Jorge Reis-Sá




Jorge Reis-Sá nasceu em 9 de abril de 1977 em Vila Nova de Famalicão. Foi aluno entre 1994 e 2000 dos cursos de Astronomia e Biologia na Universidade do Porto e estagiário no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular nessa mesma instituição, quando estudou genética populacional. 

Um perfil que se escreve com esses dados logo à introdução poderá servir para os casos de uma biografia centrada no desenvolvimento de uma carreira acadêmica. Sim, parece que era esse o sonho de Reis-Sá até que tenha sido tomado pela iniciativa de largar essa possibilidade de vida para se tornar editor. Sabedores do declínio acelerado dos artefatos de papel nessa era do digital, poderíamos, concluir, para já, que ele trocou um futuro promissor por um cuja a iminência da ruína toda hora se abre aos seus olhos. Não faríamos esse tipo de pergunta a ele, mas parece que, a troca de áreas serviu-lhe para o seu propósito maior: dar pulso a seu trabalho com a palavra.

Como editor, Jorge Reis-Sá fundou as casas Quasi Edições e Editorial Magnólia, inseridas na empresa Do Impensável – Projecto de Atitudes Culturais também dirigida por ele. E nesse conglomerado também começou o tratamento de sua obra - ainda com circulação esparsa pelo Brasil, mas já não de um todo desconhecida daqueles leitores mais atentos aos trânsitos entre o nosso e o país do escritor. 

O projeto editorial se deu por largado (ou pausado) em 2009, mas sua atuação na área não; nos anos seguintes passou a editar na editora Babel, Glaciar e presta serviço como consultor editorial para várias outras casas do gênero. Essa modificação nos projetos, embora se guie por motivos muito específicos, culmina na especulação que levantamos acima: editar para construir um nome, uma projeção, duas coisas de difícil exercício numa época em que todos parece seduzir-se demais pelo fetiche do ser escritor. 

Em 1999, Reis-Sá publicou seu livro de estreia: a antologia de poemas À memória das pulgas da areia. Ao que se seguiu outras experimentações na poesia e também na prosa (crônica, conto e romance). Parte desse exercício como escritor se desenvolve ainda para vários meios midiáticos, como as revistas Ler e Sábado, dois dos veículos culturais mais importantes de Portugal. 

Na poesia, Jorge Reis-Sá publicou além do livro de 1999, Quase e outros poemas de querença e A palavra no cimo das águas (2000), Biologia do homem (2004 e disponível no Brasil pela editora Escrituras), Livro de estimação (2006), Poema ao filho (2007), Vou para casa (2008) e Teoria dos conjuntos (2009). 

Dentre as edições do romance, destacam-se Todos os dias (2006) e Dom (2007) – os dois publicados no Brasil pelo Grupo Editorial Record. Essas obras, segundo por Pedro Fernandes em um curso onde abordou a relação entre produções do romance brasileiro e português contemporâneos, firma-se como fundamentais na compreensão dos fluxos do sujeito na contemporaneidade porque colocam em evidência os estatutos do mundo vigente, seja por sua perspectiva comunicativa – inauguradora de novos modos no trabalho com a linguagem e com o fazer literário, consequentemente – seja por sua perspectiva temática, sobretudo, reinventando temas de interesse ao espelho da modernidade e ainda dispersos de significação literária.

Em Portugal, saíram ainda, na ficção os livros Todos os dias (2006) e Terra (2007). E a esses títulos somam-se outros entre a crônica e o ensaio, tais como Eu quero é que não me chateiem (2002), Dos dias e dos seus pequenos charcos (2003) e Os esquilos de Long Island (2008) e literatura para crianças. 

Além da sua própria obra, Jorge Reis-Sá tem guardado interesse em cuidar da obra de outros autores, seja por meio do resgate ou da ordenação de suas próprias leituras em antologias. São, neste sentido, a publicação de O último coração do sonho, de Al Berto ou Poemas portugueses: antologia portuguesa do século XIII ao século XXI, construída em colaboração com Rui Lage.

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