Dez filmes cujo enredo é baseado em poemas

cena de Crocodilo Dundee

Enquanto elaborávamos uma lista com filmes cuja trama davam conta de obras poéticas e seus mentores, o site Flavorwire divulgou outra com expressões cinematográficas cujo enredo recorrem a alguns importantes poemas da literatura de língua inglesa. É a lista que agora é apresentada no blog; mas, ampliamos em conteúdo e não seguimos a sequência aí proposta uma vez que as escolhas então apresentadas não estão submetidas a um ranking ou coisa do gênero.

A lista tem sua diferença, visto que – e o leitor não nos deixará mentir – é bastante comum as adaptações de obras de ficção, narrativas históricas e mesmo de livros de autoajuda, mas de poemas é coisa bastante rara, apesar de mais comum do que se pensa. Como sempre é útil lembrar a sequência apresentada aqui não responde pelo conjunto integral das produções cinematográficas cujo enredo são adaptações de poemas. Se os critérios fossem expandidos para uma compreensão de outras produções do gênero, há releituras da Odisseia, da Ilíada, de Homero, por exemplo, que seriam facilmente incluídas numa lista como esta.

Também não está em questão os filmes cuja feitura têm uma tessitura de cunho poético – os chamados filmes-arte, com exceção de Lady Lazarus, mas cuja trama é nascida da obra da poeta Sylvia Plath.

Evocação (The White cliffs dover), de Clarence Brown, 1944. A trama do filme é baseada no poema "The White Cliffs", escrito por Alice Duer Miller. Trata-se da história de uma jovem mulher chamada Susan que viaja ao lado do pai para passar uma semana na Inglaterra. Mas ela conhece e se apaixona por um oficial do exército britânico, Sir. John Ashwood. A lua-de-mel é interrompida poucos dias depois com a chegada da Primeira Guerra Mundial que força John a ir para a França.

Jabberwocky – herói por acidente, de Terry Gilliam, 1977. O diretor foi por longo tempo membro do famoso grupo de humor britânico Monty Python e recebeu daí todas as influências na composição deste filme que foi seu primeiro trabalho solo como diretor, apesar de ainda ser considerado um filme do grupo inteiro, pelo fato de inicialmente ter sido lançado como Monty Python's Jabberwocky (título que mais tarde foi alterado, por pedido de Gilliam). O nome do filme e a trama saíram do poema nonsense de Lewis Carroll. Traduzido para o português como “Caça ao Esnarque”, algumas das personagens do poema aparecem no interior de Alice através do espelho. Na trama, dez personagens viajam em busca de um ser imaginário, o Esnarque, entre eles um Castor, um Banqueiro e um Padeiro.

Crocodilo Dundee, de George Miller, 1982. A trama deste filme de faroeste é baseada na obra do poeta australiano Banjo Peterson “The Man from Snowy River”; o clássico publicado no The Bulletin, em 1890, e depois tornado marca na estampa da nota de dez dólares australianos faz parte do imaginário na cultura literária da Austrália. A peça que envolve, cavalos, peitos nus, pôr do sol e serras serviu ao interesse de Miller que construiu um filme que se tornou um sucesso de crítica e bilheteria. Jim – também conhecido como o Homem de Você-Sabe-Onde – é um cowboy de bom coração que perde seu pai para uma debandada do cavalo e em seguida viaja para as terras baixas para ganhar um sustento. Ele deve "ganhar o direito de viver, assim como seu pai fez". O poema serviu de inspiração para outro filme lançado em 1920 ainda no cinema-mudo.

Lady Lazarus, de Sandra Lahire, 1991. Trata-se de um filme experimental centrado em torno famoso poema de Sylvia Plath "Lady Lazarus"; a poeta, inclusive, faz uma ponta indireta no filme, com a leitura do próprio poema, entre outros de sua criação como “Papai” e “Ariel", além de excertos de uma entrevista de 1962. Lahire descreve o filme, o primeiro de uma trilogia de produções relacionadas à poeta, mas cuja única peça que nos chegou.

