Boletim Letras 360º #668

DO EDITOR

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Yuri Herrera. Foto: Tammie Quintana



LANÇAMENTOS

Três livros do premiado escritor Yuri Herrera marca a sua estreia no Brasil.

Uma fronteira demarca muito mais que limites territoriais, mas também imaginários, destinos e formas de vida. Em sua Trilogia mexicana, o aclamado escritor Yuri Herrera retrata um país dominado pela violência e pelo tráfico de drogas, separado física e simbolicamente de um território onde a prosperidade é uma promessa constante. Com habilidade singular, Herrera articula visões desses dois mundos a partir de personagens únicos, que nos conduzem a três histórias: Trabalhos do reino,
Sinais que precederão o fim do mundo e A transmigração dos corpos. O primeiro livro, o seu principal romance, acompanha o jovem músico Lobo, que se dedica a estilos tradicionais mexicanos. Ele passa a ser chamado de Artista quando, para escapar da miséria, aceita se tornar um dos músicos particulares de Rei, um poderoso narcotraficante da região. Amadurecer sob estas circunstâncias, no entanto, faz com o rapaz perceba que o palácio luxuoso onde vive é parte de um império criminoso do qual precisa se libertar. Em Sinais que precederão o fim do mundo, Makina é uma jovem cujo irmão atravessou a fronteira para reivindicar terras pertencentes à sua família. Após anos sem notícias do filho, a mãe pede que Makina faça a mesma travessia para encontrá-lo. Ela então se lança a uma jornada perigosa, atravessando a fronteira da única maneira possível: trabalhando como “mula”, no contrabando de drogas. E, assim como seu irmão, ela não será a mesma depois dessa viagem. E, A transmigração dos corpos evoca um mundo de desconfiança e conflitos durante a pandemia de gripe A (H1N1), de 2009, que afetou fortemente o México. Nesse cenário, o protagonista, um homem cuja profissão é resolver conflitos entre famílias influentes da cidade, se depara com dois corpos e um desdobramento inesperado dessa rede de relações. Em algum lugar entre a alegoria e a narrativa visceral, unindo linguagem erudita e popular, Herrera aproxima história mexicana e símbolos contemporâneos. Ele nos leva a encarar a realidade latino-americana como “um soco com hora marcada”, em que se caminha com esperança por dias melhores, mas à espreita de destinos desagradáveis — e quase sempre inevitáveis. Os livros foram traduzidos por Rachel dos Guimarães Guitérrez e saem pela Amarcord. Você pode comprar o livro aqui.

O início de uma nova coleção pela editora Pinard é com um romance de Patrick Chamoiseau.  

Texaco é um dos romances mais poderosos da literatura caribenha. A partir da voz inesquecível de Marie-Sophie Laborieux, Patrick Chamoiseau conta a saga de um povo que constrói sua história entre ruínas coloniais, violência urbana e a força encantatória da cultura crioula. Quando um urbanista chega para destruir o bairro de Texaco, a protagonista decide narrar tudo: os êxodos, as lutas, os amores, as cicatrizes e a invenção de um território que resiste apesar de tudo. Com linguagem vibrante e profundamente poética, Chamoiseau cria uma obra monumental sobre memória, luta e pertencimento — um clássico indispensável. O livro tem tradução de Rosa Freire d'Aguiar e prefácio de Dyhorrani Beira. Você pode comprar o livro aqui.

