Boletim Letras 360º #525

DO EDITOR
 
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3. Um excelente final de semana!

Marguerite Duras. Frame de Les lieux de Marguerite Duras.


 
LANÇAMENTOS
 
Sai no Brasil nova edição e tradução para um dos principais livros de Marguerite Duras.
 
Em meados dos anos 1980, Marguerite Duras encontra, nos armários de sua casa de campo, uma série de diários escritos na juventude. Nestas páginas, tomadas por uma pequena letra e rasuras, ela descreve a angústia vivida durante a Segunda Guerra Mundial, diante da França ocupada e da espera dilacerante pelo retorno de seu marido, Robert Antelme, preso e enviado para um campo de concentração na Alemanha. Entre a memória e a literatura, Duras desenha todo o contexto em que circulam pelas ruas de Paris membros da polícia nazista, uma elite francesa colaboracionista, milicianos e resistentes – personagens reais da história, como ela, que busca notícias do marido em almoços com um membro da Gestapo e participa da sessão de tortura de um delator ao lado dos companheiros da Resistência. O testemunho e a emoção dos acontecimentos vividos fazem de A dor uma das obras mais importantes da autora, como ela mesma declara. A edição ora publicada pela editora Bazar do Tempo traz o texto inédito “O horror de um tal amor”, traduzido por Laura Mascaro, publicado na revista Sorcières. Les femmes vivent em 1976 e em Outside, em 1981. Além disso, capa e seis páginas manuscritas do Cahier de 100 pages (Caderno de 100 páginas), diário no qual Duras anotou os eventos que deram origem ao livro e posfácio de Laura Mascaro. A tradução é de Luciene Guimarães de Oliveira e Tatiane França. Você pode comprar o livro aqui.
 
Nova edição e tradução de uma das comédias gregas mais lembradas.
 
Nas Rãs, peça apresentada em 405 a. C., a tragédia desce aos infernos. Diante da morte de Eurípides, Dioniso, o deus do vinho e do teatro, desespera-se: não há mais bons poetas para celebrá-lo nos festivais dramáticos de Atenas. Resta ir ao mundo dos mortos para trazê-lo de volta. Nessa jornada, deus, poesia e cidade confrontam-se consigo mesmos — e se transformam. O conflito geracional, tema caro a Aristófanes, encarna-se aqui na disputa entre dois tragediógrafos: Ésquilo, antigo e celebrado, e Eurípides, inovador e iconoclasta. Assim, a comédia homenageia, parodia e esmiúça criticamente seu gênero irmão, enquanto percorre os diversos cantos da vida ateniense. Esboça-se, assim, raro retrato da recepção da tragédia e da poesia por seus contemporâneos. Em capa dura, edição bilíngue com introdução, tradução e notas de Tadeu da Costa Andrade, o livro é publicado pela Editora Mnēma.
 
A editora Tabla publica duas novelas do autor palestino Ghassan Kanafani.
 
1. Publicada originalmente em árabe em 1963, Homens ao sol, a primeira novela de Kanafani, conta a história de três palestinos afetados pela Nakba (catástrofe) de 1948 — quando centenas de milhares de palestinos foram mortos ou expropriados de suas terras, casas, bens, e obrigados a buscar refúgio em terras dentro da Palestina e fora dela.  Essas personagens convergem num mesmo lugar com uma mesma intenção: buscar uma vida melhor longe da terra ocupada. Os três estão tentando atravessar o Iraque e chegar ao Kuwait, encontrar ali trabalho, enviar dinheiro para a família, inventar uma nova vida. O livro tem tradução de Safa Jubran. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. Umm Saad é a terceira novela de Ghassan Kanafani. Foi publicada originalmente em árabe em 1969 e apresenta uma personagem que se tornou, ao longo dos anos, uma figura mítica, símbolo da resistência palestina. A personagem Umm Saad é originária de uma pequena aldeia rural e, depois da Nakba (catástrofe), passa a viver num campo de refugiados em Beirute. Essa mãe revolucionária, semelhante pela sua grandeza à Mãe coragem, de Brecht, e à Mãe, de Górki, expressa uma consciência política autônoma e é agente da mudança. Nesta novela, Kanafani se lança a aprender com as massas. Umm Saad é também mito da mãe-terra, a própria Palestina, a terra natal, seu cheiro, sua textura, sua umidade, sua secura; conhecedora do tempo das coisas, do galho seco que em algum momento brota verde… A luta de Umm Saad é a luta contra o desterro, o deslocamento, a desapropriação, a catástrofe engendrada por ideais distópicos e desmedidos; é a afirmação de pertencimento, de identidade e intimidade com a terra. Umm Saad é a tentativa mais completa de Kanafani de expressar o fulgor do momento revolucionário. O livro tem tradução de Michel Sleiman. Você pode comprar o livro aqui.
 
