Boletim Letras 360º #657

DO EDITOR

Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.


Pier Paolo Passolini. Foto: Herbert List



LANÇAMENTOS

O primeiro de três volumes com a obra de Pier Paolo Pasolini para o teatro

Para o primeiro de três volumes de uma coleção com a obra teatral de Pasolini — suas seis tragédias maduras, elaboradas entre 1966 e o ano de sua morte, 1975 — foram selecionadas as duas inaugurais em ordem de escritura, Orgia e Animal de estilo. Com a publicação das peças em português, traduzidas por Maria Betânia Amoroso, Cláudia Tavares Alves e Alvaro Machado, dá-se finalmente ocasião para reconhecer Pasolini por mais uma de suas facetas, não menos surpreendente. O livro inclui dois ensaios sobre as obras traduzidas, extensa cronologia do autor e seu “Manifesto por um novo teatro” (1968). Publicação das Edições Cosac. Você pode comprar o livro aqui.

Jorge Ibargüengoitia chega aos leitores brasileiros. 

Baseado em um dos casos criminais mais escandalosos do México do século XX, As mortas recria, com ironia mordaz e humor negro, a trajetória de duas irmãs que transformaram uma rede de bordéis em um império de exploração e violência. Entre pactos secretos, ambição desmedida e uma sequência de assassinatos de mulheres, Jorge Ibargüengoitia constrói um romance vertiginoso que expõe as engrenagens do poder, da corrupção e da hipocrisia social. Ao transformar a crônica policial em literatura, o autor não apenas revela a brutalidade do episódio real, mas também questiona os limites entre verdade e ficção. O resultado é uma narrativa envolvente, ao mesmo tempo divertida e perturbadora, que consagra Ibargüengoitia como um dos grandes mestres da sátira latino-americana. Publicação da editora Pinard; tradução de Lucas Lazzaretti. Você pode comprar o livro aqui.

Poucos romances atravessaram o tempo com a mesma envergadura e delicadeza de Maurice, de E.M. Forster. Após anos esgotado no Brasil, retorna em edição de luxo, com tradução inédita de Antonio Farinaci.
 
Escrita entre 1913 e 1914, mas publicada apenas postumamente em 1971, a obra tornou-se um marco da literatura por sua ousadia, lirismo e pela coragem de imaginar um desfecho diferente para a homossexualidade em um tempo em que o amor entre homens era criminalizado e condenado ao silêncio.  O que distingue Maurice de outras obras do período é sua recusa em seguir o caminho trágico reservado ao desfecho das narrativas homoeróticas. Enquanto outros romances encerravam suas histórias em suicídios, punições ou renúncias dolorosas, Forster ousou imaginar um futuro no qual dois homens poderiam viver juntos ― não como exceção romântica, mas como algo concreto. Por isso, a obra é reconhecida como um dos primeiros grandes romances gays com final feliz, manifestação literária e política que ressoa até hoje, mais de cem anos após sua escrita. Em suas notas, o próprio Forster afirmou que escreveu o romance “para uma futura geração”, acreditando que somente quando o mundo estivesse mais aberto seria possível partilhá-lo. O autor já era um dos nomes consagrados da literatura inglesa no início do século XX, por conta livros como A Room with a View (Uma janela para o amor) e Howards End (Retorno a Howards End), mas acabou escondendo Maurice por medo de perseguição.  No entanto, quando a obra foi publicada em 1971, depois de sua morte e da descriminalização da homossexualidade na Inglaterra, os editores deram voz ao que Forster havia intuído: Maurice não era apenas um romance, mas também um símbolo de resistência.  A partir de então, E.M. Forster acabou se tornando um dos pilares da literatura queer ao lado de autores como Oscar Wilde e Virginia Woolf, e segue, mais de cinquenta anos depois, dialogando com os leitores contemporâneos que ainda reconhecem, em suas páginas, ecos das próprias lutas e conquistas. Você pode comprar o livro aqui.

Um dos momentos mais importantes da história literária visto por dentro. Conheça a vasta correspondência trocada entre quatro dos autores mais influentes da literatura latino-americana, Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa.

