Boletim Letras 360º #585

DO EDITOR
 
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Tenham um excelente fim de semana!

Louis-Ferdinand Céline. Foto: Collection Pierre Duverger


 
LANÇAMENTOS
 
Um inédito de Céline. Situado entre a autobiografia e a fabulação, livro examina a experiência central da sua existência: o trauma da guerra.
 
Escrito cerca de dois anos depois da publicação de Viagem ao fim da noite e inédito até 2022, Guerra narra a recuperação de Ferdinand, um combatente ferido durante a Primeira Guerra Mundial. Após ter o braço gravemente ferido no campo de batalha, o cabo retoma a consciência num cenário sanguinolento em que jazem os cadáveres de seus companheiros. Dias depois, é levado ao hospital de Peurdu-sur-la-Lys, onde se relaciona com uma série de personagens, como a enfermeira L'Espinasse e o cafetão Bébert. Da internação à fuga para Londres, acompanhamos um homem em constante embate com os impactos físicos e mentais da guerra. Esta edição inclui introdução de François Gibault, imagens do manuscrito original, uma análise que situa Guerra na produção literária de Céline, lista de personagens e notas explicativas de Pascal Fouché, que ficou a cargo da edição do volume. Com tradução de Rosa Freire d'Aguiar, o livro sai pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Pelas sendas da leitora Virginia Woolf e dos seus interesses na fuga do anonimato.
 
Virginia Woolf não foi nem queria ser uma autora anônima. Longe disso. Tampouco era uma leitora comum. Aliás, a autora anônima é inseparável da leitora comum. Estão ambas ligadas à ideia do caráter democrático da arte poética ou narrativa: de um lado, está a pessoa que por gosto, talento ou estratégia produz e ao mesmo tempo transmite, anonimamente, o conto ou o canto que resulta de seu dom e sentimento; e, do outro, quem ouve ou lê por prazer ou curiosidade ou seja, a ouvinte comum, ou, na era da imprensa, a leitora comum. Este livro, organizado e traduzido por Tomaz Tadeu, tenta cobrir os dois lados da equação. Do lado da produção, está o texto “Anon”, escrito por Virginia um pouco antes de sua morte em 1941. Do lado da audição ou da leitura, está “O leitor”, texto que ela esboçara juntamente com o primeiro. A obra se completa com outros textos de Virginia que têm relação com a questão do anonimato. Num mundo e numa época em que reinam a visibilidade e a exposição, essas reflexões ainda têm sua importância. O anonimato é, em geral, resultado da repressão e do veto, mas também pode ser, como demonstra Virginia, um instrumento de protesto e rebelião. Anon vive. Com o título do primeiro texto, Anon sai pela editora Autêntica. Você pode comprar o livro aqui.
 
O último volume das sete tragédias supérstites de Sófocles na tradução poética, metódica e sistemática de Jaa Torrano.
 
Na disputa pelo poder em Tebas, Etéocles e Polinices, filhos de Édipo, expulsam da cidade o pai sob a alegação de que por seus antigos crimes de parricídio e incesto o velho rei, já deposto há muito tempo, poderia ser causa de contaminação e desgraça para o país. Cego, o ancião banido perambula sob os cuidados de sua filha Antígona, até chegar a um local próximo de Atenas, onde o errante andarilho, ao saber que se trata de um bosque dedicado às terríveis deusas Erínies, identifica-o como o lugar em que, de acordo com antigo oráculo, encontraria finalmente paz e repouso. No entanto, os habitantes dessa região chamada Colono, ao conhecerem a identidade do estranho visitante, querem que ele abandone o lugar imediatamente, temerosos de que sua presença — considerada nefasta — atraísse desgraças para a terra e seu povo. O ancião aparentemente desvalido surpreende então ao pedir a presença do rei local para lhe propor uma troca que, se aceita, beneficiaria a todos os habitantes da região de modo permanente e duradouro. Atendendo ao chamado, o rei de Atenas Teseu de imediato reconhece Édipo e o acolhe como hóspede do país. Esse acolhimento, porém, desencadeia um inextricável conflito de interesses entre os representantes de Tebas e de Atenas, renova o doloroso conflito entre Édipo e seus filhos varões, e revela finalmente a dimensão heroica do decrépito rei cego. Sob a perspectiva e no contexto da democracia ateniense do século V a.C., este drama expõe e documenta tanto os antigos valores ainda atuantes da aristocracia tradicional quanto as misteriosas crenças religiosas do próprio autor Sófocles. Todos os volumes contêm, além do glossário mitológico, ensaios de interpretação do tradutor e de Beatriz de Paoli, tão agudos quanto esclarecedores. Édipo em Colono sai pelas editoras Ateliê e Mnēma. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um romance policial singular e revoltante.
 
