LANÇAMENTOS
A obra poética completa de Murilo Mendes, um dos principais nomes da literatura brasileira do século XX, pela primeira vez reunida.
“O poeta abre seu arquivo — o mundo —/ E vai retirando dele alegria e sofrimento/ Para que todas as coisas passando pelo seu coração/ Sejam reajustadas na unidade”, escreve Murilo Mendes em “Ofício humano”. Ao costurar referências à música, à pintura, à dança e ao cinema, o poeta não se deixa limitar pela moldura do verso e busca unir todas as artes em um projeto poético radical e ambicioso. Para além das alusões ao universo cultural, sua produção estabelece um diálogo constante com as marcas do seu próprio tempo. Há desejo, erotismo, vida, morte, terra e céu, carne e espírito — mas há também conflitos sociais, guerra, miséria. Nessa profusão de imagens, surge ainda o interesse pelas vanguardas, pelo mítico e pela religião, numa obra capaz de ampliar os sentidos e derrubar aparentes contradições. A
Poesia completa editada pela Companhia das Letras abarca desde
Poemas (1930), seu livro de estreia, até
Conversa portátil (1975), e inclui ainda dois volumes escritos em língua estrangeira e que permaneciam inéditos em português:
Hipóteses (1968), traduzido do italiano por Maurício Santana Dias, e
Papéis (1931-74), traduzido do francês por Júlio Castañon Guimarães. Para encerrar, há ensaios inéditos assinados por Davi Arrigucci Jr., Murilo Marcondes de Moura e Júlio Castañon Guimarães, além de cronologia e bibliografias do autor e sobre ele. Publicação da Companhia das Letras.
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Livro vencedor do Prêmio Literário José Saramago 2024. Uma obra que se debruça, com rara delicadeza, sobre a lenta erosão do corpo, da memória e dos afetos.
Na cadeira de balanço, entre o ranger da madeira e o tique-taque implacável do relógio, António assiste aos dias se acumularem como poeira — enquanto zela pelo corpo da esposa sem vida como se ela ainda respirasse. Dentro do pequeno apartamento onde viveram por vinte e cinco anos, cada gesto cotidiano — limpar, alimentar, cuidar — transforma-se em ritual de negação e lembrança, enquanto lá fora a vida pulsa com a vulgaridade e o barulho de uma rua próxima ao porto. Francisco Mota Saraiva constrói um mosaico pungente de solidão, cumplicidade e amor em decomposição. Entre os cheiros fortes, os sons abafados e a vizinhança decadente, emerge uma prosa que é, ao mesmo tempo, brutal e terna — um retrato implacável do que resta quando tudo o que se tem é o que se foi.
Morramos ao menos no porto é um convite para acompanhar a passagem do tempo quando o tempo já não consola — um romance que ecoa muito depois de virar a última página. Publicação da Biblioteca Azul.
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Neste livro, que marca a coroação de sua carreira como romancista, Noemi Jaffe faz de sua própria infância e adolescência a matéria-prima da narrativa.
“Vida é gasto e estou gasta, o espelho que magnifica mostra a verdade e a verdade é a velhice.” No ato de encarar o próprio reflexo, Noemi Jaffe abre vertiginosamente o arcabouço da memória, retomando sua infância e adolescência como filha de imigrantes sobreviventes da Shoá. Crescendo numa barafunda de línguas — húngaro, iugoslavo, ídiche, e nosso português brasileiro —, a menina Noemi vai cavando a toca de sua identidade. Filha de sobreviventes judeus da Segunda Guerra, ela atravessou uma juventude turbulenta, mediada tanto por descobertas políticas e sexuais quanto pela cultura questionadora que a formou. Mas a passagem para a adolescência e para a vida adulta se dá através das palavras dos outros: descobrindo o prazer da poesia com uma antologia singular, a glória da rebeldia com um disco de Chico Buarque, as angústias existenciais com Herman Hesse.
