Boletim Letras 360º #107

Uma semana que inicia o fechamento do Mês da Poesia. Depois de enviarmos quatro livros de poemas aos amigos do Letras, estamos ofertando outros quatro. Visitem nosso Facebook e saibam como fazer para ganhar. Mas, um Mês da Poesia do qual saímos mais pobres: estamos sem Herberto Helder e sem Tomas Tranströmer. E isso num curso espaço de tempo. Mas, o que fazemos? A vida é assim: passageira. Leia mais informações sobre ao longo de nosso boletim mais as outras notícias que circularam essa semana em nossa página no Facebook. 

O centenário de uma revista que extrapolou suas pretensões para ser eterna. Orpheu. Ao longo deste boletim informações sobre celebrações pela passagem da data.


Segunda-feira, 23/03

>>> Portugal: 100 anos de Orpheu

1. Brasil e Portugal celebram uma das datas mais importantes para o movimento modernista: o centenário da Revista Orpheu. A parceria entre países é celebrada no grande colóquio interpaíses 100 anos de Orpheu. 2. Em terras lusas, a Biblioteca Nacional, abre no dia 24 a exposição "Os Caminhos de Orpheu", organizada por Richard Zenith, que mostra o percurso da revista desde os seus antecedentes até às posteriores tentativas de Pessoa para ressuscitar o projeto. A par de muitos outros materiais que documentam a história de Orpheu, e não esquecendo a importância que as artes plásticas e gráficas tiveram no movimento, a exposição inclui vários papéis inéditos, incluindo documentos que demonstram que o envolvimento de Pessoa na produção do célebre número zero da revista Contemporânea, em 1915, foi muito mais decisivo do que se pensava. 3. Ocupando vários espaços da Casa Fernando Pessoa (CFP), inaugura-se a 25 a exposição "Os Testamentos de Orpheu", de Pedro Proença. E a CFP está ainda a desenvolver com o Instituto Camões (IC) uma outra mostra – "Nós, os de Orpheu" –, que circulará em Portugal e na rede internacional do IC. E, a partir de 28 de Março, propõe-se fazer regressar Orpheu aos cafés onde o projeto foi pensado e discutido, convidando atores a ler textos que convoquem “o espírito do grupo” que fez a revista.

>>> Portugal: Os leitores já podem ler a 34ª edição da Revista Blimunda

A edição traz fotografias sobre a exposição "Gênesis", de Sebastião Salgado e sobre documentário "O Sal da Terra", de Wim Wenders e Juliano Ribeiro, autores de um retrato íntimo do artista brasileiro. Destaque para uma entrevista com o escritor cubano Leonardo Padura, com o português Manuel Jorge Marmelo e o alemão Michael Kegler. Na seção infantil e juvenil, uma entrevista com a escritora e pedagoga brasileira Ana Maria Machado. Na seção bimestral dedicada ao Cinema, o alvo é o polêmico "American Sniper", de Clint Eastwood, obra polêmica numa Hollywood liberal. Por fim, o escritor açoriano João de Melo, assina um texto sobre a relação de José Saramago com a Espanha na seção Saramaguiana. Para baixar a edição basta ir aqui.

>>> Espanha: Encontrar Cervantes: cada fase uma fase

E já não será uma saga? O trabalho em Espanha poderá ganhar uma nova linha de investigação: se confirmado que a Igreja de São João Baptista de Arganda del Rey, em Madrid, acolhe os restos mortais de uma avó do escritor. A partir daí quererão extrair deles o DNA mitocondrial que permita estabelecer com maior certeza a identidade das ossadas na cripta da das Trinitárias. O DNA em questão não permite a identificação direta dos indivíduos, mas serve para definir linhagens. Neste momento, o passo essencial será estudar fontes e tradição oral para confirmar que os restos mortais de Elvira de Cortinas estão realmente no local onde suspeitam que estão. A igreja foi edificada entre 1700 e 1717 sobre uma igreja anterior, datada do século XV e no espaço que se manteve partilhado entre as duas edificações, numa zona de destaque junto ao altar, que se supõe estarem as ossadas de Elvira e de seu pai, Diego Sánchez Cortinas, apelidado “o Alcaide”. Leia mais sobre: (1) O início das buscas (2) Diante de um ataúde com as iniciais de Miguel de Cervantes (3) O que fazer se encontram Miguel de Cervantes (4) Um ponto final nas buscas por Cervantes?