Obra fundamental para o estudo da Retórica ganha edição no Brasil.
 
Brunetto Latini (c. 1220-1294) foi um literato e político de Florença, dos mais importantes em seu tempo. Conterrâneo e “mestre” de ninguém menos que Dante Alighieri, foi igualmente exilado de sua pátria por razões políticas. É durante o exílio que Brunetto compõe A Retórica, obra em que traduz e comenta minuciosamente trechos do De inventione, do filósofo Marco Túlio Cícero, sobre a arte da retórica. Homem à frente de seu tempo, foi movido por um espírito democratizante que Brunetto se dedicou a traduzir Cícero do latim para o vernáculo florentino, a língua do homem comum, não erudito. Assim, acabou por influenciar o próprio Dante, que depois escreveria algumas de suas principais obras, como a Vida nova, o Convívio e a Comédia, também num registro mais próximo ao vernáculo de sua cidade. Tal como Cícero, Brunetto entende que a retórica deve andar de mãos dadas com a sabedoria, e que apenas líderes dotados de ambas são capazes de conduzir as coisas públicas com discernimento e equidade. A retórica é “a mais importante das ciências do homem, pela sua capacidade de produzir ambientes harmônicos em que prevalece a razão” — do que se depreende o valor não só histórico, mas civilizatório da presente obra. Esta tradução de Emanuel França de Brito, a primeira feita no Brasil, vem acompanhada de notas e de um alentado estudo introdutório do tradutor, professor de língua e literatura italianas na Universidade Federal Fluminense. O livro é publicado pela editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
 
Leda Cartum propõe uma poética cheia de texturas, num trabalho exíguo com imagens que de outro modo não se fixariam.
 
Seja em cidades vazias, seja nas profundezas do oceano ou à hora crepuscular em um apartamento, a roda narrativa destes minicontos passa da terceira à primeira pessoa enquanto as formas dos enredos se avolumam. Os personagens — um homem, você e eu — são sujeitos de outros tempos, desde o passado longínquo ao futuro incerto. As histórias estão repletas de tentáculos e novelos que se desenrolam ao infinito, tentando capturar a frequência limítrofe entre a realidade e o sonho. Formas feitas no escuro é um livro quase táctil, que desafia o leitor a flutuar, mergulhar ou voar por mitologias e sabedorias ancestrais. Mas também trata do cotidiano presente, do tédio que invade um quarto, do tempo que corre quando procrastinamos uma tarefa simples. Nele, Leda Cartum propõe uma poética cheia de texturas — da terra úmida, das cascas de folhas secas, da madeira do chão de taco —, num trabalho exíguo com imagens que de outro modo não se fixariam, e seriam sombras opacas perdidas no longo caminho da visão à fala, da ideia à escrita. É impossível descrever os contos sem enumerar as feras, os gatos noturnos, os detalhes, a elasticidade do tempo, a escuridão vibrante da natureza. Isso porque de modo lúdico, Cartum propõe que se preste atenção aos segredos do móvel mais estático no canto de um cômodo qualquer. Entre a fábula, a crônica e a poesia, Formas feitas no escuro transita entre gêneros e surpreende por sua leveza, clareza e despretensão. Mas, como afirma Angélica Freitas na orelha que assina para o livro, “talvez essa questão do gênero (é poesia? É prosa?) nem nos interesse. Importa aqui o trabalho da imaginação, o trânsito do escuro para o claro, e vice-versa”. Formas feitas no escuro sai pela editora Fósforo. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma joia redescoberta da literatura estadunidense o único romance de Gwendolyn Brooks, aclamada poeta e primeira escritora afro-americana a ganhar o prêmio Pulitzer.
 
