Boletim Letras 360º #469

DO EDITOR
 
1. Caro leitor, entramos no mês quando realizaremos o terceiro sorteio entre os apoiadores do blog. Essa é uma ideia criada para levantar os custos anuais deste projeto com domínio e hospedagem na web e para participar é simples: sem qualquer fidelidade, você pode se inscrever e participar dessa e de outras promoções.
 
2. Saiba tudo aqui, incluindo outras formas de ajudar: uma delas é que, na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.  
 
3. Em nome do Letras, obrigado pela companhia e pelo apoio!

W. H. Auden. Foto: George Platt Lynes

  
 
LANÇAMENTOS
 
As aulas de W. H. Auden sobre William Shakespeare.
 
Entre outubro de 1946 e maio de 1947, com frequência semanal, Auden dá uma série de aulas na New School for Social Research de New York, dedicadas ao teatro e aos sonetos de Shakespeare. Mas engana-se quem imagina terem sido seminários sisudos e exclusivos para doutorandos em literatura inglesa: Auden voltava-se para um público diversificado, agitado e entusiasmado de não menos do que quinhentas pessoas ― tanto que era comumente obrigado a “berrar a plenos pulmões” e pedia àqueles que não conseguiam ouvi-lo para não levantarem a mão “porque eu também sou míope”. Armado apenas da edição Kittredge das obras de Shakespeare, da vastidão prodigiosa da sua cultura e do seu incomparável humor ― mas principalmente da convicção de que a crítica é uma conversa improvisada ―, Auden falava o que lhe vinha à cabeça, encantando a todos. Mas também perturbando-os com a sua destemida falta de escrúpulos típica do outsider: em vez de enfrentar as Alegres matronas de Windsor, ele fez ouvir Falstaff, afirmando que a peça não tinha outro mérito que não o de ter servido de inspiração a Verdi. E chegando à Megera domada advertiu que não se deteria muito ali porque era um fracasso total ― partindo da crítica ferina para um excursus sobre a farsa, que ia do Grande ditador de Chaplin a irresistíveis considerações sobre a guerra entre os sexos. Mas é talvez na aula dedicada a Antônio e Cleópatra, a obra preferida, que conseguimos apreender as razões da apaixonada adesão do público, pois, mesmo no papel de crítico, Auden permanece essencialmente um poeta, capaz de falar a todos ― com a mesma milagrosa leveza que atribuía a Shakespeare. Você pode comprar o livro aqui.
 
A primeira e até agora única antologia tendo como tema a escravidão na poesia brasileira.
 
Cobrindo quase três séculos e meio de poesia, reúne cerca de 80 poetas e mais de 200 poemas, alguns deles esquecidos e outros nunca publicados em livro. Alexei Bueno, poeta, ensaísta crítico, tradutor e editor renomado, realizou uma tarefa difícil e inédita: selecionou e organizou criteriosamente poetas e poemas que abordam o tema da escravidão no Brasil, do século XVII ao XXI. A mais primitiva e cruel das relações de trabalho esteve vigente em nosso país por três séculos e meio, da Colônia ao Império, e deixou marcas profundas e traumáticas na alma nacional. Se a escravidão teve forte presença nas artes visuais, na música e na ficção, a verdade é que sua marca foi mais efetiva na poesia, pois nenhuma outra forma de arte deixou peças tão icônicas na memória brasileira como “O navio negreiro” e “Vozes d’África”, de Castro Alves, ou “Essa negra Fulô”, de Jorge de Lima, três exemplos mínimos em uma imensa constelação. A escravidão na poesia brasileira é mais que uma antologia, é um ensaio antológico em que o organizador Alexei Bueno, além de reunir poetas e poemas, elenca subtemas essenciais no ensaio introdutório (a viagem ultramarina, a separação das famílias, os castigos físicos, revoltas e fugas, os quilombos, as figuras míticas etc.) e, ao final do volume, fornece verbetes com um retrato de cada um dos poetas e uma análise dos poemas aqui reunidos. Muitos desses poemas nunca foram publicados em livro, ou estão totalmente esquecidos. Mas A escravidão na poesia brasileira reúne também vários dos maiores nomes da literatura nacional de todas as épocas: Gregório de Matos, Tomás Antônio Gonzaga, Gonçalves Dias, Machado de Assis, Fagundes Varela, Castro Alves, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Cruz e Sousa, Euclides da Cunha, Alphonsus de Guimaraens, Augusto dos Anjos, Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Ariano Suassuna, chegando até os dias de hoje, com autores em plena atuação, o que demonstra a continuidade literária do tema. O livro é publicado pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
Livro ainda inédito no Brasil apresenta ponto de definição da ficção de Margaret Atwood.
 
