveu ao Telegraph Gaby Wood num artigo sobre a conturbada aparição de Go Set a Watchman. Resta esperar.

* Esta é uma versão de "Las huelas del ruiseñor", El País. As oito notas são de Alice Vicent para o The Telegraph. Esta post foi atualizada no dia 10 de julho de 2015.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Boletim Letras 360º #579

Boletim Letras 360º #573

Seis poemas-canções de Zeca Afonso

Confissões de uma máscara, de Yukio Mishima

A bíblia, Péter Nádas

Boletim Letras 360º #575