Money, no Mississippi, é uma cidade pequena e pacata (além de racista) no Sul dos Estados Unidos. A aparente tranquilidade da cidadezinha e de seus moradores é, de repente, abalada por uma série de assassinatos brutais e incompreensíveis. Em cada cena do crime, uma imagem se repete: um homem negro, que aparenta estar morto há anos, segura uma parte do corpo da suposta vítima. Considerado culpado pelo assassinato, o cadáver dele é levado para ser identificado, mas misteriosamente desaparece, até reaparecer no crime seguinte. O cadáver da história lembra Emmett Till, adolescente linchado em 1955, na mesma cidade de Money, num crime de racismo que se tornou um marco da luta por direitos civis nos Estados Unidos. Não por acaso, os mortos do romance são membros da família envolvida neste linchamento. Assim, dois detetives estaduais são enviados à cidade, mas encontram resistência da polícia local e, é claro, da população — a exemplo dos mortos, os moradores não são exatamente defensores da equidade racial. Enquanto as autoridades tentam juntar as peças dos assassinatos, crimes semelhantes começam a acontecer em todo o país. Até que os investigadores estaduais conhecem Mama Z, uma mulher de cento e cinco anos, que perdeu o pai em um linchamento racial impune e que, há décadas, mantém um arquivo de cada caso desse tipo de crime nos Estados Unidos. Com tradução de André Czarnobai, As árvores, de Percival Everett sai pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
Depois de dez anos da primeira publicação no Brasil, o best-seller internacional de Chimamanda Ngozi Adichie ganha edição comemorativa limitada, com introdução inédita da autora.
 
“Ser negra na América era me sentir atropelada pelo peso da História e dos estereótipos, saber que a raça sempre era uma razão, causa ou explicação possível para as grandes e pequenas interações que compõem nossas frágeis vidas”, é o que diz Chimamanda Ngozi Adichie na introdução a esta edição de Americanah. Lançado pela primeira vez no Brasil em 2014, o livro logo se destacou com a comovente história de Ifemelu e Obinze, dois jovens apaixonados que, em busca de um futuro melhor fora da Nigéria, tomam rumos diferentes: ela parte para os Estados Unidos, onde, apesar do seu sucesso social e acadêmico, é forçada a lidar pela primeira vez com o que significa ser negra naquele país; ele se muda para a Inglaterra, mas diante de uma série de problemas é deportado e volta para Lagos, onde se casa e conquista a desejada estabilidade social. Uma das mais importantes autoras nigerianas do século XXI, Chimamanda Ngozi Adichie parte de uma história de amor arrebatadora para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero. Edição da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
José Luandino Vieira nos mostra o absurdo da opressão de agentes do regime autoritário colonial português sobre um cidadão angolano.
 
Em A vida verdadeira de Domingos Xavier, a luta pela independência de Angola e a violência colonial são apresentadas de forma, ao mesmo tempo, crua e emocionante. A busca ingênua de Maria pelo marido Domingos Xavier contrasta com a brutalidade das forças do regime opressor que havia sequestrado e torturado Domingos Xavier. Maria, separada do marido, sofre como ele a dor da ansiedade, do desespero e da tortura psicológica a que é submetida. Dor esta que representa a dor de todo um povo que foi oprimido e brutalizado pelo poder do colonialismo. O livro é publicado pela editora Kapulana. Você pode comprar o livro aqui.
 
Em romance, A. F. Th. van der Heijden, um dos grandes escritores holandeses das últimas décadas, encapsula a necessidade humana de reviver emoções.
 
Imagine um mundo em que sua vida inteira transcorra durante um único dia, que você nasça de manhã, sua adolescência seja à tarde, à noite o período adulto, de madrugada a fase idosa e então você morra. E que nada nesse mundo possa ser repetido, tudo é feito uma única vez, a fim de realçar a primeira vez das principais experiências humanas. Apenas após a morte, no inferno, há repetição. Dois adolescentes apaixonados querem quebrar esse padrão e repetir seu amor. Para isso, decidem cometer um crime e ir ao inferno. Mas as coisas não saem como esperado. Com tradução de Daniel Dago, A vida em um dia sai pela editora Rua do Sabão. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
A tradução de Ernani Ssó para as Novelas exemplares de Cervantes volta pelo selo Penguin/ Companhia das Letras.
 
Neste clássico da literatura mundial, Miguel de Cervantes mescla temas, vozes e gêneros — assim como fez em Dom Quixote — e presenteia o leitor com doze novelas, que maravilham pela sátira, reflexão e engenhosidade narrativa. Entre a publicação do primeiro e do segundo volume de Dom Quixote, Miguel de Cervantes lançou, em 1613, as doze novelas aqui agrupadas, valendo-se dos recursos já conhecidos de sua produção literária, como a mistura de gêneros (novela sentimental, pastoril, mourisca, picaresca) e o humor único característico de sua escrita, produzindo histórias que divertem tanto o leitor comum quanto aquele mais sagaz. Abordando diferentes temáticas, o autor dá voz a figuras à margem da sociedade envolvidas em aventuras picarescas, como os lendários trapaceiros Rinconete e Cortadillo, que se filiam a uma trupe de ladrões, ou as personagens femininas que, apesar de reféns da condição social na qual estão inseridas, tentam lutar por sua honra e fazer valer suas vontades. Por fim, a esses episódios junta-se o curioso diálogo entre dois cães que conversam com muita graça enquanto explicitam uma visão crítica da sociedade naquele período. O resultado é um clássico que alia sátira, peripécias desvairadas, reflexão e inovação literária. As Novelas exemplares são uma excelente porta de entrada para o universo cervantino, que ocupa espaço central na literatura e segue inigualável. Você pode comprar o livro aqui.