O projeto Positron parece um sonho realizado para Stan e Charmaine depois de tanto tempo sem ter onde viver, sem esperança e à mercê de criminosos. Porém, uma espiral bizarra de infidelidade, segredos e chantagens abala a aparente satisfação que o casal pensava ter encontrado em Consilience, um lugar em que os corretos são aprisionados e os sem-lei vagam em liberdade. Charmaine e Stan são um casal jovem que tenta sobreviver a um colapso econômico e social de grandes proporções. Perderam seus empregos, sua casa e, por total falta de recursos, são obrigados a morar no carro, se expondo a todo tipo de risco. Para reverter esta situação, o casal resolve aderir ao Projeto Positron, na cidade de Consilience. Supostamente criado para resolver os problemas sociais causados pela crise, o projeto lhes oferece um lugar confortável para morar, comida boa e emprego fixo. Em meses alternados, no entanto, os residentes de Consilience deixam suas casas e se tornam internos na prisão de Positron. Concluído o período de serviço no sistema prisional, eles retornam à vida civil. Apesar de estarem sempre sob vigilância e não poderem ter qualquer interação com amigos ou familiares, o esquema não parece um sacrifício para eles. Considerando os benefícios que lhes estão sendo concedidos, a vida no bairro idílico e na comunidade parece perfeita. Porém, quando Charmaine se envolve romanticamente com o homem que ocupa sua casa enquanto ela e o marido estão na prisão, uma série de eventos preocupantes se desdobra e coloca em risco a vida de Stan e a paz alcançada a tão duras custas. De repente, Positron parece menos uma solução e muito mais um arrepiante desafio. Margaret Atwood lança um teste definitivo para o coração humano neste brilhante romance sobre relações sociais, o preço do conforto e a parte sombria de soluções milagrosas. O coração é o último a morrer, inédito no Brasil, é tão visionário quanto O conto da aia e tão impactante quanto O assassino cego. Com tradução de Geni Hirata, o livro é publicado pela editora Rocco. Você pode comprar o livro aqui.
 
Trabalho de Hugo von Hofmannsthal encontra na era da fragmentação seu lugar ideal.
 
Agora que boa parte da literatura nos chega aos pedaços, especialmente sob a forma de citações, este livro adquire uma curiosa atualidade. Nesta formidável seleta de aforismos, que mistura Confúcio, Novalis, Maomé e Pascal, o escritor austríaco Hugo von Hofmannsthal revela como a forma breve, por sua vocação enfática e reflexiva, não cessou de seduzir os modernos. Publicado pela primeira vez em 1922, numa edição do autor de oitocentos exemplares, o livro foi concebido como uma espécie de coleção pessoal, um presente destinado a um grupo de amigos, leitores tão exigentes e escrupulosos como o próprio organizador da coletânea. A ideia de compartilhar com seus interlocutores ditados e máximas selecionados foi um projeto acalentado por Hofmannsthal ao longo de vinte anos. Desde a juventude ele sonhava com um livro que pudesse ser alterado e aumentado com o tempo, incorporando a percepção mais fina e os ceticismos colhidos na vida vivida e nos livros lidos. Hofmannsthal é aqui tributário de uma dupla tradição: uma antiga, do gênero grandiloquente e sentencioso dos latinos, e outra moderna, que fundou um novo modo de enunciação, em que o sujeito literário e social assumia a autoridade do próprio pensamento. Atraído pelo aforismo, mas também pelo anedótico, O livro dos amigos remete tanto aos escritos moralistas de La Rochefoucauld quanto às máximas de Goethe. Atesta também o alcance do primeiro romantismo, o dos irmãos Schlegel e da revista Athenaeum, em que foi gestada uma literatura que era a sua própria teoria e realização. Ao contrário da função de facilitação do contato com o literário que a citação vem cumprir em nossos dias, para Hofmannsthal e seus amigos as formas breves eram desafiadoras, pois mantinham no horizonte da experiência de leitura a possibilidade de teorização do vivido, em sua virtude e equívoco. O livro é publicado pela editora Âyiné.
 
