Boletim Letras 360º #272


Entramos na última semana de inscrições na promoção que sorteia um exemplar de Na outra margem, o leviatã, de Cristhiano Aguiar (Lote 42). O sorteio é realizado no Instagram do blog Letras in.verso e re.verso. Recado passado, vamos às notícias de uma semana marcada por perdas marcantes para nossa comunidade: Júlio Pomar e Philip Roth. Essas notícias e outras que passaram pelo mural do Letras no Facebook estão disponíveis a seguir. 

A morte de Philip Roth e a publicação de obra inédita do escritor no Brasil. Mais detalhes ao longo deste Boletim.


Segunda-feira, 21/05

>>> Brasil: Uma homenagem ao poeta alheio a homenagens

Foi disponibilizada online o n. 16 da Revista 7faces​; organizada pelo poeta Leonardo Chioda e os editores do periódico, Pedro Fernandes e Cesar Kiraly, a edição reúne alguns dos principais estudiosos da obra do recluso poeta português Herberto Helder como Eduardo Quina, António Fournier, Rafael Lovisi Prado, Maria Lúcia Dal Farra, Claudio Willer, Tatiana Picosque e Ana Cristina Joaquim. Nomes de Brasil e Portugal aparecem aí. Mariana Viana compôs um ensaio à parte, com imagens que recriam o livro Os passos em volta e costuram toda a edição. Além de manuscritos e fotografias inéditas do poeta, este número traz poemas de Mariana Basílio, Eduardo Quina, Hugo Lima, Valter Hugo Mãe, Camila Assad Quintanilha, Gabriel Faraco, Laura Elizia Haubert, Carlos Arthur Rezende Pereira, Cristiane Bouger, Jorge de Freitas, Diogo Bogéa, José Pascoal, Lucas Perito, Antônio LaCarne, Gabriel Stroka Ceballos, Diego Ortega dos Santos, Gregório Camilo, Guilherme Lessa Bica, José Huguenin e Fabrício Gean Guedes. Este é o site da revista.

>>> Portugal: O vencedor do Camões 2018 é o escritor cabo-verdiano Germano Almeida

O escritor, que nasceu na ilha da Boavista em 1945, tem a sua obra publicada em Portugal pela editora Caminho, que em breve editará o seu mais recente romance, O fiel defunto. Estreou-se como contista no início da década de 1980 e o seu primeiro romance, O testamento do senhor Napumoceno da Silva Araújo, teve os direitos vendidos para vários países e foi adaptado ao cinema por Francisco Manso. Neste ano o prêmio chegou à 30.ª edição; no ano passado foi entregue ao poeta e romancista Manuel Alegre. O Camões foi pela primeira vez atribuído a um escritor africano quando, em 1991, a escolha do júri recaiu sobre o poeta moçambicano José Craveirinha. Seis anos mais tarde foi a vez de Pepetela assinar a estreia de Angola, país que voltaria a ter a sua literatura reconhecida em 2006 com a obra de Luandino Vieira, escritor que recusou o galardão. Em 2009, venceu o poeta cabo-verdiano Arménio Vieira e em 2013 o romancista moçambicano Mia Couto.

Terça-feira, 22/05

>>> Brasil: Recado da primavera, de Rubem Braga

A obra reúne crônicas, em sua maioria, publicadas na revista Nacional e no Correio do povo, de Porto Alegre. Elas abarcam de um amplo leque de assuntos: mulheres, a Rainha de Nefertite, a Revolução de 1932, o diário secreto de um homem subversivo e – uma das predileções do cronista – as belezas que a natureza oferece aos olhos de quem sabem admirá-la, como as nuvens, os passarinhos e o brilho das estrelas sobre o mar. A crônica que dá título ao livro foi feita por Rubem para a Rede Globo, por ocasião do primeiro aniversário da morte de um querido amigo: Vinicius de Moraes. Escrita em forma de carta, a crônica é uma saudação fraterna ao poeta e compositor, na qual Rubem Braga expressa a falta que o amigo já lhe fazia: "Meu caro Vinicius de Moraes: Escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma notícia grave: A primavera chegou. Você partiu antes. É a primeira primavera, de 1913 para cá, sem a sua participação. Seu nome virou placa de rua; e nessa rua, que tem seu nome na placa, vi ontem três garotas de Ipanema que usavam minissaias. Parece que a moda voltou nesta primavera – acho que você aprovaria. O mar anda virado; houve uma Lestada muito forte, depois veio um sudoeste com chuva e frio. E daqui de minha casa vejo uma vaga de espuma galgar o costão sul da ilha das Palmas. São violências primaveris." O livro sai pela Global Editora; é a primeira desde que no início deste ano foi anunciado que a obra do cronista passou para esta casa editorial.

