Boletim Letras 360º #641

Cruz e Sousa. Desenho de J. M. Garnier. Arquivo da Biblioteca Nacional.




LANÇAMENTOS

Obra reúne toda a poesia de um dos principais nomes do simbolismo no Brasil. 

A poesia reunida de Cruz e Sousa coloca sob a luz contemporânea o principal expoente do Simbolismo brasileiro, vértice da literatura hoje considerada “negra”, isto é, feita por poetas negros e que trata de sua condição na sociedade, com introdução e organização do poeta e dramaturgo Marcelo Ariel. A edição publicada pela Assírio & Alvim Brasil traz na íntegra seus livros, a partir de Missal e Broquéis, publicados em 1893, seus poemas iniciais, inclusive Julieta dos Santos ― pouco conhecido, escrito em homenagem à atriz mirim em cuja companhia dramática ele trabalhou ― e as obras deixadas por ele inéditas: Poemas Cambiantes e Campesinas. Você pode comprar o livro aqui.

Jon Fosse em dois formatos: na edição comum e numa edição exclusiva e limitada reunindo materiais extras.
 
Em Manhã e noite, Jon Fosse conduz o leitor em uma jornada profunda e silenciosa através dos limiares da existência; um convite para habitar os espaços mais sutis da experiência humana. O protagonista, Johannes, um personagem que carrega em si a complexidade humana em sua forma mais pura e vulnerável, habita justamente esses lugares tão marcantes na obra do escritor norueguês. Organizado em duas partes, o romance nos leva de maneira surpreendente aos dois extremos da vida do pescador Johannes em um mosaico de cenas, intercalando saltos temporais com reminiscências, introduzindo personagens que morrem e não morrem. Tempo e espaço são difusos: passado, presente e futuro se misturam, e os cenários nem sempre são o que parecem ser. É assim que a genialidade de Fosse deixa sua marca: narrando de forma infinitamente bela o fascínio das certezas e incertezas da vida, dando “voz ao indizível”, como pontuou o comitê sueco ao conceder ao autor o prêmio Nobel de literatura em 2023. Publicado em 2000, o romance Manhã e noite foi adaptado para libreto quinze anos depois pelo próprio Fosse para a ópera homônima (Morgen und Abend, em alemão, língua em que é cantada), do compositor austríaco Georg Friedrich Haas, que estreou em Londres, na Royal Opera House, em novembro de 2015. Esta edição é a primeira no mundo a apresentar as duas versões da obra. Como adaptação do romance original, “o libreto adquire uma lógica própria, torna-se uma peça literária em si”, escreve Jon Fosse. Sob o mesmo título, mas pertencendo a gêneros diferentes, “o romance Manhã e noite e o libreto Manhã e noite são duas obras distintas, ao mesmo tempo independentes e dependentes uma da outra”, completa o autor norueguês. Tradução de Leonardo Pinto da Silva. A edição especial, que tem tiragem limitada, reúne numa caixa o livro mais um encarte reunindo entrevistas com Jon Fosse e Georg Friedrich Haas, texto crítico de Ligiana Costa (dramaturgista, cantora, compositora e musicóloga especialista em ópera) e ilustração encomendada ao artista Fernando Velázquez. Você pode comprar o livro aqui. A edição especial é vendida exclusivamente no site da editora
 
Nova tradução brasileira do primeiro livro Banana Yoshimoto. Em 1998, a escritora se aventurou na publicação de Kitchen e, desde então, é tida como uma das vozes mais originais e representativas da literatura japonesa no mundo todo.
 