Livro reúne textos de evento que marcou o centenário do crítico Antonio Candido.
 
Em 2018, quando Antonio Candido completaria 100 anos, o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo, em parceria com o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, homenageou o crítico com o seminário Afeto e Convicção — Uma Homenagem a Antonio Candido de Mello e Souza (1918-2017). As mesas-redondas evidenciaram seu papel como acadêmico, a interação com personalidades e instituições e sua militância política.  Fruto deste ciclo de palestras, o livro Antonio Candido: afeto e convicção reúne um conjunto inédito de visões em torno do legado do crítico, sociólogo e docente, permitindo o vislumbre de sua personalidade generosa e de sua abrangente atuação como mestre dotado de profundo senso ético e social, reconhecido pelo rigor conferido aos estudos literários, assim como pelo papel desempenhado na formação de gerações de críticos — ambos beneficiados por uma perspectiva analítica afeita a relacionar os problemas da literatura com os da sociedade. A organização em três recortes — O Homem, O Intelectual e O Professor — evidencia o esforço de compreender essa figura singular. A dedicação de Antonio Candido à complexidade das questões nacionais o caracterizava como um intelectual comprometido com as questões sociais, que confiava na ampla partilha do conhecimento e da experiência de vida como os pilares de uma sociedade justa. Esta homenagem, também como gesto de retribuição a esse legado, deixa evidente a relevância de sua obra e a notoriedade de sua conduta. Antonio Candido nos deixou, acima de tudo, uma possibilidade inesgotável de formular novas interpretações e novos caminhos para o Brasil. Publicado pelas Edições SESC, o livro reúne textos de Adélia Bezerra de Meneses, Carlos Augusto Calil, João Cezar de Castro Rocha, Laura de Mello e Souza, Leandro Garcia Rodrigues, Luiz Carlos Jackson, Alejandro Blanco, Marcos Antonio de Moraes, Maria Augusta Fonseca, Max Gimenes, Norma Goldstein, Paulo Vannuchi, Rodrigo Ramassote, Telê Ancona Lopez e Walnice Nogueira Galvão. Você pode comprar o livro aqui.

Nova tradução para o poema Le ceneri di Gramsci, de Pier Paolo Pasolini. 

