Boletim Letras 360º #527

 
 
DO EDITOR
 
1. Olá, leitores, e as leituras estão em dia? Antes de levá-los às notícias reunidas neste Boletim, queremos agradecê-los pelas ajudas (independente das formas) com o nosso trabalho.
 
2. Em seguida lembrar que essa ajuda é fundamental para o custeio das despesas mínimas de domínio e hospedagem do Letras online. Se ainda não enviou sua ajuda, fica o convite. Conheça todas as formas de colaborar por aqui.
 
3. E, claro, entre essas formas de ajuda, está a aquisição de qualquer um dos livros apresentados neste Boletim pelos links nele ofertados ou mesmo qualquer produto adquirido online usando este link.  
 
4. Despedimos deixando os votos de um excelente final de semana com algum descanso e boas leituras.

Lúcio Cardoso. Foto: Arquivo Nacional.


 
LANÇAMENTOS
 
Dois volumes reapresentam em edição ampliada e revisada os diários de Lúcio Cardoso.
 
1. “Penso nos outros, nos amigos que nunca tive, naqueles a quem eu gostaria de contar estas coisas como quem faz confidências no fundo de um bar”, escreve Lúcio Cardoso em seu diário, comungando com o leitor a escolha imposta da escrita. É “esse diabólico e raro prazer da confidência”, para muitos “a própria suma de suas inspirações e pensamentos”, que ele partilha conosco. Aqui acompanhamos o percurso intelectual e psicológico, artístico e filosófico do autor que produziu, entre 1934 (Maleita) e 1959 (Crônica da casa assassinada), uma obra intimista e única em seu tempo. Escritos para ser publicados em vida, estes diários são palco de elucubrações candentes sobre literatura e cinema, música e teatro, Deus e moral, a filosofia niilista e os desejos mais recônditos da carne e do espírito. Acima de tudo, Lúcio descreve a confluência inadiável entre vida e literatura. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. De Dostoiévski à Bíblia, de Guimarães Rosa a Freud, as leituras e citações feitas por Lúcio Cardoso nos seus diários e textos recolhidos iluminam seu próprio processo criativo, sua angústia diante do papel, sua trajetória de pensamento, o abismo entre a ideia e a escrita. Para Manuel Bandeira, “aqui temos Lúcio contando na sua própria voz o seu próprio romance” — mais até que em sua esmerada ficção, “vemos nestas páginas um homem em luta consigo mesmo, com o seu destino, com o seu Deus”. No segundo volume, além dos diários de 1951 a 1962, graças aos imensos esforços de pesquisa e organização de Ésio Macedo Ribeiro, encontramos escritos dispersos como o “Diário proibido — páginas secretas de um diário e de uma vida”, “No meu tempo de estudante...” e “[Há muitos anos]”, publicados pela primeira vez em livro neste volume, sem contar os textos de “Diário não íntimo”, coluna de Lúcio Cardoso para o jornal A Noite. Este e o primeiro volume são publicados pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Livro apresenta pela primeira vez aos leitores brasileiros a tradução de J.R.R. Tolkien do poema clássico “A Batalha de Maldon”.
 
De autoria desconhecida, o poema em inglês antigo narra o ataque de invasores vikings a uma força de defesa anglo-saxônica liderada pelo duque Beorhtnoth. O combate ocorreu em 991 d.C., em Essex, próximo à Maldon, e é lembrado como um dos mais brutais da história inglesa. Escrito logo após a batalha, o poema original sobrevive apenas como um fragmento de 325 versos, mas seu valor até hoje é incalculável; não apenas como um conto heroico, mas por expressar vividamente a linguagem perdida daquela região da Inglaterra e celebrar ideais de lealdade e amizade. Tolkien considerava “A Batalha de Maldon” “o último fragmento sobrevivente da antiga tradição literária heroica inglesa”, e isso o inspiraria a compor, durante a década de 1930, seu próprio poema dramático, “O Regresso de Beorhtnoth, filho de Beorhthelm”, que imagina as consequências do conflito a partir do diálogo entre dois dos lacaios de Beorhtnoth que voltam para recuperar o corpo de seu duque. Nesta edição,um dos maiores estudiosos de Tolkien, Peter Grybauskas, reúne pela primeira vez a tradução feita por Tolkien de “A Batalha de Maldon” e os versos de “O Regresso de Beorhtnoth”, com comentários de edição que complementam o poema. O livro também apresenta outro texto inédito: “A tradição da versificação em inglês antigo”, uma palestra na qual Tolkien fala sobre a natureza da tradução poética. Grybauskas também explora, a partir de suas notas, a influência do poema na construção dramática de O Senhor dos Anéis. Com tradução de Eduardo Boheme Kumamoto e Reinaldo José Lopes, o livro sai pela HarperCollins Brasil. Você pode comprar o livro aqui
 
Quando a fúria e o desejo encontram seu caminho para contar uma história de corpos e afetos sobre filhos.
 