Uma tragicomédia repleta de humor e ternura. Uma estreia extraordinária

Ramón Martínez é um advogado bem-sucedido, um ateu convicto e um homem de família comum. Mas tudo muda no dia em que Ramón precisa se submeter a uma cirurgia e perde a língua ― e com ela, a capacidade de falar ― e uma tragicomédia silenciosa começa para ele. Carmela, esposa de Ramón, começa a ter discussões diárias com um marido que não consegue respondê-la; Paulina e Mateo, seus filhos adolescentes, precisam lidar com a nova situação enquanto enfrentam suas próprias obsessões (obesidade e masturbação). Elodia, a governanta supersticiosa, busca uma cura milagrosa para seu patrão, que faz terapia com Teresa, uma psicanalista que cultiva maconha em seu sótão. Em meio a toda essa comoção, Benito é o membro mais novo da família: um papagaio de uma espécie ameaçada de extinção com quem, paradoxalmente, Ramón se comunica melhor do que com seus entes queridos, e que é capaz de xingar e gritar tudo o que Ramón não consegue. Contada com um humor terno e por vezes ligeiramente sombrio, esta tragicomédia mostra-nos uma família como qualquer outra: com o seu quotidiano, os seus problemas, a sua dose de amor e risos, e também, como na própria vida, a sua dose de infortúnio e lágrimas. E com um papagaio. As mutações, de Jorge Comensal, sai pela editora Moinhos com tradução de Silvia Massimini Felix.Você pode comprar o livro aqui.

Publicado na Argentina em 2024, o primeiro livro de Julieta Correa nasce no exato ponto em que opostos ou alternativas, em vez de divergir, convergem: memória e romance, fato médico e ficção literária, perda e presença, luto e humor

A essas confluências vem se somar mais uma, entre os diários da mãe e as anotações escritas pela filha. A mãe é Sari, mulher de espírito e de letras, às voltas com uma moléstia sem nome que vai fazendo tabula rasa de suas faculdades, de sua verve, de sua voz. A filha é a autora de Por que são tão lindos os cavalos?, às voltas com o emprego, a pandemia, o confinamento e, cada vez mais, os sintomas, as consultas, os lapsos e os silêncios de Sari. Sem pressa nem plano, Por que são tão lindos os cavalos? parece ir tomando forma diante dos olhos de quem o lê. Mas nada aqui ― nem a crônica da demência e da pandemia, nem as vinhetas da vida de bairro ou os verbetes do “léxico familiar” ― se faz a esmo. Aos poucos, vai se impondo à autora a suspeita de que a doença tanto apaga como revela. Revela o teor humano de quem padece e, no caso de Sari, traz à luz a suspeita tantas vezes registrada em seus diários quanto ao caráter efêmero e fugidio da experiência humana, na raiz de sua tragédia e de sua beleza. Publicação da Editora 34; a tradução é de Mirella Carnicelli. Você pode comprar o livro aqui.

A partir de cartas reais trocadas por três grandes poetas do século XX, em seu novo livro de poemas Alberto Martins reinventa as vozes desses escritores para compor uma história de amor e exílio de alta voltagem.

No verão de 1926, os poetas Boris Pasternak, Marina Tsvetáieva e Rainer Maria Rilke — cada um em um país (Pasternak na Rússia, Tsvetáieva na França e Rilke na Suíça) — iniciam uma correspondência excepcional, marcada pela poesia, a paixão e a impossibilidade do encontro. Quase um século mais tarde, Alberto Martins parte dessas cartas para escrever os poemas de Boris e Marina. Aqui, os autores originais tornam-se personagens de uma história de amor improvável, numa obra que encena as conversas, os desafios e as apostas desses grandes escritores. Para Arlete Cavaliere — professora de teatro, arte e cultura russa da USP —, que assina a orelha desta edição, “o resultado é uma lírica narrativa inusitada, em que as vozes dos protagonistas recriadas atravessam radicalmente o fazer poético.” Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.

Uma sátira sobre as políticas higienistas e o poder subversivo dos excluídos.

Mour Ndiaye, diretor da Saúde Pública em Dakar, sonha com uma carreira política brilhante. Para conquistar prestígio e se aproximar do poder, decide “higienizar” a cidade, afastando de vista a população de rua, considerada uma mancha na imagem de modernidade que deseja exibir. Diante das medidas de exclusão e bem organizados, os mendigos tomam uma decisão inesperada: declaram uma greve. Essa ausência coletiva logo provoca um efeito em cadeia: sem os pobres para testemunhar sua generosidade, a elite urbana perde a possibilidade de praticar a caridade pública, fundamental para a vida religiosa e para a manutenção de sua imagem e respeitabilidade social. Assim, figuras invisíveis passam a ocupar o centro da cena, revelando como a sobrevivência simbólica e política dos poderosos depende justamente daqueles que eles procuram apagar. Em A greve dos mendigos, Aminata Sow Fall, escritora pioneira em língua francesa na África, constrói uma narrativa incisiva, em que o sarcasmo e a ironia abrem espaço para refletir sobre dignidade, solidariedade e o lugar dos marginalizados na vida social. O livro sai pela editora Bazar do Tempo; a tradução é de Mirella Botaro. Você pode comprar o livro aqui.