Numa carta de 23 de setembro de 1929, Gramsci escreve a sua mãe e diz que, ali, na prisão [onde esteve entre 1926 e 1934], o tédio é o seu pior inimigo. Lê e escreve o dia inteiro, logo, não é um tédio que vem do ócio, mas “da falta de contato com o mundo exterior”. E tal como os santos eremitas, atormentados com isso que nomeavam como “o diabo do meio-dia”, seu corpo reclama uma vontade de mudança, “de voltar ao mundo, a ver gente”. Há uma cor estampada nesse trecho da carta de Gramsci à mãe que, talvez, Pasolini tenha capturado para indicar “il grigiore del mondo” [o cinzento do mundo], logo no começo do poema que imagina como uma retratação ao pensamento e à figura do filósofo italiano: Le ceneri di Gramsci [As cinzas de Gramsci], escrito em 1954 e editado pela primeira vez, em livro, em 1957. Dessa inferência atravessada, do mundo que é ou poderia ser até o mundo violento que criamos, Pasolini projeta que todo esforço para recriar a vida, naquilo que, por sua vez, havia sido projetado por Gramsci, foi engolido e o que sobra é apenas “il silenzio, fradicio e infecondo” [o silêncio, úmido e infecundo]. O traço obstinado desse poema, que ora se publica no Brasil nessa edição singular, num gesto desmesurado de Piero Eyben e de Alexandre Pilati, e diante do “silenzio della morte” [silêncio da morte] e de um “civile silenzio” [silêncio civil] dos tempos de agora ao nosso redor, parados e pasmados, nos solicita pensar acerca da miséria que se expande a todos os lados. O que se lê a cada linha, no poema, é um empenho de Pasolini e, ao mesmo tempo, a anotação dos empenhos de Gramsci, para alargar o abismo entre corpo e história, quando a política se constitui como reinvenção da esperança numa não-resposta incerta e quando a vida é apenas sussurro, coração cheio, paixão pura e uma pergunta insolente: “se la nostra stória è finita” [se a nossa história terminou].O livro tem tradução e estudo de Alexandre Pilati e sai pela C14 Casa de Edição.
 
REEDIÇÕES
 
A editora José Olympio reedita dois livros de Marques Rebelo.
 
1. Oscarina mostra uma cidade longínqua e ainda muito viva. Com personagens bem caracterizados, a linguagem um tanto dramática e a incorporação dos falares das ruas na escrita, o autor revela o que é próprio de um certo Rio de Janeiro, mas também algo comum à alma humana, com seus desejos e contradições. Jorge desiste dos estudos, para desgosto do pai, e acaba seguindo carreira militar. Troca a noiva, Zita, por Oscarina, uma mulher cheia de encantos, que o apresenta a novos hábitos, e assim ele se lança de vez à vida boêmia. Clarete, do conto “Felicidade”, sonha em ser atriz, mas acaba se casando com o chefe. O protagonista de “Onofre, o terrível, ou a sede de justiça” é um mata-mosquitos que, insatisfeito com o salário irrisório e com o chefe que não trabalha, pensa em se vingar — o que revela também a consciência sobre o valor do próprio trabalho. Publicado originalmente em 1931, Oscarina, estreia literária de Marques Rebelo, reúne dezesseis contos que mostram o cotidiano de donas de casa, trabalhadores e tipos do subúrbio carioca. O autor se mostra ainda atual e apresenta o Rio de Janeiro além dos cartões-postais. “Marques Rebelo é moderno sem ser modernista”, definiu o dramaturgo e romancista Josué Montello. Ao trazer Oscarina de volta às livrarias, esta bela edição da José Olympio vem reiterar as palavras do acadêmico. Como se não bastasse, nos lembra que a literatura é também o lugar dos ferrados, dos invisíveis, dos maltratados, dos vencidos. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. O romance da maturidade literária de Marques Rebelo. Leniza, como a cidade desigual em que habita, é maliciosa e tímida, interesseira e piedosa, amorosa e cruel. Ela vai em busca de seus sonhos, a qualquer custo. Leniza Máier, cantora de rádio!… Retrato nos jornais, dinheiro à beça, vestindo fino, comendo bem! Que igual a Carmen Miranda não há, mas Leniza é um encanto, e há tantas piores no rádio... E, assim, sonha alto a moça nascida no Santo Cristo, criada na Saúde, bairros berços do espírito carioca do samba e da ginga. E o caminho dos ambiciosos rumo ao estrelato pedem, justamente, muito jeito e alguma malícia. “A estrela sobe” é considerado pela crítica como o romance maduro de Marques Rebelo, escritor, jornalista e grande cronista do Rio de Janeiro dos anos 1930 e 1950. Em seus contos, crônicas e romances, o autor foi responsável por trazer a realidade das classes médias e suburbanas de uma cidade em plena transformação, fim da Primeira República; Era Vargas; industrialização; aceleração urbana; explosão radiofônica; início de uma cultura e um consumo de massa. Com cadência, ritmo e um estilo particular, repleto de coloquialidade, gírias e molejo, Rebelo é quem encanta leitores e leitoras com uma narrativa realista, mas que também ressoa à radionovela — tanto que, em 1974, o livro foi adaptado para o cinema e foi estrelado pela grande atriz Betty Farias. De acordo com Luiz Antonio Simas, historiador, professor e escritor, que assina o prefácio desta edição publicada pela José Olympio, A estrela sobe é, de certa forma, um romance sobre o próprio Rio de Janeiro em que são expostas contradições, amores, violências e fascínios, camadas cheias de tensão e intensidade. E ao lembrar-se de músicas de Noel Rosa, conterrâneo de Marques Rebelo, Simas nos evoca a ler A estrela sobe e ouvir uma voz, como se fosse no calor de agora: “Prazer, sou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas vocês podem me chamar de Leniza Máier”. Você pode comprar o livro aqui.
 