As décadas de 1950 a 1970 testemunharam um dos momentos mais célebres da história literária do século XX: o Boom da literatura latino-americana. Muito além de uma simples coincidência de talentos, o que se formou foi uma constelação intelectual movida por afinidades eletivas, ambições estéticas e compromissos políticos que, juntos, produziram uma reconfiguração sem precedentes da literatura latino-americana. A projeção internacional de autores da região marcou um momento de inflexão em que a América Latina passou a ocupar o centro das atenções do circuito literário global. O Boom, ao contrário do que pode se pensar, não foi um fenômeno isolado e contou com uma pré-história e um rol de outros nomes que o antecedeu ou o acompanhou — Borges, Rulfo, Carpentier, entre tantos outros. Mas, em um recorte mais aproximado, é possível identificar quatro figuras-chave: Carlos Fuentes, Julio Cortázar, Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Os autores surgem sob os holofotes não apenas pelo êxito de suas carreiras literárias, mas pela relação nutrida entre o quarteto, que se manteve próximo em diferentes níveis durante a extensão de seus anos dourados. As cartas do Boom oferece ao leitor um acesso privilegiado à intimidade desse movimento por meio da correspondência trocada pelo quarteto, que registra com franqueza os bastidores da criação literária, os dilemas editoriais, as tensões ideológicas e os afetos ― ora solidários, ora conflituosos ― que compuseram esse momento de euforia e ruptura. Mais do que documentos biográficos, esses escritos epistolares revelam a complexa teia de relações que sustentaram o Boom, bem como seus inevitáveis desgastes. Aqui, estão desde as repercussões da publicação de Cem anos de solidão até as angústias pelos golpes de Estado no continente e os projetos de férias em grupo à beira-mar. Esta edição permite não apenas reconstruir os bastidores de uma das mais decisivas revoluções literárias do século XX, mas também repensar o papel do escritor latino-americano diante de um mundo em incessante transformação. As cartas expõem tanto o fazer literário quanto as contradições e as grandezas de uma geração que ousou imaginar uma literatura capaz de dialogar com o universal sem trair suas raízes históricas e culturais. Publicação da editora Record. A tradução é de Mariana Carpinejar. Você pode comprar o livro aqui.

Uma nova tradução de um clássico da literatura latina. 

Apuleio, nascido em Madauros (região de Cartago, atual Argélia) no século II EC, foi um autor produtivo e erudito: cultivou o romance, a poesia, a geometria, a música, a dialética e a filosofia. No entanto, apenas poucas dessas obras chegaram aos nossos dias: o romance Asno de ouro (Asinus Aureus), o discurso de defesa contra a acusação de prática de magia (Apologia ou Pro se de magia), uma antologia de discursos epidíticos (Florida) e textos filosóficos (De deo Socratico, De mundo, De dogmate Platonis). Viajou por Grécia, Roma e Egito, onde se envolveu em um processo por práticas mágicas. Além das informações biográficas que disponibilizou em sua produção, sabemos muito pouco: teria atuado como mestre de retórica e exerceu, como autoridade do mundo pagão em declínio, uma enorme influência em autores dos primeiros séculos do cristianismo. O asno de ouro, nome que a obra recebeu a partir do século IV EC, é o único exemplo em língua latina do gênero que se convencionou chamar de romance antigo a chegar completo aos nossos dias. Provavelmente escrito entre os anos 160 e 170 EC, cerca de um século após o romance pioneiro de Petrônio (Satiricon), a obra de Apuleio também era conhecida pelo título de Metamorfoses. Mistura de erotismo, magia e experiência iniciática, narra as vicissitudes do jovem Lúcio, transformado em asno devido às suas desastradas incursões na feitiçaria. O evento dá início a múltiplas aventuras do protagonista, temperadas por episódios paralelos, vividos por bandidos, bruxas, virgens corajosas e andarilhos, que culminam com a iniciação de Lúcio no sacerdócio de Ísis. A obra inspirou gerações de escritores como Boccaccio, Shakespeare e Cervantes e continua a ser uma das narrativas mais divertidas e acessíveis que a Antiguidade nos legou. Publicação da editora Mnēma; edição bilíngue com tradução, introdução e notas de Gilson Charles dos Santos. Você pode comprar o livro aqui.

