O hábito da leitura

Por Pedro Fernandes

(Nota: este texto que posto hoje no Letras in.verso e re.verso foi escrito em novembro de 2002 e faz parte, portanto, daquele conjunto de textos que encontrei em alguns arquivos adormecidos e que agora trago para este espaço).



Ser culto é não ser curto

Imaginemos viver um só dia apenas como analfabeto. Sem ler. Será que conseguiríamos? Num mundo como este, em que a leitura é fundamental, seria possível passar por tal experiência? Bom, creio que não há como ou necessidade de passarmos por essa experiência se ao menos não formos atingido por alguma dessas fatalidades neurológicas. Entretanto, há pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de aprender a ler. Estas pessoas vivem essa experiência diariamente.

Não saber ler é como ser deficiente. Vive preso apenas a um mundo. Escuro. Ou melhor, mais que deficiente, que este vive mais liberto de seu mundo se faz o uso da leitura.

Agora, o nosso país padece de uma deficiência outra. Os que sabem ler não sabem o que leem. Não tiram proveito da leitura. Nesse grupo reúnem-se aqueles que quando leem alguma obra literária, por exemplo, não sabem ou não conseguem construir um sentido que valha sobre o que leram. Através da leitura aprendemos. Através da leitura guardamos aprendizados para toda uma vida. E para os que pensam que só os músculos precisam de exercícios, a leitura é o santo remédio ao exercício da mente.

Também padecemos de outra estatística. Não lemos o quanto o que deveríamos ler. As pesquisas estão aí sempre reforçando que os franceses leem mais, que num sei quem ler mais e, nós, os brasileiros, sempre aparecemos na lanterna destas listas ou no fim do gráfico destas estatísticas. Tudo isso porque por aqui ainda perdura o mito de que a leitura é, na verdade, uma perda de tempo. Lemos para ver o tempo passar. Lemos quando não temos nada a fazer.

Ler nunca será uma perda de tempo. Ler pode até ser um passar de tempo, mas necessariamente, se pela leitura entendo que posso enriquecer mais em termos de conhecimento linguísticos e em termos de conhecimento de mundo, não posso querer que o gesto da leitura seja mera perda de tempo.

Ficamos ricos cada vez que lemos algum livro interessante. Disso sabemos. Ler é, pois, um hábito inteligente. Ler é não prender-se num só mundinho. Ler é conhecer o mundo, ainda que não tenhamos a oportunidade de sair de onde estamos. 

Enquanto não abandonarmos a preguiça de ler e entender o que lemos seremos essa sociedade analfabeta. Estaremos sempre presos nas rédeas que os outros adoram pôr na gente.

Ser culto é não ser curto.

Comentários

Marcio Rufino disse…
Querido Pedro,

Sinto-me muito honrado com seu convite. Gostei muito do blog.

Visite http://emaranhadorufiniano.blogspot.com

Prazer.

Abrçs

Marcio Rufino
CLUBE DOS ESCRITORES DE ALVORADA
RIO GRANDE DO SUL
PODEREMOS TROCAR ALGUMAS LETRAS?
http://www.clubedosescritoresdealvorada.blogspot.com/

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