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Cervantes e a violência de gênero

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Por Geney Betrán Ilustração de Vânia Mignone.   O estuprador conta a história: “subi sem esbarrar ninguém até o próprio aposento onde ela estava dormindo a sesta sobre um estrado negro. Era formosa ao extremo, e o silêncio, a solidão, a ocasião despertaram em mim um desejo mais atrevido que honesto, e sem pensar com sensatez fechei a porta às minhas costas, e me aproximando dela, acordei-a, e segurando-a firmemente [...] eu a possuí contra sua vontade e à força, pura e simplesmente.”¹ A mulher engravidou. Para esconder seu estado, deixou sua terra em direção ao sul, como uma peregrina. Deu à luz uma menina numa pousada em Toledo. Deixou a criança nas mãos de seus anfitriões, prometendo buscá-la depois de dois anos. Mas nunca o fez; a morte a impediu. Quinze anos, um mês e quatro dias se passaram. O nome da garota é Costanza. Aos 15 anos ela é a mulher mais bonita de acordo com quantos homens a viram. De nenhum, entretanto, ela aceita seus requebros de amor. “É dura como um mármore [...