Lázaro e Juan são dois soldados de lados opostos que abandonam a guerra e tornam-se amantes. Vicente Barrera, um vendedor de linhas que ia de povoado em povoado conquistando mulheres e deixando-as com seus filhos, passou seus últimos anos amarrado em um quarto, transformado em um cão raivoso. Salvador e María consubstanciam um amor tão profundo que parece que vão se dissolver um no outro e fundir seus sonhos. É no deserto onde os destinos desses personagens se entrelaçam, onde suas feridas são herdadas e secas, onde a fúria e o desejo encontram seu caminho para contar uma história de corpos e afetos sobre filhos, mas também sobre as mulheres que os cercam: mães, amantes, companheiras. Com tradução de René Duarte, Fúria, de Clyo Mendoza, sai pela editora Peabiru. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma das últimas traduções de Heloísa Jahn.
 
Espécie de sequência natural de Afetos ferozes, Uma mulher singular é um mapa fascinante e comovente de ritmos, encontros casuais e amizades em constante mudança que compõem a vida na cidade, neste caso, Nova York. Enquanto passeia pelas ruas de Manhattan — novamente na companhia da mãe ou sozinha —, Vivian Gornick observa o que se passa à sua volta, interage com estranhos, intercala anedotas pessoais e meditações sobre a amizade, sobre a atração (tantas vezes irreprimível) pela solidão e também sobre o que significa ser uma intelectual feminista num mundo frequentemente hostil às mulheres e sua luta por autonomia. Gornick explora como os afetos a forjaram, mesmo sendo tão independente, em uma cidade que, aliás, parece de alguma forma espelhar sua busca pessoal: a Nova York destas páginas transpira a aspereza e o orgulho típicos de uma metrópole, mas também oferece uma miríade de afetos para todos os gostos. Escrito como uma colagem narrativa que inclui peças meditativas sobre a formação de uma feminista moderna, o papel do flâneur na literatura e a evolução da amizade, Uma mulher singular é também um dos últimos trabalhos de tradução empreendidos por Heloisa Jahn — uma das grandes editoras e tradutoras do país, leitora onívora e generosa, responsável por apresentar diversos autores ao público brasileiro e que sempre viveu rodeada de afetos —, morta em 2022. O livro é publicado pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
Escrita pelo togolês Kossi Efoui no início da década de 1990, A encruzilhada verte em poesia vidas ressecadas pelo autoritarismo, vidas daqueles que, nas palavras de um dos personagens, precisaram aprender a se confundir com o cenário para poderem se manter vivos.
 
Uma Mulher e um Poeta estão à procura de um caminho, de um futuro, onde seja possível ser alguém, não apenas sobreviver. Acontece que, na encruzilhada em que eles se encontram, não se vê nenhuma saída. Se é verdade que o Poeta vislumbrou no exílio uma nova existência, tal afastamento não lhe trouxe mais do que a possibilidade de, outra vez, se confundir com o cenário, o que já não era mais possível em seu país natal, onde era perseguido pelas autoridades. Esses personagens — por vezes semelhantes a bonecos inanimados — ganham vida pelo sopro de um Ponto, que lhes traz a fala como quem carrega e transmite uma memória há muito silenciada. Nesse microcosmo, une-se a eles um Cana, personagem vazio de memória, que não procura caminhos pois tem “o medo no lugar da alma”. A encruzilhada que pesa sobre esses personagens é também aquela à qual o autor esteve condenado enquanto vivia sob o regime togolês, que, com nova roupagem, perdura até os dias atuais. Porém, ao ser ambientada em um espaço onírico, habitado por personagens arquetípicos — Mulher, Poeta, Ponto e Cana —, a peça transcende em muito seu contexto de origem, e seu sentido se universaliza. Publicada pela editora Temporal a peça tem tradução e prefácio de João Vicente, Juliana Estanislau de Ataíde Mantovani e Maria da Glória Magalhães dos Reis. Você pode comprar o livro aqui
 
Coletânea inédita reúne oito histórias de Haruki Murakami.
 
As histórias desta coletânea são narradas em primeira pessoa por um escritor que personifica o próprio Haruki Murakami. Mistos de memórias e reflexões, os oito contos reunidos neste volume são ora filosóficos, ora misteriosos, mas sempre singulares, em sintonia com o estilo único que consagrou Murakami como um dos escritores mais importantes da atualidade. Múltiplas obsessões, o jazz, a música clássica, os Beatles, beisebol, memórias desconcertantes e até um macaco falante percorrem estas páginas para abordar, de forma poética e delicada, sentimentos como o amor, a melancolia e a solidão. Primeira pessoa do singular é a tradução de Rita Kohl e é publicada pela Alfaguara. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Nova edição do Livro do desassossego organizada por Richard Zenith revista e ampliada.
 
