Boletim Letras 360º #375



DO EDITOR

1. Alcançamos, ao acaso, mais uma semana. E com os velhos problemas de sempre. Descobrimos outro desafeto da gente ignorante que continua no trabalho coordenado e financiado de ampliar as fronteiras da escuridão no Brasil: depois de sabermos que ela adora um esculacho contra José Saramago e Chico Buarque, sabemos que o nome da vez é Sérgio Sant’Anna. Uma post publicada em nossa página no Instagram foi atacada por comentários de ódio que também chegaram a outros meios.

2. Reiteradas vezes incitamos a denúncia aos malfeitores; nós e todos os que contribuíram não alcançamos êxito até a manhã de fechamento da edição deste BO, o que nos leva a questionar a fragilidade dos administradores das plataformas virtuais numa ação efetiva contra o fascismo nesse início de século. Nossa presença em redes como o Instagram será reduzida: o impacto disso não interfere em nada no amplo poder exercido por este domínio, mas é uma maneira de não oferecer mão de obra gratuita para um grupo que não tem zelo para com as gentes que aí circulam.

3. Por isso, mais atenção ao Facebook (sim, é da mesma corporação, mas tem se mostrado mais sensato e eficiente em coibir determinados abusos dos fascistas) e no Twitter. Nesta segunda casa, estamos com o mesmo nome que nos apresentamos no Instagram, @Letrasinverso. Os que puderem nos acompanhar mais nestes espaços farão um gesto de carinho para com este blog.

4. E, por falar sobre fascismo (agora me coloco em primeira pessoa), tenho acompanhado o movimento incitado pelo canal Livrada a que outros Booktubers se pronunciem sobre sua posição política ante o levante dos fascistas. Embora, este blog não produza conteúdo em vídeo, nem guarda pretensões de desenvolver atividades do tipo, li e vi com atenção algumas diversas manifestações (e destaco aqui o vídeo da Tamy). O assunto tem sido motivo entre alguns dos nossos colaboradores; isso porque se trata de uma pauta urgente e necessária. Além disso, o blog, reiteradas vezes, se manifestou publicamente sobre quaisquer atitudes que firam os princípios humanos. É bem verdade que essas questões nem deviam passar por quaisquer um de nós que lidamos com o literário, visto que, o princípio natural de toda arte (com algumas exceções facilmente execráveis) é sempre se colocar no limite do questionamento e contra quaisquer ideologias que tomem pelo pensamento raso e a opressão aos valores humanos como princípio actancial.

5. Estamos fartos de notinhas de repúdio, por isso não fazemos mais isso. E estamos atados quanto ao nosso alcance de poder, tendo em vista que aqueles que deviam zelar por outros princípios que os vigentes, e têm poder para tanto, queimam seu tempo em ventilar discursos e oferecer propositalmente muitas vezes palco para louco dançar, quando não silenciam. Talvez a alternativa seja cobrar dessa gente o empenho que não demonstram. E, nesse sentido, a convocação do Livrada é a manifestação da angústia que nos consome ante a incerteza e o comodismo: o alvo, portanto, parece que não foi o melhor.

6. Os que estão conosco, desde sempre, obrigado. Os que quiserem se juntar para pensar estas ou quaisquer outras questões, nossos canais estão sempre abertos para o diálogo. O silêncio puramente simples, as reduções, o grito, a opinião rasa, a ofensa gratuita, a ignorância, a idiotização e o ódio nunca serão bem-vindos, porque o agrupamento para essas atitudes não é humano. E se nos utilizarmos de algum desses recursos será para medir nossa altura, jamais pelo ataque puro e gratuito com fazem os fascistas.

7. Por fim, este Boletim é dedicado a Sérgio Sant’Anna (imagem). Ao escritor, muito obrigado pela companhia que nos deixa e pela voz ativa que foi enquanto estava fora dos livros!