O próximo título no projeto de reedição da obra de José Lins do Rego.
 
Neste livro, assiste-se a uma significativa viagem no cenário ficcional até então privilegiado pelo romancista. Já não é mais o cotidiano do engenho açucareiro o universo retratado pelo escritor, mas sim o das relações sociais e de trabalho vigentes no ambiente urbano. Na narrativa, o jovem Ricardo, fatigado pela aspereza e falta de perspectivas no engenho Santa Rosa, abandona-o e parte em busca de uma vida melhor no Recife. A agitação da cidade grande vivenciada pelo protagonista do romance é o mote para José Lins apresentar ao leitor um enredo intrigante, que traz à baila ao mesmo tempo a exposição de pontos nevrálgicos da sociedade brasileira, como a questão racial e a extrema condição de miséria a vincarem o dia a dia de boa parte da população. O moleque Ricardo é o próximo título no projeto de reedição da obra de José Lins do Rego pela Global Editora.
 
Nova edição da obra de Francis Ponge publicada durante a ocupação nazista na França.
 
Publicado na França em 1942, sob a ocupação nazista, o Partido das coisas de Francis Ponge propunha uma nova forma de poesia — e de literatura —, situada a meio caminho entre uma descrição poética das coisas cotidianas (a chuva, a ostra, a laranja) e a elaboração de um pensamento sobre como as noções que temos acerca dessas mesmas coisas se entrelaçam e se confundem com a própria linguagem. Esta tradução Adalberto Müller propõe um retorno ao meio do caminho, numa época não menos assustadora, que outra vez nos obriga a tomar o partido das coisas. O livro é publicado pela editora Iluminuras. Você pode  comprar o livro aqui.
 
OBITUÁRIO
 
Morreu a professora e crítica literária Eneida Maria de Souza.
 
Eneida era professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde fez sua graduação em Letras e onde passou a trabalhar a partir de 1968. No mestrado realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) estudou sobre a obra do escritor Autran Dourado. E no doutorado na Universidade Paris 6, na França, realizou um trabalho de pesquisa que se tornou um marco no campo dos estudos do Modernismo no Brasil e também, o início de uma longa trajetória como estudiosa. Entre outros trabalhos publicados estão A pedra mágica do discurso, Crítica Cult, O século de Borges, Janelas indiscretas, Figurações do íntimo e Narrativas impuras.
 
DICAS DE LEITURA
 
Dois escritores centenários.
 
