Boletim Letras 360º #255

Há uma semana a Revista 7faces propôs um desafio: espalhar poesia brasileira pelo Twitter. E criou o projeto @LeiaPoesiaBr O Letras in.verso e re.verso, que é, praticamente um pai desse periódico de poesia não ficaria sem apresentar um apoio à ideia. Então, destinou todos os livros de poesia que eventualmente sortearia nas redes sociais do blog para os participantes dessa proposta que apenas espera a chegada do centésimo leitor para iniciar suas atividades. Vamos seguir? Antes, eis as notícias que passaram esta semana pelo mural do Facebook do Letras — uma semana, como perceberão, de nuvens negras para a literatura!

Um dos últimos registros do poeta Nicanor Parra. Numa semana de perdas para a literatura, a do poeta chileno deixou mais pobre toda a América Latina.


Segunda-feira, 22/01

>>> Brasil: A obra em negro, de Marguerite Yourcenar

A obra da escritora francesa está um pouco fora de circulação no Brasil; até agora só Mishima ou a visão sobre o vazio fora editado pela Editora Estação Liberdade e o seu clássico Memórias de Adriano havia sido reeditado pela Editora Nova Fronteira. Acrescente, então, mais um título. Esta mesma casa editorial reedita no âmbito da coleção Clássicos de Ouro, amplo conjunto de títulos que ganha nova forma desde meados 2017, A obra em negro. Este é considerado também um dos textos mais elaborados e instigantes de Marguerite . O livro ilustra a vida de Zênon, que, renegando sua formação religiosa, abre mão de um futuro estável como membro da Igreja para se dedicar à descoberta das profundezas do ser humano em todas as esferas, tornando-se médico, alquimista e filósofo. A obra conta com a tradução do poeta Ivan Junqueira.

>>> Chile: Morreu Nicanor Parra

O poeta chileno tinha 103 anos de idade. A informação foi confirmada por Ernesto Ottone, Ministro da Cultura no Chile. Parra nasceu em San Fabián, em 1914. Em 1933, ingressou no Instituto Pedagógico da Universidade do Chile, onde se formou em Matemática e Física. Em 1943, embarcou para os Estados Unidos para fazer uma especialização no Instituto de Educação Internacional. Revolucionou a literatura com sua antipoesia, que mudou a forma de conceber a literatura e a arte. Era considerado um dos poetas vivos mais importantes do século XX. Parra escreveu Hojas de Parra, Poemas y antipoemas e Versos de salón. Sua última obra publicada foi Antiprosas, em 2011. Neste ano a Editora 34 publicará uma antologia com poemas do poeta.

>>> Brasil: Memórias do horror. Relato da sobrevivente Marga Minco ganha edição

A erva amarga é descrito como um relato corajoso, delicado e intenso sobre a sobrevivência na Segunda Guerra Mundial. Marga Minco era uma jovem judia na Holanda em 1940 que, sozinha, longe da família, escapou milagrosamente da prisão e da morte em um campo de concentração. Em uma série de crônicas vívidas — a chegada de seu pai com um pacote cheio de estrelas amarelas que deveriam ser costuradas na roupa, a ardência na cabeça ao descolorir o cabelo, as botas pretas vistas através de uma grade no porão da casa de sua família em Amsterdã —, ela conta como foi ver o céu escurecer sobre seu país, além de sua fuga, as viagens de trem, os esconderijos em fazendas, o torpor da perda. A história de Marga Minco — assim como a de Anne Frank — evoca uma época e um lugar, palco para acontecimentos que nunca devem ser repetidos, em uma linguagem emocionante, concisa e, por isso mesmo, memorável. A tradução de Júlia Abreu de Souza sai pela Editora Record.

