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Mostrando postagens de maio, 2025

Boletim Letras 360º #641

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Cruz e Sousa. Desenho de J. M. Garnier. Arquivo da Biblioteca Nacional. LANÇAMENTOS Obra reúne toda a poesia de um dos principais nomes do simbolismo no Brasil .   A poesia reunida de Cruz e Sousa coloca sob a luz contemporânea o principal expoente do Simbolismo brasileiro, vértice da literatura hoje considerada “negra”, isto é, feita por poetas negros e que trata de sua condição na sociedade, com introdução e organização do poeta e dramaturgo Marcelo Ariel. A edição publicada pela Assírio & Alvim Brasil traz na íntegra seus livros, a partir de Missal  e Broquéis , publicados em 1893, seus poemas iniciais, inclusive Julieta dos Santos  ― pouco conhecido, escrito em homenagem à atriz mirim em cuja companhia dramática ele trabalhou ― e as obras deixadas por ele inéditas: Poemas Cambiantes  e Campesinas . Você pode comprar o livro aqui . Jon Fosse em dois formatos: na edição comum e numa edição exclusiva e limitada reunindo materiais extras .   Em Man...

O carnaval de D’Annunzio

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Por Christopher Domínguez Michael Com L’Imaginifico. Vita di Gabriele D’Annunzio (2018), Maurizio Serra — que escreve em francês e italiano indistintamente — completa um dueto soberbo, precedido por Malaparte. Vite e leggende (2012), 1 em que esta dupla incomparável de iconoclastas e réprobos italianos do século XX alicança um ápice biográfico dificilmente superável. Isso se deve ao envolvimento quase íntimo de Serra, precisamente com aqueles que ele chamou de “estetas armados”, como Stefan George e Filippo Marinetti, com irmãos inimigos como Pierre Drieu la Rochelle e André Malraux, e com outros estetas menos belicosos, como os irmãos Heinrich e Thomas Mann, ou Italo Svevo. Diplomata — ex-embaixador italiano na UNESCO — Serra também é autor de Il Caso Mussolini e, recentemente, de Munique 1938: la paix impossible (2024).   Tanto se disse e escreveu sobre Gabriele D'Annunzio (1863-1938) que, diante de uma biografia como a de Serra, resta ressaltar que um mundo como o dele, apa...

A história do amor de Fernando e Isaura, de Ariano Suassuna

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Por Pedro Fernandes Ariano Suassuna. Foto: Arquivo O Globo .   Nos anos 1950, a versão de Tristão e Isolda reconstituída pelo filólogo francês Joseph Bédier circulou entre o grupo frequentado por Ariano Suassuna, o mesmo que cultivou o terreno fértil a partir do qual brotará o Movimento Armorial. Ao que parece, Francisco Brennand se sentiu motivado a compor uma série de ilustrações para o amor impossível de provável origem celta, interesse logo transferido para o amigo que naquela altura confessara o desejo de escrever um grande romance no porte da Pedra do reino , o livro de uma vida que o escritor paraibano não viu se cumprir inteiramente conforme foi sonhado.   Antes de se lançar ao esforço da grande obra, Brennand sugeriu que Suassuna se experimentasse com uma imitação de Tristão e Isolda , retrabalhando suas personagens e o motivo da narrativa, transpondo-os para o sertão nordestino. Em 1956, a proposta estava concretizada e seduzido com a conquista, o escritor pensou ...

A revolução de Pasolini

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Por Herminio Requejo Schoendorff Enrique Irazoqui e Pier Paolo Pasolini, bastidores de filmagem de O Evangelho Segundo São Mateus . Foto: Domenico Notarangelo.   “Sou um descrente com uma fé que me atormenta.” Esta frase, proferida pelo cineasta e escritor italiano Pier Paolo Pasolini, resume, como nenhuma outra, sua motivação artística e seu impulso vital. Ele a proferiu após ser condenado a quatro meses de prisão, acusado de “vilificar a religião do Estado” por seu curta-metragem La ricotta . Nele, um homem pobre, contratado como figurante em um filme sobre a Paixão de Cristo, procura desesperadamente algo para comer. Faminto, devora impulsivamente a ricota que dá nome ao filme e morre, por excesso ou destino, no momento da crucificação. No tribunal, Pasolini se defendeu: não se tratava de uma zombaria da religião, mas de uma denúncia da hipocrisia de uma sociedade que se proclama cristã enquanto ignora os marginalizados. “Não me interessa provocar. Interessa-me mostrar a verdad...

Livros autografados por seus autores: histórias e dedicatórias

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Por Cristian Vázquez Foto: Pascal Biomez   1 Uma dedicatória escrita pelo próprio autor torna um livro um objeto único. A assinatura confere ao exemplar uma espécie de aura que, por definição, lhe falta. Isso o distingue das centenas ou milhares de volumes semelhantes que saíram junto com ele da gráfica. Transforma-o em um item de colecionador, um objeto de desejo, um tesouro. O mercado sabe disso: livros autografados pelo autor são mais caros. Às vezes, verdadeiras fortunas são pagas por eles.   Mas essas fortunas são pagas, é claro, quando se trata de obras de escritores altamente reconhecidos. Em outros casos, o impacto de uma assinatura ou dedicatória de um autor no valor do livro pode ser quase imperceptível. Há alguns anos, adquiri um exemplar do romance La máquina de escribir [trad. livre, A máquina de datilografia] com dedicatória de seu autor, Juan Martini, em um sebo de Buenos Aires, pelo equivalente a cerca de US$ 4. Teria sido muito mais barato sem a assinatura? N...

Do modo honesto de fingir

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Por Eduardo Galeno Lorenzo Lippi,  Alegoria da simulação , 1640    As leis da conversação da literatura de corte são maximizadas por uma aderência ao oculto. Torquato Accetto, secretário do seu Senhorio, ponte entre verdades secretas e a via pública, corresponde a um tipo de travessa literária pouco ou nada analisada pelos bolsões críticos dos dois últimos séculos. Resumidamente, a razão se dá pelo fato da trela kantiana em nome da verdade-sem-artifício.   Contexto histórico: o fato sobrepujou a dinâmica operacional do resto dos textos que seguiram a derrubada do clero e do Rei pelas democracias, aqui conectados com o fator psicológico que o sujeito das ciências liberais fincou. Mas voltemos ao centro.   Dizíamos que Accetto trabalhava com a ideia de ocultação, mas o que significa? À risca, explicita certa racionalidade na relação entre ser e parecer. O secretário é aquele que dispõe do vínculo essencial com as partes de cima da estrutura de poder. Não sendo...