Terça-feira, 24/03

>>> Portugal: 100 anos de Orpheu

1. Além dos eventos, iniciativas editoriais assinalam o centenário de Orpheu. A editora portuguesa Tinta-da-China edita 1915 – O Ano do Orpheu, com organização de Steffen Dix e uma belíssima edição com capa inspirada no grafismo do segundo número da revista centenária. O livro reúne textos de mais de 20 pesquisadores, contextualizando o surgimento da revista, abordando as experiências afins noutras literaturas europeias e tratando individualmente os “órficos” mais relevantes. 2. Em Abril, a Assírio & Alvim lançará, na coleção Pessoa Breve, o volume "Sobre Orpheu e o Sensacionismo", co-organizado por Fernando Cabral Martins e Richard Zenith. Junto a um texto sobre a revista publicado no blog editamos uma edição fac-similar da 1ª edição do periódico responsável por concretizar num só espaço a força ímpeto criativo sem precedentes na história da literatura de língua portuguesa. Acesse aqui.

>>> Portugal: Morreu o poeta Herberto Helder

O poeta que nasceu em 1930 no Funchal morreu em casa em Cascais. As causas da morte não foram reveladas. Era considerado o maior poeta português da segunda metade do século XX. No ano passado, em Junho, publicou A morte sem mestre (Porto Editora — numa edição que incluía um CD com cinco poemas ditos pelo autor) Em 2013 havia publicado Servidões. Desde a publicação de A faca não corta o fogo, em 2008, tornou-se um caso de consenso crítico quase absoluto. "Herberto Helder foi um poeta poderoso, a sua obra foi um centro de atração e um horizonte em relação ao qual todos os seus contemporâneos tiveram de se situar. Como antes tinha acontecido com Fernando Pessoa, também houve um 'efeito Herberto Helder'", diz o crítico António Guerreiro.

- Ainda em 2014, nosso colunista Pedro Belo Clara escreveu sobre "Os passos em volta", leia aqui.
- A edição n.10 do caderno-revista 7faces compilou um texto-depoimento de Herberto sobre Sophia de Mello Breyner Andesen. Para ler o texto acesse a edição aqui.
- E no blogdo caderno-revista 7faces é possível ler (e ouvir) "Poemacto II".

>>> Moçambique: Mia Couto entre os finalistas do Man Booker International Prize

O escritor manifestou-se surpreendido com o seu nome da grande lista. Além do moçambicano outros quatro africanos estão entre os 10 finalistas. A lista divulgada hoje tem nomes como César Aira (Argentina), Hoda Barakat (Líbano), Maryse Condé (Guadalupe), Amitav Ghosh (Índia), Fanny Howe (Estados Unidos da América), Ibrahim al-Koni (Líbia), Lázló Krasznahorkai (Hungria), Alain Mabanckou (República do Congo) e Marlene van Niekerk (África do Sul). Nenhum dos escritores selecionados foi finalista de qualquer edição anterior do prémio e a proporção de autores traduzidos em inglês é a maior de sempre, cifrando-se em 80%, refere a organização.

>>> Angola: Diamantes de Sangue – Corrupção e Tortura em Angola, o livro que tem custado a liberdade de seu autor

Trata-se de uma investigação do jornalista Rafael Marques publicada pela Tinta-da-China, e é um dos mais importantes trabalhos para denunciar flagrantes crimes de violação dos direitos humanos nos nossos dias. Assim define sua editora, que se vê no papel de "dar voz a quem ousa dizer a verdade em circunstâncias absolutamente adversas, com base em centenas de relatos de vítimas e familiares". O livro tem causado ainda mais indignação da parte dos poderosos. E segundo denuncia a editora, desencadeou uma onda de perseguição ao seu autor. Para fazer pública a causa pela qual Rafael é agora julgado, a edição foi disponibilizada em formato digital (aqui), "para que todos possam lê-lo e perceber o que está na base de um processo que pode vir a colocar o autor atrás das grades". "Luto contra a corrupção, porque a corrupção é a arma mais sofisticada que o regime usa para subjugar a sociedade, para desmoralizar a população.", manifesta Rafael em texto publicado esses dias no jornal The Guardian.