LANÇAMENTOS

A insubordinação da autora da Autobiografia de Alice B. Toklas diante de qualquer cânone em um livro que reúne ensaios, esquetes e um depoimento, pela primeira vez publicados em língua portuguesa.

O título retoma o do último ensaio da publicação – “O que são obras-primas e por que há tão poucas?”, em que Gertrude Stein reflete sobre os conceitos de tempo e de identidade na criação das obras de arte. A adaptação ao exílio, a partir da experiência em Paris – para onde se mudou em 1903 – está registrada em “Uma americana e a França”, e a sua trajetória criativa é revista em depoimento a Robert Haas, jornalista responsável pela edição original, de 1970. Diálogos com o escritor Jean Cocteau e com a crítica Edith Sitwell, contemporâneos da escritora, também integram o volume, em esquetes de uma dramaturgia totalmente fora das convenções cênicas tradicionais. Traduzido por Luciana Viégas o livro é publicado pela editora Graphia.

Livro de poemas de Gonçalo M. Tavares inédito no Brasil ganha edição pela Chão da Feira.

Num jogo de proximidade e distância com a escrita do poeta alemão Novalis (1772-1801), este livro de poemas está entre os primeiros publicados por Gonçalo M. Tavares. Nele, a investigação filosófica e sua atração pela amplitude do pensamento é simultânea ao radical compromisso poético com a singularidade e com a liberdade das imagens – ou seja, trata-se de filosofia e poesia, de investigação e testemunho, ou ainda, de um espaço de escrita onde as muitas formas de pensamento e sensibilidade estão em relação. Inédito no Brasil, foi lançado em Portugal em 2002.

A primeira obra dedicada à poesia de Mário Cesariny no Brasil será lançada este ano pela Bazar do Tempo.

Mário Cesariny (1923-2006). Considerado o principal representante do surrealismo português, foi poeta e pintor. Quando jovem, viaja à Paris, onde conhece André Breton e, de volta à Lisboa, impulsiona a criação do grupo surrealista ao lado de Alexandre O'Neill, José Augusto França, António Pedro, entre outros. Nos anos 1950, Cesariny se dedica à pintura e à poesia e durante esse período começa a ser vigiado pela Polícia Judiciária por “suspeita de vagabundagem”, obrigado a comparecer a humilhantes interrogatórios regulares devido à sua homossexualidade – que expressava de modo franco e destemido. A partir dos anos 1980, a obra poética de Mário Cesariny é reeditada e redescoberta por uma nova geração de leitores. O navio de espelhos integra a Coleção Atlântica e organizado por Maria Lessa.

Um verdadeiro e próprio testamento espiritual de Stig Dagerman.

A inalienável aspiração humana à felicidade, à liberdade, à redenção, ao direito de existir sem outra justificativa senão a própria inviolabilidade e, ao mesmo tempo, a consciência desesperada de que essas aspirações permanecem inatingíveis: essa é a confissão tocante do escritor enfermo do mal de viver e que sempre sentiu “atrair a dor como uma calamidade” ainda que A nossa necessidade de consolação não seja a última obra de Dagerman, ela aparece como um verdadeiro e próprio testamento espiritual, em que se lê nas entrelinhas, o motivo de seu silêncio final e de seu suicídio. Escravo do próprio nome e do próprio talento a ponto de não ter “a coragem de usá-lo por medo de tê-lo perdido”, obcecado pelo tempo e pela morte, incapaz de se evadir das pressões que sente impostas pela sociedade e, ainda mais, pela sua própria intransigência, permanece mesmo assim convencido de que o valor de um homem não pode ser medido por seu desempenho e que ninguém pode exigir muito dele, a ponto de afetar sua vontade de viver. Há sempre palavras de oposição a todo tipo de opressão, “porque quem constrói prisões não se exprime tão bem quanto quem constrói a liberdade” mas se isso não é ainda suficiente, permanece o silêncio, “porque não existe machado capaz de romper um silêncio vivo”. A tradução de Flavio Quintale é publicada pela Editora Âyiné.