>>> Reino Unido: Olga Tokarczuk é a vencedora do Man Booker International Prize 2018

A autora polonesa concorria com o romance Os vagantes. O livro narra as histórias de várias personagens como o anatomista holandês do século XVII Philip Verheyen, que descobriu o tendão de Aquiles, passando por um escravo tornado cortesão do século XVIII na Áustria, até uma mulher, no presente, que acompanha o seu marido num cruzeiro nas ilhas gregas. Além de Olga Tokarczuk, constavam da relação de finalistas deste ano nomes como o do espanhol Antonio Muñoz Molina, o iraquiano Ahmed Saadawi, a francesa Virginie Despentes e o húngaro László Krasznahorkai (vencedor em 2015) e a sul-coreana Han Kang (vencedora em 2016). Olga nasceu em 1962. É autora de oito romances e de duas antologias de contos. O livro agora premiado saiu no Brasil em 2014 pela editora Tinta Negra.

>>> Portugal: Morreu Júlio Pomar, ícone da pintura modernista portuguesa

Júlio Pomar nasceu em 1926, em Lisboa. Desde cedo estabeleceu estreitas relações entre a escrita e as artes plásticas: colaborou com críticas e textos de intervenção estética em revistas como Mundo literário, Seara nova, Vértice, Horizonte etc. Constituiu uma estética do combate, quando se dispôs à prioridade da defesa da responsabilidade social do artista na criação de uma arte acessível e interveniente. Adversário da ditadura foi preso pela PIDE, a polícia política portuguesa, e depois foi viver em Paris (entre 1963 e 2013). Autor de uma vastíssima obra. Ainda no território das letras, dentre os inúmeros textos que publicou ao longo dos anos e os livros sobre pintura, estão também dois livros de poesia: Alguns eventos (1992) e TRATAdoDITOeFeito (2003).

Quarta-feira, 23/05

>>> Estados Unidos: Morreu nesta terça-feira, 22 de maio de 2018, Philip Roth, um dos ícones da literatura estadunidense na segunda metade do século XX

Nascido em 1933 na cidade de Newark, Nova Jersey, Roth teve sua obra associada à comunidade judaica, e muitos de seus romances refletem as questões de identidade dos judeus dos Estados Unidos. Escreveu mais de 30 livros e há alguns anos havia colocado um ponto final na sua obra. Seu trabalho mais recente, entretanto saiu em 2017, Why Write?, uma coleção de ensaios e trabalhos não-ficcionais escritos entre 1960 e 2013. Das suas obras mais conhecidas estão Goodbye, Columbus, O complexo de Portnoy e a trilogia americana, publicada na década de 1990, composta por Pastoral americana, Casei com um comunista e A marca humana. Sempre apresentado como forte candidato ao Nobel de Literatura, Roth recebeu inúmero prêmios: o Pulitzer (1998), o National Book Critics Circle Award (1991), o o Man Booker (2011) e Príncipe de Astúras (2012) são alguns. É o único autor no seu país a ter suas obras completas publicadas em vida pela "Library of America", que tem como missão editorial preservar as obras consideradas como parte da herança cultural estadunidense e a Coleção Plêiade, edição francesa com o mesmo propósito da editada nos EEUU, só que com obras do cânone universal.


>>> Brasil: Traços para um perfil do escritor Rodolfo Walsh

Walsh foi militante revolucionário das organizações político-militares que reivindicavam o peronismo combatente vinculado às bases sindicais e às lutas políticas e sociais dos setores populares argentinos − Fuerzas Armadas Peronistas (FAP) e Montoneros −, quando foi assassinado em 1977. Organizou o semanário da CGT de los Argentinos, central sindical que rechaçava o sindicalismo pelego, e publicou várias obras, como o livro-reportagem Operação Massacre (1957), Quien Mató a Rosendo? (1969), denunciando as patotas assassinas a serviço da burocracia sindical argentina, e Caso Satanowski (1973). "Rodolfo Walsh, a palavra definitiva: Escritura e militância", de André Queiroz revela o grande escritor, o brilhante jornalista e combativo revolucionário.

