Os homens preferem as loiras, de Howard Hawks



Duas amigas, Lorelei  Lee (Marilyn Monroe) e Dorothy Shaw (Jane Russell), embarcam num cruzeiro rumo a Europa à caça de um marido rico. A loira é louca por diamantes; a morena, por músculos. Por meio da história das garotas, o filme deixa subentendido um ideal desejo de libertação feminina: nessa trama, são os homens que - movidos pelo desejo - ocupam o lugar de meros objetos, gravitando em torno das protagonistas.

Em sua extensa carreira, o diretor Howard Hawks transitou entre vários gêneros, do filme de gângster ao anti-bélico, das comédias malucas aos faroestes clássicos, do noir aos épicos históricos e às fitas de aventura. Além da versatilidade, o que mais se destaca nos longas de Hawks é a presença, mesmo em universos aparentemente tão heterogêneos, de uma visão de mundo pessoal, de um olhar particular que põe em destaque os mecanismos morais que regem os homens (e as mulheres). 

Foi essa unidade sobre a profusão de gêneros que levou os críticos franceses (entre os quais, os futuros cineastas François Truffaut e Jean-Luc Godard) a incluir o diretor em sua "política dos autores", um modo de apontar que, mesmo no regime industrial de Hollywood, alguns artistas impunham personalidade em seus trabalhos por meio de coerência interna entre estilos e temas. A fórmula se aplica com perfeição a Os homens preferem as loiras, comédia musical marcada por cenas antológicas entre as quais a que imortalizou Marilyn Monroe, quando canta "Diamonds are a girl's best friend" descendo uma escadaria cercada de dançarinos.

* Revista Bravol!, 2007, p.102

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