Terça-feira, 23/01

>>> Estados Unidos: Morreu Ursula K Le Guin

A notícia foi divulgada hoje pelo filho da escritora, Theo Downes Le Guin, mas a escritora estadunidense, conhecida pelo livro A mão esquerda da escuridão e pela série Ciclo de Terramar, morreu na segunda-feira, 22, segundo o jornal New York Times. Com livros traduzidos para mais de 40 idiomas, Le Guin é reconhecida nos gêneros de ficção científica e fantasia. Lançado em 1960, o romance A mão esquerda da escuridão ganhou os dois principais prêmios da ficção científica, o Hugo e o Nebula. O livro conta a história de um planeta no qual a população não apresenta divisões de gênero. Além de mais de 20 romances, ela também escreveu dezenas de livros de poesia, mais de 100 contos e outras obras. Le Guin nasceu em 21 de outubro de 1929.

Quarta-feira, 24/01

>>> Brasil: A Editora Moinhos prepara tradução de Casa de bonecas, o texto mais famoso de Henrik Ibsen

Traduzido por Leonardo Pinto Silva, a obra será publicada especialmente para acompanhar a montagem que a diretora Camila Bauer fará Casa de bonecas com citações a Um inimigo do povo (1882). Dividindo opiniões entre os que a consideram uma forma de pré-feminismo e os que percebem nela apenas uma defesa da emancipação do ser humano, a obra mostra a trajetória de Nora, uma mulher que ao final decide abandonar o marido e os filhos. Pressionado pelas circunstâncias da época, Ibsen chegou a escrever, a contragosto, um final alternativo para ser encenado na Alemanha, no qual Nora decide ficar, mas ele mesmo considerou esse um ato de "violência" com a peça.

>>> Portugal: Uma nova biografia de Fernando Pessoa, composta a partir de diversos textos, incluindo inéditos, do próprio poeta e de outros escritores seus contemporâneos com quem se relacionou intimamente

A obra sai em Portugal pela Antígona — a editora que apresentou O banqueiro anarquista e de Contos completos, também do poeta português. Em março, sai Fernando Pessoa. Um retrato fora da arca. A obra é formada por cartas, ensaios, poemas, testemunhos, memórias e inéditos, com organização, prefácio e notas de Zetho Cunha Gonçalves. A recolha de textos resulta numa biografia intelectual e humana do poeta dos heterónimos, estabelecida a partir de textos do próprio Pessoa e dos testemunhos dos seus contemporâneos com quem mais intimamente conviveu, como António Botto, Raul Leal, Mário de Sá-Carneiro e José de Almada Negreiros, entre outros.

Quinta-feira, 25/01

>>> Itália: O nome da rosa, de Umberto Eco será adaptado pela primeira vez como série de TV

A notícia é da Variety. A série é dirigida pelo italiano Giacomo Battiato. A história que se passa na Itália no século XIV será dividida em oito partes na adaptação. O monge franciscano William de Baskerville será vivido pelo ítalo-americano John Turturro e o seu aprendiz Adso of Melk pelo ator alemão Damien Hardung. No papel do inimigo de Baskerville, o britânico Rupert Everett vai encarnar o inquisidor Bernard Gui. Na trama ele é enviado de Roma pelo papa, e acaba encontrando seu histórico desafeto na abadia medieval. Estão ainda confirmados no elenco os atores Sebastian Koch, astro do alemão ganhador do Oscar A vida dos outros, e Richard Sammel, de Bastardos inglórios. As filmagens, planejadas para durar por volta de cinco meses, começaram nesta semana, com cenas registradas nos históricos estúdios de Cinecittà, em Roma. O romance de Umberto Eco foi publicado em 1980, e já vendeu cerca de 50 milhões de cópias pelo mundo. Uma adaptação para o cinema foi feita pelo diretor francês Jean-Jacques Annaud em 1986, estrelada por Sean Connery e Christian Slater.