Te dou minha palavra parece questionar: do que é feita uma pessoa? Não apenas da memória das experiências vividas, mas também da cultura que a atravessa. Publicação da Companhia das Letras.
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Chiara Valerio em diálogo com Bram Stoker.
O homem no terraço é quase tão velho quanto a cidade para a qual está olhando. Seu gato Zibetto, mais preto do que todos os gatos pretos, como ele, conhece muitas histórias. O homem é o Conde Drácula. Ele ama a ciência, a fragilidade dos seres humanos e uma mulher com um rosto que sempre parece o mesmo. Em 1897, seu caso de amor com Mina Harker ainda não terminou: para aqueles que não estão mais presos à passagem do tempo, nada pode acabar. Hoje ele vive em Roma, que é uma cidade eterna, e ela vive em Veneza, que é uma cidade imortal. Eternidade e imortalidade são duas coisas diferentes, Drácula entendeu isso e Mina não. Pode ser verdade que o ódio também é amor, mas onde o amor busca a paixão, o ódio busca a vingança. James Koch é o nome do Conde Drácula quando a história começa. Mina Harker, a mulher por causa da qual ele estava prestes a ser morto, escapou da morte, agora se chama Mina Monroy e é ela mesma uma vampira. Seu gato Zibetto pode subir até dez andares e usa dois anéis de ouro chamativos em suas patas dianteiras, dois anéis de casamento para ser exato. Essa história, ambientada hoje entre Roma e Veneza, atravessa os séculos e tem suas raízes no final do século XIX, quando o Conde Drácula deixou a Transilvânia para se mudar para o Ocidente. Foi então que ele adotou o nome de Giacomo Koch e se interessou pela profissão de médico, e hoje trabalha como anatomopatologista no hospital Fatebenefratelli. Ao passar pela grande era da ciência, Giacomo percebeu muitas coisas. A primeira é que tudo o que flui é alimento, não apenas o sangue, embora o sangue humano ainda seja seu alimento favorito. Ele entendeu que não se pode superar a nostalgia dos limites prodigiosos dos vivos e que, graças à força da gravidade, cada homem e mulher contém o universo; ele sabe, acima de tudo, que quando o sangue flui nos vampiros, eles se tornam humanos e, como os humanos são vulneráveis, podem ser mortos. Mina, por outro lado, não entende nada além de si mesma, viveu os últimos sessenta anos com uma mulher que o Conde matou — como, de fato, ele matou todos os amores de sua vida — e acha que, para puni-lo, deve destruir a única grande paixão de Drácula: os seres humanos. Ele decide, na Veneza onde tudo flui, abrir um salão de beleza onde o tempo não flui mais. Do salão de Mina, quem entrar sairá como ele mesmo. Para sempre. Assim, para sempre.
Assim para sempre, de Chiara Valerio, sai pela editora Âyiné; tradução de Leticia Mei.
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Da premiada autora francesa Maylis de Kerangal, Dia de ressaca
, com ar de thriller e suspense, realiza um profundo estudo de personagem e mostra como o passado é algo maleável que sempre se faz presente.
Em um dia de novembro, a protagonista, uma dubladora francesa, recebe uma ligação de um policial da cidade costeira do Havre informando que o corpo de um homem foi encontrado numa via pública. Ao ser convocada para comparecer ao comissariado no dia seguinte, ela é forçada a retornar à sua cidade natal e lá descobre que seu número de telefone foi encontrado junto aos pertences do estranho, escrito no verso de um ingresso de cinema. De uma hora para outra, ela se vê conectada a um homem morto sobre o qual acredita não saber nada. Atordoada pela revelação, ela se distancia do marido, Blaise, e da filha, Maïa. Incapaz de sair do Havre, ela volta à cena da tragédia e perambula pela cidade e por sua orla, ao ritmo do emaranhado de suas memórias, apenas para reencontrar velhos conhecidos e reacender o espectro de um amor juvenil.
