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Mostrando postagens de 2025

Boletim Letras 360º #669

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DO EDITOR Saibam que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você pode obter um bom desconto e ainda ajuda a manter o Letras. A sua ajuda é essencial para que este projeto permaneça online. Jon Berger. Foto: Ulf Andersen LANÇAMENTOS Um dos últimos livros de John Berger é feito com a pena da liberdade criativa alcançada com a maturidade .   Diante de um achado ou de uma visão formidável, o tio Edgar levava o dedo com a verruga aos lábios, convidando seu jovem sobrinho ― o futuro narrador de O toldo vermelho de Bolonha  ― a fazer silêncio, a não dissipar a experiência vivida a golpes de lugares-comuns. “Deus é o não-dito”, sussurra ele à hora de dormir, certa noite em Saint-Malo. Essa discrição essencial dá o tom deste livro breve e luminoso, um dos últimos de John Berger. Sem alarde, o autor deixa as fórmulas feitas de lado e passeia entre um subúrbio londrino e as arcadas de Bolonha, o relato de viagem e o retrato falado do tio original e li...

Uma vanguarda caseira feita por um homem só

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Por Emmett Stinson Gerald Murnane. Foto: Morganna Magee   Frequentemente me perguntam por qual romance de Gerald Murnane os leitores devem começar, mas não há uma porta de entrada acessível (minha sugestão, no entanto, é sempre o conto “When the Mice Failed to Arrive”, que contém, em miniatura, os principais temas e técnicas que ele desenvolve ao longo de sua obra). As reações à obra de Murnane costumam ser extremas: muitos leitores, entre os quais me incluo, ficam obcecados, querendo ler tudo o que ele escreveu, enquanto outros o detestam, ficam confusos ou coisa pior. Os quatro últimos romances do escritor — Barley Patch , A History of Books , A Million Windows e Border Districts  — são obras exemplares do estilo tardio. Essa expressão foi cunhada por Theodor Adorno, que observa que o estilo tardio ocorre quando a “subjetividade” de um artista se “proclama ferozmente” a tal ponto que “rompa a forma arredondada em prol da expressão”. Nesse sentido, o artista rejeita as perfe...

Via Gemito, de Domenico Starnone

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Por Sérgio Linard  Domenico Starnone. Foto: Isabella De Maddalena “Não sei bem o que aconteceu depois, só me lembro perfeitamente daquela frase. O resto é poeira, fragmentos de sons, palavras como aparas sob a plaina do tempo e outras fórmulas enfáticas que aqui servem substancialmente para dizer isto: uma narrativa é uma narrativa; até quando narra apenas a verdade, usa e abusa da fantasia.” (p. 332) Como um livro que conta a história de um pai egoísta e que está concentrado em relatar as experiências de um filho na busca por compreender a complexa figura paterna pode ser dedicado à mãe ? Se, assim como este que aqui escreve, o leitor intentar encontrar respostas para esta pergunta enquanto lê Via Gemito , precisará ter em mente que as possíveis saídas para esta indagação só aparecerão nas últimas dez páginas das quase quinhentas deste romance (ao menos na primeira tradução e edição brasileiras). Algo que parece contraditório, mas que além de ter sentido do ponto de vista do cont...

A alma das imagens: Frankenstein, de Guillermo del Toro

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Por Juanna Ruiz  No primoroso filme Na alcova do sultão (Javier Rebollo, 2024), os personagens, brincando de fazer cinema numa época em que a sétima arte ainda dava seus primeiros passos, se perguntavam: as imagens têm alma? E se lançavam numa investigação empírica da única maneira que sabiam fazê-lo: com uma câmera, um projetor e celuloide. Aqui estamos nós, um século e um quarto depois daqueles pioneiros, ainda tentando responder à mesma pergunta, embora o senso comum nos diga que a resposta deve ser necessariamente afirmativa. A mais recente exploração desse tema vem de Guillermo del Toro, que entende muito de almas e imagens. Uma adaptação, como já deveríamos saber, não é necessariamente melhor por ser mais fiel ao material original. Nem pior. Há muitos exemplos de filmes ruins que foram fiéis ao material original e excelentes traições literárias. Mas este Frankenstein que chegou de Veneza (e de San Sebastián e Sitges) com o burburinho de ser uma das adaptações mais fiéis ao ...

Anotações escritas à margem de traduções de Sapho de Lesbos

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Por Márcio de Lima Dantas O túmulo contém os ossos e o nome mudo De Safo; suas palavras hábeis são imortais. — Pinito, trad. de Fernando Pessoa Nikolaos Gyzis. Safo tocando a lira (detalhe). §. Antes do mais, direi do meu primeiro contato com uma tradução de fragmentos de poemas de Sapho. Foi na bela e completa edição de Joaquim Brasil Fontes — Eros, tecelão de mitos: a poesia de Safo de Lesbos —, adquirida numa feira de variedades, em São Luís do Maranhão, situada numa ilha, obra com um inesquecível e amoroso prefácio de Benedito Nunes. Sempre presente tive na minha cabeça o espesso volume de capa dura com a reprodução de uma das mais bonitas telas do pintor italiano Giorgio De Chirico: As musas inquietantes . Quando viajei para muito longe, por quatro anos, não querendo me separar de alguns livros, foi um dos que seguiram comigo. §. Toda a biografia de Sapho é envolvida por uma aura de mitos, mistificações, caricaturas, preconceitos, elementos invariantes chantados naquelas férteis...

O subsolo no espírito natalino em Dostoiévski

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Por Juliano Pedro Siqueira Bartolomé Esteban Murillo. Jovem mendigo Dostoiévski não só se revelou ao mundo como um grande romancista, mas também um exímio contista. O autor de Crime e castigo desenvolveu contos memoráveis, entre eles — talvez o menos conhecido do público e o que tomo como ponto de reflexão neste texto —, “A árvore de Natal na casa de Cristo”. O leitor não se deixe enganar com o breve conto. A narrativa nos apresenta de maneira incisiva, de forma dramática e crítica, o cenário desolador que cinge o protagonista principal, um garoto, que mesmo padecendo de fome, contempla impotente a moribunda mãe que padece enferma num esfarrapado colchão.  É nesse contexto sombrio que Dostoiévski imprime no seu conto o conceito de subsolo , para revelar as contradições de uma religiosidade desprovida de compaixão. Não apenas: mesmo diante da gritante desigualdade social, a criança faminta, na iminência da orfandade, consegue captar o verdadeiro espírito natalino ao deslumbrar a be...

Boletim Letras 360º #668

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DO EDITOR Saibam que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você pode obter um bom desconto e ainda ajuda a manter o Letras. A sua ajuda é essencial para que este projeto permaneça online. Yuri Herrera. Foto: Tammie Quintana LANÇAMENTOS Três livros do premiado escritor mexicano Yuri Herrera marca a sua estreia no Brasil . Uma fronteira demarca muito mais que limites territoriais, mas também imaginários, destinos e formas de vida. Em sua Trilogia mexicana, o aclamado escritor Yuri Herrera retrata um país dominado pela violência e pelo tráfico de drogas, separado física e simbolicamente de um território onde a prosperidade é uma promessa constante. Com habilidade singular, Herrera articula visões desses dois mundos a partir de personagens únicos, que nos conduzem a três histórias: Trabalhos do reino ,  Sinais que precederão o fim do mundo  e A transmigração dos corpos . O primeiro livro, o seu principal romance, acompanha o jovem músico ...