Um romance assombroso, pleno de aflição, mas também capaz de celebrar o amor e a magia de um sonho.

O futuro é um lugar sombrio no qual a população humana em declínio vaga pelas ruas, dopada e mantida calma pela euforia eletrônica. Trata-se de um mundo sem arte, sem livros e sem crianças, um mundo no qual as pessoas preferem ser queimadas vivas a suportar a própria existência. A vida humana começou a se desvanecer, tornando-se uma existência cheia de tédio e dormência, sob o domínio dos robôs que os próprios homens criaram. Spofforth, um androide de última geração que almeja o suicídio e é impedido pelo software com que foi programado, é o símbolo e o guardião do status quo. Sua existência se entrelaça com a de Paul Bentley — um professor universitário que, acidentalmente, redescobre os livros, os quais lhe deram a chance de aprender sobre a existência de um passado e lhe mostram a possibilidade de mudar — e a de Mary Lou, que, desde pequena, se recusa a tomar remédios, com o objetivo de manter os olhos bem abertos diante da realidade. "O imitador de homens" é um romance assombroso, pleno de aflição, mas também capaz de celebrar o amor e a magia de um sonho. Uma distopia moderna acerca das inquietações da raça humana, em que a tecnologia desenfreada se transforma de recurso em perigo. O imitador de homens, de Walter Trevis é uma tradução de Alexandre Barbosa de Souza a ser publicada pela Rádio Londres.

Uma biografia de Wisława Szymborska.

“Fazer confidências publicamente é uma perda da própria alma. É preciso guardar algo para si mesmo”, disse Wisława Szymborska. E disse também: "Esforço-me para não pensar em mim e isso não é fazer fita ou charme para o leitor – realmente não estou no centro dos meus próprios interesses". Escrutar a vida de quem tanto detestava expor-se publicamente e fez da discrição uma marca pode parecer uma intromissão indevida. Ou pior: uma traição. Anna Bikont e Joanna Szczęsna – duas das maiores exponentes do jornalismo cultural polonês – conseguem magistralmente em Quinquilharias e recordações contornar esse obstáculo. Trata-se de uma biografia (cujo título é retirado do verso “Passe ao largo de cães, gatos e pássaros, de quinquilharias e recordações, amigos e sonhos”, do poema “Escrevendo o currículo”) não apenas rigorosa e ricamente documentada, fruto de profunda pesquisa e longas conversas com a própria Szymborska e com aqueles que com ela conviveram, mas sobretudo de uma biografia discreta. Já que não é a voz das autoras as que ressoam a cada página, mas aquela, irresistivelmente irônica, de uma mulher que, como disse o poeta polonês Adam Zagajewski parecia ter saído de um dos salões parisienses do século xviii. E com essa voz percorremos seu ambiente familiar, suas leituras, as brincadeiras e os medos da infância, sua vida no ambiente literário de Cracóvia, a adesão juvenil ao ideário comunista e sua rápida desilusão, o distanciamento e posterior simpatia pelo Solidarność nos anos 1980 e o divisor de águas que foi o Nobel. Mas que também descobrimos a Szymborska que amava bibelôs kitsch, engenhocas curiosas, limeriques – e dificilmente resistimos à tentação de decorar suas maravilhosas anedotas. E cuidadosamente protegidas por trás desse véu de ligeireza jocosa e de sua impenetrável discrição, que divisamos sua seriedade e profundidade: “Sei como ajeitar o meu semblante para ninguém ver a tristeza constante”, revela Szymborska em um poema de 1954. A tradução é de Eneida Favre e a edição da Editora Âyiné.

Uma rica visita ao modernismo argentino que pode rever as influências que deram forma ao período na cultura brasileira.

