Da arte da escrita para a da pintura

José Saramago é autor de um romance intitulado Manual de pintura e caligrafia. Ao redor desse texto já se contaram algumas anedotas, uma até pelo próprio escritor português, quando disse ter tomado conhecimento de um professor de artes plásticas na África que não hesitou em comprar uma leva significativa desse livro para trabalhar junto com sua turma de pintura; deixara se levar de primeira pelo o que o título dizia. O mesmo já aconteceu, por exemplo, com O Evangelho segundo Jesus Cristo. Alguém terá comprado o livro por acreditar que ali estivesse mais um evangelho perdido que fora só agora encontrado ou mesmo que ali estivesse um livro de autoajuda.

Mas, minha ideia de recuperar um dos primeiros livros do escritor Prêmio Nobel de Literatura é para recuperar o enredo ali presente: um pintor de retratos, um dos últimos da sua espécie, decide se aventurar pelo trajeto da escrita. Avança pela crônica de viagem e à medida que esse interesse se materializa, sua posição em relação ao que pinta passa por transformações.

E quando acontece o contrário? Quando um escritor decide trocar o lápis pelo pincel? Quais serão os resultados? E as influências das artes da imagem na escrita será, assim, tão perceptível? Entre nós, é possível entrever algumas respostas olhando para a obra de Clarice Lispector. Certa feita, a autora de A hora da estrela demonstrou profundo interesse pela pintura e desenvolveu algumas telas. Ao mesmo tempo ou fruto desse envolvimento encontramos uma escrita que aspira à pintura no delicioso Água viva, também um dos livros mais marcantes na trajetória literária da escritora.

Bom, de posse das questões aqui levantadas, o blog Melville House foi à procura de suas respostas e voltou com uma bela post com exemplos de artes plásticas produzidas por vários gênios da literatura, propondo que a relação assumida por eles com as artes plásticas é mais comum do que imaginamos. Abaixo, é possível apreciar alguns casos: é uma amostra desse rico convívio. 

Tem artes do fim do século XVIII até meados do século XX, de Goethe, passando Victor Hugo, Marcel Proust, Hermann Hesse, e. e. cummings, Zelda Fitzgerald, Jack Kerouac, Flannery O'Connor e Henry Miller. Esperamos, em oportunidades vindouras, explorar melhor, individualmente, essa face dos escritores. Por enquanto, boa exposição! Para ver as imagens maiores basta clicar sobre elas.


Viajantes numa paisagem. Goethe (1787)


Cidade ao lado de um lago. Victor Hugo (1850)


Figuras. Desenho feito com lápis e tinta. Marcel Proust (1910)


Sem título. Herman Hesse (1917)


Maria Nys Huxley na sesta. Aldous Huxley (1920)


Mt. Chocorua. e. e. cummings (1938)


Times Square, 1944. Zelda Fitzgerald (1945)


Dr. Sax. Jack Kerouac (1952)


Autorretrato. Flannery O’Connor (1953)


Chin Chin da série Insônia. Henry Miller (1965)


Trout’s Tomb. Kurt Vonnegut (2005)



Fonte:
Parte do acervo reproduzido nesta postagem foi levantado por Kevin Murphy do blog Melville House

 

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