Boletim Letras 360º #671
DO EDITOR
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| Goliarda Sapienza. Foto: Giovanni Giovanetti |
LANÇAMENTOS
O que é a vida, se você não para um instante para repensá-la? Hoje considerado a obra-prima de Goliarda Sapienza, romance escrito ao longo de dez anos foi rejeitado por editoras durante duas décadas em função de seu conteúdo libertário, transgressor e também pela carga erótica do texto.
Em A arte da alegria tudo gira em torno da figura de Modesta: uma menina (e depois mulher) siciliana, inteligente, sagaz, vital e incômoda, poderosamente imoral segundo a moral comum. De origens humildes, ela faz da própria vida um campo de batalha e investigação, sempre às voltas com desejos e ambições complexos, muito diferentes daqueles a que parecia destinada. Desafiando a estrutura patriarcal de seu tempo e desmascarando a fragilidade das convenções, a protagonista guia o leitor em uma busca extremamente contemporânea, a busca por alegria. Amiga generosa, mãe afetuosa, amante sensual: Modesta é uma mulher capaz de desconstruir todas as regras do jogo para poder usufruir do verdadeiro prazer, desafiando a cultura patriarcal, fascista, mafiosa e opressiva em que vive. Esta é a obra escandalosa de uma escritora. É uma autobiografia imaginária, um romance de aventura, um romance de formação. É também um romance erótico, político e psicológico. Uma obra indefinível, que conquista e transforma. Publicado pela Autêntica Contemporânea com a tradução de Valentina Cantori e Igor de Albuquerque. Você pode comprar o livro aqui.
Nova edição e tradução de um dos grandes romances da literatura russa e da obra de Fiódor Dostoiévski.
Publicado meses antes da morte Dostoiévski, este livro é considerado por muitos críticos o auge da produção artística de Dostoiévski e uma obra-prima da literatura que influenciou de pensadores como Sigmund Freud a escritores contemporâneos como J. M. Coetzee. Nos contrastes da vida de três irmãos com temperamentos e visões de mundo diferentes, quando não antípodas, conhecemos o primogênito Dmítri, o intelectual racionalista Ivan e o místico Aliocha, um dos personagens mais singulares do autor.
Estudado por Freud, que julgava o romance como “o melhor já escrito”, a complexidade psicológica e filosófica da obra de Dostoiévski ressoa até os dias de hoje, agora em nova e acessível tradução de Cecilia Rosas e Lucas Simone e com análise alentada do biógrafo Joseph Frank. Os irmãos Karamázov sai pela chancela Penguin/ Companhia. Você pode comprar o livro aqui.
Maria Valéria Rezende amplia projeto de contos em que reescreve passagens de outras ficções projetadas por grandes nomes da literatura.
Partindo da produção literária de autores consagrados, como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, José Saramago, Julio Cortázar, Franz Kafka e Guy de Maupassant, Maria Valéria Rezende borra as fronteiras entre “escrita” e “reescrita”. Mais do que isso, ao atualizar um conto com as cores de nossa época ou propor novos desfechos para estórias conhecidas, questiona a ideia de “originalidade” nas criações, já que toda obra se nutre de um vasto repertório de outras grandes obras, que por vezes ditam cânones e fazem escola. É com o despojamento de uma escritora madura e a grandeza dos que não se negam ao diálogo que a autora se aventura no estimulante exercício literário de habitar outras poéticas, de compor com muitas mãos. E, nas palavras de Roberto Zular, autor do posfácio desta edição, “faz isso com muita leveza, seja por esse dom de contadora de histórias, seja por encontrar uma dicção precisa para cada uma dessas experiências ao mesmo tempo literárias e que, no entanto, parecem ir além da literatura”. Nesse movimento, a ficção se torna “lugar de atravessamento do que é escrita, mas também oralidade, do que é passado, mas também presente, do que é essa metamorfose contínua da literatura e da vida”. Com estas doze narrativas curtas, Maria Valéria Rezende reafirma o seu talento de contista, com erudição e sem abrir mão das boas risadas que a literatura pode proporcionar. Recapitulações é publicado pela Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
Em edição fartamente ilustrada e anotada, livro do autor de Formação econômica do Brasil discorre sobre sua experiência como pracinha da Força Expedicionária Brasileira na Itália.
