Boletim Letras 360º #658

DO EDITOR

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Georges Perec. Foto: Louis Monier


LANÇAMENTOS

Considerado por Italo Calvino “uma das personalidades literárias mais significativas do mundo”, Georges Perec é o autor de As coisas (1965), O sumiço (1969) e A vida modo de usar (1974), livros que conquistaram o meio literário francês por seu experimentalismo e radicalidade. Também inclassificável, Espécies de espaços (1974), inédito no Brasil, se situa na fronteira entre o ensaio, o poema e a arte conceitual. Mobilizando conceitos de arquitetura, artes visuais, poesia, cinema, antropologia e geografia, o livro interroga as diversas camadas que informam nossos hábitos e percepções, discorrendo sobre temas como a página, a cama, o quarto, o prédio, a rua, o bairro e a cidade. O presente volume traz um posfácio do pesquisador Jean-Luc Joly e um conjunto de fac-símiles inéditos de Perec que proporciona verdadeiros insights sobre o processo criativo do autor. Publicação da Editora 34; tradução de Daniel Lühmann. Você pode comprar o livro aqui.

Quinze das melhores histórias — sempre comoventes e surpreendentes — do mais famoso escritor inglês do século XIX, selecionadas e vertidas para o português por um dos maiores tradutores brasileiros.

Autor de obras fundamentais da literatura universal como Oliver Twist, David Copperfield e As grandes esperanças, Charles Dickens (1812-1870) foi o escritor mais lido de sua época, a vitoriana, seja por meio do jornalismo, das histórias curtas (chamados muitas vezes de sketches — “esboços” em português — que não são propriamente contos e se aproximam mais de crônicas sociais) ou da ficção de maior fôlego, os romances, publicados em série nas páginas dos jornais. Com aguçada sensibilidade para perceber onde pulsava a vida da população de menos recursos materiais — mas que era riquíssima em imaginação, em costumes e, sobretudo, em grandes personagens — numa Londres que fervilhava nas ruas, Dickens desenvolveu uma linguagem rica que capturava o espírito do tempo como ninguém, e o traduzia para o novo gosto literário que se formava. Ele foi um dos primeiros grandes escritores a se utilizar da popularização do jornalismo para fazer grande literatura. Os relatos deste Histórias humanas saíram dos livros Sketches by Oz (1836), Pickwick Papers (1836-1837), Christmas Books (1843-1848) e Christmas Stories (1850-1867); eles cobrem quase toda a extensão da vida literária de Charles Dickens. Relações amorosas, familiares, de poder, ilusões, desilusões, tradições, status social, injustiças (e senso de justiça), amoralidade (e senso moral profundo), desigualdades e muita fantasia fazem o cardápio dessas histórias breves, escolhidas a dedo pelo poeta, editor, crítico e mentor literário de uma geração, José Paulo Paes (1926-1998). Publicação da editora Matinas. Você pode comprar o livro aqui.

O mais famoso romance assinado por B. Traven chega os leitores brasileiros

Neste livro se conta o encontro de três aventureiros na corrida do ouro do México, explorando tanto os efeitos degradantes da febre demoníaca que o minério exerce sobre o caráter de cada um deles, como a devastação econômica e cultural do ambiente e da forma de vida dos indígenas cujas terras eram invadidas por garimpeiros e companhias petrolíferas. O original alemão do romance (DerSchatz Der Sierra Madre) saiu em Berlim, pela Büchergilde Gutenberg, em 1927, e é esta a edição que é lançada pela primeira vez ao público brasileiro. A primeira edição norte-americana foi publicada pela Alfred A.Knopf, de New York, apenas em 1935, numa versão bastante aumentada e adaptada pelo editor americano, a fim de atingir o que supunha ser o nascente público operário daquele país. Foi essa a versão tomada equivocadamente como o original do romance lançado pela Civilização Brasileira, em 1964. Com tradução de Érica Gonçalves Ignacio de Castro, posfácio de Alcir Pécora, O tesouro de Sierra Madre sai pelo selo Quimera/ 7Letras. Você pode comprar o livro aqui.

