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Mostrando postagens de 2025

Boletim Letras 360º #665

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DO EDITOR Saibam que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você pode obter um bom desconto e ainda ajuda a manter o Letras. A sua ajuda é essencial para que este projeto permaneça online. Cristovão Tezza. Foto: Guilherme Pupo LANÇAMENTOS O novo romance de Cristovão Tezza é uma reflexão terna e audaciosa sobre um pai e um filho, um relato de dupla formação, uma investigação franca do passado familiar, da política do país — e dos afetos que nos constituem . João Batista Tezza, pouco letrado, começou a fazer anotações num caderno de capa dura em fevereiro de 1931, quando entrou no exército como soldado em Florianópolis, aos vinte anos. E manteve o hábito até a semana em que morreu, precocemente, já professor e advogado, em julho de 1959, em decorrência de um acidente de lambreta. O escritor Cristovão Tezza sempre soube da existência dos cadernos de seu pai, mas nunca havia se interessado por eles até que, em 2021, durante a pandemia, o autor decid...

Respirar

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Por Tiago D. Oliveira Claire Desjardins. Respirar Deram as mãos e ficaram em silêncio. A proposta era aguentar por três minutos, um de frente para o outro. Luíz Melodia cantou: “Se a gente falasse menos, talvez compreendesse mais.” Ele transformou em música uma deixa, uma prova de generosidade. Saber é dividir; só assim tem sentido. Um caminho. Sim, porque tatear a experiência humana e descrevê-la sem desperdícios talvez seja mais uma questão de voltar a senti-la do que simplesmente seguir o fluxo. Respirar é o primeiro passo. Cientistas da NASA descobriram que a crosta terrestre sobe e desce cerca de 1 cm ao ano. Esse movimento acontece devido à redistribuição das águas e do gelo, o que chamam de “oscilação glacial isostática”. Como se o planeta respirasse. Respirar é insistir. Arriscar a todo custo: a mais pura prova de vida. É também mandar um recado. E tantos são passados diariamente, mas não nos atentamos para o perigo que é viver sem se dar conta. “Quando se vê, já são 6 horas: h...

Entre o mundo e Baldwin: notas sobre Da próxima vez, o fogo

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Por Vinícius de Silva e Souza   É muito fácil se perder no fluxo de “Carta de uma região de minha mente ”, ensaio barra memória barra reflexão de James Baldwin que concentra quase toda a obra Da próxima vez, o fogo , traduzido por Nina Rizzi para a Companhia das Letras, casa que publicou o livro no Brasil em 2024. Entre relatos de sua infância, reflexões sobre religiosidade, exemplos de racismo da época em que foi escrito e relato de causos de sua vida adulta, o escritor nos leva, de maneira hipnótica, a refletir sobre a ligações entre religião (principalmente o islã) e a segregação racial de seu país.  Na época, aos 39 anos, o que afirma o autor, aqui, é que nem a militância radical de Malcom X e nem a pacifica desobediência civil do Reverendo King são o caminho ideal para o fim da segregação. Mostrar-se como uma categoria mais elevada, exemplificar civilidade e honra são os caminhos que o autor parece querer traçar, fortemente opondo-se a ideia de revidar violência com mais ...

Simpatia pelo senhor Scorsese

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Por Ernesto Diezmartínez  “Desde que me lembro, sempre quis ser diretor de cinema.” Essa poderia ter sido a empolgante frase de abertura da biografia de Martin Scorsese, se ele mesmo a tivesse narrado como uma série documental para a televisão. Rebecca Miller, diretora de Mr. Scorsese (Estados Unidos, 2025), uma minissérie de cinco episódios disponível na Apple TV que apresenta a vida e a obra do grande cineasta ítalo-americano, tem uma ideia diferente de como contar essa história, tanto dentro quanto fora dos sets de filmagem. Mr. Scorsese foi concebida, desde o início, não como uma cinebiografia tradicional, mas como um retrato pessoal multifacetado, construído, pode-se dizer, a partir dos princípios do cubismo sintético. Assim, a cineasta, roteirista e atriz Rebecca Miller retornou às suas raízes como estudante de Belas Artes, pintora, escultora e ilustradora, entregando uma envolvente colagem cinematográfica scorsesiana, construída a partir de diversos depoimentos — de amigos...

Michel Houellebecq e a felicidade

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Por Marcos Abal  Michel Houellebecq. Foto: Renaud Monfourny Se Honoré de Balzac queria competir com o cartório em sua Comédia humana , uma obra que se destaca no século XIX pelo brilhantismo da mais variegada quantidade de personagens, Michel Houellebecq, em seu romance O mapa e o território , parece querer competir com um catálogo de loja de departamentos, visto que é uma obra de destacado brilhantismo no campo da literatura pós-moderna. Ficava bem a Don DeLillo, que se move como um verdadeiro poeta entre o lixo — exemplo disso é o magnífico Ruído branco . Há um afiado — e afinado — jogo com o DeLillo, além de todo aquele sopro de geleiras que nos é apresentado como uma metáfora para o medo da morte. É o ruído elétrico que não conseguimos parar de ouvir, assim como não conseguimos parar de ouvir o murmúrio da morte, como uma abstração que um dia se tornará carne dentro de nós. A morte também está muito presente no romance de Houellebecq. Aliás, tudo está presente; é impossível pen...

