Seis poemas-canções de Zeca Afonso

Por Pedro Belo Clara
(seleção e notas adicionais)
 
 
Zeca Afonso. Foto: Arquivo do jornal Público.


MENINA DOS OLHOS TRISTES1
 
Menina dos olhos tristes
O que tanto a faz chorar?
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
 
Vamos senhor pensativo
Olhe o cachimbo a apagar
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
 
Senhora de olhos cansados
Porque a fatiga o tear?
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
 
Anda bem triste um amigo
Uma carta o fez chorar
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
 
A lua que é viajante
É que nos pode informar
O soldadinho já volta
Do outro lado do mar.
 
O soldadinho já volta
Está mesmo quase a chegar
Vem numa caixa de pinho
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se faz ao mar.
 
 
CANTAR ALENTEJANO2
 
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
 
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
 
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
 
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p´ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
 
Aquela andorinha negra
Bate as asas p´ra voar
Ó Alentejo esquecido
´Inda um dia hás de cantar
 
 
OS VAMPIROS3
 
No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
 
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
 
A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas
 
São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei
 
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
 
No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada
 
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhe franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
 
 
QUE AMOR NÃO ME ENGANA4
 
Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se de antiga chama
Mal vive a amargura
 
Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia
 
E as vozes embarcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se a partam
Mais se ouve o seu grito
 
Muito à flor das águas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira
 
Em novas coutadas
Junto de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera
 
Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
O nascer do dia
 
 
GRÂNDOLA VILA MORENA5
 
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
 
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
 
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
 
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
 
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
 
 
UTOPIA6 

Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria
 
Braço que dormes nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu, a ti o deves, lança o teu desafio
 
Homem que olhas nos olhos
Que não negas o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem o nada disto custa
Será que existe lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota?
Que outro rumo deverei seguir na minha rota?
 
 
 
______
 
 
Nasceu a 2 de Agosto de 1929, na cidade de Aveiro, um dos mais celebrados e importantes cantores de intervenção portugueses: José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, carinhosamente conhecido para a eternidade por Zeca Afonso.

Filho de um magistrado e de uma professora primária, viveu os seus primeiros anos em casa de tios por razões de saúde, enquanto os pais se fixavam em Angola, à época uma colónia portuguesa. Juntou-se aos progenitores aos três anos de idade, e foi nessa colónia africana que iniciou os estudos.

Entre um regresso a Portugal e uma nova ida a África, desta vez a Moçambique, o pequeno Zeca instala-se definitivamente na metrópole em casa dum tio que o marcaria indelevelmente. Salazarista convicto, obriga-o a cumprir os costumes e regras impostos pelo regime fascista de então, como por exemplo a envergar, sem falha, a farda da Mocidade Portuguesa7. Estávamos em 1938.

Dois anos depois, Zeca Afonso segue para Coimbra, cidade estudantil por excelência, para prosseguir os estudos. Enquanto isso, os seus pais mudam-se para a longínqua colónia de Timor.  Nos últimos anos do período liceal, Zeca toma partido activo nas serenatas tradicionais, iniciando-se ao mesmo tempo na via da boémia local e na exploração dos fados tradicionais da cidade, a dita “Balada de Coimbra”. Terminados os estudos, Zeca conhece Maria Amália, uma costureira de origem humilde com quem chega a casar em segredo, por oposição dos pais.

Em 1949 inscreve-se no curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras. Quatro anos depois nasce-lhe o primeiro filho, inicia trabalho no Diário de Coimbra e vê editados os seus primeiros discos — obras que apresentavam exclusivamente fados de Coimbra. Cumpre o serviço militar e, atravessando uma substancial crise financeira, começa a leccionar num colégio privado, ainda antes de terminar o seu curso – o que viria a suceder apenas em 1963, com uma tese sobre Jean-Paul Sartre.

Apesar das dificuldades, e com um divórcio pelo meio, continua a ser bastante solicitado para cantar em serenatas, espectáculos e digressões dos organismos autónomos da Universidade de Coimbra. Em 1956 edita o seu primeiro EP, intitulado Fados de Coimbra. No ano seguinte, tem a primeira experiência musical fora de Portugal e das colónias com uma actuação em Paris, no teatro Champs Elysées.

A sua actividade como professor não cessa, contudo. Visitando várias cidades do país até ao final da década, graças às inconstâncias da profissão, Zeca vai encontrando tempo para dar seguimento ao seu interesse e gosto pela música tradicional de Coimbra. Em 1960 edita o seu quarto disco, de nome Balada do Outono.