Em seu quinto livro de memórias, Maya Angelou nos conta do período em que viveu em Gana, nos anos 1960, época em que muitos afro-americanos buscavam na África uma reconexão com suas raízes.
 
Maya tem a esperança de encontrar no continente africano o sentimento de pertença à terra de seus ancestrais. Com o tempo, porém, percebe que a ancestralidade em comum não é suficiente para apagar os efeitos da história ou garantir aceitação plena. Entre momentos de acolhimento e frustração, Maya Angelou reflete sobre o que significa ser negra, americana, estrangeira e mãe, numa jornada sobre pertencimento, memória e reconciliação com as próprias origens. Todas as filhas de Deus precisam de bons sapatos para a estrada tem tradução de Stephanie Borges; publicação da editora Pallas. Você pode comprar o livro aqui.

David Grossman e sua análise arguta da situação Israel e Palestina. 

Nesta antologia de textos — alguns inéditos, como uma entrevista de julho de 2025 ao cientista social brasileiro Daniel Douek, e outros retirados de discursos concedidos em momentos importantes da história de seu país —, o israelense David Grossman analisa, com rigor, a complexa situação política de Israel e sua relação crítica com a Palestina. “Se me permitem um palpite: depois da guerra, Israel será muito mais de direita, muito mais militante e muito mais racista”; “Em meio a essa barulheira, tanto militar como emocional, tentei dar voz aos sentimentos e à mentalidade que esta guerra sem fim nos impôs.” É assim que o celebrado escritor israelense David Grossman define esta reunião de artigos e discursos que cobrem uma parcela significativa dos conflitos entre Israel e Palestina. Em especial após o ataque do Hamas em 7 de outubro, que precipitou uma guerra de imensa escala. Sua perspicácia nos permite entrever as nuances de um país polarizado e os impasses que dificultam a paz duradoura na região. Crítico severo das decisões políticas do próprio país e do fanatismo nacionalista predominante no governo de Netanyahu, Grossman articula tanto a dor dos atentados do Hamas como saídas plausíveis, em busca de uma paz construída não apenas com os vizinhos, mas também com outros atores internacionais. Apesar de reconhecer que a possibilidade de diálogo é cada vez mais escassa, acredita que vale a pena lutar por ela. Tradução de Berilo Vargas; O coração pensante: sobre Israel e Palestina é publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.

REEDIÇÕES

Uma nova reunião da obra completa de Fernando Pessoa. 

Fernando Pessoa: obra completa é uma edição monumental que reúne a vasta produção poética e reflexiva de Fernando Pessoa, considerado pelo historiador literário Otto Maria Carpeaux como “um dos poetas mais singulares de todos os tempos”. Sob a curadoria da especialista Teresa Rita Lopes, a obra publicada em dois volumes, totalizando mais de 2.500 páginas de poesia, prosa e ensaios críticos. Com formato luxuoso e acabamento em capa dura, a obra vem acompanhada de uma iconografia detalhada, fac-símiles e a fortuna crítica que contextualiza a relevância de Pessoa no cenário literário. Além dos poemas escritos em seu próprio nome, esta edição traz também os icônicos textos de seus heterônimos, como: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Acrescida ainda de Livro(s) do Desassossego, no plural porque são, na verdade, três livros assinados por Vicente Guedes, Barão de Teive e Bernardo Soares. Entre os destaques da edição, estão os três livros de Alberto Caeiro ― O guardador de rebanhos, O pastor amoroso e Andaime: poemas inconjuntos ― que refletem o projeto de recriação do “Novo Paganismo”. Já os poemas de Ricardo Reis revelam um poeta classicista, um “pagão da Decadência”, enquanto Álvaro de Campos , o heterônimo mais irreverente de Pessoa, assume uma postura crítica e social, intervindo até na vida pública do poeta. A poesia ortônima — foi assim que Pessoa designou os poemas que escreveu em seu próprio nome — é polifônica, manifestando esse “vasto ser” a entoar cantilenas, a brincar ao menino que sempre abrigou em si e a fazer ouvir o “abismo de ser muitos” com que se identificou. O primeiro volume conta com 1.008 páginas, enquanto o segundo 1.576 páginas, ambos impressos em papel-bíblia, destacando-se pelo rigor editorial e pela apresentação de uma introdução escrita por Maria Aliete Galhoz e a fortuna crítica organizada pela professora doutora Paola Poma. Publicação da Nova Aguilar. Você pode comprar o livro aqui.