As precursoras das modernas damas do crime

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Por Atzin Nieto  Existem apenas duas regras para que um detetive tenha êxito: trabalho duro e bom senso. — Hugh C. Weir Ninguém duvida que a paternidade do gênero policial pertence a Edgar Allan Poe. Como bem aponta o escritor argentino Ricardo Piglia: “A chave é que Poe inventou uma nova figura e assim inventou um gênero. A invenção do detetive é a chave do gênero.”¹ O gênero desfrutaria de grande popularidade, tanto que, no rastro do seu inventor logo surgiram autores como Charles Warren Adams, Émile Gaboriau e Wilkie Collins. No início, apenas se falava de autores homens que escreviam sobre detetives homens. Foi somente em 1878 que surgiu o primeiro romance desse gênero escrito por uma mulher, The Leavenworth Case (trad. livre O caso Leavenworth), de Anna Katharine Green. Mais tarde, graças à publicação de The Penguin Book of Victorian Women in Crime: Forgotten Cops and Private Eyes from the Time of Sherlock Holmes , (trad. livre As vitorianas no crime: policiais esquecidas e d...

Boletim Letras 360º #664

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DO EDITOR Saibam que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você pode obter um bom desconto e ainda ajuda a manter o Letras. A sua ajuda é essencial para que este projeto permaneça online. LANÇAMENTOS A obra-prima de Erico Verissimo, m istura arrebatadora de fantasia e sátira política,  adaptada para os quadrinhos.  Meio-dia, sexta-feira, 13 de dezembro de 1963. Uma assembleia é convocada em Antares, pequena cidade no sul do Brasil. Há uma greve geral, e até mesmo os coveiros estão sem trabalhar, de modo que os cadáveres não podem ser sepultados. À luz do sol, vagando livremente pelas ruas, os mortos-vivos enfim se sentem à vontade para vasculhar a intimidade alheia e falar o que bem entendem, sem receio de repressão das autoridades. Publicado originalmente em 1971, Incidente em Antares ,   o último romance de Erico Verissimo se tornou uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira. Nesta inédita versão em HQ, com roteiro de ...

O caminho árido da existência: reflexões filosóficas do jagunço Riobaldo

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Por Juliano Pedro Siqueira  A gente tem de sair do sertão! Mas só se sai do sertão é tomando conta dele a dentro. — Riobaldo Grande sertão visto por Poty Lazzarotto A extensa narrativa de Riobaldo — personagem nuclear em Grande sertão: veredas , de João Guimarães Rosa — possui múltiplas interpretações das inúmeras leituras que dele se pode fazer. A versatilidade linguística, o estilo arcaico da escrita e o primitivismo dos cenários descritos, cunhou no escritor mineiro o criador de uma epopeia de vertente mística em que a força religiosa e os conflitos de ordem existenciais emergem em meio às batalhas sangrentas promovidas por jagunços. A análise que parto é justamente esta: extrair a partir das reflexões de Riobaldo, a percepção filosófica que se constrói no curso dos caminhos áridos do sertão neste romance. Um mergulho profundo e complexo nas emoções e pensamentos cuja subjetividade reflete a terra enigmática, solitária, conflitante e sombria, onde o velho jagunço, precisou atrav...

O mau selvagem de Lira Neto — que Oswald é esse?

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Por Lucas Paolillo “É inevitável que o biógrafo se pergunte, em alguns —ou em vários — momentos do trabalho: até que ponto ele tem o direito de se esgueirar, sem maiores restrições, pelos desvãos da privacidade alheia? Quando a pesquisa passa a se confundir com o mexerico, a investigação com a fofoca, o estudo com a bisbilhotice? Aprendi não haver balizas definidas entre um território e outro. Tomo como regra ponderar sobre o quanto determinada informação – por mais indiscreta e inconveniente que seja – será relevante para a compreensão do biografado” – Lira Neto, em “Breve ‘biografia’ da biografia” , 2022.  “Era uma vez O mundo” – Oswald de Andrade, em “Crônica”, 1927. Oswald de Andrade em retrato como candidato a deputado federal, 1950. Coleção Marilia de Andrade. Acervo CEDAE/Unicamp. Foto: autoria desconhecida Ao se manifestar sobre a atividade dos biógrafos, o experiente jornalista João de Lira Cavalcante Neto, o nosso Lira Neto, costuma mencionar a ausência de produções defin...