Boletim Letras 360º #283


Na sexta-feira, 10 ago. 2018, realizamos o sorteio do belíssimo livro J. R. R. Tolkien & C. S. Lewis: o dom da amizade, de Colin Duriez. E, como lembramos no comentário de divulgação do nome do ganhador e de agradecimentos às leitoras e leitores que participaram desta atividade, em breve sortearemos outro exemplar do mesmo título. Essas atividades fazem parte de uma parceria assumida entre o Letras e a casa editorial HarperCollins Brasil na divulgação da obra de Tolkien que ela passa a reeditar e com novas traduções, sublinhe-se. Já neste Boletim, o leitor lerá sobre o grande inédito que é apresentado este mês aos leitores brasileiros e em simultâneo ao lançamento da obra entre os leitores de língua inglesa. Boas leituras!

Zulmira Ribeiro Tavares. Foto: Renato Parada / FSP. Nesta semana soubemos da morte da escritora. Mais detalhes ao longo deste Boletim.


Segunda-feira, 06/08

>>> Brasil: O último dos três Grandes Contos Perdidos do legendário de J. R. R. Tolkien

A queda de Gondolin narra a jornada de Tuor rumo à cidade secreta de Gondolin, refúgio élfico do povo do Rei Turgon. Contra a bela cidade, levanta-se Morgoth, o Inimigo Sombrio, com seu exército de seres malévolos. A história começou a ser escrita em 1916 e agora ganha vida graças ao trabalho editorial de Christopher Tolkien, filho e executor legal das obras de Tolkien. Dessa forma cumprem-se duas sinas: a dos Elfos noldorin na Primeira Era do mundo e a do autor, ao conseguir publicar individualmente os três Grandes Contos dos Dias Antigos Fechando a mitologia da Terra-média, A queda de Gondolin, assim como Beren e Lúthien e Os filhos de Húrin, foi ricamente ilustrada pelo renomado artista britânico Alan Lee, que retrata a fantasia de Tolkien há mais de 30 anos.

>>> Brasil: A ficção completa de Aluísio Azevedo

A Editora Nova Aguilar reedita em dois volumes a parcela mais significativa e festejada da produção artística do mestre do naturalismo brasileiro. Dono de um talento múltiplo, o autor maranhense deixou uma obra dispersa por domínios tão distintos quanto são os campos da pintura, do teatro e da poesia. Mas foi justamente na prosa que atingiu a maturidade criativa e o reconhecimento que cercam seu nome. Soube traduzir as cenas flagradas no quadro da vida social brasileira, conferindo vivacidade e riqueza aos episódios narrados. Nesses dois volumes, o leitor encontra os textos da prosa ficcional de Aluísio Azevedo, conforme a última revisão realizada em vida para as impressões Garnier, à exceção do romance-folhetim Mattos, Malta ou Matta?, cuja atribuição de autoria é póstuma. Como parte da Introdução Geral, esta edição apresenta a recepção crítica, com uma seleção de textos críticos sob a responsabilidade de Antonio Arnoni Prado. O leitor encontra textos de Urbano Duarte, Coelho Neto, João Ribeiro, Oliveira Lima, Artur Azevedo, Lúcia Miguel Pereira e vários outros. Aí reúne-se obras como: O mulato, livro marca um ponto de virada na história do romance brasileiro; Casa de pensão, radicalização do modelo de romance de tese, com questionamentos morais sobre a sociedade da época; e O cortiço, considerado obra-prima do naturalismo brasileiro. Para Orna Messer Levin, organizadora da obra, “A exemplo do que houve na Europa, o escritor maranhense valeu-se do romance para abrir um canal de circulação de ideias sociais reformadoras e, principalmente, de protestos. Usou a literatura para denunciar os preconceitos e os vícios da classe dominante. Divulgou os problemas diagnosticados no País, tais como a interferência da Igreja sobre o Estado e a dependência do trabalho escravo”. Sobrevivendo às vogas e tendências históricas, seus romances superaram os limites da própria época para ocupar um lugar elevado dentro da série literária nacional.

Terça-feira, 07/08

>>> Estados Unidos: Textos de Ernest Hemingway escritos em 1956 serão publicados pela primeira vez

O anúncio é da revista britânica Strand Magazine. De acordo com o periódico, A Room on the Garden Side baseia-se nas experiências de Hemingway como correspondente e combatente durante a Segunda Guerra Mundial. A história passa-se em Paris, no ano de 1944, logo depois de a cidade ter sido libertada da ocupação pelas tropas nazistas. "O profundo amor de Hemingway pela sua cidade favorita, à medida que está a sair da ocupação nazi, está aqui amplamente presente, bem como as marcas que distinguem a sua prosa", escreveu na nota editorial o editor executivo da Strand, Andrew F. Gulli. A trama se desenvolve no Hotel Ritz de Paris e construída por uma personagem chamada Robert, ele e sua comitiva de soldados, que devem deixar a cidade no dia seguinte, bebem, citam Baudelaire e debatem sobre o comércio sujo da guerra. Outros franceses aparecem ao longo da narrativa, além do poeta de As flores do mal, Proust, Victor Hugo e Alexandre Dumas. O texto estava com outros papéis do escritor na Biblioteca do Congresso e na Biblioteca John F. Kennedy, em Massachusetts e sairá na revista que fez o anúncio; o periódico de tiragem trimestral já publicou trabalhos obscuros de artistas como Raymond Chandler, John Steinbeck ou H. G. Wells. A edição virá acompanhada de um posfácio escrito por Kirk Curnutt, membro do conselho da Hemingway Society, que sublinha "o conto contém todos os elementos que definem Hemingway e que os seus leitores tanto adoram.   

