Boletim Letras 360º #562

DO EDITOR
 
Olá, leitores! Disse na edição passada que o Letras fará sua costumeira pausa de fim de ano. Deixaremos as publicações diárias e a próxima edição deste boletim já virá reduzida, sem as seções suplementares. Como disse, as atividades nas redes continuam — e vez ou outra, sempre que bater necessidade, por aqui também. 

Planejamos regressar ao normal na penúltima semana de janeiro de 2024 e, muito provavelmente, com chamada para novos colunistas. Você que escreve sobre livros e quiser publicar conosco, se organize e esteja atento por aqui e pelas nossas redes. Dê uma olha sobre nossos interesses e linha editorial aqui.

Agradecemos sua companhia até aqui e, continuem conosco!

Javier Marías. Foto: Thomas Laisné


 
LANÇAMENTOS
 
O ano de 2024 começa com a chegada ao Brasil do último romance de Javier Marías.
 
Após um longo período dedicado ao serviço secreto, Tomás Nevinson acredita que seus dias de espionagem chegaram ao fim. O reencontro com Berta Isla, mulher por quem segue apaixonado apesar de uma ausência de anos, faz Nevinson se acomodar a uma vida pacata em Madri, onde não enfrenta grandes dificuldades, exceto ter de lidar com ocasionais fantasmas de seu passado. Essa aposentadoria, contudo, é interrompida quando um destes espectros pede para vê-lo. Trata-se de seu ex-chefe Bertram Tupra, agente experiente e insondável, aparentemente desprovido de qualquer culpa. Ignorando os males que causou a seu antigo subordinado, Tupra convoca-o para uma nova missão: identificar e matar a pessoa responsável por um ataque terrorista perpetrado pelo ETA anos antes. A contragosto, Nevinson aceita a missão. Último romance escrito por Javier Marías, Tomás Nevinson dialoga não apenas com seu livro irmão Berta Isla, mas também com outras obras consagradas como Coração tão branco e a trilogia Seu rosto amanhã. Caracterizado pela presença de alguns dos temas mais caros ao autor (as fronteiras da identidade, o papel desempenhado pelos segredos e ocultamentos nas relações afetivas) e por seu estilo inconfundível, marcado por longas frases de estrutura intrincada, este livro é o testamento de um dos mais importantes autores de língua espanhola do último século. O livro é publicado pela Companhia das Letras com tradução de Josely Vianna Baptista e Eduardo Brandão. Você pode comprar o livro aqui.
 
Georges Perec e o sumiço das vogais.
 
Pouco tempo depois de ter lançado seu romance sem a vogal e, O sumiço, o autor francês escreveu Qe regressem, livro em que o e é a única vogal empregada. Bem como o escritor, o tradutor Zéfere passou a se dedicar ao trabalho monovocálico de Qe regressem depois de terminar o lipogramático O sumiço — tradução premiada com o Jabuti e com o Prêmio Literário Biblioteca Nacional em 2016. A narrativa, originalmente publicada em 1972, mescla de policial e erótico, conta a história de uma orgia organizada com o intuito de se roubarem joias. Na análise de Claude Burgelin, estudioso do autor, Perec promove “na sua festa textual, uma festa sexual”. Qe regressem é uma obra experimental que explora as possibilidades da linguagem. Zéfere explica que o livro é uma obra de “língua estrangeira” dentro do português (assim como seu original com relação ao francês), pois a restrição vocálica exige a transgressão das normas cultas da escrita, a criação de uma nova ortografia, o uso de palavras e expressões inventadas, entre outros malabarismos que resultam em uma linguagem original e criativa. A restrição forma um jogo entre o autor, o enredo e o leitor, que é desafiado a descobrir os significados ocultos das palavras e frases. O livro é publicado pela Autêntica. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um novo livro de Dovlátov chega aos leitores brasileiros.
 