Maud Martha Brown é uma menina negra que cresceu no South Side de Chicago, na década de 1940. Ela sonha com Nova York, um romance e seu futuro. Ela adora dentes-de-leão, aprende a tomar café, apaixona-se, decora sua cozinha, visita o Jungly Hovel, estripa uma galinha, compra chapéus, dá à luz. Mas seu marido de pele mais clara também tem sonhos: quer entrar para o Foxy Cats Club, deseja outras mulheres, fantasia com a guerra. No passar do tempo, “fragmentos de um ódio confuso” estão sempre presentes: a forma como uma vendedora a tratou; uma ida ao cinema; a crueldade que sofre em uma loja de departamentos. A partir de breves vinhetas, Gwendolyn Brooks constrói um retrato extraordinário de uma vida comum, marcada por sabedoria, humor, raiva, dignidade e alegria. Publicado pela primeira vez em 1953 e inédito no Brasil, o livro inclui um prefácio de Margo Jefferson, que destaca a capacidade da protagonista de reivindicar seus próprios direitos e liberdades através da imaginação. Maud Martha sai pela Companhia das Letras com tradução de floresta. Você pode comprar o livro aqui.
 
De Mário de Andrade para Rodrigo Melo Franco de Andrade.
 
As cerca de trezentas cartas trocadas entre Mário de Andrade e Rodrigo M. F. de Andrade narram uma viagem epistolar histórica. Reunidas pela primeira vez, testemunham um compromisso apaixonado com o Brasil e com a preservação de seu patrimônio cultural. Para além das repartições públicas, uma amizade fiel anima a força de trabalho da dupla. A edição é enriquecida por apresentação de Clara de Andrade Alvim e ensaios fotográficos que documentam esse legado. Correspondência anotada: Rodrigo M. F. de Andrade e Mário de Andrade é publicado pela editora Todavia com organização de Maria de Andrade, notas de Clara de Andrade Alvim e Lélia Coelho Frota. Você pode comprar o livro aqui.
 
O amor de um filho por uma mãe: quando o papel de cuidar se inverte.
 
Com seu inconfundível estilo literário, o renomado escritor português Valter Hugo Mãe fala sobre o delicado momento em que os filhos se tornam pais de seus pais. O autor narra detalhes da sua rotina e demonstra todo o amor e gratidão que sente pela mãe, refletindo sobre a fragilidade e a simplicidade da vida. A minha mãe é a minha filha conta com as belas ilustrações da artista plástica Evelina Oliveira. O livro é publicado pela editora Biblioteca Azul. Você pode comprar o livro aqui.
 
Nova edição e tradução do romance de Hervé Guibert que relata a descoberta da aids no corpo do autor.
 
Reler Ao amigo que não me salvou a vida trinta anos depois é como voltar a um mundo ao mesmo tempo ultrapassado e perdido, com um sentimento contraditório de alívio e nostalgia. Com esse mundo desapareceu a ameaça da morte inexorável pela aids, assombrando as relações sexuais e amorosas, mas também um projeto literário para o qual a autoficção era um dispositivo de consagração mais da dúvida do que do eu, no qual a morte ocupava um papel central e reflexivo. As bases desse projeto estavam enunciadas desde La Mort propagande, romance de estreia de Hervé Guibert, publicado quando ele tinha 21 anos: “[A morte] será minha única sócia, serei seu intérprete”. A aids foi o ato final — e inesperado — em que o autor, encarnando a morte, terminou por convertê-la em obra, afirmação vital. Embora centrado no autor, Ao amigo que não me salvou a vida é composto de quem o cerca, da magia das relações amorosas e afetivas, dos amigos (como Michel Foucault e Isabelle Adjani) cuja identidade aparece mais ou menos velada sob iniciais e pseudônimos. O livro narra a descoberta da aids no corpo do autor, quando a doença ainda era uma sentença de morte. A enfermidade não permite ao autor reduzir o relato à afirmação de si, a um conto de superação. A experiência literária é antes “enunciação do indizível”. Quando se olha no espelho, o autor vê o “olhar do cadáver vivo”. A obra é o exorcismo da sua impotência. (Bernardo Carvalho) Com tradução de Júlia da Rosa Simões, o livro é publicado pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Nova edição para O caso Morel, de Rubem Fonseca.
 