Publicado em 1961, Sobre heróis e tumbas é considerado o grande romance de Ernesto Sabato e uma das obras fundamentais da literatura latino-americana do século XX

Ambientado em uma Argentina marcada por crises políticas e existenciais, o livro acompanha a trajetória de Martín e Alejandra, cujas vidas se entrelaçam em uma narrativa densa sobre amor, loucura, identidade e decadência. Entre os vários núcleos da obra, destaca-se o célebre “Relatório sobre Cegos”, um dos capítulos mais intensos e perturbadores da literatura contemporânea. Misturando realismo, reflexão filosófica e visões apocalípticas, Sabato constrói um retrato inquietante da condição humana e da história argentina. O livro volta às livrarias brasileiras pela editora Pinard com tradução de Rosa Freire D'Aguiar e ilustrações de Gabriela Heberle. Você pode comprar o livro aqui.

Tarde no planeta é um romance sobre a dimensão que damos à ideia de finitude, sobre a nossa relação instável com o que entendemos por não humano e sobre a elasticidade dos laços familiares: quem — ou o que — podemos chamar de família?

Carlos tem dezesseis anos e um segredo. De uma pequena cidade incrustada na Serra da Mantiqueira, ele sabe que o mundo está prestes a acabar numa catástrofe ambiental. Os sinais estão por todos os lados, ecoam na migração repentina das aves. Também na fome descomunal das vacas nos pastos, que comem, comem o tempo inteiro, porque todo fim dá mesmo um buraco gigante no estômago. Logo ali do lado, os peixes nadam contra a correnteza, e os gatos fogem dos seus donos em disparada. Mas o que fazer enquanto o relógio não dispara o momento final? Um poema de Drummond, que os personagens tanto repetem, parece trazer a resposta: Carlos, sossegue, o amor/ é isso o que você está vendo.
Com as desventuras de Carlos e de seu núcleo familiar que dribla as regras da normatividade, Leonardo Piana escreveu uma fábula retratando nosso estranho começo de século, em que, se o apocalipse parece irrevogável, para nossas formas de estar no mundo ainda há alguma solução. Como dito por Adília Lopes, e retomado numa das páginas deste livro, Não é tarde/ é só/ de tarde. Publicação da Autêntica Contemporânea. Você pode comprar o livro aqui.

Por que um ateu convicto aceitaria acompanhar uma comitiva do Vaticano em uma viagem à Mongólia? E por que o papa visitaria um dos países menos católicos do mundo? Neste livro, o “louco sem Deus” Javier Cercas contará sobre sua jornada junto ao “louco de Deus” papa Francisco.

O louco de Deus no fim do mundo é uma obra única em que Javier Cercas recebe do Vaticano o convite inédito para estar perto de seus membros e do próprio papa. Motivado por um questionamento ― se a mãe, católica fervorosa, reencontrará o pai na vida eterna ―, o autor transforma uma premissa incomum em uma narrativa magistral e íntima, entrelaçando suas obsessões pessoais com algumas das questões mais inquietantes da humanidade, como o papel da espiritualidade e da religião e a busca pela imortalidade. A narrativa é dividida em três momentos: antes do voo, quando Cercas entrevista cardeais, jornalistas e funcionários do Vaticano e traça um panorama da vida de Jorge Mario Bergoglio, um dos papas mais populares e controversos da história; durante a viagem, quando o autor se integra à comitiva papal na Mongólia, encontra missionários que exercem sua fé nas periferias do mundo e é apresentado a um país com valores, crenças e realidades diferentes daqueles do berço da igreja Católica; e depois, quando Cercas apresenta reflexões sobre os limites da Igreja e o legado do papa Francisco. "O louco de Deus no fim do mundo" combina crônica, ensaio, biografia e memórias pessoais. O resultado é um “romance sem ficção” repleto de ironia, humanidade e perplexidade que narra uma jornada que leva a reflexões profundas sobre fé, religiosidade e relações humanas. Esta leitura é ideal para todos que desejam entender, por meio de um registro íntimo e crítico, o cristianismo do século XXI e um de seus maiores representantes: o papa Francisco. Publicação da editora Record; tradução de Joca Reiners Terron. Você pode comprar o livro aqui.