Kitchen é composto por duas histórias interligadas: “Kitchen”, a principal, dividida por sua vez em duas partes; e “Moonlight Shadow”, uma narrativa mais curta. A protagonista de “Kitchen”, Mikage Sakurai, é uma jovem que encontra conforto na cozinha após a morte de sua avó, sua última parente viva. A cozinha, para ela, torna-se um espaço de refúgio e luto, simbolizando a continuidade da vida por meio do preparo de alimentos. Ao conhecer Yuichi e sua mãe transgênero, Eriko, Mikage é acolhida por essa família não convencional, que lhe oferece um novo sentido de pertencimento. Em Moonlight Shadow, Yoshimoto aborda o luto de forma ainda mais poética, acompanhando a jornada de Satsuki, uma jovem que perdeu o namorado em um acidente. A narrativa é permeada por elementos sobrenaturais e metafóricos, como a aparição de uma mulher misteriosa que oferece a Satsuki a chance de se despedir do seu amado. Essa história reforça os temas centrais do livro como um todo e também da poética geral de Yoshimoto: a aceitação da perda e a capacidade de seguir em frente, mesmo quando o mundo parece desmoronar. Para a capa desta edição de Kitchen, a Editora Estação Liberdade selecionou duas imagens da fotógrafa Tokuko Ushioda ― conhecida por transformar cenas domésticas e objetos cotidianos em composições delicadas e repletas de significado ―, retiradas da série ICE BOX, com o propósito de associar o trabalho dessas duas grandes protagonistas das artes no Japão. Ambas exploram, mesmo que de maneira distintas, a intimidade, a sensação de transitoriedade e a busca por conforto e conexão. Ushioda traz ainda mais sensibilidade e profundidade para o romance de Yoshimoto. A tradução é de Lica Hashimoto e Fabio Saldanha. Você pode comprar o livro aqui.
 
Alexandra Lucas Coelho em Gaza.
 
Em 7 de outubro de 2023, ao saber do ataque do Hamas ao Sul de Israel, Alexandra Lucas Coelho comprou uma passagem para a região do Oriente Médio, que acompanha de perto há mais de 20 anos. Os voos estavam sendo cancelados e a sua viagem acabou em uma escala. Mas começava ali uma série de textos que produziria, primeiramente à distância e, depois, em Israel e Palestina, quando foi possível viajar. Gaza está em toda parte é, assim, a crônica de uma aniquilação em tempo real e da derrocada humana que a acompanha. A autora portuguesa volta à Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Israel, resgata o relato da sua última ida a Gaza (onde desde 7 de outubro os repórteres internacionais não puderam mais entrar) e une aos textos um conjunto de suas fotografias que documentam a vida de um povo que vem sendo exterminado diante da apatia global. O livro é publicado pela editora Bazar do Tempo. Você pode comprar o livro aqui.
 
Chega aos leitores brasileiros o primeiro livro de Ottessa Moshfegh, autora que ganhou reconhecimento por aqui com Meu nome era Eileen e Meu ano de descanso e relaxamento.
 
“É verdade que a minha memória por muito tempo sofreu devido ao meu amor pela bebida. Mais de uma vez acordei ao lado de Johnson sem qualquer lembrança de mim ou dele e do que tinha me levado até ali, até qualquer lugar, na verdade de como eu sequer viera a nascer.” Coberto de sangue e ainda grogue de álcool, McGlue acorda em alto-mar, amarrado, no porão do navio onde trabalha como ajudante de convés. Acusado por toda a tripulação de matar Johnson, seu amigo, protetor e colega de trabalho, o marinheiro, alcoólatra e sofrendo de uma concussão cerebral, não é capaz de lembrar o que se passou. No entanto, à medida que o navio cruza os mares e McGlue luta contra a sobriedade, a lembrança da amizade com Johnson e da vida de abuso de álcool, violência e depravação vai gradativamente rompendo a névoa da memória. Cego, além do desejo por bebida, o marinheiro se debate entre a abstinência e as tentativas de seduzir o encarregado de alimentá-lo em troca de rum, uísque, cerveja ou qualquer outro tipo de álcool. Viajando de porto em porto rumo a Salem, Massachusetts, onde aguardará o julgamento em uma cela fria, McGlue tem lampejos de lembranças dolorosas de uma vida de miséria e solidão, na qual Johnson era a única certeza de apoio e camaradagem. Mas onde estaria Johnson? Passada em meados do século XIX, a novela se debruça sobre personagens desajustados da Nova Inglaterra daquele período, pessoas em busca de alguma forma de amor e liberdade, que se sentem estigmatizadas em uma sociedade conservadora. Obscuro e atormentado, o primeiro livro de Ottessa Moshfegh se vale de uma prosa econômica e ritmada, que une a urgência da ficção curta à grandiosidade dos épicos situados no mar. Com tradução de Fernanda Abreu, Ressaca sai pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
Fabrício Corsaletti, o cronista.
 