>>> Portugal: Três documentários sobre a obra de Agustina Bessa-Luís

Os roteiros são de Mónica Baldaque e a direção de Adriano Nazareth; os filmes foram apresentados em dezembro de 2017, no palácio Galveias, em Lisboa. São três médias metragens — As Sibilas do Paço, Fanny e a Melancolia e Ema e o Prato de Figos — formam outro dos projetos de Mónica que, nos últimos anos, se têm dedicado à obra de Agustina. Os filmes foram realizados pela passagem dos seus 95 anos da escritora portuguesa. Cada um dos filmes revisita um romance de Agustina e, ao mesmo tempo, vários momentos da sua biografia: no primeiro revisita-se A Sibila e o inédito Deuses de barro, que veio a lume muito recentemente - nele mostras-se cada matricial que se metamorfoseou em todas essas casas que se erguem nos romances da autora, quase sempre viradas a ocaso, testemunhas silenciosas e escuras, guardiãs de mistérios milenares. O segundo documentário evoca-se Fanny Owen mas também dois interlocutores privilegiados da escritora: o cineasta Manoel de Oliveira e Camilo Castelo Branco. No terceiro volta-se a Vale Abraão para conhecer Claudine, uma Emma Bovary da vida real, uma mulher francesa bela e culta com quem a escritora conviveu nos anos 60 em Esposende e de quem depois se perdeu, o que lhe permitiu efabular o seu destino como Emma. De baixo público expectador, roteirista e diretores ensaiam conseguir ampliar o lugar de visibilidade destas três obras.

>>> Nicarágua: Morreu a poeta Claribel Alegría

Foi a única da América Central a ganhar o Prêmio Reina Sofía de Poesía Iberoamericana – feito alcançado em 2017. Vivia em Manágua, capital da Nicaráuga, seu país natal. Claribel é uma das vozes mais representativas da literatura centroamericana do século XX. Nasceu em maio de 1924 na cidade de Estelí; cresceu em Santa Ana, região ocidental de El Salvador, onde vivia a família materna. Sua poética, de um estilo oral se moveu por temas que vão da denúncia social e o compromisso político, ao amor, a solidão e o esquecimento. Associada geralmente à chamada Geração Engajada (a qual pertenceu o salvadorenho Roque Dalton), por sua obra de corte político, Alegría publicou mais de duas dezenas de livros ao longo de sua vida; obra que foi traduzido em vários idiomas. Também traduziu obras de escritores anglo-saxões e escreveu ensaios e romances. Além do Reina Sofía, ganhou o Prêmio Internacional Neustadt de Literatura. Leia aqui poemas da poeta.

Sexta-feira, 26/01

>>> Brasil: A poesia de Ocean Vuong

O poeta e ensaísta foi o ganhador do T.S. Eliot – um dos principais prêmios de poesia do mundo. E agora será publicado pela primeira vez no Brasil. Night Sky With Exit Wounds sai pela Editora Âyiné com tradução de Rogério Galindo. Vuong nasceu na cidade de Ho Chi Minh, no Vietnã, numa fazenda de arroz em 1988; imigrou para Hartford, Connecticut , Estados Unidos, juntamente com seis parentes em 1990. Só aprendeu a ler aos onze anos e todos da família a tinham suspeita de que fosse disléxico. Atualmente mora em Nova York .

>>> Brasil: Uma rica introdução à obra de Torquato Neto

Segundo Paulo Leminski, "Torquato marca uma mudança radical, um salto qualitativo, na história disso que se chama, na falta de um termo melhor, poesia brasileira". A partir dessa lição, Claudio Portella prepara uma antologia que reúne poemas do poeta tropicalista. A edição forma parte na coleção "Melhores poemas" que ganha reedição como livros de bolso pela Global Editora; neste novo formato,o leitor já encontra antologias de poetas como o próprio Paulo Leminski, Manuel Bandeira, Cora Coralina e Cecília Meireles. Torquato Neto foi poeta, jornalista e compositor. Atuou como agente cultural e defensor das manifestações artísticas de vanguarda, como a Tropicália, o cinema marginale e a poesia concreta. O livro ficará disponível a partir da segunda semana de fevereiro.

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