A praia dos tasabis nasce do convívio entre um pai e sua filha — dos gestos, conversas e jogos que, aos poucos, criam um território comum, feito de linguagem, afeto e surpresa

Os diários do poeta trazem anotações atravessadas por espantos e descobertas, pequenos diálogos que captam o instante antes que ele se dissolva: a criança que observa o mundo com olhos de quem nomeia pela primeira vez, o adulto que tenta aprender com ela a delicadeza das coisas simples. Os dias ganham o contorno de cenas — um passeio de bicicleta, a perda de um gato, o primeiro desenho feito a quatro mãos, a separação, o reencontro. Aníbal Cristobo registra cada gesto como quem recolhe conchas numa praia inventada, onde até as manchas nas pedras recebem nomes próprios. Há humor, ternura e uma melancolia que se insinua, lembrando que o tempo, com suas mudanças, é parte inseparável da vida. Publicação da 7Letras; tradução de Marília Garcia. Você pode comprar o livro aqui.

Um nova tradução de uma das peças mais conhecidas de William Shakespeare. 

Eternizada a cada nova leitura desde as primeiras encenações por volta de 1595 até os dias atuais, a peça de Shakespeare sobre um amor impossível na cidade de Verona logo consagrou-se como clássico absoluto. O que nem todos sabem, porém, é que a versão do drama conhecida pela maior parte do público não é a que circulou originalmente na Londres do século XVI. Com composição de personagens, falas e trechos distintos, a primeira versão de Romeu e Julieta permanecia inédita no Brasil há quatro séculos. Para este primeiro in-quarto da tragédia, deve-se imaginar um ambiente frequentado por gente simples em busca de diversão, no teatro The Globe às margens do rio Tâmisa, com plateias de até 3 mil pessoas. A maioria ficava em pé e, provavelmente, não tinha muita paciência para qualquer enrolação, a julgar pelos relatos de gritos, vaias e brigas sangrentas, tanto na plateia como no palco. A cena necessitava ser enérgica, magnética, viva e atraente. Não havia cortinas, mudanças de cenário, efeitos especiais, pausa ou interrupção de movimento. Tudo se justapondo em um mecanismo cênico de admirável teatralidade. Com tradução, notas e estudo introdutório do pesquisador Ricardo Cardoso, esta versão inédita em português de Romeu e Julieta é datada de 1597; publicação das Edições Cosac. Você pode comprar o livro aqui.

Quem foi Machado de Assis? Nova biografia conjuga reexaminar o mito e a figura de um dos pilares da literatura brasileira.

Uma biografia não começa com um fato, mas com um enigma. E o enigma de Machado de Assis foi cuidadosamente construído para esconder sua cor, sua origem e sua presença concreta na história. Em Machado: o filho do inverno, o primeiro volume de uma extensa biografia escrita pelo jornalista e pesquisador C. S. Soares, se desvela o escritor para além do mito etéreo.  Não apenas o gênio reverenciado, mas o homem atravessado por tensões sociais e pessoais, cujas cicatrizes se transformaram em palavras. Do anonimato ao marco de Memórias póstumas de Brás Cubas, a obra expõe silêncios e contradições que moldaram sua trajetória literária.  Mais do que uma biografia, este livro é um convite à releitura: um mergulho nas fendas do mito que revela Machado humano ― tão necessário hoje quanto em seu próprio tempo, e sempre à vista, embora tantas vezes recusado. Machado, enfim, devolvido ao Brasil: negro, inteiro, feroz, urgente. Publicação da Ação. Você pode comprar o livro aqui.