Dois anos depois, com o crescer da agitação estudantil em Coimbra, onde se vão registando diversas contestações, perigosamente desafiantes, ao governo de Salazar, Zeca, seguindo atentamente o desenrolar da situação, convive frequentemente na cidade de Faro, enquanto professor aí destacado, com poetas como Luiza Neto Jorge, António Barahona e António Ramos Rosa. É então que conhece Zélia, a sua segunda esposa.

Após digressões pela Suíça, Alemanha e Suécia lança um novo EP ainda com canções tradicionais de Coimbra. Porém, a consciência política de Zeca vai amadurecendo e não tardará a fazer-se reflectir de modo mais abrangente nos seus trabalhos.

Em maio de 1964, José Afonso actua na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, conhecida, entre sussurros, pela sua oposição ao regime fascista. É aí que granjeia a inspiração necessária para compor um dos seus temas maiores, hino, sem que ainda o soubesse, da democracia portuguesa, restaurada após a revolução de 25 de abril: “Grândola, Vila Morena”. (Actualmente, ergue-se à entrada desse lugar um mural com a pauta e a letra da canção.) No mesmo ano, edita o EP Cantares de José Afonso e o seu primeiro álbum propriamente dito, o LP Baladas e Canções. Pouco depois, emigra para Moçambique com a sua nova esposa. Regressa ao ensino e tem a oportunidade de musicar uma encenação da peça “A Excepção e a Regra”, de Brecht.

De regresso à metrópole, em 1967, fatigado pelos preceitos do sistema colonial, mas apto a incorporar na sua música influências das melodias africanas que conhecera, é colocado como professor em Setúbal, cidade que o marcaria profundamente, assim como Zeca marcaria as suas gentes. Ainda hoje é aí recordado com imenso carinho. Contudo, pouco tempo depois sofre uma grave crise de saúde, que o leva ao internamento. Quando recupera, descobre que havia sido expulso do ensino oficial. É o ano em que se publica o livro Cantares de José Afonso e recebe um convite formal do Partido Comunista Português para aderir às suas fileiras, mas Zeca Afonso, talvez para surpresa de muitos, recusará. Apesar das dificuldades sentidas na área do ensino, a carreira musical de Zeca desenvolve-se a olhos vistos. E tudo começa com a assinatura dum contrato discográfico com a Orfeu, que viria a ser a sua maior editora.

Em 1969, a Primavera marcelista injecta no país uma imensa onda de esperança, e abrem-se perspectivas para se proceder, finalmente, à organização de movimentos sindicais. José Afonso participa activamente nos trabalhos levados a cabo para tal, assim como em acções dos estudantes de Coimbra. A sua fama cresce notoriamente e a sua voz torna-se cada vez mais um símbolo de resistência e apelo à mudança. Recebe o prémio da Casa da Imprensa para o melhor disco do ano, distinção que repetirá em 1970 e ainda em 1971 — com o álbum Cantigas do Maio, unanimemente considerado o seu melhor trabalho. A mesma instituição ainda lhe atribuirá o Prémio de Honra pela “alta qualidade da sua obra artística como autor e intérprete e pela decisiva influência que exerce em todo o movimento de renovação da música ligeira portuguesa”.

Em 1973, Zeca conhece a fundo todas as incidências dum cantor de sucesso, percorrendo sem descanso cada recanto de Portugal — ainda que muitas sessões fossem proibidas pela PIDE, a polícia de defesa do regime. Em abril desse ano é detido, passando vinte dias na prisão de Caxias. O poema-canção “Era Um Redondo Vocábulo” nasce durante essa dura estadia.

Poucas semanas antes da revolução dos cravos, em março de 1974, o Coliseu de Lisboa encheu-se para ouvir José Afonso num concerto que contou com outros, e dos melhores, cantores de intervenção que o país conheceu: Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Fernando Tordo, por exemplo. A sessão termina com o coliseu inteiro a entoar em plenos pulmões o já célebre “Grândola”. Estranhamente, esta canção não fora proibida pela censura antes do concerto acontecer, ao contrário doutras do reportório de Zeca Afonso, já riscadas de antemão. Segundo se conta, alguns militares do Movimento das Forças Armadas (MFA) estavam nesse dia entre a assistência, daí que tenham escolhido o célebre tema como senha para a revolução que não tardaria.