Da extensa lista de efemérides no universo literário em 2022, neste 5 de março, alcançamos mais um centenário: o do nascimento de Pier Paolo Pasolini. É claro que gostaríamos de chegar a uma data como essa com uma lista variada de recomendações. Mas, outra vez esbarramos na ineficiência do nosso mercado editorial que pouquíssimas vezes acerta no calendário ou acampa em alguns terrenos e deixa descoberto outros. É notável a quantidade de livros, por exemplo, sobre a Semana de Arte Moderna ainda que ineficiente a reedição da obra de autores modernistas; é notável certo interesse pelo Ulysses, de James Joyce e o esquecimento de Pasolini que noutro tempo galgou melhor reputação entre nós. Já preparamos uma post que ficará online em breve com algumas recomendações da obra do multiartista italiano. Agora, para não repetir o deszelo dos nossos editores sublinhamos a data com a recomendação de um livro seu em circulação e completamos a lista com dois livros de outro Paulo, o nosso mineiro Paulo Mendes Campos. Também neste ano celebramos o centenário do cronista — foi no passado 28 de fevereiro. Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Escritos corsários, de Pier Paolo Pasolini. O ano de 1975 foi outro annus mirabilis na carreira de Pasolini: filmou Salò, os 120 dias de Sodoma, publicou dois livros de poesia, La nuova gioventù e La divina mimesis, escreve o roteio Il padre selvaggio e organiza os Scritti corsari, uma reunião de ensaios políticos. Curiosamente foi este também o ano do selvagem assassinato do escritor e cineasta. A edição brasileira dos Escritos tem tradução, apresentação e notas de Maria Betânia Amoroso, além do prefácio de Alfonso Berardinelli composto para a publicação italiana. O leitor não entrará em contato com a literatura de Pasolini com esses textos, mas constituirá alguma ideia sobre o seu pensamento e campo de ação estabelecidos desde muito cedo quando a vida impõe a dimensão do que seria seu itinerário: a de um homem em constante cerco das ideologias e em fuga das prisões por elas impostas. Os textos de Pasolini, além de tudo, dialogam muito bem com o seu contexto histórico e os impasses que agora outra vez reencontramos passado o tempo da falsa efervescência de que enfim encontráramos o rumo do civilizatório. Escritos corsários está publicado pela Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
 
Alguns dos principais livros de Paulo Mendes Campos também não estão reeditados. Cite-se, para efeito, seus exercícios pela poesia — que não foram poucos — e títulos como O domingo azul do mar, Homenzinho na ventania e O cego de Ipanema, sempre lembrados pelos seus leitores mais assíduos como o melhor da sua produção. Do que está em circulação, recomendamos:
 
2. Diário da tarde. O livro forma parte com os já citados. Data da década de 1980, quando Paulo Mendes Campos, recém-aposentado foi viver num sítio na serra fluminense, distante das pressões diárias da vida no Rio de Janeiro. O livro imagina um jornal em que recebe artigos, crônicas, resenhas de futebol, poemas, traduções e aforismos, isto é, a transposição das seções que costumam compor uma publicação do tipo enquadradas para o formato do livro. Esse jornal imaginário alcançou vinte números e é uma excelente mostra das variadas direções que sua escrita assume ao longo de sua trajetória como cronista, tradutor e poeta. A publicação é da Companhia das Letras (em e-book). A que recomendamos aqui, a impressa, está editada pelo Instituto Moreira Salles. Você pode comprar o livro aqui.
 
3. Melhores poemas. Se os livros de poesia, como dissemos, são escassos, escapamos com essa antologia organizada por Humberto Werneck para a coleção Melhores poemas, editada pela Global. O antologista, conhecedor da obra do cronista mineiro desde a juventude, faz um levantamento de alguns dos textos mais marcantes de Mendes na poesia. Por eles é possível descobrir que mesmo anterior ou por entre o autor de prosa, existiu sempre o interessado num imaginário só possível pela força da poesia, lição talvez bebida de outro cronista seu contemporâneo e que estendeu a valia da crônica para além do seu prazo de validade do jornal, Rubem Braga. Você pode comprar o livro aqui.
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
1. Uma das últimas publicações da extinta Cosac Naify foi a antologia Poemas, organizada por Alfonso Berardinelli, e que aqui teve tradução de Maurício Santana Dias. Do livro, o blog da Revista 7faces copia três poemas.
 