>>> Brasil:Obra considerada introdutora do realismo mágico ganha tradução por aqui

Elena Garro é uma das grandes da literatura mexicana e nome fundamental para compreender uma das literaturas mais importantes do mundo. As lembranças do porvir foi publicado em 1963; escrito quatro anos antes de Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez é considerado um precursor do realismo mágico, forma que marcou toda a América latina durante os anos 1960 e 1970. Garro rechaçava o termo, dizia que servia apenas para aumentar as vendas. Entre seus temas mais comuns estão a marginalização das mulheres, o racismo e a liberdade política. Aqui, fala sobre um pequeno povoado mexicano que é dominado de forma cruel e sanguinária pelo general Francisco Rosas e seus homens. Uma história de resistência e violência, porém acima de tudo de amor e de como em meio ao horror e a crueldade o amor seja o sentimento mais forte, mesmo que nem sempre isto seja uma coisa boa. Elena Garro e toda sua fundamental obra estavam inéditos no Brasil. A tradução de Iara Tizzot sai pela Arte e Letra Editora.

Quinta-feira, 24/05

>>> Brasil: Baratas, o novo livro de Scholastique Mukasonga por aqui

Em Ruanda, as mães tutsis tremiam de angústia ao dar à luz um filho, porque sabiam que ele se tornaria um inyenzi, que poderia ser humilhado, perseguido, assassinado impunemente, como se fosse um inseto. Baratas, era a designação usada para classificar os tutsis durante a escalada do genocídio em Ruanda, e o argumento sobre o qual se fundamentava a engrenagem de aniquilamento e exterminação de um povo. Neste relato autobiográfico, Scholastique Mukasonga penetra camadas ainda mais profundas do massacre e expõe uma memória pessoal do horror − que é também coletiva. Com destemida coragem para abrir suas feridas, a autora nos ajuda a lembrar, para que jamais se repita o inominável! A tradução de Elisa Nazarian sai pela Nós Editores.

>>> Brasil: Nova edição do romance de estreia de Ruth Guimarães

Ela é uma das primeiras escritoras negras a ganhar destaque na cena literária brasileira. Água funda foi lançado em 1946 − mesmo ano de Sagarana, de Guimarães Rosa. Mas enquanto o escritor mineiro se valia da plasticidade da fala sertaneja para inventar um léxico novo, entre o popular e o erudito, Ruth fez aqui uma original reconstituição etnográfica da linguagem caipira − que conheceu pessoalmente em sua infância passada no Vale do Paraíba e Sul de Minas −, aproximando-a das pesquisas de Mário de Andrade. Entrelaçando diferentes tempos e personagens, inseridos no universo de uma comunidade rural na Serra da Mantiqueira, a autora construiu uma prosa ágil e fluida, permeada de ditos populares e causos marcados pela superstição e pelo fatalismo, que antecipa em certos aspectos o realismo mágico de Juan Rulfo e Gabriel García Márquez. É o caso das histórias de Sinhá Carolina, dona da Fazenda Nossa Senhora dos Olhos d'Água, e do casal Joca e Curiango, trabalhadores locais, num arco temporal que vai da época da escravidão até os anos 1930. Esta nova edição de Água funda, que se tornou um clássico da literatura brasileira do século XX, conta ainda com excertos da crítica da época de seu lançamento, incluindo nomes como Brito Broca, Antonio Candido e Alvaro Lins, e uma das primeiras entrevistas de Ruth Guimarães, saudada então como uma revelação de nossas letras.

>>> Brasil:O primeiro da obra completa de António Ramos Rosa que chega, enfim, ao país

Depois de apresentar Um jogo bastante perigoso, o primeiro título da poeta portuguesa Adília Lopes, a Editora Moinhos apresenta o primeiro título de outro poeta de além mar anunciado como prata da casa há alguns meses, cf. noticiamos aqui. É Ciclo do cavalo, de António Ramos Rosa, destacado pelo escritor e crítico Fernando Pinto do Amaral como uma poesia de "a atmosfera muito espacial". Atmosfera essa que resulta de uma "conjugação precisa de palavras, onde se sente que há como que uma força cósmica que atrai e repele as palavras e a própria natureza". António Ramos Rosa é destacado poeta e crítico distinguido em 1988 com o Prêmio Pessoa. Com uma obra poética extensa, Ciclo do cavalo é considerado um dos seus melhores livros.