O modernismo argentino é tão rico quanto o brasileiro, mas segue injustamente desconhecido no Brasil. Este é um livro que contribui com brilhantismo para alterar esse cenário. Sonhos da periferia é um retrato poderoso e multifacetado da inteligência argentina na década de 1930, desde os primórdios do contexto de emergência da vanguarda, passando pelo projeto cultural vitorioso da revista SUR, até o registro das experiências de vida e de trabalho de letrados profissionais que sobreviviam à custa de encomendas da indústria editorial. A publicação do livro de Sergio Miceli é da editora Todavia.

O novo romance no Brasil do escritor italiano Domenico Starnone.

Anos 1970, Itália. Pietro tem 33 anos e é professor numa escola na periferia de Roma. Ele mantém um relacionamento tempestuoso com Teresa, dez anos mais nova, uma ex-aluna brilhante e independente que parece o tempo todo testar seus limites. Certa ocasião, Teresa propõe um jogo: que eles compartilhem um com o outro o seu segredo mais obscuro. Poucos meses depois de se confessarem, o romance acaba. Pietro se envolve então com Nadia, uma jovem que lhe transmite segurança e com quem ele acabará se casando e tendo filhos: ela nunca seria capaz de remexer em suas coisas, ao contrário da antiga namorada. Porém, alguns dias antes do casamento, Teresa reaparece inesperadamente. E com ela a sombra do que eles confessaram um ao outro. A partir de então, essa confissão permanecerá como uma nuvem ameaçadora. E Teresa sempre ressurge diante de todas as encruzilhadas existenciais de Pietro. Ou será ele quem está sempre em busca da ex? Na sua vida profissional, Pietro é um inconformado com o estado da educação pública italiana. Após escrever um ensaio para uma conhecida revista, passa a chamar a atenção. Em seguida, publica um livro e começa a se destacar com suas ideias, dando palestras e entrevistas. Torna-se, no decorrer das décadas, um nome respeitado, figura merecedora das mais altas reverências. A tal ponto que, na maturidade, é convidado para receber uma homenagem especial do presidente da República por sua trajetória. Para a cerimônia, alguma pessoa igualmente notável deve apresentá-lo. É então que Teresa reaparece mais uma vez, agora uma pesquisadora mundialmente famosa radicada nos Estados Unidos. Exame brilhante e devastador sobre o que é dito e o que é silenciado, sobre a trajetória pessoal e a postura moral, Segredos descortina os meandros da construção de nossa identidade perante o mundo. E mostra como uma história de amor, às vezes, pode também guardar uma narrativa de medo e suspeição. Segredos é uma tradução de Maurício Santana Dias; a edição é da editora Todavia.

OBITUÁRIO

Morreu Sérgio Sant'Anna

Sérgio Sant'Anna nasceu no Rio de Janeiro, em 1941. Considerado um dos mestres do conto no Brasil, escreveu além de narrativas curtas, teatro, romance, poesia e ensaio. Sua estreia na literatura foi 1969, com o livro de contos O sobrevivente, obra que o levou a participar do International Writing Program da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. Depois deste, vieram títulos como Confissões de Ralfo (romance, 1975), Simulacros (romance, 1977), Circo (poesia, 1980), Amazona (novela, 1986), Um crime delicado (romance, 1997), O voo da madrugada (contos, 2003), O livro de Praga (contos, 2011), O homem-mulher (contos, 2014) e Anjo noturno (contos, 2017), entre outros. Ao longo dos mais de 50 anos de carreira, o escritor venceu quatro vezes o Prêmio Jabuti, três vezes o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) e uma vez o prêmio da Biblioteca Nacional. O escritor morreu neste 10 de maio de 2020 por complicações em decorrência da COVID-19.

DICAS DE LEITURA

Sérgio Sant’Anna deixou uma vasta obra organizada pela variedade de experiências de escrita; sempre inventivo, baldeou os vários limites entre a poesia e a prosa, tingidas sempre pelas interferências de outras atividades criativas, como as artes plásticas, a música, o cinema e o teatro. Nesta seção, destacamos cinco livros que oferecem ao leitor uma visita por alguns dos tons de sua literatura.