“Escrever é parecido com andar”, crava Fabrício Corsaletti na nota de abertura deste livro. E para acompanhá-lo não é preciso ter sapatos especiais: basta abrir os ouvidos e se deixar levar pelo ritmo. Um milhão de ruas reúne cerca de 190 textos escritos entre 2010 e 2025, vários deles inéditos. Se a maioria é composta por crônicas no sentido corrente do termo, uma boa parte escapa às definições e se aproxima do conto, do poema, da prosa poética afiada como uma lasca ou, ainda, da pura notação lírica e, no limite, do aforismo. Essa multiplicidade de registros corresponde a uma multiplicidade de formas de apreender e experimentar o mundo, que aqui comparece com todo o seu fascínio. Há lances geniais, como o encontro com as três bandeirianas mulheres do sabonete Araxá, percepções agudas da tragédia brasileira despertadas por uma rua cheia de sapos, saltos mortais de alegria e/ ou desespero e uma agulha imantada que aponta dia e noite para a aventura e o desconhecido. Em dezenas de textos notáveis, a matéria do cotidiano se abre para outras dimensões e revela o andamento espantoso da vida contemporânea. Tudo isso graças a um olhar lírico-cinematográfico e a uma escrita que incorporou a inteligência e a leveza de mestres da crônica como Rubem Braga, dos compositores da MPB, reverenciados nestas páginas, e bebe na boa literatura de todos os quadrantes. Diante deste livro fabuloso, o melhor é não ter pressa e percorrê-lo rua a rua, sabendo que a poesia arma seu bote a cada esquina. Publicação da Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
 
Publicado originalmente em 1972 e inédito no Brasil, eis o romance mais relevante da obra de Ishmael Reed.
 
Mencionado em O arco-íris da gravidade, de Thomas Pynchon, Mumbo Jumbo também aparece na lista das obras mais importantes do cânone ocidental feita por Harold Bloom, um dos mais importantes críticos literários em língua inglesa. Neste romance radical, uma espécie de thriller afro-surrealista que mistura gêneros textuais em uma narrativa incrivelmente inventiva e provocadora, fatos históricos e ficção se combinam de maneira singular. Estamos nas décadas de 1920 e 1930, nos Estados Unidos, em meio à Era do Jazz, à proibição do álcool, às guerras de gângsteres de Nova York, ao crash da Bolsa de Valores, à ocupação militar dos eua no Haiti (1915-1934) — e ao surto de uma “epidemia dançante” chamada Jes Grew. No centro da trama está PaPa LaBas (figura baseada em Exu, Legba, Elegbara), um “detetive Neo-Hudu” que se encarrega de investigar a ameaça. Jes Grew, no entanto, cujos efeitos lembram os vários episódios de coreomania (também conhecida como “praga dançante”) registrados na história, é, na verdade, uma “antipraga” popular de raiz africana, uma ameaça às estruturas rígidas e opressoras de uma civilização ocidental monoteísta, racista e misógina. Com sua narrativa singular, Reed reconstrói a História em chave satírica e crítica, desde o Egito Antigo até os Estados Unidos dos anos 1970, confrontando a tradição filosófico-literária do Ocidente ao dar voz às figuras esquecidas da arte negra mundial e às práticas religiosas de matriz africana, como o vodu haitiano, a religião iorubá e o candomblé. Obra extremamente original, Mumbo Jumbo é “um esforço evidente de descolonização simbólica do imaginário”, como escreve Vinícius Portella no posfácio; um livro que extrapola convenções cansadas, derruba os alicerces de uma tradição construída em séculos de escravidão, exploração e apagamento de diversas expressões artísticas não-brancas; uma obra que vira do avesso qualquer noção do que é um romance. O livro sai pela editora Zain; tradução de João Vitor Schmidt. Você pode comprar o livro aqui.
 
