Rock e Literatura
![]() |
The Doors. O nome da banda foi revelado a partir de As portas da percepção, de Aldous Huxley. |
Dias desses estive por aqui organizando uma curta play list de algumas músicas que foram inspiradas em alguns dos mais famosos clássicos da literatura. Hoje, Dia Mundial do Rock, voltei a ela para ver uma coisa: quantas das músicas ali indicadas são de grupos do gênero. Antes de responder a observação, que seja feito um curto parêntese aqui para justificar que as duas coisas têm, na gênese um princípio em comum. Afinal, a grande característica que define o literário é sua capacidade de transgressão. Logo, cá, eu pergunto, que outro gênero musical mais define pela ideia que não o rock? Até quando algumas bandas se baseiam numa hermenêutica da música, isto é, quando algumas bandas se deixam guiar apenas pela fúria adolescente e propõe revoluções no plano estético do gênero a que pertencem, até nesses casos, rock liga-se à literatura. Logo, não dá para reduzir-se na ideia de adolescente de ensino médio de que o único gênero que é por natureza, literário, seja a MPB. Vou além, o que é o rock perante a MPB? O rock está na base da própria música e a MPB é coisa que está bem depois dele. Evidente que, estou longe aqui de estabelecer determinados ranques entre uma coisa e outra. Mas, haveremos de reconhecer determinadas relações.
![]() |
O fascínio dos Beatles por Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol, serviu para a composição de várias letras. |
Agora, deixem que eu volte à curta play list que postei ao
tratar da relação literatura e música. A resposta é bastante óbvia: quase cem
por cento das indicações são do rock. E verão os mais roqueiros que eu que as
grandes bandas que estão na lista das bandas cabeça têm na literatura os dois
pés. Muitas terão utilizado os livros como suporte para lhe dá o nome pelo qual são
tratadas. Está aí The Doors, nome feito a partir de As portas da percepção de Aldous Huxley, Soft Machine da obra de
William Burroughs, The Fall de A queda,
de Albert Camus, Steppenwolf, nome herdado de O lobo e a estepe, de Herman Hesse, The Triffids, inspirado em
romance The Day of the triffids, de
John Wyndam.. No Brasil, exemplo é o do Barão Vermelho, que teve o nome tirado
de uma tirinha do Snoopy e do Charlie Brown. Ainda nas estrangeiras, Daniel Benevides, num post para o Blog da Cosac Naify e, de onde fui buscar bases para
escrever este post, apresenta a novidade polonesa Bruno Schulz, inspirada
diretamente no autor de “Lojas de canela” e “Sanatório”. E por vai.
Vou deixar agora, uma segunda listinha:
1. Led Zeppelin – Misty Mountain Hop, inspirada na trilogia O senhor dos anéis, de J R R Tolkien;
2. Sheryl Crow – All I wanna do, inspirada no poema “Fun”,
de Wyn Cooper;
3. Rolling Stones – Sympathy for the Devil, inspirada em O mestre e a Margarida, de Mikhail
Bulgákov;
4. The Police – Don’t stand so close to me, inspirada em Lolita, de Vladimir Nabokov;
5. Coldplay– Clocks, inspirada na obra Willian Tell,
de Friedrich Schiller;
6. The Beatles – The fool on the Hill, inspirada em Tom Jones, de Henry Fielding;
7. Iron Maiden – To tame a land, inspirada em Duna, de Frank Herbert;
8. Metallica – The call of Cthulh, inspirada na obra
homônima de H. P. Lovecraft;
Bônus
Acresçam às oito faixas, dois álbuns que foram integralmente
inspirados em livros: Animals, de Pink Floyd, inspirado na Revolução dos Bichos, de George Orwell e
Haunted, de POE, inspirao em House of Leaves, de Mark Z. Danielewski.
O álbum do Led Zeppelin que traz a faixa “Misty Mountain Hope”,
Led Zeppelin IV, tem várias outras
faixas inspiradas na trilogia do Tolkien. Já o Iron Maiden tem várias músicas
inspiradas em outros clássicos, como O
fantasma da ópera, O nome da rosa,
em poemas de Coleridge, Lord Tennyson... E, para findar, o álbum Magical Mystery, dos Beatles, onde está
a faixa “The fool on the Hill”, tem ainda “I am the Walrus”, inspirada em Alice no país das maravilhas, de Lewis
Carroll.
Comentários