Depois da restauração da democracia, o país viveu tempos muito conturbados. Zeca envolve-se directamente nos movimentos populares e outros de cariz marcadamente revolucionário. É o período da sua vida onde parece simpatizar com uma via mais radical da ala esquerda existente, ainda que não se filie num partido em específico. Em 1976 apoia a candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, o cérebro do 25 de abril, apoio esse que reafirma em 1980. O seu candidato, porém, perde em ambas as ocasiões. O trabalho musical de Zeca, indissociável dum certo tipo de literatura que o consubstanciava, continua a toada crítica que o caracterizou e marcou nos tempos da ditadura, denunciando as suas preocupações anti-colonistas e anti-imperialistas, não poupando sequer o poder religioso, esse catolicismo ainda retrógrado e muito ligado ao antigo regime.

Em 1981, após dois anos longe da ribalta, regressa a Coimbra com o álbum Fados de Coimbra e Outras Canções, que para muitos constituiu a mais bela versão do fado de Coimbra, interpretada em homenagem ao seu pai e a Edmundo Bettencourt, um poeta e cantor de excelência em tal género. No ano seguinte começam a conhecer-se os primeiros sintomas da esclerose lateral amiotrófica, doença que o levará à morte.

Em 1983, já com dificuldades notórias, Zeca realiza o seu famoso espectáculo no Coliseu de Lisboa, o seu último grande concerto, que conta com a participação de diversos músicos amigos. Do evento surgirá um duplo álbum. É também publicado o livro Textos e Canções, pela Assírio & Alvim. Coimbra, sua bem-amada, atribui-lhe a Medalha de Ouro da cidade e, pouco depois, o Presidente da República de então, o General Ramalho Eanes, concede-lhe a Ordem da Liberdade. Contudo, Zeca recusar-se-á a preencher o formulário da condecoração... (Imagine-se.)

Apesar das dificuldades impostas pela doença em franco crescimento, Zeca é reintegrado no ensino oficial, tendo sido destacado para Azeitão, uma pequena vila perto de Setúbal, berço do poeta Sebastião da Gama. Dois anos depois edita o seu último álbum, Galinhas do Mato. Pela primeira vez os temas não são inteiramente interpretados pelo autor, uma desagradável cortesia da doença incapacitante que o assolava. 

José Afonso falece na madrugada do dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal. O funeral realizou-se no dia seguinte nessa mesma cidade, e contou com a sentida homenagem de mais de trinta mil pessoas. O cortejo fúnebre demorou, por essa razão, perto de duas horas para percorrer pouco mais que mil metros. A urna foi envolta num pano vermelho, por sua vontade, mas sem qualquer símbolo político, e transportada em ombros por outros camaradas seus, de palco e de luta política.

Resta-nos terminar com algumas palavras ditas pelo próprio numa das suas últimas entrevistas, também ele um obreiro da democracia portuguesa através do palanque das artes, e desafiar todo o leitor não tão conhecedor da obra desde importante compositor, poeta e pensador português a investigar a seu gosto não só as canções propostas nesta edição da rubrica como as demais, e tantas que são, que justamente celebraram o génio do seu autor.

“Não me arrependo de nada do que fiz. Mais: eu sou aquilo que fiz. Embora com reservas acreditava o suficiente no que estava a fazer, e isso é que fica. Quando as pessoas param há como que um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político, como no campo estético e cultural. E, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa própria consciência e os álibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta. (…)
Como é que da política se chega à música e da música à consciência? Eu acho que as coisas podem estar ou não ligadas, depende do lado para onde estivermos virados. Mas o que é preciso é criar desassossego. (…)
Admito que a revolução seja uma utopia, mas no meu dia a dia procuro comportar-me como se ela fosse tangível. Continuo a pensar que devemos lutar onde exista opressão, seja a que nível for.”
 
Notas

1 Tema editado no single com o mesmo nome, em 1969. É por excelência a canção de Zeca Afonso que critica a guerra colonial (1961 — 1974), um moroso e desgastante conflito que apenas cessaria com o eclodir da revolução de abril. Convém esclarecer que a letra é da autoria de Reinaldo Ferreira (1922 — 1959), sendo Zeca o seu compositor. Apenas por esse motivo decidimos incluí-la nesta selecção.

2 Tema presente no famoso LP Cantigas do Maio, de 1971. A canção homenageia Catarina Eufémia, uma trabalhadora rural alentejana e membro do Partido Comunista que, durante um protesto por melhores condições de trabalho e de salário, foi assassinada por um agente da polícia. Catarina tinha apenas vinte e seis anos de idade, e deixou órfãos três filhos, um deles de apenas oito meses.