Em 1942, quando o Brasil declarou guerra aos países do Eixo, Celso Furtado tinha 22 anos e sabia que poderia ser convocado a qualquer momento. Como aspirante a oficial, o segundo-tenente esteve em missões na Toscana e em Nápoles, atuando de fevereiro a setembro de 1945 no posto de oficial de ligação junto aos Aliados. Furtado escreveu contos, cartas e breves ensaios sobre esse período, em que narrou o dia a dia entre os militares, a camaradagem com os demais soldados, o encontro com pessoas devastadas pelo conflito, as viagens para as cidades próximas, e também os impactos pessoais e políticos da guerra. Reunidos em O tenente, tais textos apresentam outra faceta de um dos mais influentes economistas do Brasil e revelam em primeira mão o testemunho dos pracinhas na Segunda Guerra Mundial. Este volume inclui uma ampla seleção de fotos e documentos históricos, além de introdução e notas de Rosa Freire d’Aguiar. Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Um dos marcos mais incendiários da literatura brasileira, Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade, retorna às livrarias em nova edição com posfácio inédito.
Com sua prosa entrecortada, experimental e cheia de provocações, Oswald de Andrade entrega mais do que um romance: oferece um manifesto em forma de ficção, um ataque frontal à hipocrisia burguesa, à mediocridade institucional e à pasmaceira do espírito conservador. É um livro que não se lê, mas se engole com o estômago revirado. Lançado originalmente em 1933, o romance reaparece como um espelho rachado da sociedade brasileira — fragmentado, cáustico e ferozmente atual. Serafim, o personagem-título, é um alter ego tragicômico do autor, preso entre a rotina do funcionalismo público, as pressões conjugais, as aventuras boêmias e as aspirações intelectuais. Em um Brasil que cambaleia entre o feudalismo tropical e a caricatura do progresso, Serafim é um corpo fora do eixo — dançarino, professor, libertino, sonhador, náufrago. O mundo ao seu redor é cômico e grotesco, um teatro de absurdos que expõe a miséria ética das instituições e o conservadorismo das convenções. Com ritmo de colagem, o romance é construído em blocos narrativos ora líricos, ora farsescos, atravessados por crônicas, anedotas, falas teatrais e poemas. É um caleidoscópio literário em que a forma acompanha a revolta do conteúdo — herança direta da proposta antropofágica de Oswald, que mastiga a cultura europeia para reinventar uma estética brasileira genuína e insubmissa. O posfácio assinado por Américo Facó propõe uma releitura crítica da obra sob o prisma do modernismo e de suas repercussões no século XXI, estabelecendo conexões entre o espírito insurrecional de Oswald e as lutas simbólicas da contemporaneidade — da arte às ciências humanas, da crítica cultural à política identitária. O livro sai pela editora Global. Você pode comprar o livro aqui.
Ensaios críticos breves sobre temas contemporâneos, explicando e analisando argumentos de nossa atualidade, e ainda respondendo a provocações (quando não, destemidamente, provocando).
