O depois da hora de Clarice. Papéis para composição de A hora da estrela




Desde 2010, que além de ser uma ocasião celebrativa, que é uma data quando se apresentam novas curiosidades e possibilidades de aproximação de uma das obras mais importantes da nossa literatura. Organizadas pelo Instituto Moreira Salles, as celebrações da Hora de Clarice revelaram este ano um conjunto de notas que deram forma a um dos romances sempre lembrados quando se escuta o nome da escritora brasileira. Sim, os papéis, notas ou inspirações para A hora da estrela. Agora, IMS dispôs tudo online.

O material integra parte do arquivo de Clarice Lispector entregue em 2004 para administração do IMS; e, como sublinha Fábio Frohwein, são "documentos importantes não apenas pela raridade, mas também por registrarem a maneira como Clarice trabalhava seus textos. Desde as primeiras obras, a escritora adotara o método da anotação imediata. Assim, segundo Nádia Battella Gotlib, sua biógrafa, 'passa a carregar um caderninho, onde vai fazendo as suas anotações. São as notas, soltas, que, em grande quantidade, e referentes ao mesmo assunto, constituirão já o seu romance (…).'

"Com o tempo, as anotações seriam feitas em qualquer tipo de papel, facilmente à mão, e até por outra pessoa, a quem Clarice solicitava ajuda, quando impossibilitada de escrever. Olga Borelli conta que, às vezes, durante uma sessão de cinema, anotava para a escritora uma ideia ou frase. Diz ainda que Clarice, em meio a afazeres domésticos, subitamente pedia à empregada que lhe fizesse anotações. Por isso, vemos notas de A hora da estrela. em fragmentos de papel, folhas de cheque e envelopes. Além dessa diversidade de suportes, observamos ainda, na maioria dos documentos aqui reproduzidos, a caligrafia de Olga, que ajudou Clarice a organizar e datilografar os manuscritos de A hora da estrela.

"Em entrevistas, Clarice costumava explicar como se dava seu processo de escrita, basicamente em duas etapas:

'Quando eu estou escrevendo alguma coisa, eu anoto a qualquer hora do dia ou da noite, coisas que me vêm. O que se chama inspiração, né? Agora, quando eu estou no ato de concatenar as inspirações, aí eu sou obrigada a trabalhar diariamente'.

"Na fase inicial da escrita, portanto, Clarice anotava 'inspirações', isto é, ideias e frases que lhe vinham prontas. Quando chegava a um volume de material satisfatório, a escritora partia para a segunda etapa de criação – concatenava as 'inspirações'. Se a primeira fase poderia demorar meses ou anos, o momento seguinte era de trabalho ininterrupto. Assim, os manuscritos de A hora da estrela. depositados no IMS refletem as etapas da criação clariciana, na medida em que esses documentos apresentam tanto as “inspirações” de Clarice, quanto textos mais desenvolvidos, produtos daquela concatenação".

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No Tumblr do Letras deixamos dez fragmentos de A hora da estrela. Veja a aproveite para conferir também todo o material disponível no site em homenagem a autora.

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