Este livro é um encontro de almas e palavras, uma celebração poética que atravessa o continente americano, unindo Gabriela Mistral, poetisa chilena laureada com o Nobel, e Henriqueta Lisboa, uma das vozes mais expressivas da poesia brasileira.
 
Com uma poesia que abraça temas universais como a identidade, natureza e maternidade, Mistral transcende as barreiras da linguagem, tocando a alma humana com ternura e profundidade. Henriqueta Lisboa transforma o ofício da tradução em um diálogo íntimo entre duas poetas que, separadas pela distância, encontram-se no comum amor pela palavra. Henriqueta captura a essência da poesia de Mistral, traduzindo não só o texto, mas também o espírito, o ritmo e a emoção que permeiam sua obra. Como revelado no prefácio da poeta Mariana Ianellli, a interação entre as duas poetas se estende além do papel, manifestando-se em uma troca de correspondências repletas de admiração e compreensão espiritual, num intercâmbio que revela uma afinidade que vai além do literário. O livro, portanto, é uma celebração da irmandade poética, um convite para testemunhar o encontro de duas mestras da palavra, e uma oportunidade para os leitores brasileiros se aproximarem da poesia universal de Gabriela Mistral, agora sob o novo prisma da tradução de Henriqueta Lisboa. As ilustrações da chilena Paloma Valdivia enriquecem a obra com uma dimensão visual que captura a essência lírica dos poemas e amplia o universo poético de Mistral e Lisboa. Canções escolhidas e traduzidas por Henriqueta Lisboa sai pela editora Peirópolis. Você pode comprar o livro aqui.
 
A estreia brasileira de Luciana de Luca.
 
Uma pequena comunidade argentina é abalada por uma série inusitada de eventos. Uma infestação de moscas, seguida pela greve dos funcionários do cemitério, torna o lugar cada vez mais insalubre. A protagonista de O amor é um monstro de Deus, de Luciana de Luca é uma mulher agigantada, tida por todos como monstruosa, e que vive entre os desmandos da mãe dominadora, a debilidade de um pai sonhador, a mudez do irmão e o chamado misterioso do rio que corta a sua região. Quando dois mórmons estrangeiros chegam ao povoado, ela é inesperadamente apresentada ao amor e a uma sexualidade até então insuspeitada, que flerta tanto com a liberdade quanto com a violência. Publicação da Arquipélago Editorial; tradução de Sérgio Karam. Você pode comprar o livro aqui.
 
Primeira antologia poética de Ghayath Almadhoun publicada no Brasil, apresenta 31 poemas de um dos mais importantes nomes da poesia contemporânea.
 