A mala (Tchemodan, 1986), livro que consagrou o nome de Serguei Dovlátov (1941–1990) como um dos principais escritores russos do século XX, faz uma viagem pelo tempo através da mala que ele levou consigo ao deixar a União Soviética (1978). Se em Parque Cultural, o autor-narrador hesita em partir de seu país natal e em O ofício já vive como um emigrado, em A mala ele desfaz a bagagem de recordações de sua Rús­sia particular. Cada objeto dentro da mala define uma parte do enredo — de um cinto de oficial do exército e sapatos da nomenclatura até uma jaqueta de Fernand Léger — e abre-se para uma passagem agridoce da vida do incon­fundível narrador Dovlátov. Como o próprio autor descreve, “por trás de cada coisa dentro da mala, há uma história dramática, divertida ou absurda”. Com uma narração envolvente, quase como se estivéssemos ouvindo causos numa mesa de bar, os relatos de A mala envolvem contrabandistas, jornalistas de caráter duvidoso, escritores de passado obscuro, jovens rebeldes com causa, amizades desfeitas, amigos de copo, suicidas, ícones da sociedade soviética, tendo como pano de fundo a Leningrado dos anos 1970. Por meio de objetos — que são “a história, a época, a marca dessa época, um índice, um monograma” — o livro delineia a atmosfera cultural da cidade criada por Pedro, o Grande e, de anedota em anedota, vai ganhando densidade existencial. Os acontecimentos biográficos, que o autor retrata como bem entende, são apenas um pretexto para que ele desvele camadas contrastantes da realidade, indo da anedota ao drama, como Ígor Sukhikh observa no posfácio. O narrador em primeira pessoa, confundido com o próprio autor, lança um olhar irônico sobre o ser humano, tocando em temas típicos da obra dovlatoviana, como a censura, o alcoolismo, o antissemitismo, as desigualdades sociais e o dilema da emigração, mas aqui ele se coloca em evidência. Ao dedicar uma das histórias ao relacionamento com sua esposa, encontramos um Dovlátov atônito com a própria (in)capacidade de amar. E, como sempre, em sua prosa, “combinam-se o humor e a amargura, a desfaçatez e o sentimentalismo, a anedota ficcional e o documento factual”. Com tradução de Moissei Mountian e Daniela Mountian, o livro sai pela editora Kalinka. Você pode comprar o livro aqui.
 
A chegada do escritor inglês Jacobo Bergareche.
 
O que transforma dias banais em dias perfeitos? Quando o lúdico passa a ser apenas rotina? A resposta parece passar por Peter Handke, mas estaria em Faulkner, em suas cartas à sua amante Meta Carpenter, mantidas nos arquivos literários da Universidade do Texas. Em um congresso, o jornalista espanhol Luis inicia um relacionamento amoroso com a arquiteta mexicana Camila. Ambos casados, verem-se uma vez ao ano e desfrutar de alguns dias perfeitos — do tipo em que vemos beleza em uma revoada de morcegos — poderia ser o arranjo perfeito, que lhes permitia continuar com seus amores de rotina. As coisas não saem como planejado, e Luis escreve sobre seus amores com sinceridade, encantamento e — algo infelizmente não tão comum em relacionamentos amorosos malfadados — respeito e consideração pelos envolvidos e seus desejos conflitantes. Sabemos que todas as cartas de amor são ridículas. Aqui temos duas cartas inteiras e referências a várias outras. Universal do idílio à tentativa de evitar o fracasso, Bergareche lida de forma desmistificadora e, paradoxalmente, apaixonada sobre a matéria de um relacionamento amoroso e cativa o leitor ao deixar de lado o quê e, sim, questionar como. Tradução de Marina Waqil, Os dias perfeitos sai pela editora Mundaréu. Você pode comprar o livro aqui.
 
A chegada da escritora egípcia Nawal El-Saadawi.
 
A queda do imã é poderoso e poético romance, um grito de guerra contra aqueles que usam a religião como arma para subjugar as mulheres. Em uma escrita experimental, ousada e de certa forma fragmentada, a escritora egípcia Nawal El-Saadawi (1931-2021) relata os horrores aos quais mulheres e crianças podem ser expostas em nome da fé. Com tradução de Safa Jubran, o livro sai pela editora Tabla. Você pode comprar o livro aqui.
 
Unindo a experiência de socióloga a um depurado poder de observação das relações humanas, Ana Cristina Braga Martes nos dá, neste romance delicado e envolvente, um retrato fiel de uma época e uma análise viva de alguns dos problemas mais persistentes da sociedade brasileira.
 
