Uma garrafa no mar de Gaza, de Thierry Binisti
Por Pedro Fernandes
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKc7rtqZ6PR0ny1P4-VeNV4gyync9Wx5yGpm1iRfzCP2F2SQMf2pbv-L_qxMm6BwNoTOb_LJIMefWh1oBUXusbWxVU1FYkboSw6nJrV_c7FP6nSvpRqUCf9Q3XAl-mOvpbrZr_2AUvqKs/s640/uma+garrafa+no+mar+de+gaza2.jpg)
Se houve uma questão que perpassou boa parte dos
filmes franceses exibidos este ano no Festival Varilux de Cinema Francês foi a
dos trânsitos identitários e posso, de memória citar, aleatoriamente, o título
de alguns desses filmes: Aliyah, Americano, O barco da esperança, Intocáveis,
E agora, aonde vamos?, e este Uma garrafa no mar de Gaza.
Pode ser que não seja, neste, como em alguns dos
outros citados, uma questão central, mas o tema está lá. Aqui, Thierry Binisti,
elege a história de um amor impossível tal qual o dos clássicos que nós já conhecemos,
mas, a família rival, é substituída pela pátria e, diferentemente do amor à
primeira vista, é um amor que se constrói meio pela passagem do tempo a partir
de um acaso; isso porque é a partir de uma garrafa lançada ao mar em Israel e
encontrada por um grupo de adolescentes na Palestina, desse simples fato, que
se instaura o enredo amoroso.
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Percebo que não foi interesse do cineasta tratar
meramente da descoberta do amor, mas pela sutileza e talvez pela secular ideia
de que o amor vence todos os cercos reais e imaginados, propor uma reolhar para
ódio também secular que separa dois países. Mas, também não é interesse
discutir politicamente esse ódio e atribuir ao telespectador a capacidade de
opinar qual dos dois lados está com a razão. Isto é, parece não haver uma preocupação
em reatualizar o mito do amor impossível e nem ser um panfleto sobre a questão Israel-Palestina
e o filme conseguirá atingir muito bem o seu pretexto. Antes tudo, até mesmo de
uma história de amor, Uma garrafa no mar
de gaza quer singularizar a ideia de superação como elemento primordial
para revisão das formas identitárias.
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A atitude de um dos adolescentes em responder o
bilhete disposto na garrafa o colocará diante de Tal, uma francesa que mora com
a família em Jerusalém. A troca de correspondências eletrônicas entre os dois
num território movediço entre a vida e a morte, já que tanto os moradores de
lá, quanto os de cá estão à mercê das bombas, num conflito que é mais impiedoso
que o da guerra propriamente dita, porque o limite entre viver e morrer é
determinado, mas que naturalmente, artificialmente ao sabor do acaso.
O contato de Naim com Tal, levará o rapaz, filho
único e órfão de pai que fora um homem bomba, ao contato com uma nova cultura e
a um destino diferente do já elaborado pela família que é, a exemplo do primo Hakim,
casar e continuar levando os negócios da família. Naim trabalha para o tio e
com este primo numa confecção com o serviço de transporte e entrega de encomendas.
Conhecendo Tal, tem a iniciativa de estudar francês e, dedicado ao idioma,
consegue uma bolsa de estudos em Paris. O itinerário dessa conquista é responsável
por toda carga emotiva do filme, daí porque entendo ser este um filme sobre a superação.
Singular no conjunto de cenas é o cruzamento solitário de Naim da fronteira
entre Palestina e Israel, como se denotasse ali, a possibilidade de uma via
outra, ou mesmo um ato de resistência que não o de desperdício da vida em nome
de pátria.
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