Trata-se o novo livro, de Dirce Waltrick do Amarante, que começa (justamente) com os críticos que, em particular no Brasil, têm medo do ódio que porventura suscita dizer a verdade no meio de uma sociedade hostil. Qualquer ideia dissonante é forte candidata à “lacração”, especialmente se põe o dedo na ferida de alguma personalidade “badalada”, distinta “e até mesmo inteligente”, mas que, quando pega na caneta só escrevinha polêmicas vazias, “isso ou aquilo”, ou o que todo mundo já sabe. Mas qual é o papel do autor, do editor, do pós-crítico, do pós-dramático, dos prêmios literários, da reforma ortográfica, da história viva, do paradoxo, do diálogo, da “literacia” familiar...? Isso sem falar do “lugar de fala”, (do descompasso) da literatura infantil, da “colonização etc. E o que dizer do feminismo (transtorno mental?) e do machismo (a máquina de matar tem nome?)... Last but not least, é possível fazer nascer um leitor nesse domínio das redes e da falsa normalidade da I.A.? Dirce não se intimida: seus argumentos e seus autores são tratados com desenvoltura e humor, o que torna a leitura de seu livro além de muito oportuna, também seminal e instigante. Interferências: censura, apagamentos e outros temas contemporâneos sai pela editora Iluminuras. Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
Retorna às livrarias livro organizado por Hélio Pellegrino pouco antes da sua morte com textos que publicou em vários jornais do Rio de Janeiro e São Paulo.
Completo e complexo, Hélio Pellegrino foi um psiquiatra, psicanalista, escritor, poeta e ativista político que deixou marca indelével em todos aqueles com quem conviveu. Embora publicada após sua morte, A burrice do demônio não é exatamente uma obra póstuma, tendo sido organizada pelo próprio Hélio antes de falecer, em março de 1988. Reunindo 59 textos publicados na grande imprensa carioca e paulista, sobretudo no Jornal do Brasil e na Folha de S.Paulo, esta coletânea surpreende pela capacidade de antevisão de Pellegrino, uma vez que os temas abordados continuam na ordem do dia, assim como seus comentários sempre profundos, argutos e de irretorquível lucidez. Longe de trazer uma nostálgica visão do Brasil de fins do século XX, este livro instiga reflexões ainda muito atuais acerca dos dilemas e dos paradoxos que convulsionam nosso país neste novo milênio. É uma obra que ― para usar uma expressão cunhada pelo antropólogo Roberto DaMatta ― nos ajuda a compreender “o que faz o Brasil, Brasil”. O livro é publicado pela editora Rocco. Você pode comprar o livro aqui.
Reedição de Toda poesia de Augusto dos Anjos, organizada e com estudo de Ferreira Gullar.
Reedição de Toda poesia de Augusto dos Anjos, organizada e com estudo de Ferreira Gullar.
Caso raro de poeta erudito na forma e popular no alcance, Augusto dos Anjos, autor do poema “Versos íntimos”, aborda poeticamente o cotidiano sob uma perspectiva crua e visceral. Em Eu, seu único livro publicado em vida, a deterioração da matéria e o escatológico ganham uma face sublime, e a morte — científica, inevitável e ao mesmo tempo benquista — se apresenta com extrema materialidade.
A indiscutível força literária de Augusto dos Anjos o aproxima de poetas como Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire, com os quais o brasileiro dialoga ao combinar motivos polêmicos e sonoridades impressionantes. Todos introduziram, cada qual em seu país, uma temática centrada na dor universal: solidão, amargura, crise existencial e perplexidade diante das injustiças da vida. Além disso, as referências autobiográficas e o contexto político são fundamentais para a obra augustiana, cujo desalento, melancolia e técnica incomodaram a crítica por muito tempo. Em 1976, Ferreira Gullar preparou a presente edição da poesia completa de Augusto dos Anjos e a enriqueceu com um ensaio que foi decisivo para reposicionar o poeta paraibano no imaginário literário brasileiro, destacando-o como criador singular, e não mais como simples escritor excêntrico. Nesse texto, Gullar sustenta: “Há poetas que apenas escreveram alguns poemas […]. E poucos são aqueles que conseguiram realmente criar uma obra poética, um universo poético próprio. Augusto é um destes.” Além do estudo crítico de Ferreira Gullar, esta reedição da José Olympio conta com um caderno de imagens que reúne informações, fotos e documentos ainda pouco conhecidos, e capazes de recuperar, para os leitores de hoje, a figura e a vida de Augusto dos Anjos. Você pode comprar o livro aqui.
Esta é uma edição reduzida, de recesso, por isso o Boletim Letras 360º é apresentado sem as costumeiras seções complementares.

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