Era Bush

Por Pedro Fernandes



– Atenção, todos! Vai falar agora o excelentíssimo senhor presidente dos Estados Unidos, do mundo e da cocada preta, o Sr. George W. C. Bush. Todos, por favor, quer dizer, por favor, não, que supremo não pede por favor; todos, dobrem-se diante do superior! Lembrete: quem desobedecê-lo estará assinando um tratado de paz armada.

(A cena é interrompida por sapatos voadores de um dos jornalistas da sessão).

Associando a charge à cena real estamos diante de um painel significativo do que foi o mandato que se finda hoje. Durante esse período assistimos perplexo o desenrolar de cenas muitas delas comuns às ditaduras num país cujo vocábulo liberdade tremula nos principais veios da história da democracia, esta que ainda caminha, mesmo já capenga das pernas.

O governo Bush definiu-se na mentira. Através dela criou-se um pretexto para guerras – as guerras pela liberdade (olha aí o vocabulozinho) do povo afegão, do povo iraquiano. Um bom argumento, não fosse o pensamento outro por trás de tal interesse: a riqueza petrolífera da região, manter aquecida a indústria bélica estadunidense.

Bem, retirando esses fiascos, um dos maiores do governo Bush, o caso é bem mais grave do que estes “mal-entendidos” acerca do terrorismo que se instalou no ego ianque desde o 11 de Setembro. Certamente outro fiasco Bush foi o fosso em que o capitalismo, cujo líder são os Estados Unidos, atualmente passa: desemprego alarmante e uma série de índices negativos que não param de aumentar. Esse fosso econômico porque passam o país centro do mundo acaba por contaminar outras economias frágeis, diretamente atreladas à do país de Bush.

Com Bush assistimos um Saddam depois de velho, besta e burro, pego feito peixinho pronto a ser saboreado na mesa dos ianques. E com sua morte assistimos a um jogo de desculpas esfarrapadas. Desculpas que se estenderam a vários outros campos, como o de maior preocupação mundial atual, o meio ambiente, com a recusa do plano de cooperação de Kyoto.

E, para finalizar o rosário de desordens, estoura a guerra entre Israel e Palestina. Guerra que há anos se desenrola, tendo certamente o apoio e o subsídio dos Estados Unidos para o lado israelense. E com essa ofensiva, todos os outros crimes cometidos ajuntam-se e vão sendo postos aos olhos dos que leem e veem os jornais.

Convencer, ou melhor, tentar convencer o mundo com as desculpas para guerra foi talvez o ato covarde e contínuo do governo Bush. Covarde também foi a pressão exercida sobre a ONU – organismo tido independente das influências políticas externas – para “desarmar” o Iraque e para outros procedimentos sujos. Procedimentos como o desrespeito para com os Direitos Humanos. Até hoje não se sabe do paradeiro dos fisgados levados para a base de Guantánamo. Há ainda outras covardias. 

E covardes foram todas essas guerras. De um lado um lutador de peso, carregado de bombas inteligentes, do outro, desnutridos, sem nenhum míssil burro para contra-ataque.

Agora, resta-nos esperar a tal change, o que ela poderá trazer. Não é de se ficar de forma alguma achando que as nuvens negras logo se dissiparão porque o hurricane Bush... Há certamente muito que concertar. Inclusive a imagem tosca que se formou em derredor dos Estados Unidos. Mas, carece é se preparar para o pior. Bush pode ser apenas um anúncio de algo ainda mais ordinário.

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