Sexta-feira, 25/05

>>> Brasil: Mais um título de Maya Angelou ganha tradução por aqui

Maya escreve para exibir sua voz e libertar-se das grades que foram colocadas em sua vida. As lembranças dolorosas e as descobertas estão contidas e eternizadas nas páginas de Eu sei por que o pássaro canta na gaiola, obra densa e necessária, dando voz aos jovens que um dia foram, assim como ela, fadados a uma vida dura e cheia de preconceitos. Com uma escrita poética e poderosa, a obra toca, emociona e transforma profundamente o espírito e o pensamento de quem a lê. A tradução de Regiane Winarski sai pela Astral Cultural.

>>> Portugal: As livrarias portuguesas começam a receber a obra completa de Maria Judite de Carvalho

Apesar de premiada a obra da escritora portuguesa é hoje quase desconhecida. A lacuna é corrigida pela editora Minotauro que, no ano que passam 20 anos da morte de MJC, trabalha no amplo projeto de reapresentação da sua obra. Ela publicou 13 títulos que levaram a ser reconhecida como uma das escritoras mais complexas e estimulantes da literatura na segunda metade do século XX; são contos, novelas, teatro, crônica e poesia. A coleção é inaugurada com Tanta gente, Marian e As palavras poupadas. Os restantes volumes sairão de acordo com a ordem cronológica: o segundo trará Paisagens sem barcos, Os armários vazios e O seu amor por Etel; o terceiro Flores ao telefone, Os Idólatras e Tempo de Mercês; o quarto terá A janela fingida, O homem no arame e Além do quadro; o quinto, Este tempo, Seta despedida e os já póstumos A flor que havia na água parada e Havemos de rir; e, por fim, o sexto corresponderá aos Diários de Emília Bravo.

>>> Brasil: Um novo romance de Philip Roth 

A Companhia das Letras​ anuncia a chegada de Quando ela era boa. Nele somos levados a uma cidadezinha do Meio-Oeste dos Estados Unidos, nos anos 1940, e conhecemos Lucy, uma jovem zangada e ferozmente moralista, para quem a "bondade" é uma doença terrível. Ainda criança, a protagonista deste romance viu seu pai irresponsável e alcoólatra ser mandado para a cadeia. Desde então, ela se rebelou contra sua vida de classe média, assumindo uma missão furiosa de transformar os homens a sua volta, ainda que aquilo pudesse causar sua própria destruição. Com esse retrato absolutamente preciso de Lucy e de Roy, seu marido mimado e infantil, o escritor criou um belíssimo trabalho de ficção realista, um vislumbre da carolice provinciana, das expectativas e frustrações americanas, com um olhar ao mesmo tempo implacável mas com laivos de compaixão. Publicado originalmente em 1967, este é o único livro de Philip Roth protagonizado por uma mulher. A tradução de Jorio Dauster chega às livrarias em meados de julho.

>>> Brasil: Uma autobiografia que quer captar as caligrafias do eu enquanto itinerância

Na prosa lírica de A balada do cálamo, o autor e diretor franco-afegão Atiq Rahimi procura dar forma à experiência vertiginosa do exílio, ao mesmo tempo em que relembra sua história de vida e a autodescoberta como artista. Oscilando entre o presente em Paris e o passado errante, o livro mistura memórias a reflexões artísticas, iluminadas por caligrafias e calimorfias (letras antropoformes) do autor. A história de Atiq se desenrola em três palcos principais: a Cabul da infância, onde aprendeu a grafar o alfabeto árabe com seu cálamo e vivenciou a prisão e a tortura de seu pai. De lá, a primeira fuga foi para a Índia, cuja rica e sensual cultura causou uma revolução interna no adolescente afegão. Por fim, a França, onde recebeu asilo cultural em 1984 e construiu uma carreira premiada como cineasta e romancista, marcada também por traços autobiográficos − Terra e cinzas ecoa a experiência de sua família na Guerra do Afeganistão; Syngué sabour foi inspirado pelo assassinato da amiga poeta afegã Nadia Anjuman pelo marido. Esta balada (nome dado a canções narrativas na Idade Média e que em francês significa também passeio) visita estes lugares e tempos reais, mas está centrada no não-lugar do exílio e da lembrança. Em seu autorretrato íntimo, o autor rodopia pelos temas da escrita, do desejo e da guerra, costurando-os com suratas do Alcorão e a poesia sufi. A tradução de Leila de Aguiar Costa sai pela Editora Estação Liberdade.

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