Uma pré-adolescente que nunca conheceu os pais, criada pelos avós numa cidade pequena, numa casa cercada por segredos. Uma vila de trabalhadores e pequenos comerciantes vivendo sob o jugo das autoridades locais, durante os anos de ditadura militar. Este é o cenário em que se passa o belo romance de Ana Cristina Braga Martes, Sobre o que não falamos. Espécie de romance de formação, o livro acompanha a jovem protagonista em sua luta para desvendar o mistério sobre seus pais, que será também uma jornada de descoberta das palavras, da história política do país e de sua própria identidade. Com rara sensibilidade psicológica e talento narrativo, a autora nos faz acompanhar os desafios externos que a protagonista enfrenta e os seus dramas internos com igual intensidade. Ana Cristina Braga Martes nos dá, neste romance delicado e envolvente, um retrato fiel de uma época e uma análise viva de alguns dos problemas mais persistentes da sociedade brasileira, como a injustiça, a herança da ditadura, a violência contra mulheres e as desigualdades de raça e gênero numa sociedade fortemente patriarcal. O livro sai pela Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
 
O sexto volume na coleção que reúne as tragédias completas de Sófocles.
 
Filoctetes, companheiro de Héracles e herdeiro de seu arco, convocado para a expedição contra Troia, não completou a viagem, porque na Ilha de Tênedo foi picado no pé por uma serpente. A chaga extremamente dolorosa o fazia gritar e exalava um fedor insuportável, perturbando assim toda a tripulação. Persuadidos por Odisseu, os reis Agamêmnon e Menelau decidem abandoná-lo em Lemnos, que então era uma ilha deserta. Passados dez anos sem que a guerra tivesse fim, o adivinho troiano Heleno, feito prisioneiro, revela aos gregos que Troia somente seria conquistada com o arco e as flechas de Héracles, então em posse de Filoctetes. Incumbido de buscá-lo e trazê-lo a Troia por persuasão ou à força, Odisseu retorna à Ilha de Lemnos, acompanhado de Neoptólemo, filho de Aquiles. Sendo Odisseu um velho e odioso inimigo, o jovem Neoptólemo recebe a missão de convencer Filoctetes a participar da luta ao lado daqueles mesmos que outrora o abandonaram a sós sem compaixão. Amante da verdade e partidário do emprego da força, o jovem vive um tumultuoso conflito de consciência entre a aspiração à glória guerreira, o dever militar, a necessidade de se servir de dolo e as incontornáveis injunções de um oráculo revelador dos desígnios de Zeus. As surpreendentes reviravoltas em que se desdobra esse conflito interior constituem o entrecho da tragédia Filoctetes, apresentada neste sexto volume das obras completas de Sófocles em edição bilíngue na tradução poética de Jaa Torrano pelas editoras Ateliê e Mnema. Os ensaios analíticos e interpretativos bem como o glossário mitológico, elaborados pelo tradutor e por Beatriz de Paoli, conduzem o leitor pelas sendas de tempos míticos em que heróis profunda e extremamente humanos conviviam com Deuses tão próximos quanto imperscrutáveis. (José de Paula Ramos Jr.) Filoctetes sai pelas editoras Mnēma e Ateliê. Você pode comprar o livro aqui.
 
As reflexões de Marco Aurélio que servem como exercícios espirituais em tempos turbulentos, conselhos a si mesmo que o imperador buscou registrar e cujas ideias ecoam até hoje.
 
O pensamento estoico, longe de ser mero objeto de estudo de helenistas, encontra-se mais vivo do que nunca na sociedade contemporânea. Seus propagadores, como Sêneca e Marco Aurélio, chegam a uma nova geração de leitores aproximando a filosofia da vida prática. Esta nova tradução do clássico Meditações oferece grande precisão linguística, permitindo decifrar as nuances de uma obra complexa que conduz o leitor a uma reflexão sobre a impermanência da vida e a nossa relação com a natureza e o cosmos. A tradução é de Aldo Dinucci e sai pelo selo Penguin/ Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Maria Esther Maciel e um inventário de duas vidas permanentemente assombradas pelos eventos decisivos que as afastariam para sempre.
 