RAPIDINHAS 

Mais três de Adélia Prado. A editora Record coloca novas edições do primeiro romance da poeta mineira, Solte os cachorros, do livro de contos Filandras e do livro de poesia Miserere. As reedições seguem o novo projeto gráfico desenvolvido por Leonardo Iaccarino a partir de artes do artista plástico Pedro Meyer.

Contemporânea. A nova coleção da editora Pinard que se inaugura com o livro de Patrick Chamoiseau aqui anunciado, trará ainda Um beijo de Dick, de Fernando Molano Vargas e Antoine de Gommiers, de Lyonel Trouillot.

Biblioteca Azul 2026. O selo da Globo Livros prepara para o ano um novo livro do escritor português Rui Couceiro, O morro da pena ventosa, uma coletânea de cartas trocadas entre Ray Bradbury e familiares, editores e figurões como Graham Greene, Stephen King, Arthur C. Clarke, além de uma edição reunindo a prosa completa de Sylvia Plath.

DICAS DE LEITURA

1. Romances campestres, de George Sand (Trad. Mônica Cristina Corrêa, Penguin/ Companhia, 520p.) Reunião de três romances — O pântano do diabo, O campesino e Fadete —constitui uma amostra dos impasses entre campo e cidade na literatura francesa do século XIX e um marco do pensamento socialista da escritora. Você pode comprar o livro aqui

2. Noites da paz ocidental, de Antonella Anedda (Trad. Patricia Peterle e Andrea Santurbano, Zain, Editora 7 Letras, 144p.) Uma amostra da poesia de uma das vozes mais reconhecidas da literatura italiana contemporânea. Os poemas de Anedda partem de uma esfera pessoal e se desdobram em evocação coletiva e nesta antologia enfrentam a vulnerabilidade e a instabilidade da condição humana. Você pode comprar o livro aqui

3. Tênebra 2: narrativas brasileiras de horror (1900-1949), Júlio França (Org.) (Fósforo, 432p.) A antologia continua uma incursão pelo conto de horror; desta vez são recolhidos textos de nomes como Lima Barreto, Mário de Andrade, Erico Verissimo, Rachel de Queiroz, Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles. Você pode comprar o livro aqui

VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS

No último dia 30 de novembro passou-se os 90 anos da morte de Fernando Pessoa. Recordamos este antigo vídeo que colocou o ator Pedro Lamares entre uma das figuras mais referidas na leitura, récita e outras ligações ao universo literário em seu país. É a leitura de “Quando vier a primavera”, poema de Alberto Caeiro, um dos múltiplos em que se dividiu o poeta fingidor.

BAÚ DE LETRAS

No nosso Twitter recolhemos algumas das publicações veiculadas no Letras à volta da obra e da biografia de Fernando Pessoa a assinalar a passagem dos 90 da morte do poeta português. O leitor pode acessar o fio por aqui

DUAS PALAVRINHAS

Sei que pare se vencer na vida, inspirar respeito, tem de se ser sério. Mas a mim, no entanto, é-me difícil ser sério, e à seriedade não dou grande importância.

— Konstantinos Kaváfis.

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