>>> Portugal: Obras de António Botto voltarão às livrarias portuguesas ainda neste ano

O aproximar dos 60 anos da morte de António Botto, poeta que Fernando Pessoa considerava ser o único esteta em Portugal, tem feito a Assírio & Alvim preparar uma nova edição da sua obra, há muito fora de catálogo. A organização do novo projeto será de Eduardo Pitta, que já tinha sido responsável pelas edições da Quasi. Botto é autor de uma longa lista de livros, de diferentes gêneros, de entre os quais se destaca a obra de poesia, de declarado teor homoerótico, Canções.

Quarta-feira, 08/08

>>> Brasil: Reedição de uma das cosmogonias mais importantes do Novo Mundo, conhecida como Popol Vuh (Livro do Conselho), apresenta o texto original do século XVI, em maia-quiché, tal como era falado e escrito nas montanhas da Guatemala, e sua tradução integral para o português

Diferentemente de outras edições para o inglês, o espanhol e outras línguas, que apresentam um texto simplificado em prosa, a presente versão recupera os dísticos originais, oferecendo ao leitor de língua portuguesa toda a riqueza imagética e sonora deste poema épico que narra a vida na Mesoamérica, desde a criação do mundo até os primeiros contatos com os conquistadores espanhóis. Reunindo uma vasta gama de conhecimentos nativos, o poema relata, em mais de 8 000 versos, a atuação dos deuses, a formação da Terra, a evolução das espécies e a criação do homem de milho, configurando-se ao mesmo tempo como literatura e como documento, ao reivindicar, perante as autoridades espanholas, a quem o poema parece endereçar-se inicialmente, a posse das terras mesoamericanas descritas no texto. Desse modo, é extremamente lúcida a visão de mundo que o poema encerra, vendo com olhos críticos a chegada do outro. Porém, essa questão não esgota o texto, que explora em profundidade as várias etapas por que passou, do tempo mítico ao tempo histórico, a cultura maia, considerada, no seu apogeu, uma das mais sofisticadas que o mundo antigo já conheceu. Acompanhada de um vocabulário que traz um guia de pronúncia das palavras em maia-quiché, além de ensaios sobre o poema e sua repercussão política e cultural no mundo e na América Latina em especial, esta reedição é um convite para o leitor brasileiro imergir na “Bíblia” ameríndia, como este épico é também conhecido. A edição organizada por Sérgio Medeiros e Gordon Brotherston é da Editora Iluminuras.

>>> Brasil: Livro reúne ensaios de C. S. Lewis sobre os livros que leu

A editora Thomas Nelson Brasil tem apresentado uma coleção com a produção ensaística de Lewis. No interior destas publicações chega às livrarias o inédito Sobre histórias, que merece melhor atenção dos leitores. Sabe-se que o autor de As crônicas de Nárnia era um ávido leitor, capaz de ir de um assunto para outro com enorme facilidade e destreza. O livro inclui ensaios, artigos, resenhas críticas, tributos, dentre outros gêneros. Sobre histórias mostra um outro lado da vida de Lewis: a de brilhante acadêmico e professor de Literatura Inglesa da Universidade de Oxford, onde ficou conhecido por suas palestras geniais e profundas sobre literatura. Seja resenhando os livros de grandes autores como J. R. R. Tolkien e George Orwell ou refletindo sobre importantes aspectos teóricos da literatura, esta edição tem como condutor principal a excelência da História e reúne ensaios que sintetizam suas ideias sobre ficção científica, a natureza dos contos de fada, fantasia e inspiração.

Quinta-feira, 09/08

>>> Brasil: Monteiro Lobato, o editor

Autor de dezenas de obras literárias bem-sucedidas e consagrado patrono da literatura infantil brasileira, o legado de Monteiro Lobato como escritor é inegável. Mas, e o Monteiro Lobato editor? É justamente essa mudança “para o outro lado do balcão” que a obra Figuras de autor, figuras de editor (Editora Unesp) examina. A partir de diversos arquivos a análise de documentos até agora inéditos entre os pesquisadores que se debruçaram sobre o projeto intelectual lobatiano, a jornalista e doutora em teoria e história literária Cilza Carla Bignotto caminha pela trilha que levou Monteiro Lobato à posição de editor após sua consolidação como patrimônio da literatura nacional. A pesquisa não apenas registra os sucessos e fracassos editorias de Lobato, mas também fundamentalmente esclarece seus métodos, estratégias e processos, muitos deles inovadores no cenário editorial brasileiro. O livro divide-se em duas partes: na primeira Bignotto analisa a formação de autores e de editores no Brasil; em seguida, na segunda parte, a autora dedica-se às figuras de editor e de autor nas empresas de Monteiro Lobato.

