Dez curiosidades sobre a vida e a obra de Agatha Christie



Agatha Christie alcançou até a terceira idade, lúcida e produzindo. Dividida entre os últimos romances policiais, a possibilidade de se reinventar com um novo nome, um novo estilo, e vendo-se incapaz de construir algo que superasse o que já havia feito, ou que menos se aproximasse, a escritora rendeu-se e foi escrever suas memórias. A vida não foi má com ela; não há nada de impactante ou misterioso, qual a obra que construiu, na sua biografia. E mesmo sua autobiografia revela uma mulher típica de seu tempo, a Inglaterra vitoriana, de vida plácida, sem grandes desassossegos. Então, as curiosidades aqui reveladas denotam mais os limites alcançados pela grandiosidade de uma técnica simples que usou com todas as variações possíveis a forma que lhe deu sucesso já na estreia literária em 1920.

Vida
• Apaixonada por viagem, Agatha chegou a dar volto ao mundo e fez várias expedições ao mundo antigo acompanhada do segundo companheiro, que era arqueólogo. Quando jovem, nessas viagens esteve na África e surfou em Honolulu; esta viagem parece ter sido uma das mais importantes que ela fez, afinal dedica um capítulo inteiro de sua Autobiografia a ela.

• Depois de saber que o primeiro companheiro lhe traía, Agatha desapareceu. A Inglaterra ficou longo tempo sem notícias sobre a Rainha do Crime; já famosa, toda a imprensa inglesa fazia cobertura sobre o sumiço da escritora que foi encontrada quase quinze depois com problemas de amnésia. Apesar de nunca ter falado abertamente sobre o caso, afinal, a escritora disse nunca se lembrar de fato do que aconteceu, suspeita-se que tenha tentado suicídio. Num dos romances que escreveu com o pseudônimo de Mary Westmacott, O retrato, os estudiosos encontram traços desse mistério. Na obra a protagonista Celia toma a decisão de se suicidar depois de ter sido abandonada pelo companheiro.

• Como leitora, Agatha tinha preferências simples; a obra de Walter Scott, Charles Dickens, John Milton, Alexandre Dumas e Jane Austen está entre suas preferidas e, claro, a obra de Edgar Allan Poe e Arthur Conan Doyle, em que se inspirou para a composição de seu detetive Hercule Poirot.


Obra
• Agatha Christie começou sua carreira literária com um livro de poemas, The road of dreams, que não foi o primeiro a ser editado. E seu primeiro título em prosa (e publicado) veio depois de um desafio lançado pela irmã da escritora de que ela não conseguiria escrever uma história policial; a obra levou dezoito meses para ficar pronta e foi recusada pelo menos seis vezes até ser publicada em 1920 e vendeu, de imediato, 2 mil exemplares. Foi O misterioso caso de Styles, até hoje uma de suas obras mais controversas. Em poesia, só publicou outra antologia em 1973, que reúne os poemas da primeira antologia mais 27 inéditos.

• Tornou-se, então, a obra mais vendida no mundo: ultrapassou os mais de 4 bilhões de cópias em versões para mais uma centena de idiomas. A receita gerada pela venda dos livros tem sempre se mantido na casa dos 4 milhões de dólares por ano.

• Agatha é a autora do livro mais espesso do mundo, com mais de 30cm e 4032 páginas nas quais estão incluídos todos os 12 romances e 20 contos protagonizados por Miss Marple. The complete Miss Marple é um dos livros mais raros da escritora; foi publicado pela Cedric & Chivers Period Bookbinding; sua maior parte é em couro, tem inserções em ouro e dezesseis páginas escritas pela própria escritora. Só foram feitas 500 cópias vendidas a mil libras cada.

• O assassinado de Roger Ackroyd foi o primeiro livro de Agatha a ser adaptado; com  o título de Álibe a peça fez grande sucesso no West End, de Londres. Mas, foi com A ratoeira, que ela alcançou seu mais um recorde. A peça estreou em 1952 e é o título que mais tempo ficou em cartaz na história. Ainda hoje é encenada no mesmo teatro de Londres, enquanto o livro, publicado 1926, já vendeu mais cinco mil edições e chama atenção por ser o “mais diferente” dos romances policiais. Seu sucesso no teatro também foi tão grande que chegou a ter três peças diferentes encenadas numa mesma temporada no West End.

• Cai o pano é o livro que narra a última aventura de Hercule Poirot. Apesar de haver sido publicado um antes de sua morte, Agatha havia escrito este e Um crime adormecido (o último livro da personagem Miss Marple na década de 1940). Ela tinha a preocupação de não sobreviver à Segunda Guerra Mundial e caso isso acontecesse deixaria uma fonte de renda para seu companheiro e sua única filha. O segundo companheiro de Agatha era 14 anos mais novo que ela; as duas obras tiveram seus direitos dirigidos diretamente aos dois e ficaram guardadas até sua publicação no cofre de um banco. Em Cai o pano, Hercule Poirot volta ao local de seu primeiro caso para resolver outro, mas sem saber que esse seria o seu último; quando publicado, livro chamou tanto atenção que o The New York Times deu uma página de obituário para Hercule Poirot; foi a primeira personagem de uma obra literária a ganhar esse feito.

• Além de poemas, livros policiais, romances cor de rosa, Agatha escreveu um livro infantil de cunho religioso, Star over Bethlehem. O livro reúne seis contos e cinco poemas com ilustrações. Três dos contos são histórias que se passam no tempo de vida da escritora, as outras recontam as viagens de Maria e José, a visita dos Reis Magos e o encontro de Jesus com o apóstolo João após a ressurreição.

• O caso dos dez negrinhos é sua obra mais vendida no mundo. Nos Estados Unidos, com medo de ser rechaçada por preconceito, as editoras preferiram o título de E não sobrou nenhum. O livro já ultrapassou o limite de cem milhões de exemplares vendidos e é o romance policial mais vendido da história e está na lista dos livros (independe do gênero) mais vendidos de sempre.

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