1. Confissões de Ralfo. Este é um livro que poderia, nessa ocasião, não aparecer numa lista de recomendações porque até o presente é possível de encontrar só depois de alguma paciência com os livreiros. Mas, seria um problema deixá-lo de fora dado sua importância para a obra de Sérgio Sant’Anna. Publicado em 1975, é aqui que se aperfeiçoa toda uma variedade de procedimentos e protocolos narrativos e da escrita que servirão de modelo nas obras posteriores. Inscrito num jogo polifônico, estamos diante de um narrador aparentado ao Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade, que insatisfeito com o seu presente e descrente do seu futuro, se traveste de personagem para narrar um destino imaginário. Obviamente que tudo isso é conduzido por um experimentalismo radical que coloca em questão os princípios uniformes da prosa romanesca, além de se filiar a temas e questões recorrentes em várias obras de seu tempo, tal como os sombrios e pesados acontecimentos da ditadura militar no Brasil.

2. A tragédia brasileira. Definido como um romance-teatro, este livro de 1987 costumava ser lembrado pelo próprio Sérgio Sant’Anna como a obra que mais gostava de haver escrito. O experimentalismo do escritor se revela aqui pela interface que constrói entre tipos textuais como o monólogo teatral e o ensaio. A dorsal da obra é o atropelamento de uma menina de doze anos de idade. Esse episódio favorece a um puzzle narrativo ao ser recriado pelo ponto de vista de várias testemunhas; um deles, é o de um poeta de espírito romântico e suicida e o próprio motorista que reimagina tudo com olhos de lascívia. A riqueza desse livro não reside apenas no trabalho acurado com a forma, mas a possibilidade de nos colocar em confronto com o que somos enquanto país em permanente desajustes pela impossibilidade de se olhar frente a frente com seus próprios dilemas.

3. Amazona. Este livro foi publicado pela primeira vez em 1986 e reeditado no ano em que foi celebrado os cinquenta anos de carreira literária de Sérgio Sant’Anna, inteirados em 2019. Seu primeiro livro, O sobrevivente, veio a lume em 1969, custeado pelo pai. A nova edição do romance parece que veio em boa hora e por razões muito variadas: a vivência de novas linhas em desenvolvimento do feminismo e o caótico cenário político perfeitamente ajustado com aqueles períodos que reverberam de alguma maneira numa narrativa permeada por fantasmas de um tempo que custava passar são duas delas. Aqui, o escritor revisita o mito das mulheres guerreiras ao narrar a ascensão ao poder de Dionísia. O que se renova nesse curso é reinvenção daqueles estratagemas recorrentes nas novelas de folhetim.

4. 50 contos / 3 novelas de Sérgio Sant’Anna. Em 2007, a Companhia das Letras, casa editorial que assumiu a publicação da obra de Sérgio Sant’Anna desde o fim dos anos oitenta, preparou uma edição que reuniu meia centena de contos e três novelas; entre os contos, estão textos inéditos para a antologia. Por isso, antes de se preocupar em recomendar alguns livros específicos de sua prolífica e significativa contística – forma narrativa com a qual obteve o justo reconhecimento de um dos mais importantes inovadores na literatura brasileira do fim século XX – recomendamos esse trabalho. Aqui está uma amostra vivaz que permite ao leitor transitar pelas obsessões da prosa criativa do escritor, marcadamente lírica, irônica e erudita, no mesmo gesto de interferência proposital e nele natural entre outras formas da prosa, seja a crônica, o ensaio, e outras manifestações textuais.  

