Os desenhos de Bukowski




Uma raridade: dezenove desenhos originais de Charles Bukowski, e até então dado como perdidos,  foram catalogados e apresentados durante a 46ª Feira Internacional de Livros Antigos, evento realizado entre os dias 15 e 17 de fevereiro passado em Los Angeles, Estados Unidos.

Do material apresentado, dezesseis dos desenhos foram encontrados em recortes do jornal Los Angeles Free Press, frequentemente referido com a mais importante mídia underground dos Estados Unidos nos anos 1960. Esses desenhos foram compostos para uma coluna assinada pelo próprio escritor sob o título mui significativo de “Notas de um velho sujo”. Já o restante do material havia sido publicado na quarta edição do Sunset Palms Hotel, em 1974.

Os desenhos fazem para da coleção particular do poeta e editor Michael C. Ford, autor da redescoberta enquanto limpava sua escrivaninha no final de sua carreira como funcionário no próprio Los Angeles Free Press, em 1974. Depois de achado os papéis, Ford levou para entregá-los a Bukowski. O Velho Buk se recusou a recebê-los; respondeu que Ford podia ficar com aquelas coisas de criança que talvez algum dia valessem algum trocado.

Bom, o colega de redação levou à sério o conselho. Guardou os papéis entre os seus arquivos pessoais para só apresentá-los agora. Antes, fez uma rápida exposição do agora sagrado arquivo para uma extinta galeria de antiguidades em Long Beach, na Califórnia.




A coluna no Free Press durou até 1976 e foi uma das publicações que mais contribuíram para a propagação da fama literária de Bukowski e também sua então fama local de beberrão. “Notas de um velho sujo”, entretanto teve sua origem muito antes, em um jornal clandestino, o Open City, publicado em Los Angeles entre os anos de 1967 e 1969.

O Velho Buk foi parar no Free pelas mãos de John Bryan, um que também há muito já era responsável por publicações na cena underground e na contracultura em outras partes do país, como por exemplo o NOLA Express em Nova Orleans. 

As contribuições de Bukowski não se guiavam por um gênero específico e era uma espécie de espaço “pode tudo” que, em dias publicava prosa e em dias publicava poesia; possuíam, entretanto, outra linha em comum além da assinatura do seu autor: grande parte do material é ilustrado com seus próprios desenhos de traço rude e muito bem-humorado. 

Foi desse convívio com o desenho que chegou à publicação de uma espécie de série de cartoons que levava o nome de “The Adventures of Clarence Hiram Sweetmet” que fez várias aparições no fim de 1975. O material, com o título The Day It Snowed in L. A. The Aventures of Clarence Hiram... chegou a ganhar uma edição rara em 1986 pela Sutton West & Santa Barbara.

O bom humor dos desenhos de Charles Bukowski nasce da incoerência de um traço inexpressivo porém direto, sem muitos detalhes e constitui já um importante elemento dos tempos de jornal; nota-se que Bukowski parecia fazê-los mais por um divertimento que por uma obrigação. Todos os desenhos são de tinta sobre papel e não se constituem em únicas incursões do poeta pelo mundo do traço.



Em 1966, por exemplo, depois de passar por uma cirurgia de hemorroidas, ele publicou uma “reportagem comemorativa” que contava com um desenho retratando o episódio: na cena, uma equipe de cirurgiões remove um cacho de uvas do traseiro de Bukowski. Uma cópia desse desenho foi – mais tarde – presenteada ao editor Douglas Blazek da Open Skull Press, na época também editor da revista OLE e um dos primeiros que reconheceu o trabalho do poeta.

Um ano antes, o próprio Blazek financiara a edição de Confessions of a man insane enough to sleep with beasts que já trazia ilustrações do próprio autor, como a primeira que ilustra estas notas. Ao que se segue outras publicações: em 1966, All the assholes in the world and mine traziam imagens como a que vemos no segundo momento da sequência aqui exibida; e, em 1967, Facatotum teve um tiragem de 75 cópias assinadas e com a aquarela abaixo. 



Neste jogo de slides que preparamos, é possível acessar uma amostra a mais dos desenhos que  comentamos nesta postagem. Boa apreciação! 

Ah, aos interessados na obra de Charles Bukowski – isso daqui é apenas um pretexto para tanto – em terras tupiniquins, a editora que melhor tem feito publicações suas é a L± cremos que uma visitinha ao catálogo num fará má.


* Fonte: Booktryst

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