Dia de ressaca apresenta uma cidade assombrada por sua destruição durante a Segunda Guerra Mundial e que agora vive sob a pressão do tráfico de drogas. Embora Maylis de Kerangal não desvende todos os mistérios, ela desvela os fios de um passado móvel e ativo que, vindo à tona para onde quer que se olhe, deixará os leitores extremamente sensibilizados. Publicação da editora Record. A tradução é de Ivone Benedetti.
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Publicado em 1951, Bestiário
reúne alguns dos contos mais notáveis das letras latino-americanas.
Este livro é uma preciosidade. Contém os primeiros contos do jovem Cortázar, que já em 1951 se mostrava um narrador extraordinário. Para Davi Arrigucci Jr., a admirável arte do Julio Cortázar contista já está toda aqui. “A perfeita naturalidade com que seu mundo cotidiano sofre a ruptura abrupta do fantástico vem vazada em prosa displicente na aparência, mas de implacável precisão em cada palavra”, escreve o crítico. O gosto por animais insólitos desponta onde menos se espera, caso do clássico “Carta a uma senhorita em Paris”, em que a narradora em determinado momento passa a vomitar coelhinhos. Ou em “Bestiário”, em que uma casa de férias é cercada por um tigre. O narrador aqui parece sempre guiado por um senso raro dos encontros fora de hora ou de lugar, descobrindo brechas insuspeitadas no cotidiano mais banal. Em “Ônibus”, uma singela viagem na linha 168 se torna um assustador percurso pelas ruas de Buenos Aires. Em “Casa tomada”, dois irmãos vivem sozinhos em uma grande propriedade em Buenos Aires. A rotina deles é tranquila até a casa ser invadida por algo ou alguém misterioso. Repleto de liberdade e risco, um livro sem igual. Tradução de Heloisa Jahn; publicação da Companhia das Letras.
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De pé, tá pago
é o romance de estreia do escritor, roteirista e cineasta marfinense Gauz, que chega pela primeira vez ao público de língua portuguesa.
O livro foi publicado originalmente na França em 2014 e sua edição em inglês foi finalista do International Booker Prize 2023. A obra parte de uma cena comum em Paris: homens negros, imigrantes de diferentes países africanos, sobem escadas de prédios comerciais em busca de vagas como seguranças ― os chamados “de pé, tá pago”, expressão que sintetiza a condição desses trabalhadores: o salário só é garantido se permanecerem de pé o dia todo. Do posto de segurança de lojas e grandes magazines, o narrador anônimo ― alter ego do próprio Gauz ― registra, com humor sulfúrico e ironia afiada, o desfile de clientes, turistas, consumidores em geral e suas manias, seus hábitos, suas contradições. Ao fazer isso, o autor revisita e subverte teorias pseudocientíficas como a fisiognomonia e a frenologia, expondo, com sarcasmo e comicidade, os estigmas raciais que permeiam as sociedades europeias contemporâneas. Para além do inventário bem-humorado da fauna urbana parisiense, o romance intercala essa observação cotidiana com uma narrativa que acompanha as trajetórias de Kassoum e Ossiri ― dois marfinenses que chegam à França nos anos 1990 ―, Gauz constrói uma crônica da imigração africana, da herança colonialista europeia e das mudanças que impactaram profundamente os fluxos migratórios. Com uma escrita que oscila entre o deboche, a crônica social e a crítica contundente,
De pé, tá pago oferece uma leitura que provoca, diverte e obriga a refletir. É, ao mesmo tempo, uma sátira feroz do consumismo, um manifesto contra o racismo estrutural e uma homenagem às diásporas africanas, com seus desafios, dores, estratégias de sobrevivência e potência cultural. Publicação da editora Ercolano e tradução de Diogo Cardoso.
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Um registro honesto e comovente das reflexões mais íntimas de Valter Hugo Mãe.
