Lawrence da Arábia, de David Lean



Épico ambientado o deserto explora, na forma de espetáculo, os limites do indivíduo alçado à estatura de herói

Se há um sinônimo para cinemão, este foi durante anos identificado com os filmes de David Lean. O aumentativo se justifica por seu completo domínio nas narrativas de dramas épicos, no uso recorrente do formato cinemascope, pelo apuro visual de tirar o fôlego (era capaz de esperar dias por um pôr-do-sol perfeito) e pela longa duração de seus filmes.

Lean já era um veterano de histórias fascinantes (como Desencanto, de 1945, e as duas adaptações de clássicos de Charles Dickens – Grandes Esperanças, de 1946, e Oliver Twist, de 1948) quando, na década seguinte, só confirmou sua habilidade em produzir espetáculos, como A ponte do rio Kwai, de 1957.

Ao longo dos cinco anos seguintes, o diretor entregou-se à difícil tarefa de traduzir em imagens as reflexões existenciais e políticas do escritor T. E. Lawrence, oficial que liderou as forças britânicas em combate contra a Turquia durante a Primeira Guerra Mundial e deixou suas memórias da experiência registrada em Os sete pilares da sabedoria.

Desde sua publicação, em 1922, o relato interessou cineastas, que viam nele um heroísmo singular cujas dimensões o cinema poderia amplificar. Ciente disso, Lean filmou a história sem perder de vista nem o indivíduo nem a magnificência das paisagens do deserto, dosando na medida o volume de ação e o de reflexão e entregando ao público uma experiência visual que só a arte cinematográfica é possível.

No início, conhecemos a personagem (interpretado por Peter O’Toole) ainda jovem, mas decaído fisicamente ao fim de uma dura campanha no deserto. No Cairo, ele recebe como missão partir ao encontro do rei Faissal (Alec Guinness) e verificar a situação de uma revolta tribal na Arábia. No caminho, ele é abordado por um rebelde, Sherif Ali (Omar Sharif), que, hostil em princípio, acaba se transformando em seu principal aliado na tarefa de reunificar os árabes.

Com uma estrutura em episódios, o diretor consegue transmitir as ambigüidades do heroísmo do protagonista, envolvido em lutas sangrentas nas quais emerge sua consciência do grau de interferência do colonialismo na autonomia de outros povos.

Indicado a dez categorias do Oscar em 1963, o filme terminou a cerimônia com sete (entre elas as de Melhor Filme, Fotografia e Direção).

* Revista Bravo!, 2007, p. 24


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