Quando completa um ano da morte de sua mãe, que vivia no interior de Minas Gerais, uma botânica de renome internacional resolve pôr os pingos nos is de uma relação permanentemente marcada pela instabilidade, pela culpa e pelo rancor. A tarefa, pode-se imaginar, é das menos simples. E envolve uma miríade de lembranças, cenas familiares, violência abafada pelas convenções sociais e a consciência (sempre dolorosa) de que, por mais que nos esforcemos, as armadilhas dos afetos sempre estão pelo caminho. E seguem nos machucando, muito tempo depois dos eventos traumáticos. Neste romance tocante e poderoso, Maria Esther Maciel parte das “coisas” — plantas, objetos, insetos — para reconstruir o passado da protagonista. A mãe, centro das rememorações, foi uma mulher a um só tempo vítima de seu tempo e algoz da própria filha. Uma mulher que alardeava a própria infelicidade e que parecia não desejar a satisfação alheia — especialmente da filha, por quem nutria uma obsessão feita de reproches, cobranças, destruição da autoestima e desejos obscuros. Entre a crônica familiar e a meditação sobre os laços emocionais que muitas vezes são construídos por meio da violência (real ou simbólica), Essa coisa viva sai pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
Clássico que marcou gerações de leitores e que foi adaptado diversas vezes ao cinema e ao teatro, Oliver Twist ganha uma nova tradução feita a partir do estabelecimento de texto que reproduz a serialização folhetinesca na qual o romance foi originalmente publicado.
 
Oliver Twist, personagem que dá nome ao livro, é um pobre órfão que passa por uma série de provações e busca sobreviver na crueldade das ruas londrinas. De início, é aliciado por um grupo de ladrões, mas procura se esquivar da criminalidade e preservar a pureza neste mundo corrompido. Mais do que a saga de um garoto esfomeado, Dickens constrói um panorama da sociedade vitoriana nos seus aspectos mais sórdidos e muitas vezes ignorados. A edição traz, ainda, uma nova introdução por Sandra Guardini Vasconcelos e um paratexto crítico da obra do autor por George Orwell. A tradução é de Paulo Henriques Britto e o livro sai pelo selo Penguin/ Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
O oitavo volume da Coleção Correspondência Mário de Andrade.
 
Este volume organizado por Gênese Andrade, reúne as cartas e bilhetes enviados por Oswald de Andrade ao amigo entre os anos de 1919 e 1928, período de efervescência cultural no país e que marca o início e o enfraquecimento da amizade entre os dois escritores. Em meio a notícias de viagens, questões literárias, ironias e intrigas, delineiam-se a amizade e a admiração intelectual entre eles. Vários artistas e escritores brasileiros permeiam o conjunto, que reproduz manuscritos, dedicatórias, postais e papéis timbrados assim como a iconografia do período, revelando os bastidores do modernismo. O livro contém ainda um “Dossiê” com artigos de Oswald sobre Mário e de Mário sobre Oswald, o único poema escrito a quatro mãos pelos autores de que se tem notícia, e finaliza com o ensaio “Andrade versus Andrade”, no qual a organizadora elucida inúmeras questões relacionadas ao modernismo e à relação dos dois amigos. Publicação da Edusp. Você pode comprar o livro aqui.
 
Livro recorre aos saberes indígenas e às mais variadas disciplinas — arqueologia, física, genética, linguística — para narrar a história dos primeiros povos americanos.
 
O que os cientistas sabem — e o que ainda ignoram — sobre a ocupação humana nas Américas. Bernardo Esteves busca os primeiros povos do continente enquanto evoca uma nova forma de fazer ciência. De onde viemos? Admirável novo mundo recorre aos saberes indígenas e às mais variadas disciplinas — arqueologia, física, genética, linguística — para narrar a história dos primeiros povos americanos. Não fosse uma questão suficientemente fascinante, Bernardo Esteves, jornalista e doutor em história das ciências, nos indaga: o que os cientistas ignoram ao construírem suas verdades? Fruto de extensa pesquisa, com ênfase nas investigações em sítios arqueológicos brasileiros, Admirável novo mundo assume a difícil tarefa de descolonizar a história humana no continente. Somos apresentados a outras narrativas possíveis que — seja pelo imperialismo científico, seja pelo desinvestimento na produção acadêmica brasileira, seja pela prevalência da oralidade em povos indígenas latino-americanos ante à escrita europeia — são menosprezadas mundo afora. Uma joia rara da divulgação científica no Brasil. Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
 
REEDIÇÕES
 
Nova edição do romance O sangue dos outros, de Simone de Beauvoir.
 
