Nova geração em Vidas tardias, de Brandon Taylor

Por Vinícius de Silva e Souza 



Vidas tardias, o segundo romance de Brandon Taylor veio a mim por indicação da generosa escritora Fabiane Guimarães, quando leu o esboço de um romance no qual venho trabalhando e apontou similaridades. De fato: um grupo de jovens, pós-graduandos, vivendo a efervescência da juventude entre relacionamentos e questões profundamente contemporâneas. No entanto, após determinado ponto (e nem é algo tão longe assim), Taylor começa a demonstrar uma certa redundância no que arquiteta com seus personagens. Pior: desliza no vale da banalidade.

O início é surpreendente e arrematador. Nos deparamos com Seamus confrontando colegas no grupo de estudos, e questões facilmente encontradas no Twitter (não consigo chamar de X) saltam aos nossos olhos. Acompanhar sua rotina e certo abuso que sofre é instigante, mas não sei dizer se é porque o personagem assim também o é, e o que é contado, ou se apenas porque estamos no início do livro, dispostos a tudo que vier pela frente. 

Na primeira troca de foco, algo se desequilibra — e isso ocorre novamente na seguinte. E trocar de protagonistas por si só não é um problema. A construção de um romance polifônico é interessante — e nenhuma novidade, vide o título no plural e a imagem da capa na edição brasileira editada pela Fósforo — , no entanto, quando nos aproximamos do fim da narrativa, ainda estamos sendo introduzidos a personagens, para além de Ivan, Noah e Seamus; personagens esses que nada acrescentarão à trama para além da superficial conexão com um dos protagonistas (são vizinhos). Assim, fica evidente que a polifonia não foi utilizada de maneira estruturante, mas sim, cansativa.

Para além de sua linguagem plana e pouco instigante há uma narrativa interessante. O sexo, por exemplo, surge aqui de maneira natural, nada plastificado como ocorre em outras obras, e os relacionamentos amorosos são complexos, como devem ser. Todo personagem protagonista que se apresenta — e não são poucos os momentos em que este romance se assemelha a um filme — é complexo a sua maneira. 

Ivan, em seu desejo artístico versus o trabalho com a pornografia virtual, remete aos tempos contemporâneos de OnlyFans, Privacy etc.; Noah e suas inseguranças totalmente palpáveis; Fatima e sua particularmente feminina agressão sofrida na segunda metade da narrativa. Todos não apenas vivem como reagem, à sua maneira, ao que vivem — o que evidencia como Taylor foi bem-sucedido em construir um retrato de pessoas reais, e não meras caricaturas.

A missão de Taylor não foi muito diferente da minha — tanto em minha tese quanto no romance, o que venho buscando é retratar o presente — missão essa que não é fácil uma vez que o nosso redor vive em diversa transformação e não possuímos o distanciamento necessário para fazer qualquer avaliação, uma vez que ainda somos agentes internos, vivendo os acontecimentos em curso. 

Mas o autor, destacado em muitos aspectos, falha em outros, ao contar apenas com a pequenez da vida de seus protagonistas para nos manter atentos — o que por muitas vezes me levou a questionar qual a relevância do que lia. Carol Bensimon já me ensinou em algum momento que é bom ler livros não tão bons porque eles também têm muito a nos ensinar — às vezes mais do que os livros bons. Eis aqui um exemplo de par que em muito enriqueceu a minha experiência bastante particular e atual. 


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Vidas tardias
Brandon Taylor
Floresta (Trad.)
Editora Fósforo, 2025
304 p.

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