Por meio de um universo poético marcado por um virtuosismo vertiginoso, que desafia os limites do próprio livro, Ghayath Almadhoun transgride as fronteiras do poema, da nação, do corpo e até mesmo do espaço existente entre o orador e o leitor. Esquivando-se de se tornar refém do sentimentalismo, e, para isso, buscando refúgio no surrealismo face à mais cruel realidade, o poeta nos leva à Palestina, à Síria, à Alemanha e à Suécia, reafirmando o que está em jogo para aqueles que não conseguem sair de seus estados de aprisionamento e sugerindo-nos que a esperança nada mais é do que uma parte intrínseca do absurdo da violência.  Ghayath Almadhoun subverte o lirismo e vira a metáfora pelo avesso para expor, transformar e confrontar. O poeta escreve: “... nus senão pelos nossos sangues e os restos carbonizados dos nossos corpos, pedimos desculpas a todos os olhos que não se atreveram a olhar diretamente para as nossas feridas para não ficarem arrepiados, e pedimos desculpas a todos que não conseguiram terminar o jantar depois de terem sido surpreendidos pelas nossas imagens frescas na televisão...” Traduzidos diretamente do árabe por Alexandre Chareti, os poemas que integram Você deu em pagamento o meu país, traçam rotas sinuosas entre cidades, ideias, amantes, locais de refúgio, zonas de guerra, fusos horários e até mesmo a própria História. Apontado pelo Frankfurter Allgemeiner Zeitung como o poeta que encontrou uma linguagem lírica adequada à guerra civil síria e à situação palestina, a poesia de Ghayath Almadhoun nos prende desde a primeira linha através de uma emoção explosiva. Publicação da Ars Et Vita. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma nova tradução brasileira das Geórgicas, a segunda neste ano de 2025.
 
Públio Virgílio Marão (70 a.C – 19 a.C) foi um poeta romano do período augustano. Ele compôs três dos poemas mais famosos da literatura latina: as Bucólicas, as Geórgicas e a Eneida. A primeira obra é uma coletânea de poemas pastoris, chamada ainda éclogas, escritas no tempo da sua juventude. Por volta de 37 a.C, o poeta começa a frequentar o círculo literário de Mecenas, época em que inicia a composição da sua segunda grande obra, as Geórgicas, dedicada ao mundo agrário. Por fim, influenciado pelos ideais do “cesarismo” e por seus desdobramentos políticos desde a juventude, Virgílio compõe a Eneida, seu poema épico, que narra o mito de fundação de Roma, permanecendo até hoje entre as maiores obras da literatura mundial.  As Geórgicas foram provavelmente publicadas em 29 a.C. Como o nome sugere, o tema do poema é a agricultura. A obra é dividida em 4 livros, cada qual dedicado a um aspecto da vida agrária. Os livros botânicos 1 e 2 formam uma unidade temática dupla que se contrapõe àquela dos livros zoológicos 3 e 4. O tema do primeiro livro é a cerealicultura, que aborda o cultivo do trigo, da cevada e outros cereais, enquanto o tema do segundo livro é a arboricultura, com destaque para o cultivo das vinhas. O livro 3 inicia o par que trata da criação de animais, primeiro a pecuária de grande porte (bovinos e equinos) e depois de pequeno porte (ovinos e caprinos). No livro 4, que encerra a obra, o poeta aborda o trato e natureza das abelhas. Com tradução, introdução e notas de Matheus Trevizam o livro sai pela editora Mnēma. Você pode comprar o livro aqui.
 
Jaa Torrano convida os leitores ao papel de mediadores entre o mundo mítico da Antiguidade e o contemporâneo.
 
O título Solidão Só Há de Sófocles ecoa não apenas o só da natureza humana, mas o insere, por meio do nome do grande dramaturgo, no contexto da tragédia grega. Essa condição inevitável do ser mortal — desvelada assombrosamente na obra de Sófocles — aparece como possível fulcro desta reunião de livros de poemas de um poeta grego nascido no exílio do tempo. Se a tragédia grega era um espetáculo político, por focalizar aspectos da pólis, incluindo-se o poder e a conduta humana, a criação de Jaa Torrano — que tem dedicado sua vida à literatura da Grécia Antiga e a sua tradução, notadamente do teatro trágico — exerce um papel mediador entre o mundo mítico da Antiguidade e o contexto contemporâneo, apresentado em suas dimensões humana e política a partir de uma visão de passagem entre dois universos. A execução da tarefa, que em princípio pareceria impossível, logra resultado com identidade singular: não estranhe, por isso, o leitor, a possível estranheza que lhe causará esta poíesis, ao mesmo tempo instigante, divertida e propiciadora de reflexão e fruição estética. (Marcelo Tápia) Publicação da Ateliê Editorial. Você pode comprar o livro aqui.
 
