A infelicidade vintage de A eterna adolescente

Por Carlos Rodríguez 




Nada a discordar de Tolstói: “Todas as famílias felizes são iguais; cada família infeliz é infeliz à sua maneira.” Ah, a família, esse grupo de pessoas que se influenciam direta ou indiretamente, para o bem ou para o mal, às vezes sem perceber o quanto prejudicam a vida de seus membros. O cinema mexicano tem sua parcela de famílias famosas. Os García, que, apesar da rivalidade cômica, se respeitam muito; os Nobles — sim, com s no plural — unidos na pobreza inventada pelo pai; ou a família extensa que viaja no Volkswagen amarelo de Os insólitos peixes-gatos (2013). A essa coleção de ilustres famílias cinematográficas, soma-se a de A eterna adolescente (2025), filme do diretor Eduardo Esquivel.

A infelicidade dessa família é agridoce, pop e vintage. Composta principalmente por mulheres, a família de A eterna adolescente não se vê há muito tempo. Como costuma acontecer, um evento inesperado e trágico as reúne novamente, trazendo à tona problemas antigos. Quando Gema — mãe de Cristina, Sony e Bruno, o irmão mais novo e único menino da família — tenta o suicídio, o reencontro dos filhos torna-se inevitável na véspera de um Natal excepcionalmente frio em Guadalajara. O quadro é completado por Tati, filha de Cristina, e Tia Ceci. O conjunto é coeso, retratando com fidelidade uma família que claramente se ama, mas que também guarda rancor com olhares. 

A eterna adolescente também é a história de uma casa, a de Gema (Magdalena Caraballo), onde o reencontro acontece. A direção de arte de Marianne Cebrián cria com maestria espaços onde o acúmulo de objetos e móveis empoeirados evoca a memória já saturada da mãe, bem como a multiplicidade de histórias e eventos que foram demais para a família. Em casa, Tati (Ruth Ramos) encontra fitas VHS no videocassete, contendo vídeos caseiros de viagens em família, momentos cotidianos e outros extraordinários, como a vez em que nevou em Guadalajara alguns dias antes do Natal, na década de 1990 — alguns moradores dizem que não era gelo, mas granizo, um detalhe que adiciona nuances ao funcionamento da memória, algo que Esquivel faz muito bem em seu filme — gravados por Mónica, a irmã mais nova.

“O que aconteceu com a minha tia Moni?”, pergunta Tati insistentemente. “Sua avó não gosta que mexam nas coisas dela. Guarde esses vídeos”, responde Cristina (Emma Dib) para encerrar a conversa. “Não é algo que discutimos nesta família”, diz Bruno (Andrés David) resignado, prometendo com empatia que contará tudo sobre Mónica mais tarde. Quem se atreve a tocar no assunto tangencialmente durante o jantar caótico é a adorável Tia Ceci (Yosi Lugo), que relembra a alegria que caracterizava a jovem. Sony (Teresa Sánchez), a irmã que se afastou definitivamente da família após o funeral de Mónica, menciona o que foi visto intermitentemente ao longo do filme, já que os filmava constantemente. 

Falar de Mónica, a irmã que registrava tudo com sua câmera, é proibido; é um assunto doloroso e intocável para a família. Acontece, como diria Carmen Salinas, até nas melhores famílias. Seja por dor, tristeza, pudor, arrependimento genuíno ou vergonha, há histórias mantidas em tabu em jantares e celebrações. Em algumas famílias, por exemplo, a minha, as origens da minha mãe ainda são um segredo aberto, assim como a fraude que meu avô cometeu, pela qual foi preso. Basta mergulhar um pouco nas histórias não contadas de cada família para identificar seus segredos mais profundos. A eterno adolescente é baseado em certas passagens da história da família da mãe da cineasta e no arquivo familiar, que serve como um quebra-cabeça para construir, reconstruir e inventar a memória.

O que é notável no filme, para retomar Tolstói, é que a infelicidade da família é mostrada de uma forma original. Por um lado, ela é evidenciada por meio de vídeos caseiros que narram a felicidade passada, o que contrasta com o presente amargo onde se acumulam a condição da mãe, a história de Mónica, a partida de Sony e as exigências de Cristina, que teve que assumir o controle da família. Não importa que as gravações contenham cenas terríveis — como a queima de uma árvore de Natal durante uma discussão familiar entre sogros — tudo, ou quase tudo, visto à distância, é imbuído de um brilho nostálgico.

Os vídeos são um mecanismo altamente eficaz que evita flashbacks como muleta narrativa e oferece pistas sobre o que a família se recusa a falar, bem como sobre o estado psicológico e emocional de Gema, a mãe imersa na melancolia insuperável dos olhos azuis-marinhos de Magdalena Caraballo. A eterna adolescente, no entanto, não é um filme de arquivo. As gravações foram feitas pela equipe de produção com a estética do formato VHS e no estilo dos anos noventa, inspirando-se em arquivos familiares de vídeo e fotografia. 

As fitas de vídeo são um filme dentro do filme, feito especificamente para ele, quase como um jogo que remete às primeiras tentativas de crianças ou adolescentes que sonhavam em ser cineastas ou repórteres. Em outras palavras, o filme inventa uma arqueologia da memória usando suas próprias ferramentas ficcionais, capturando o vintage e despojando-o da frivolidade da moda para sugerir e mostrar a amargura de uma família. Uma canção antiga, alegre e inconfundível, “Las pequeñas cosas”, de Amanda Miguel, ícone pop e vintage, eternamente feliz, também toca ao fundo.

É impossível não destacar Emma Dib no elenco de atrizes, uma grande figura do teatro mexicano que atuou pouco no cinema. Sua interpretação de Cristina é admirável: dura e, ao mesmo tempo, sensível, com um semblante sério e severo, mas com um riso fácil. O público ri junto com ela, reconhecendo a imagem da matriarca categórica que não tolera objeções, mas cujos olhos revelam arrependimento. 

A atuação de Teresa Sánchez, rosto inconfundível do melhor do cinema mexicano — por exemplo, em Tótem (2023) — também é notável. Ela interpreta a irmã que retorna, aterrorizada com a possibilidade de encontrar uma família que reconhece como sua, apesar das recriminações, do tempo e da distância. A eterna adolescente é uma grata surpresa. 


* Este texto é a tradução livre de “La infelicidad vintage de La eterna adolescente”, publicado aqui, em Letras Libres.

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