Em
Educação da tristeza, Valter Hugo Mãe nos oferece sua obra mais íntima: um livro em que palavras e ilustrações se entrelaçam na tentativa delicada de compreender o luto, a saudade e o próprio ato de viver. A partir da perda de seu jovem sobrinho Eduardo ― figura que inspirou
O filho de mil homens ―, o autor compartilha reflexões profundas e sinceras sobre a dor, a passagem do tempo e as perguntas fundamentais da existência: Qual o tamanho do amor? Como transformar a ausência em presença? O que fazer com aquilo que nos falta? Entre pequenos causos do cotidiano, observações poéticas sobre o mundo e uma sensibilidade única, Valter Hugo Mãe constrói uma espécie de conversa à beira da lareira: íntima, acolhedora e devastadoramente honesta. Instalado em uma antiga casa em reformas, ele observa o tempo passar enquanto reconstrói ― por dentro e por fora ― sua forma de estar no mundo. Ilustrado pelo próprio escritor,
Educação da tristeza é um convite delicado para repensarmos o que é viver, amar e seguir adiante, mesmo quando a dor insiste em permanecer. Publicação da Biblioteca Azul.
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REEDIÇÕES
Edição sublinha os 100 anos de O Grande Gatsby
, de F. Scott Fitzgerald.
Nessa obra-prima, a misteriosa vida de Jay Gatsby é um retrato glamouroso e fascinante dos Estados Unidos na década de 1920, opulente, extravagante, rápido e feroz. Nick Carraway é o narrador que acompanha de perto os passos de Gatsby e descobre, junto dos leitores, os segredos do amigo, bem como os perigos que o cercam e a paixão que o consome. Uma narrativa elegante e melancólica, que expõe a sombra do sonho americano, a corrupção da riqueza, a fragilidade e superficialidade das relações humanas. Com personagens que já fazem parte do imaginário cultural, como Jay Gatsby, Daisy e Tom Buchanan, o livro já foi adaptado inúmeras vezes para o cinema e ganha agora uma belíssima edição comemorativa digna de uma festa da Era do Jazz. Sai pela Editora José Olympio com tradução de Roberto Muggiati, texto de apresentação de Arthur Nestrovski e o ensaio “Ecos da Era do Jazz”, em que o próprio F. Scott Fitzgerald comenta o entusiasmo e as pulsões dos anos 1920.
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RAPIDINHAS
Eugène Ionesco. A Temporal disponibiliza a tradução de mais duas peças do dramaturgo:
Vítimas do dever,
uma sátira do teatro realista; e a reconhecida
A cantora careca. As traduções são de Dirce Waltrick do Amarante.
Ainda o teatro. Já a Ercolano
publicará
Heliogábalo, de Jean Genet. Com
tradução de Régis Mikai e Renato Forin Jr. A peça apresenta a vida do imperador adolescente que conduziu um breve e turbulento reinado no Império Romano.
Jean Claude Bernardet. O
autor falecido no dia 12 de julho passado, deixou revista uma novela escrita em pareceria com Sabina Anzuategui e que sai ainda este ano pela Companhia das Letras. A narrativa gira em torno de um professor de cinema que afetado
na sua condição sexual decide escrever suas memórias sexuais.
DICAS DE LEITURA
1.
Lá, seremos felizes, de Nicodemos Sena
(Kotter Editorial, 220p.) O périplo interior e exterior daqueles que em meio ao vasto território amazônico, seu próprio mundo, precisam lutar para, paradoxalmente, reafirmar nele o seu lugar.
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2.
Pai patrão e Recanto, de Gavino Ledda (Trads. Liliana Laganà e Ivan Neves Marques, Berlendis & Vertecchia Editores, 320p.) Neste livro com ilustrações de Marco Giannotti, encontramos um romance cuja narrativa explora uma personagem que carrega o mesmo nome do autor, marcada pela educação agressiva do pai em um ambiente rural. A edição reúne um conjunto de textos curtos em que o escritor discorre sobre a literatura e o fazer literário.
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Movido por um instinto profundo, sempre procurei sacralizar o cotidiano, desbanalizar a vida real, criar ou recriar a dimensão do feérico.
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