A criação literária e os seus meandros pela pena de H. D. 

Nestes seis ensaios publicados postumamente, a poeta e cineasta estadunidense H.D., audaz desbravadora do verso livre em língua inglesa e fervorosa cultora dos mitos gregos, deslinda os meandros espirituais de seu processo criativo e dos atos de leitura e contemplação artística. Uma prosa poética visionária, que percorre as paragens, jardins e templos cantados por Safo, Anacreonte, Platão e Teócrito, e convida a seguir Jesus de Nazaré e Meleagro de Gadara pelas vielas do levante. Nisso, o papel do corpo, e do corpo da mulher em especial, na fabricação do espírito, é alabado uma e outra vez. Seu objetivo? Alcançar os “reinos inexplorados de realizações artísticas futuras”. Visões e êxtases sai pela editora Âyiné; tradução de Camila Moura. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Reunião de poemas de amor do escritor mais apaixonante da literatura brasileira.
 
A paixão costura toda a obra de Vinicius de Moraes. Seus poemas, contos, canções, crônicas, cartas e peças de teatro orbitam em torno desse assunto que — seja na vida, seja na arte — é inesgotável. Do flerte até o desencanto, passando por todas as etapas do enamoramento, o poeta soube como ninguém retratar as muitas faces do desejo. Ao meu amor serei atento é uma antologia ilustrada de poemas que descrevem esta “eterna aventura”. Com seus versos atemporais, Vinicius de Moraes joga luz sobre esse sentimento múltiplo, vibrante e arrebatador e, com lirismo absoluto, nos ensina a viver “cada instante/ Desassombrado, doido, delirante/ Numa paixão de tudo e de si mesmo”. Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Orwell reflete o livro e a literatura. A coletânea de ensaios organizada e traduzida por Gisele Eberspächer em tiragem limitada e artesanal ganha segunda edição em formato industrial pela Lote 42. São oito textos escritos entre 1936 e 1946 em que o autor de A fazenda dos animais e 1984 discorre sobre livros e literatura.  
 
Uma quarta edição do primeiro livro de Chacal. Publicado originalmente em 1971 (edição do autor, mimeógrafo) com o título de Muito prazer, Ricardo, o livro ganhou uma edição comemorativa pela 7Letras 25 anos depois, em 1996. A mesma casa recoloca em circulação esta que é uma das publicações centrais da chamada poesia marginal.
 
OBITUÁRIO
 
Morreu Fernando Venâncio.
 
Fernando Venâncio nasceu em Mértola, Portugal, no dia 13 de novembro de 1944. Fez seus estudos na área de Linguística, para a qual migrou depois de passar pela Filosofia e pela Teologia, na Universidade de Amsterdã. A estadia na Holanda foi bastante profícua; além de professor em diversas instituições de ensino superior neste país, realizou sua tese sobre a linguagem em Portugal na época de Castilho. Em Portugal atuou em diversos meios como articulista e crítico literário, como o Jornal de Letras e a revista Colóquio/ Letras. Entre os livros publicados estão os romances Os esquemas de Fradique, El-rei no Porto e Último minuete em Lisboa; os ensaios José Saramago: a luz e o sombreado, Objectos achados e Assim nasceu uma língua; os contos de “Beijo técnico e outras histórias”; as crônicas de Maquinações bons sentimentos; e os relatos de viagem Quem inventou Marrocos. Traduziu Um almoço de negócios em Sintra, de Gerrit Komrij e também organizou a antologia de poesia neerlandesa do século XX Uma migalha na saia do universo. Venâncio morreu na sua cidade natal no dia 30 de maio de 2025.
 
Morreu Ngũgĩ wa Thiong’o.
 