3 Canção presente no EP Baladas de Coimbra, lançado em 1963.

4 Tema editado no LP Venham mais cinco, de 1973.

5 A canção que se tornaria a senha da revolução de abril foi editada no LP Cantigas do Maio, de 1971.

6 Um dos últimos trabalhos de Zeca Afonso, editado no LP Como se Fora seu Filho, em 1983.

7 Uma organização juvenil do Estado Novo que abrangia ambos os sexos, criada por Decreto-Lei com o intuito de iniciar os jovens na cultura do novo regime. Segundo a designação oficial, pretendia “estimular o desenvolvimento integral da sua capacidade física, a formação do carácter e a devoção à Pátria, no sentimento da ordem, no gosto da disciplina e no culto do dever militar.

Comentários

Nalita disse…
O poema "Menina dos olhos tristes" não é da autoria de José Afonso, mas sim de Reinaldo Ferreira, musicado pelo Zeca. Verficar na discografia de José Afonso: https://aja.pt/discografia/menina-dos-olhos-tristes-1969/
Pedro Belo Clara disse…
Cara Nalita, boa tarde.
Sim, tem toda a razão. Se ler a primeira nota que surge no fim do texto verá que faz-se referência a esse aspecto. Apenas decidimos incluir o tema no certame por ser tão emblemático do Zeca - mas, como em tal nota se refere, ele não é o seu autor.
Muito grato pela sua visita e leitura.
Cumprimentos,
Pedro Belo.
Rui Pato disse…
Nesta biografia , o biógrafo, não sei se por ignorância se por qualquer outro motivo dá um salto de 3 ou quatro anos numa das fases mais importantes do Zeca, em que ele gravou mais de 3 desemas de temas e fez centenas de espectáculos num tempo em que era difícil. Tudo o que o Zeca fez entre 62 e 69...não consta.
Rui Pato
Pedro Belo Clara disse…
Caro Rui,
Obrigado pelo seu reparo.
Esta publicação saiu no âmbito duma rubrica iniciada neste espaço há relativamente pouco tempo, de seu nome DeVersos. Desde a sua criação, foi intenção da mesma divulgar poetas e poesia, não importando a sua origem, credo ou contexto histórico. Assim sendo, os textos de apresentação, publicados aquando da primeira incursão num certo autor, seguiram sempre uma linha concisa, dando-se maior enfoque às palavras dos poetas, à obra criada. Portanto, foi sempre intenção desses textos apresentar o autor de modo algo resumido, referindo aspectos biográficos mais relevantes, apresentar a sua temática no essencial e citar uma ou outra obra, mais notória por vendas, importância no meio ou merecedora dalgum prémio de relevo. É certo, assim, que outros aspectos, também dignos de sua nota, acabem ficando para trás. Mesmo no caso dos escritores, não referimos todos os livros escritos, a não ser que se trate duma obra muito curta deixada para a posteridade.
Não é caso, assim, de ignorância ou doutro qualquer motivo menos lisonjeiro, apenas isto: nunca foi objectivo desse texto de apresentação abordar todas as fases da vida, e suas incidências, do autor em questão, trabalhos realizados e afins, mas propor uma viagem algo sucinta pelo seu percurso de vida. Não queríamos apresentar uma biografia, mas um texto introdutório, capaz de instigar no leitor menos versado na obra de Zeca Afonso o apetite para, por si só, procurar por mais. Além disso, mesmo que de modo resumido, no texto são feitas referências a acontecimentos de 1964 e 1969, álbuns e concertos.
O texto acabou por ficar mais longo que o habitual, o entusiasmo venceu o propósito inicial neste capítulo. Sendo o Zeca alguém que admiro, tanto o Homem como a obra, o trabalho final apresentou-se mais longo que o pretendido. Tarefa ingrata, condenada ao insucesso desde o início... Como colocar tanto em tão pouco? Por isso mesmo, poderá confundir-se a intenção primordial, que seria uma biografia o intento inicial ao invés dum texto de apresentação, sucinto tanto quanto possível. Talvez tenhamos falhado nessa conceção, não o nego, apenas tentou-se, de boamente, apresentar o mais resumidamente possível o que mais digno de nota fosse, o mais relevante para o leitor - uma adivinha de sempre difícil resposta.
Agradeço a sua visita e leitura.
Cordiais cumprimentos.

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

Boletim Letras 360º #596

Bambino a Roma, de Chico Buarque

Boletim Letras 360º #603

Boletim Letras 360º #595

Rio sangue, de Ronaldo Correia de Brito

Boletim Letras 360º #604