Publicado pela primeira vez em 1982, quase cinco décadas depois da morte de Fernando Pessoa, o Livro do desassossego se tornou um marco da literatura. Escrito por Bernardo Soares — personagem fictício considerado um semi-heterônimo de Pessoa pela indiscutível proximidade com o autor —, o volume recolhe cerca de quinhentos fragmentos em prosa que abordam o desconforto do indivíduo em relação à sociedade em que vive. Nos trechos recolhidos neste volume, o tom depressivo ganha forma numa náusea constante que atinge não apenas as dimensões intelectual e afetiva, mas também o plano físico. É como se “a existência da própria alma”, de acordo com o narrador, fosse capaz de engendrar um permanente “incômodo dos músculos”. Seja pelo estilo fragmentário, tão representativo dos nossos tempos, seja pelo esforço em buscar significado em uma vida que muitas vezes parece esvaziada de sentido, o Livro do desassossego impressiona por sua radical atualidade. A nova edição da Companhia das Letras inclui ainda posfácio de Leyla Perrone-Moisés. Você pode comprar o livro aqui.
 
Reedição de antologia com cinco contos fantasmáticos de Henry James.
 
Os cinco contos reunidos em Até o último fantasma representam o que há de melhor na obra de caráter fantasmático de Henry James, um dos mais influentes autores de língua inglesa do século XIX. Selecionados, traduzidos e apresentados por José Paulo Paes, os textos foram escritos entre 1891 e 1908 e, em tom de fina ironia, mesclam realidade e imaginação de forma brilhante. “Sir Edmund Orne” abre a coleção com um fantasma que aparece para sua ex-noiva e para o narrador, que acaba de se apaixonar por ela. Em “A coisa realmente certa”, um espectro tenta evitar que sua biografia seja escrita. Já em “Os amigos dos amigos”, o universo parece conspirar para que duas pessoas com muito em comum não consigam se encontrar, e “O grande e bom lugar” narra com humor as queixas de um escritor cansado do sucesso. Por fim, considerado o auge da representação do fantástico na obra do autor, “A bela esquina” fecha o volume com o encontro de um homem e seu próprio fantasma. O livro sai pela editora Zahar. Você pode comprar o livro aqui.
 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Seleta erótica de Mário de Andrade, organizado por Eliane Robert Moraes (Ubu Editora, 320 p.) O nome do escritor brasileiro não é desconhecido, mas o que certamente é novidade entre os que leram ou não obras como Macunaíma, para citar o seu mais conhecido trabalho, é a verve erótica de Mário de Andrade. Nesta antologia toda essa riqueza é colocada sobre a mesa. Você pode comprar o livro aqui
 
2. A gangue escarlate de Asakusa, de Yasunari Kawabata (Trad. Meiko Shimon, Estação Liberdade, 222 p.) Este livro aproxima-se um tanto de uma narrativa nossa bem conhecida. Ao refazer a história de derrocada do bairro de Asakusa, o narrador acompanha um grupo de jovens que sobrevivem nas ruas e se ajudam a partir de pequenos delitos graças ao papel que assume como artistas. Não existe qualquer toque que nos lembra os jovens da Salvador de Jorge Amado em Capitães da areia? Você pode comprar o livro aqui

3. Elizabeth Finch, de Julian Barnes (Trad. Léa Viveiros de Castro, Rocco, 192 p.) Um ex-aluno, depois da morte de sua professora, busca refazer o retrato de Elizabeth Finch a partir de uma investigação criteriosa dos seus mistérios e seus pontos de vista radicais. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Encontram dois vídeos em torno de Lúcio Cardoso na nossa galeria de vídeos no Facebook. Um deles especificamente mostra imagens raras do escritor de quando organizava uma exposição de seu trabalho como artista plástico em 1968. Com uma parte do corpo paralisada e impossibilitado de continuar o ofício de escritor, Lúcio se dedicou à pintura. Veja aqui.

O Instituto Moreira Salles disponibilizou online gratuitamente parte de seu acervo fotográfico e iconográfico em domínio público. São cerca de 10 mil obras, entre fotografias, gravuras, desenhos e pinturas, produzidas entre o século XVI e as três primeiras décadas do século XX por nomes como Marc Ferrez, Georges Leuzinger, Revert Henrique Klumb, Augusto Malta, Charles Landseer, Jean-Baptiste Debret, Marguerite Tollemache, Johann Moritz Rugendas, J. Carlos, entre outros. Visite aqui.
 
BAÚ DE LETRAS
 
Outro trabalho excepcional da professora Eliane Robert Moraes é a Antologia da poesia erótica brasileira (Ateliê Editorial, 2015). Pedro Fernandes escreveu sobre aqui.

Ainda o erótico em Mário de Andrade. Macunaíma foi autocensurado. O escritor descartou na segunda edição do seu romance passagens que deixaram alguns dos seus amigos, como Manuel Bandeira, encantados e de cabelo em pé. Leia mais aqui.
 
DUAS PALAVRINHAS
 
Prefiro as minhas pequenas às grandes razões, pois estas últimas quase sempre apenas justificam mistificações insustentáveis frente a um exame mais detalhado.
 
— Lúcio Cardoso, Diários

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