Ngũgĩ wa Thiong’o nasceu em Kamiriithu, Quênia, no dia 5 de janeiro de 1938. Além da sólida carreira literária que o fez reconhecido em parte diversa do mundo, foi professor universitário. Sua obra escrita em língua inglesa e gĩkũyũ inclui contos, novelas, romances, ensaios e peças para o teatro. É nesta arte, aliás, que obtém seu primeiro reconhecimento. Um dos ativistas pela emancipação do Quênia, Thiong’o usou o teatro como alternativa de combate; o sucesso junto ao público e o incômodo frente ao regime autoritário vigente no seu país no fim da década de 1970 serviram de justificativa para sua prisão e em seguida um itinerário de errância pelo exílio: em Londres, se dedicou à formação acadêmica voltando-se para a obra de Joseph Conrad, e em Nova York e New Haven, trabalhando como professor. O episódio, aliás, servirá na tomada de decisão de recusa do continuar usando a língua inglesa para a escrita e o uso do seu idioma original. Até então havia publicado uma novela, Weep not Child (1962), cujo tema versava sobre as tensões entre brancos e negros e os impasses culturais advindos da colonização, e vários outros livros, como The River Between (1965), A Grain of Wheat (1967), A Meeting in the Dark (1974) e Secret Lives, and Other Stories (1976). A vasta obra de Thiongo’o é ainda restrita entre os leitores brasileiros. Até o presente estão disponíveis apenas títulos encontrados em língua inglesa, com os romances Sonhos em tempo de guerra (Globo Livros, 2015), um dos seus últimos trabalhos marcado pelo retorno à escrita em língua inglesa, e Um grão de trigo (Alfaguara, 2015) — isso quando o nome do escritor aparecia entre as listas de apostadores para o Prêmio Nobel de Literatura. No ensaio, saiu Descolonizando a mente (Dublinense, 2025). O escritor morreu, em Atlanta, Estados Unidos, no dia 28 de maio de 2025.
 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Os diabos de Ourém, de Maria Luiza Tucci Carneiro (Ateliê Editorial, 265p.) Situada no ano de 1856, quando se instaura uma epidemia de cólera-morbus na província do Grão-Pará, a narrativa cobre o impacto desse acontecimento sob o ponto de vista dos diversos setores do grupo social. Você pode comprar o livro aqui
 
2. O triunfo da morte, de Gabriele D’Annunzio (Trad. Celestino Gomes, Minotauro, 432p.) Um homem atormentado pela morte e outros fantasmas de família depois de testemunhar um suicídio deixa Roma e se refugia na cidade de pedra Guardiagrele onde tudo isso intervém no agora impossível restauro da vida hedonista que procurava. Você pode comprar o livro aqui
 
3. Viver depressa, de Brigitte Giraud (Trad. Maria de Fátima Carmo, Tusquets Editores, 160p.) Um acidente que custou a vida o marido leva a escritora revistar e revistar o episódio para entender as articulações do imprevisível. Você pode comprar o livro aqui.

VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS

Além da amizade, Marina Colasanti conviveu com Clarice Lispector na redação do Jornal do Brasil e foi uma das pessoas que estiveram na completa entrevista conduzida com a escritora no Museu da Imagem e do Som. O depoimento de Colasanti que testemunha a amizade e o convívio publicado em Clarice na memória dos outros (Autêntica, 2024), livro organizado por Nádia Battella Gotlib foi disponibilizado online no site dedicado à autora de A paixão segundo G. H. 
 
BAÚ DE LETRAS
 
Um grão de trigo, de Ngũgĩ wa Thiong’o, foi comentado no Letras quando o livro chegou aos leitores brasileiros, em 2015. A resenha de Pedro Fernandes está disponível aqui.

DUAS PALAVRINHAS

A arte coopera contra a brutalização das pessoas, e para a afirmação da individualidade por meio de toda a usurpação estatal e política. 

— Alfred Döblin

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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
 

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