Retrato multifacetado da vida monástica feminina na Inglaterra do século XIV, O mundo que as confinava ocupa posição de destaque na obra da escritora inglesa Sylvia Townsend Warner (1893-1978)

Publicado em 1948, o romance deixa de lado a narrativa tradicional, baseada em protagonistas e eventos heroicos, para mostrar a rotina de freiras em sua clausura. Disputas internas, frustrações pessoais, pendengas administrativas — uma sucessão de fatos comezinhos confere ao romance um tom irônico e distanciado, explicitando a recusa da autora em dramatizar excessivamente sua narrativa. A partir da fundação do convento de Oby por Brian de Retteville, em memória de sua esposa infiel, acompanhamos a sequência de prioresas e as mudanças que lentamente ocorrem ao longo dos anos — a devastação pela Peste bubônica, os conflitos com autoridades eclesiásticas e a presença inusitada de um falso padre. Sem se concentrar em um único enredo, a autora apresenta uma multiplicidade de episódios que, somados, revelam a complexidade da vida religiosa e da existência humana. O título remete tanto ao isolamento físico do convento quanto às limitações sociais e espirituais impostas às mulheres. Contudo, a autora evita julgamentos simplistas e idealizações sobre a fé e o poder feminino, mostrando que as freiras não são mártires ou santas, mas pessoas comuns — ambiciosas, sagazes, generosas, mesquinhas ou indiferentes, a depender do que enfrentam. Com estilo refinado, Townsend Warner cria uma crônica vívida da passagem do tempo, sugerindo que, mesmo nos espaços mais restritos, a vida pulsa com complexidade e resistência — e sempre continua. Publicação da editora Fósforo; tradução de Fábio Bonillo. Você pode comprar o livro aqui.

Lidando com a ameaça global à liberdade e o futuro sombrio que ela praticamente garante, A biblioteca do Censor de Livros, primeira obra da escritora kuwaitiana Bothayna Al-Essa publicada no Brasil, é uma fantástica e perigosa história sobre livros proibidos, bibliotecas secretas e o olhar ameaçador de um governo todo-poderoso

Não sabemos exatamente onde ou quando, em uma sociedade severamente controlada pelo Estado, um homem começa a trabalhar em uma repartição pública. Sua função é examinar livros procurando algo que possa torná-los impróprios para circulação — alusões a Deus, ao governo ou a sexo, por exemplo —, e o mais importante: como Novo Censor, jamais pode interpretar o que lê, afinal, não deve proibir apenas os livros, mas a imaginação, os sonhos e os desejos. Porém, ao receber para análise novas edições de obras clássicas, não consegue mais dormir; à noite, personagens povoam seus sonhos e ele passa a furtar os exemplares e a abastecer, junto a uma rede clandestina, uma grande e misteriosa biblioteca. Entre Zorba, o grego; Alice no País das Maravilhas; 1984; Pinóquio e Fahrenheit 451, será o Novo Censor apenas mais um personagem? Tradução do árabe Jemima Alves; publicação da editora Instante. Você pode comprar o livro aqui.

A poeta que escreveu o verso que criou a imagem perfeita de uma cidade.

Esta é a história de um triângulo amoroso formado por uma poeta, pelo Rio de Janeiro e por Paris, que se concretizou em verso de poema. A escritora francesa Jane Catulle Mendès, notória na vida cultural e na alta roda parisiense, cruza o Atlântico para uma temporada em plena Belle Époque carioca. Fascinada com as belezas da cidade, ela cria o epíteto com que o Rio passaria a se reconhecer desde então, o de “Cidade Maravilhosa”, imortalizado em inúmeros slogans publicitários e em marchinha de Carnaval. A esquecida passagem de madame Catulle Mendès pela então capital brasileira é recuperada em detalhes por Rafael Sento Sé. O autor, em meio a personagens como a escritora Júlia Lopes de Almeida, descortina a luta pelos direitos da mulher, naquele começo de século, e nos oferece um panorama minucioso de uma sociedade em busca de reconhecer sua própria imagem no espelho. 
A poeta da cidade maravilhosa é publicado pela editora Autêntica. Você pode comprar o livro aqui.

REEDIÇÕES
 
Reedita-se Recortes para um álbum de fotografia sem gente, de Natalia Borges Polesso, seu livro de estreia.