5. Livro de Praga. O livro é um dos primeiros de contos que sucede a antologia publicada em 2007; foi parte de um projeto sistematizado pela Companhia das Letras como uma série intitulada “Amores expressos”. Designado como um livro de contos, outra vez, somos colocados diante do trabalho criativo de Sérgio Sant’Anna com a forma; agora, entre a narrativa curta e o romance. Isso porque mesmo sendo lido como um livro de sete contos, pode também ser compreendido como um romance. É que o eixo principal aqui é a viagem improvável de Antônio Fernandes pela capital da República Tcheca. Este livro é uma das provas do exímio burilador e seu eruditismo: o fio condutor dessa viagem (que é em múltiplas direções e dimensões) reside na arte de Andy Warhol, na música, e no próprio feitio da obra literária, as implicações embutidas do nascimento da ideia à concepção.

VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS

1. No Youtube é possível catalogar uma variedade de vídeos com entrevistas e intervenções de Sérgio Sant’Anna: há sua participação para a série “Livro de Cabeceira”, no qual fala sobre um dos livros que mais lhe acompanham; há sua participação no Festival Nacional do Conto há cinco anos em Santa Catarina; há o escritor em leitura de passagens de sua própria obra, aquando da publicação de Páginas sem glória; e, mais recente, a excelente entrevista para o programa Sangue Latino com Eric Nepomuceno.

2. O pessoal do Posfácio editou durante a semana um dossiê dedicado a Sérgio Sant’Anna: há textos que sublinham os afetos pessoais para com o escritor; as inquietações que figuraram na sua prosa; textos nascidos da experiência de leitura da ficção de Sérgio. Você pode acessar ao “Memória Sérgio Sant’Anna” aqui.

BAÚ DE LETRAS

1. No texto “O que não há para se contar”, Guilherme Mazzafera discorre numa parte acerca do romance de Sérgio Sant’Anna Um crime delicado (1997).

2. Reunimos no Tumblr do Letras um conjunto de fotografias raras do escritor Sérgio Sant'Anna; são registros de sua primeira viagem a Europa, onde presenciou alguns dos episódios históricos mais importantes do século XX; de quando foi viver nos Estados Unidos; de sua viagem à Alemanha ao lado de Caio Fernando Abreu; entre outras.

3. No blog, Pedro Fernandes escreveu algumas notas para um perfil sobre Sérgio Sant’Anna. Publicado na segunda-feira, 11 de maio, nele, o professor o define como “um esteta da língua dos raros na literatura brasileira”.


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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas. 

Comentários

Anônimo disse…
Confesso que uma certa curiosidade mórbida me levou ao Instagram de vocês, e, aparentemente, por mais que tenham demorado, apagaram os comentários dos “facistas”; espero que não tenham falado coisas terríveis no post de um escritor recém falecido; falta de tato e sensibilidade altas...

Enfim, quanto a esses movimentos de youtubers, ainda bem que não sigo mais nenhum, a começar pelo Liv**** — há extremismos em cada lado, no tal discurso de ódio é fácil de se apoiar, e o referido canal é prova disso; no mais, acho ridículo ver essa cancelled culture no Brasil também; já era triste demais ver tal coisa nos states...

Embora reconheça que cada obra esteja inscrita em seu tempo e com ele dialoga, prefiro tratar a Arte por meios estéticos primeiramente; desgosto inteiramente dessa atitude de livro (ou outra obra de arte) “importante” para nossos tempos; uma obra se torna importante pela forma que é articulada, não pelo tema que aborda. E pelo que já li de Sant’Anna apreciei bastante, então não tempo pela corrupção artística dele; mas vejo como principal virtude de um propagador da Arte a preconização do enlevo espiritual (e não militante) que ela provoca.

Como dizia o filósofo, vida breve arte longa.
Gilberto Tavares disse…
Veja bem, Pedro. Não sei o que se passa no Instagram, porque só tenho uma conta no Facebook à força. Mas, esses ataques estão em todas as redes. Sobre o que se passa no Brasil, concordo com você que a única coisa que pode ser feita é cobrar atitude dos que se dizem contra a ordem dominante. Essa é uma briga entre eles e nosso poder é muito pequeno para se meter nela. No mais, parabéns sempre para o Letras. Tem crescido em seriedade e competência no que faz.

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