Descobrir Pinóquio




Amantes do livro-arte, a Cosac Naify publicou neste mês de dezembro uma obra digna de presente de fim de ano: As aventuras de Pinóquio. A proposta da editora em redescobrir a famosa história do boneco de madeira, vem numa caprichada edição com tiragem limitada a 3 500 exemplares impresso em papel importado GardaPat Kiara, capa dura e impressão em hot stamping. Nessas horas correr é necessário. 

A tradução do famoso texto ficou a cabo de Ivo Barroso, que manteve o mesmo ritmo de folhetim associado a uma linguagem refinada e límpida do original de quando o livro foi inicialmente publicado – sob o formato de folheto para jornal. Na luxuosa edição o leitor ainda se depara com um texto inédito no Brasil do escritor Italo Calvino em que comenta sobre o clássico. 

Pinóquio é uma rica metáfora acerca do rito de passagem da infância para a adolescência. Como texto metafórico que o é, Ivo Barroso preserva o tom irônico e o jogo linguístico construído por Carlo Collodi. Para o tradutor, o contato com a obra original foi uma redescoberta do texto italiano; as adaptações diversas feitas para diversas linguagens, segundo ele “de certa forma, descaracterizam pois suprimem o estilo, a cadência e o vocabulário das frases, a elaborada “simplicidade” da narrativa.” 

Já sobre o desafio de ver isso preservado no português diz: “O maior desafio foi manter tudo isto e não recorrer jamais à deformação do aggiornamento, com uso de gíria e expressões de nossos colegiais de hoje. Collodi é um clássico, alheio ao tempo, que agrada a crianças e adultos de todos os países e épocas, mas seu texto precisa ser respeitado.

Outro detalhe que chama atenção na edição agora publicada é o rico conjunto de ilustrações exclusivas feitas por Alex Cerveny – apelidado no blog da editora de o Geppetto do século XXI. O artista utilizou-se da técnica clichê verre – a mesma utilizada em meados do século XIX – na qual se chamusca uma placa de vidro com uma vela e desenha-se rapidamente com um objeto pontiagudo sobre a sua superfície. Logo aí vê-se que o resultado é uma obra à parte que reanima o diálogo com a beleza do texto que teve suas primeiras aparições em meados de 1883.

Ligações a esta post:
>>> Numa post para o blog da Cosac Naify os leitores podem assistir um vídeo com Cerveny.


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