França, década de 1940. Os alemães, aos poucos, vão tomando espaço nas ruas parisienses, levando um constante clima de tensão à outrora despreocupada burguesia francesa. Nesse cenário, conhecemos Hélène, uma jovem sonhadora e individualista, e Jean, um rapaz bem-nascido que decide abandonar seus privilégios para lutar pelas causas operárias e, mais tarde, juntar-se à resistência antifascista. A partir da relação amorosa que os dois vivem e das relações com as pessoas que os cercam, mergulhamos numa inebriante espiral de sentimentos e questionamentos profundos: O que é o amor? Qual o verdadeiro sentido da existência? Como nossas decisões afetam a vida alheia? Em O sangue dos outros, publicado pela primeira vez em 1945, Simone de Beauvoir desenvolve os temas que a tornaram uma escritora consagrada. Seu olhar sobre as questões existencialistas, feministas e sobre a dicotomia coletividade versus individualidade envolverá o leitor do início ao fim deste clássico da literatura feminista. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma edição especial para assinalar os 90 anos de Casa-grande & Senzala, de Gilberto Freyre.
 
Em dezembro de 1933, publicava-se no Brasil obra fundamental para o conhecimento que até então se tinha sobre a nossa sociedade: Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal, do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre. Para marcar os 90 anos deste livro que revolucionou os estudos sobre assuntos brasileiros, a Global Editora publica uma edição especial comemorativa limitada com capa dura desta obra icônica. Além de trazer os elementos já presentes na versão atual — texto de apresentação do sociólogo e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e dois cadernos iconográficos — a nova edição é composta de um conteúdo adicional especialmente produzido para ela: um posfácio escrito pela historiadora Mary Del Priore e um terceiro caderno iconográfico, o qual oferece um passeio imagético pelas obras de pintores e desenhistas que contribuíram para as diversas edições de Casa-grande & senzala publicadas ao longo de nove décadas. A pintura que estampa a capa desta nova edição é de autoria de Cícero Dias, pintor pernambucano reconhecido internacionalmente e que foi amigo de Gilberto Freyre. A obra pertence hoje ao acervo da Fundação Gilberto Freyre. É também de Cícero a famosa pintura do Engenho Noruega que vem encartada nas edições de Casa-grande & Senzala da Global Editora. Ancorado em pesquisa realizada em arquivos brasileiros e estrangeiros, Freyre construiu uma poderosa análise sobre os traços e desafios centrais da formação da sociedade brasileira. As virtudes e os vícios da colonização portuguesa no Brasil, a enorme contribuição das matrizes indígena e africana na formação da identidade nacional, tudo reconstituído a partir de uma perspectiva inovadora: lançando luzes sobre os aspectos cotidianos que estiveram presentes nas permanências e transformações de uma sociedade caracterizada pela miscigenação. Assim, a culinária, a alimentação, o vestuário, as práticas religiosas foram algumas das dimensões da vida social minuciosamente reconstituídas por Gilberto Freyre neste livro seminal que se tornou uma das mais complexas e influentes interpretações do Brasil até hoje concebidas. Você pode comprar o livro aqui.
 
No desfecho da premiada Trilogia da Fronteira, Cormac McCarthy entrelaça a trajetória de John Grady Cole (protagonista de Todos os belos cavalos) e de Billy Parham (protagonista de A travessia). Ligados pela natureza e marcados pelas aventuras da infância, os dois precisarão enfrentar as graves transformações do mundo em que vivem.
 
Outono de 1952. John Grady Cole e Billy Parham trabalham juntos em uma fazenda de gado próxima à fronteira entre o México e os Estados Unidos. Certa noite, os dois visitam um bordel em Juárez, no México, e uma bela jovem mexicana no bar chama a atenção de Grady. Embora esteja fascinado, ele não se aproxima, mas não consegue tirá-la dos pensamentos, mesmo depois de retornar à fazenda na companhia de Billy. Perdidamente apaixonado, Grady fará de tudo para viver com Magdalena, mas não imagina que a busca por este amor mudará para sempre a vida de todos. Grady e Billy descobrirão que o cenário onde vivem é cercado por tragédias e perdas que afligem velhos, jovens, sobreviventes e qualquer um disposto a permanecer em sua dura realidade. Cidades da planície, em tradução de José Antonio Arantes, é reeditada pela Alfaguara Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Mais Clarice Lispector. O romance A paixão segundo G. H. é o novo título da coleção Clarice Essencial, feita pela Rocco desde o ano do centenário da escritora brasileira. A edição em capa dura e tecido traz posfácio de Luiz Fernando Carvalho.
 
Adélia por vir. A coluna Painel de Letras, da Folha de São Paulo, antecipou na semana anterior que a poeta mineira Adélia Prado se prepara para trazer ao público um novo livro: Jardim das oliveiras. O título ainda é provisório, mas o livro sairá pela Record.
 