Como aqueles dicionários inventados de emoções obscuras, que nomeiam sentimentos e sensações difíceis de explicar, Recortes para álbum de fotografia sem gente compõe abundantes universos emocionais. Universos vívidos e sutis ― de recheio exuberante e tão íntimo, contudo tão próximos, tão conhecidos ― que recebem aqui não um nome, mas um contorno langoroso, uma fotografia em movimento, um desenho num diário de pesquisa etnográfica. Neste livro de estreia de Natalia Borges Polesso, já aparecem muitos dos traços que ajudaram a fazer o sucesso de Amora (seu segundo livro de contos, vencedor do Prêmio Jabuti). A delicadeza da temática feminina, o olhar poético, o texto elaborado com minúcia: os contos de Natalia têm um vigor poucas vezes visto. Publicação da editora Dublinense. Você pode comprar o livro aqui.

LITERATURA E MEMÓRIA
 
A Biblioteca Nacional da França quer adquirir os cerca de 900 manuscritos e documentos de Marcel Proust. Trata-se de um espólio até agora desconhecido, composto por folhas inéditas de Em busca do tempo perdido, poemas, desenhos, artigos e cartas disponível na casa de leilões Sotheby’s e que pertencia aos herdeiros de uma sobrinha do escritor. A campanha da biblioteca visa angariar a gorda quantia de 7,7 milhões de Euros para conseguir expandir sua coleção com materiais de Proust. 

RAPIDINHAS 

Todas as faces de Jean D’Amérique 1. O escritor do Haiti radicado na França mereceu dobrada atenção da Ars et Vita. A casa, depois de publicar o livro de poemas Algum país em prantos & Rapsódia vermelha apresentará ao público brasileiro outros dos seus trabalhos.

Todas as faces de Jean D’Amérique 2. Sai agora o premiado romance de estreia, Soul descosturado e duas peças, A catedral dos porcos & Ópera poeira. A tradução é de Prisca Agustoni. Esses lançamentos marcam a passagem do escritor pelo festival mineiro Artes Vertentes.

DICAS DE LEITURA

1. Novelas exemplares, Miguel de Cervantes (Trad. Ernani Ssó, Penguin/ Companhia, 672p.) Para conhecer um dos pilares da literatura de língua espanhola além da sua novela mais conhecida. Um afresco de tipos e situações que jogam com temas até hoje vivos e indispensáveis dentro e fora da literatura. Você pode comprar o livro aqui

2. Os pêssegos e outros contos, Dylan Thomas (Trad. Odorico Leal, Poente, 96p.) Fora das linhas mais conhecidas, as do poeta. Nos quatro contos reunidos neste livro, a infância, a juventude e a vida adulta pelas marcas que lhe são características mas com entrevistas com o humor e o lirismo do escritor. Você pode comprar o livro aqui

3. Dieta da poesia, de Afonso Cruz (Dublinense, 96p.) Um rapaz obeso que depois de um acidente para manter o vício ou prazer de comer adquire um novo vício ou prazer, o da fome de literatura. Você pode comprar o livro aqui

VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS

Hermeto Paschoal nos deixou no último dia 13 de setembro. Quando completou 80 anos, em junho de 2016, o jornalista Reinaldo Figueiredo selecionou gravações de com composições desse que é maiores músicos brasileiros interpretadas por importantes nomes do jazz de diversos países. Esse material está disponível online na Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles. Vale muito ouvir

BAÚ DE LETRAS

As famosas cartas derivadas do núcleo do Boom Latino-americano foram tratadas neste texto de Pablo de Santis que traduzimos neste blog em dezembro de 2023, no calor de quando o livro havia saído entre os leitores espanhóis.

E, por falar em Boom, vale recordar esta lista de recomendados com vinte e um romances essenciais derivados no interior desse importante circuito do século XX que projetou outras expansões para o a literatura produzida na América Latina.

Passou-se ontem, 19 de setembro de 2025, 40 anos da morte de Italo Calvino. Neste endereço, o leitor interessado pode encontrar extensa parte do arquivo do Letras com publicações dedicadas à obra e ao escritor italiano. 

DUAS PALAVRINHAS

A poesia não precisa de consciências complexas demais para dar errado.

— Pier Paolo Pasolini

...

Acompanhe o Letras no FacebookTwitterThreadsBlueskyTumblrInstagramFlipboard
Quer receber as nossas publicações diárias? Vem para o nosso grupo no Telegram

* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

11 Livros que são quase pornografia

Elena Garro, uma escritora contra si mesma

Dez poemas e fragmentos de Safo

Com licença poética, a poeta (e a poesia de) Adélia Prado

Seis poemas de Rabindranath Tagore

O manuscrito em que Virginia Woolf anuncia o seu suicídio