2. No nosso arquivo de vídeos na página do Facebook, encontram duas entradas com imagens de Pier Paolo Pasolini. Destacamos a mais recente: o excerto de uma entrevista a Marco Blaser para a Rádio e Televisão Suíça (1969). Ele responde a por que escrever e qual o papel da escrita. E, para quem entende italiano, recomendamos essa enorme lista com entrevistas de Pasolini, incluindo esta da qual publicamos um fragmento no Facebook.
 
3. No YouTube da Global é possível encontrar este vídeo em que Humberto Werneck lê dois poemas incluídos na antologia referida na seção anterior, comenta sobre a vivência de Paulo Mendes Campos na poesia e sobre sua própria relação — a do antologista — com a obra do cronista mineiro. 

4. A Companhia das Letras marcará o centenário de José Saramago, também celebrado em 2022, com a realização de uma jornada durante todo este mês de março. Serão cinco encontros transmitidos nos canais da editora: no dia 10 de março, às 19h, Julián Fuks fala sobre Ensaio sobre a cegueira; no dia 16, às 17h, Leyla Perrone-Moisés faz “Um sobrevoo da obra de Saramago”; no dia 24, às 19h, Andréa del Fuego conversa sobre O evangelho segundo Jesus Cristo; no dia 28, às 19h, conversam Pilar del Río e Ricardo Viel sobre o pensamento humanista saramaguiano. O evento encerra com Jeferson Tenório que comenta sobre A jangada de pedra — isso no dia 31 de março, às 19h. 
 
BAÚ DE LETRAS
 
1. O baú de Letras ainda receberá pelo menos outras três entradas sobre a obra de Pier Paolo Pasolini ao longo deste ano do seu centenário; duas já estão prontas: uma post com recomendações de leitura da e sobre sua obra; um texto sobre um seu trabalho com o cinema. Enquanto isso, o leitor encontra várias outras publicações por aqui, como mostramos nesta seleção:
 
a)  A primeira vez que o nome de Pier Paolo Pasolini aparece no blog data de março de 2010; foi a publicação da tradução deste texto de Alberto Giordano, “Metáfora por metáfora”. 
 
b) No mesmo ano, nosso editor publica algumas anotações sobre Salò, os 120 dias de Sodoma — o último filme de Pasolini ou sua entrada definitiva no centro do pensamento sobre a entrada da civilização outra vez em tempos sombrios. 

c) Abel Ferrara compôs uma cinebiografia sobre Pasolini, interpretado por Willem Dafoe. Em 2014, editamos esta matéria sobre o filme. 
 
d) Ainda o cinema pasoliniano. Interessado em recuperar certa natureza do mito arcaico que prevalece entre nós, Pasolini revisitou várias das tragédias gregas. Uma delas, a Medeia, de Eurípides. O filme de 1969-70 foi comentado aqui
 
e) A já referida, na seção anterior, antologia Poemas (Cosac Naify, 2015) foi comentada no blog em dezembro de 2018. Leia o texto aqui.
 
f) Em fevereiro do ano passado, nosso colunista André Cupone Gatti comenta dois poemas em diálogo comparado; à luz dos conceitos de maldição e dessacralização, Angiolieri e Pasolini. 
 
g) Findamos esta lista com a entrada mais recente neste pequeno dossiê sobre a obra e Pier Paolo Pasolini com este “A revolução permanente”, uma revisitação biobibliográfica sobre o multiartista italiano. 
 
DUAS PALAVRINHAS

Na morre jamais numa vida. Tudo sobrevive. Nós, ao mesmo tempo, vivemos e sobrevivemos. Assim também toda cultura é sempre entretecida de sobrevivências.
 
― Pier Paolo Pasolini

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