Mais poesia completa. Depois de publicar a poesia completa de Donizete Galvão, o Círculo de Poemas, clube formado pelas editoras Fósforo e Luna Parque, noticia que publicará em janeiro uma reunião da obra de Duda Machado.
 
Walt Whitman inédito. A nova Cobalto publica Madeira viva, com musgo. Traduzido por Helio Flanders o livro reúne uma dúzia de poemas de um projeto iniciado pelo poeta estadunidense logo depois da primeira edição de Folhas de relva. Trata-se de um conjunto de textos descoberto por Fredson Bowers em 1953 e que, em parte, esteve na origem do livro Calamus.
 

OBITUÁRIO
 
Morreu Rubens Rodrigues Filho.
 
Nascido em Botucatu, São Paulo, a 6 de maio de 1942, Rubens Rodrigues Filho foi tradutor, poeta, escritor e professor. Sua vida acadêmica começa em Filosofia pela Universidade de São Paulo em 1963, instituição onde concluiu sua formação e onde atuará lecionando filosofia clássica alemã e filosofia moderna. É dele a tradução de importantes obras de autores como Immanuel Kant, Friedrich Schelling, Friedrich Nietzsche, Theodor Adorno e Walter Benjamin. O resultado do estudo desses autores, o leitor encontra na variedade de ensaios e artigos que publicou em revistas, coletâneas próprias e alheias. Na poesia, estreia em 1963 com Investigação do olhar; a este título seguem O voo circunflexo (1981, Prêmio Jabuti), A letra descalça (1985), Figura e Pranto de despedida (1987), Poros (1989), Retrovar (1993) e Novolume (1997). Rubens Rodrigues Filho morreu no dia 13 de dezembro de 2023.

 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Poesia completa, de Emily Dickinson (Trad. Adalberto Müller, Editora UnB; Editora Unicamp 1656 p.) Uma biblioteca que pode ser sua companhia no ano que se inicia ou mesmo durante a travessia de uma vida. Os dois tomos com poesia de Dickinson servem ao convívio do leitor interessado em compreender uma obra antecipou, em termos de densidade lexical e liberdade sintática, os rumos do que mais tarde passamos a designar como poesia moderna. Você pode comprar o primeiro volume aquiE o segundo livro aqui
 
2. Oração para desaparecer, de Socorro Acioli (Companhia das Letras, 224 p.) Quando quatro personagens com histórias marcadas pelo mistério e pelo amor se encontram no tempo à procura de respostas sobre eles próprios. Você pode comprar o livro aqui
 
3. Maniac, de Benjamín Labatut (Trad. Paloma Vidal, Todavia, 360 p.) O romance recupera a figura história do matemático John von Neumann, autor do computador moderno tal como conhecemos. Mas não é a biografia e nem o feito de Von Neumann o interesse da narrativa e sim o impacto da sua descoberta para os rumos da humanidade. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Dos 88 anos de Adélia Prado, celebrados no passado dia 13 de dezembro, algumas publicações nas redes sociais ocupadas pelo Letras: neste vídeo, de meados dos anos 1990, a poeta diz o poema “Impressionista”, do seu livro mais conhecido, Bagagem; do mesmo livro, neste outro vídeo, deste ano, a poeta mineira lê “Momento”.


BAÚ DE LETRAS
 
Fomos os primeiros a resenhar o primeiro romance de Socorro Acioli, a escritora cearense que regressa agora com o livro recomendado na seção Dicas de Leitura. O texto saiu aqui em março de 2014. O romance? O prestigiado A cabeça do santo.

Ainda na superfície do baú. No passado 10 de dezembro, dia de Clarice Lispector, sublinhamos nas redes do Letras os 80 anos da sua estreia como romancista. Foi com o romance Perto do coração selvagem, que, para muitos críticos, alterou definitivamente o curso da literatura brasileira. Preparamos uma matéria sobre este romance e essa estreia de Clarice — aqui.

Por falar em datas redondas para obras da nossa literatura, outro livro que alcança oito décadas da sua primeira edição é Fogo morto, de José Lins do Rego. Aqui um texto de 2009 sobre o romance.

 
DUAS PALAVRINHAS
 
Sempre achei que o menos que um escritor pode fazer, numa época de violência e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões e aos assassinos.
 
― Erico Verissimo

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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
 

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