O estranho mundo de Jack, de Henry Selick, 1993. Filmado em stop motion, trata-se de uma peça de fantasia sombria coescrita por Tim Burton. Conta a história de Jack Skellington da "Cidade do Halloween" que abre um portal para a "Cidade do Natal". O poema foi criado por Tim Burton quando trabalhava Disney no início dos anos de 1980. Com o sucesso de Vincent em 1982, a Disney começou a considerar o texto como um tema favorito para um curta ou um especial para TV. Ao longo dos anos, as ideias de Burton ampliaram-se e ganharam forma neste projeto.

Coração valente, de Mel Gibson 1995. O filme retrata a figura histórica de William Wallace, guerreiro, patriota escocês e herói medieval. Gibson tenta conferir ao protagonista uma faceta mais romântica e idealista e menos sanguinária. Situado nos finais do século XIII, tempo em que os rebeldes escoceses lutavam contra o domínio do rei inglês Eduardo I, o filme acompanha a trajetória do herói entre uma educação esmerada e erudita a paixão por uma jovem camponesa, a fuga de um senhor feudal inglês que tinha direito a dormir com uma noiva no dia do seu casamento, a Batalha de Stirling Bridge, e fracasso em conseguir o apoio dos nobres líderes dos clãs escoceses. Toda essa trama é de um poema do século XV, The actes and deidis of the ilustre and vallyeant campioun Schir William Wallace de Blind Harry. Indicado a dez categorias do Oscar, o filme ganhou em cinco, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção.

A Lenda de Beowulf, de Robert Zemeckis, 2007. Como o título sugere, esta é a adaptação do poema épico anglo-saxônico Beowulf. O poema é o texto mais longo dentre os poucos textos da literatura medieval anglo-saxônica. Escrito onde atualmente é a Inglaterra, a obra se refere a eventos ocorridos na Escandinávia e centra-se nos feitos de Beowulf, herói da tribo dos gautas que, com sua força, livra os dinamarqueses da ameaça de dois monstros diabólicos e uma vez rei do seu povo combate e mata um dragão numa penosa batalha. O único manuscrito do texto data do século XI e acredita-se que o texto, pelos traços lendários, os eventos e as personagens, seja de entre os séculos V e VI. Os leitores da obra que também assistiram ao filme concordam que roteirista preservou muitos dos traços do poema original, sejam os diálogos e a relação entre Beowulf e Hrothgar.

O corvo, de James McTeigue, 2012. Esta é a versão mais recente do famoso poema de Edgar Allan Poe; o enredo é parte de diversas adaptações cinematográficas: uma em 1915, outra em 1935, e mais uma em 1963. A versão aqui listada não segue a linha da trama do poema e sim o corvo integra uma linha entre uma trama de suspense em que se apresenta o próprio escritor envolvido numa caça a um assassino que escolhe um método nada original para a condução de seus assassinatos: a reconstituição real dos relatos de horror publicados por Poe.  

Mulan, de Tony Bancroft e Barry Cook, 1998. O filme é baseado no poema do século VI chinês Balada de Mulan. Quando os mongóis invadem a China, o imperador decreta que cada família ceda um homem para o exército imperial. Com isso, uma jovem fica angustiada ao ver seu velho e doente pai ser convocado, por ser o único homem da família; a filha, então, rouba sua armadura e espada, se disfarça de homem e se apresenta no lugar do pai. Ela não estará sozinha na empreitada: os espíritos dos ancestrais decidem protegê-la e ajudá-la a cumprir sua perigosa missão de ir para a guerra e voltar viva.

E aí, meu irmão, cadê você?, dos irmãos Coen, 2000. As referências ao texto clássico de Homero estão em toda parte nesta comédia: desde ao nome de um dos protagonistas: Everett Ulysses às aventuras vividas por ele mais Delmar e Pete numa história de retorno para casa. Transposto para a chamada Era da Depressão Americana, essas três figuras, anti-heróis, são prisioneiros de uma cadeia do Mississipi que conseguem a façanha de escapar da prisão. Da menção aos empecilhos enfrentados pelo Ulisses original no texto grego está o famoso episódio das sereias e a petulância de deus, quer dizer, um xerife misterioso que criará toda sorte de problemas na tentativa de recapturar os tais prisioneiros foragidos.

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