Os contos de Olga Savary.
 
Olga Savary é considerada um dos importantes nomes da poesia brasileira do século XX. E além poeta, foi jornalista, tradutora, ensaísta e autora de um livro de contos, O olhar dourado do abismo, publicado originalmente em 1997. A obra reúne narrativas marcadas por intensa voz poética, em que se sobressai um trabalho de linguagem que prioriza o erótico, o irônico e o trágico, valendo-se de um imaginário povoado por elementos trazidos do folclore brasileiro e da cultura pop. Através do olhar da autora, o feminino ganha centralidade, ainda que as mulheres retratadas lutem para ocupar espaço num mundo moldado por homens. A contista brinca com estruturas narrativas (por exemplo, em alguns contos, opta pelo formato dos textos teatrais, para ressaltar o embate de ideias entre os personagens), se permite mesclar registros linguísticos, entre o regional e o erudito, e recorre aos reinos animal, vegetal e mineral para criar figuras de linguagem inusitadas. Dialoga, ainda, com temas contemporâneos à época, como a contundência das mulheres que rejeitam os papéis de esposa e mãe e rompem com todos os códigos para se lançarem à aventura de viver uma sexualidade intempestiva. O livro sai pela editora Instante. Você pode comprar o livro aqui
 
RAPIDINHAS
 
Novo romance de Mario Vargas Llosa. Ao anunciar os vários livros do escritor peruano que ganham versão em audiolivro, a Alfaguara Brasil trouxe a notícia de que sai em 2024 a publicação de Dedico a você meu silêncio, último romance.
 
Ainda outro título que envolve Mario Vargas Llosa. A editora Record prevê também para o próximo a publicação de As cartas do Boom. O livro reúne a correspondência entre quatro nomes centrais do Boom Latino-Americano: Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Vargas Llosa e Gabriel García Márquez.
 
Reedição de uma peça-chave da literatura norueguesa. A Moinhos disponibilizou uma nova edição com novo projeto gráfico da tradução de Leonardo Pinto Silva para uma das principais peças de Henrik Ibsen, Uma casa de bonecas.
 
Mais Coelho Neto. Outro livro do escritor maranhense a ganhar arrojada edição depois de Treva (Com-Arte) é Sertão. Os contos desta antologia saem pela editora O Grifo e está com financiamento na Catarse. Você pode apoiar por aqui.

DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Névoa, de Miguel de Unamuno (Trad. Fabiano Calixto, Estação Liberdade, 256 p.) Um retrato cômico e desesperador da luta de um homem com o seu destino. Você pode comprar o livro aqui
 
2. O tenente Gustl, de Arthur Schnitzler (Trad. Marcelo Backes, 96 p.) Um jovem oficial em treinamento no exército imperial austro-húngaro vaga por Viena pensando em como se matar e rejeitando todo argumento contrário ao fim dramático. Você pode comprar o livro aqui
 
3. O filho do homem, de Jean-Baptiste Del Amo (Trad. Flávia Castanheira, Todavia, 208 p.) Uma história que examina a transmissão da violência entre gerações e a eterna tragédia entre pais e filhos. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Na seção de vídeos em nosso arquivo no Facebook, acrescentamos uma entrevista realizada com Louis-Ferdinand Céline em janeiro de 1959 para o programa de televisão En Français dans le Text. Veja aqui.
 
BAÚ DE LETRAS
 
Em fevereiro de 2023, ainda duvidando da possibilidade de publicação no Brasil de uma tradução para o inédito de Louis-Ferdinand Céline que chega em julho próximo, traduzimos este texto de Christopher Domínguez Michael acerca de Guerre.

Em torno da obra de Céline, recordamos outro texto, uma resenha de Pedro Fernandes acerca do principal romance do escritor francês, Viagem ao fim da noite
 
Já o último romance de Mario Vargas Llosa, o agora intitulado entre nós como Dedico a você meu silêncio, aparece aqui neste texto de Domingos Rodenas de Moya, em novembro de 2023.
 
DUAS PALAVRINHAS
 
No fundo da nossa memória, guardam-se sonhos e realidade. E com o passar do tempo, acontece de não ser mais possível distinguir o que aconteceu de verdade do que era sonho — sobretudo se já passaram muitos anos e a lembrança retorna à infância, à luz longínqua do início da vida. Nas memórias da infância o mundo permanece inalterável e imortal…
 
— Em “Toda a vida”, de Andrei Platônov

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