REEDIÇÕES
 
Um novo título nas reedições de John Steinbeck. Uma história poderosa que explora os limites do desejo, da cobiça e da esperança da humanidade.

Kino é um mergulhador pobre, que vive da coleta de pérolas dos leitos do golfo. Pérolas essas que outrora trouxeram grande riqueza aos reis da Espanha e agora fornecem a Kino, Juana e seu filho pequeno uma subsistência escassa. Em um dia como qualquer outro, Kino emerge do mar com uma pérola tão grande quanto um ovo de gaivota, “tão perfeita quanto a lua”. Com a pérola vem a esperança, a promessa de conforto e segurança, mas também a ganância, a vaidade e o egoísmo da humanidade. Uma parábola clássica que combina a simplicidade das narrativas orais com a potência da escrita de John Steinbeck, A pérola explora os segredos da natureza do ser humano, descendo às profundezas mais sombrias de sua existência para investigar seu desejo por mudança, sua ganância irrefreável e sua inesgotável fonte de esperança. Publicação da editora Record; tradução de A. B. Pinheiro de Lemos. Você pode comprar o livro aqui.

RAPIDINHAS 

Patrick Chamoiseau 1. Mais três livros do escritor martinicano estão no prelo das editoras brasileiras: ainda no segundo semestre deste ano estão previstos dois títulos de ensaios pela Editora 34 — O contador, a noite e o balaio e Os irmãos migrantes.

Patrick Chamoiseau 2. Já a editora Pinard apresentará no começo de 2026, o romance com o qual o escritor recebeu o prêmio Gouncourt, mais importante para a literatura de língua francesa, Texaco

DICAS DE LEITURA

1. Variações em vermelho e outros casos de Daniel Hernández, Rodolfo Walsh (Trad. Sérgio Molina e Rubia Prates Goldoni, Editora 34, 240p.) Um conjunto de narrativas que carregam um enigma colocado nas mãos de um homem comum, um revisor de livros, a pequena variação que faz este livro oxigenar o modelo da ficção policial até então conhecido. Você pode comprar o livro aqui

2. Israel Potter: seus cinquenta anos de exílio, Herman Melville (Trad. Bruno Gambarotto, Editora Unesp, 240p.) Um regresso ao período colonial nos Estados Unidos para seguir a vida de homem comum em meio à Revolução Americana, numa intriga que une guerra, política e luta por liberdade. Você pode comprar o livro aqui

3. A cidade de Ulisses, de Teolinda Gersão (Oficina Raquel, 254p.) Dois artistas, um homem já experiente e uma jovem estudante se engalfinham num caudaloso rio amoroso que deságua numa exposição de arte no mais importante museu lisboeta. Você pode comprar o livro aqui

VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS

Na passagem de um ano da morte de Armando Freitas Filho, a página de Literatura do Instituto Moreira Salles divulgou o datiloscrito de um poema integrado a um livro inédito do poeta Coração de verão ou oitent’anos. Leia aqui

BAÚ DE LETRAS

Recordamos duas entradas no Letras dedicadas a Ernesto Sabato, de quem agora se publica uma nova edição e tradução do seu romance mais famoso: este breve perfil e um comentário do nosso então colunista Bruno Botto de O túnel.

Também encontram duas entradas em torno de B. Traven: a tradução deste texto de Barry Gifford, que explica melhor as interrogações acerca do misterioso escritor; e uma resenha de Pedro Fernandes do primeiro romance de Traven editado no projeto da Quimera e torná-lo reconhecido entre nós.

DUAS PALAVRINHAS

Sei mais ou menos como me tornei escritor. Não sei exatamente por quê. Para existir, realmente necessitava colocar em ordem palavras e frases? Para existir, seria suficiente escrever alguns livros? Um dia, parece claro, terei que começar a usar palavras para descobrir o que é real, para descobrir minha realidade.

— Georges Perec, em Espécies de espaço

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