Romance policial, investigação sobre os limites do desejo, experimento narrativo, o primeiro romance de Rubem Fonseca parece um jogo de espelhos, em que os personagens se desdobram, assim como a história e o próprio narrador, sem que saibamos quais são os originais e quais são os reflexos. Paul Morel é um artista de vanguarda que está preso pela suspeita de assassinato de uma de suas namoradas. Na cela, recebe a visita do escritor Vilela, ex-delegado que já aparecera no conto final de A coleira do cão (1965). Enquanto Morel pede ao escritor auxílio para escrever ― não sabemos se um romance ou sua autobiografia ―, Vilela enxerga no artista semelhanças com sua própria vida. O que lemos é o entrelaçamento de duas narrativas paralelas: ora estamos diante do manuscrito de Morel, ora é o narrador que assume a história. Até que, no final, as tramas se encontram em uma conclusão brilhante.
Publicado em 1973, quando Rubem Fonseca já era considerado um dos principais contistas brasileiros, O caso Morel é um romance curto, em que o autor retoma e desenvolve temas já explorados em seus contos, como a arte, o sexo, a violência, a moral e a relação do homem com o mundo. Com o cuidado narrativo levado às últimas consequências, este é um livro que ultrapassa os limites do gênero policial em nome da complexidade da literatura. A nova edição publicada pela editora Nova Fronteira inclui textos de Mateus Baldi e posfácio de Sérgio Augusto. Você pode comprar o livro aqui.

DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Nadja, de André Breton (Trad. Ivo Barroso, 100/Cabeças, 184 p.) O encontro fortuito entre o grande nome da vanguarda francesa e Léona Delcourt teria desencadeado à luz dos mais sensíveis conceitos do surrealismo esse romance que se tornou incontornável no âmbito do movimento dentro e fora da França. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Ausente por tempo indeterminado, de Julio Ramón Ribeyro (Trad. Ari Roitman e Paulina Wacht, Carambaia, 192 p.) O livro reúne oito contos de um dos mais reconhecidos autores latino-americanos no gênero. Os pequenos dramas do cotidiano erguidos sob uma linguagem cristalina e de humor sutil. Você pode comprar o livro aqui

3. Iberê Camargo: um homem valente, de Nilma Lacerda (Editora Mínimo Múltiplo, 192 p.) A partir das telas mais marcantes e também dos textos memorialísticos e ficcionais deixados por Iberê Camargo, Nilma Lacerda recria a trajetória inquebrantável do artista, possibilitando aos leitores uma imersão num universo de busca de expressão artística e de reflexões morais e existenciais que poderiam ser as de todos nós. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Um dos destaques na web brasileira com a literatura russa é o trabalho do professor César Marins. Suas propostas de leitura da obra de autores clássicos, como Dostoiévski e Tolstói, mas também de autores contemporâneos como Liudmila Ulítskaia, Svletana Alekisévitch são alguns dos exemplos. O material derivado de seus cursos estão agora disponíveis para os leitores interessados em iniciar ou conhecer melhor a obra desses e de vários outros autores russos. Também é possível adquirir aulas avulsas. Basta entrar em contato por literaturarussas@gmail.com.

BAÚ DE LETRAS
 
A tradução de Ivo Barroso para Nadja, de André Breton, se tornou objeto de interesse entre muitos leitores brasileiros a partir da publicação entre os livros que compunham a coleção Prosa do Mundo, editada pela extinta Cosac Naify. Alguns anos depois desta edição, nosso editor escreveu sobre o romance aqui.
 
 
DUAS PALAVRINHAS

Um livro é mais do que uma estrutura verbal ou uma série de estruturas verbais; é o diálogo que estabelece com seu leitor e a entonação que impõe à sua voz e às imagens mutáveis e duráveis que deixa em sua memória. Um livro não é um ser isolado: é uma relação, um eixo de inúmeras relações.

— Jorge Luis Borges, Outras inquisições.

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