>>> Brasil: Tradução inédita para a única peça que chegou até nós de uma tetralogia composta por Ésquilo

Sete contra tebas é parte de um conjunto de textos que inclui Laio, Édipo e a comédia A Esfinge, e que venceu as Dionísias de Atenas em 467 a.C. Como pano de fundo da tragédia, temos a maldição lançada sobre a dinastia dos Labdácidas, reis da cidade-estado de Tebas, na Grécia, que causou o assassinato de Laio, a desgraça de seu filho Édipo, e uma guerra fratricida entre os dois filhos de Édipo, Etéocles e Polinices, para herdar seu trono. A história se inicia quando Polinices, alijado do poder por seu irmão, reúne um exército com mais seis generais gregos e cerca as muralhas de Tebas. Diante da invasão iminente, o rei Etéocles, protagonista da peça, procura acalmar os cidadãos em pânico e organizar a defesa da cidade. Destaca-se no texto a bela passagem em que Etéocles, informado por um espião sobre os sete generais que atacarão as portas de Tebas, identificados por seus escudos, designa os sete guerreiros tebanos que irão enfrentá-los. A extrema plasticidade desta obra-prima do teatro grego é realçada na apurada tradução poética de Trajano Vieira, autor também do posfácio a esta edição bilíngue, que inclui ainda um ensaio historiográfico do helenista inglês Alan H. Sommerstein. A edição é da Editora 34.

Sexta-feira: 10/08

Morreu Zulmira Ribeiro Tavares

Foi nesta quinta-feira, 9 de agosto de 2018, segundo notícia do jornal Folha de São Paulo. A escritora nasceu em 27 de julho de 1930; foi contista, romancista e poeta. Estreou na literatura em 1955, com o livro de poemas Campos de dezembro. Em 1974, publicou Tempos de comparação, uma livro híbrido que reúne poesia, ficção e ensaio. Com este título ganhou o prêmio de revelação daquele ano concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. Escreveu ainda Joias de família (Prêmio Jabuti de romance, em 1990), O nome do bispo, Região, Café pequeno e Cortejo em abril. Estava sem publicar desde 2012, quando saiu o livro de poesia Vesuvio pela Companhia das Letras, editora que editou quase integralmente sua obra.

>>> Brasil: Vida à venda, de Yukio Mishima

Além do livro Correspondência 1945-1970 que reúne missivas com bastidores de seus trabalhos, intrigas da intelectualidade japonesa e anedotas íntimas de Mishima e Kawabata, a Editora Estação Liberdade anuncia que trabalha na tradução de Vida à venda, romance inédito de Mishima. Após uma tentativa fracassada de suicídio, Hanio Yamada decide anunciar nos classificados: “Vendo minha vida. Use-a como quiser. Homem de 27 anos. Garanto sigilo. Tranquilidade absoluta.” A partir daí, Hanio terá que lidar com as figuras que respondem a seu anúncio e seus caprichos absurdos. Mais um mergulho ousado e espirituoso de Yukio Mishima nos desejos, alegrias e inseguranças da alma humana. O volume de correspondências sai neste 2018, cf. anunciamos por aqui noutra ocasião e este Vida à venda, em 2019.

>>> Brasil: Nova edição de Cidade de Deus, de Paulo Lins

A reedição desta obra vem em boa hora: quando começa a se propagar, desconsiderando o que é já uma tradição na literatura brasileira, que só agora a periferia passa a integrar as criações literárias com linguagem própria e original. Cidade de Deus, embora também não seja o primeiro, data de 1997 e pode ser lido, sim, com um dos primeiros de uma tradição e, sublinhe-se, num contexto possivelmente mais adverso. Esta obra é um panorama sofisticado sobre a vida em uma das regiões mais pobres do Rio de Janeiro, um microcosmo de alguns dos maiores – e mais perenes – problemas do país. Com estilo peculiar, o autor constrói um cenário que ainda hoje dialoga com a realidade dos moradores das comunidades cariocas e brasileiras em geral; baseado em fatos, o romance trata de juventude, tráfico de drogas e governo paralelo, extrema pobreza e todas as formas de violência. A obra de Lins foi adaptada para o cinema em 2002 pelo diretor Fernando Meirelles. A nova edição é da Planeta / Tusquets.

.........................
Sigam o Letras no FacebookTwitterTumblrGoogle+InstagramFlipboard

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

H. Dobal

As aventuras de Teresa Margarida da Silva e Orta em terras de Brasil e Portugal, de Conceição Flores

As pequenas memórias, de José Saramago

Ana Cristina Cesar por Caio Fernando Abreu

Oração para desaparecer, de Socorro Acioli

Um ditador na linha, de Ismail Kadaré