Quarta-feira, 25/03

>>> Portugal: Filme sobre António Lobo Antunes

As filmagens de As cartas da guerra terão início este ano. O filme, já foi há muito anunciado. Dirigido por Ivo Ferreira, trata-se de uma adaptação para o livro D'este viver aqui neste papel aqui descripto - cartas da guerra, que recolhe a correspondência entre o escritor português e sua primeira mulher, Maria José Fonseca e Costa, durante o seu serviço militar na guerra em África. A edição foi organizada, então, pelas filhas do casal, Maria José e Joana Lobo Antunes em 2005.

>>> Brasil: Antologia organizada por Ana Miranda ganha reedição

Publicada nos anos 1990, Que seja em segredo reúne poemas eróticos de autoria de freiras ou inspirados nelas e escritos na devassidão dos conventos brasileiros e portugueses dos séculos 17 e 18. Os escritos são de uma época em que a vocação religiosa não era o principal motivo para jovens serem enviadas aos conventos; na ocasião, qualquer mulher considerada fora dos padrões podia acabar enclausurada e esse era muitas vezes o destino das moças excessivamente sexuais, rebeldes, homossexuais, bastardas, das amantes indesejadas e das que perdiam a virgindade antes de se casar ou até mesmo por estupro. Atraídos pela proibição padres e outros homens sempre aproveitam as missas ou os próprios conventos para envolvimentos sexuais com as freiras. Organizado por Ana Miranda, os poemas dessa antologia têm um grande traço documental e mesmo de denúncia sobre a hipocrisia do cerceamento religioso.

Quinta-feira, 26/03

>>> Portugal: A obra de Judith Teixeira

Poesia e Prosa, organizada por Cláudia Pazos Alonso e Fabio Mario da Silva, chega às livrarias portuguesas com cinco livros de nome esquecido do modernismo português, e ainda uma conferência inédita. Editado pela D. Quixote as novas edições trazem ainda cerca de vinte poemas desconhecidos.
Natural de Viseu, Judith Teixeira publicou três livros de poesia e um de contos, entre outros escritos. O silenciamento em torno da obra da poeta data desde sempre: em meados da década de 1920, exemplares do seu livro Decadência foram apreendidos, juntamente com os títulos Canções, de António Botto, e Sodoma divinizada, de Raul Leal, e mandados queimar por ordem do então Governo Civil de Lisboa; a imprensa chegou rotular a poeta de "desavergonhada". Também sabe-se que Fernando Pessoa declarou que Judith Teixeira não tinha "lugar, abstrata e absolutamente falando" no modernismo português.

>>> Brasil: Fronteiras do Pensamento 2015 traz Valter Hugo Mãe

O evento foi concebido em 2006 em Porto Alegre, com o objetivo de oferecer uma ampla compreensão das mudanças sociais, econômicas, culturais e políticas do período. Daí, já esteve presente em várias cidades brasileiras e concentrado atividades entre a capital gaúcha e São Paulo. Ao longo do ano são apresentadas várias conferências e na história do Fronteiras já passaram nomes como Mia Couto, Edgar Morin, Beatriz Sarlo, Carlo Ginzburg, Mario Vargas Llosa, Marshall Berman, Michel Houellebcq, Milton Hatoum, Orhan Pamuk, Salman Rushdie, Terry Eagleton, Bauman, entre outros. Para 2015, o programa conta com a presença de nomes como Richard Dawkins (maio), Valter Hugo Mãe (agosto) e Ferreira Gullar (setembro). No site do evento, todas as informações e uma pluralidade de materiais interessantes.

>>> Brasil: Livro com conferências de Walter Benjamin para crianças

Certa vez dissemos por aqui sobre o trabalho de intervenção de Benjamin no processo de educação das crianças alemãs nas décadas de 1920 e 1930. Pois bem, parte delas inéditas em língua portuguesa, as chamadas “peças radiofônicas”, são compostas por conferências, resenhas de livros e histórias apresentadas pelo teórico em programas de rádio de Berlim e Frankfurt. Foram, ao todo, 86 programas com periodicidade variada, 60 dos quais ele mesmo se encarregou da leitura de apresentação. Propor uma programação que tivesse por interlocutores as crianças, no contexto do surgimento de uma nova tecnologia – o rádio, presente apenas há três anos no contexto alemão – dá-nos a dimensão do lugar ativo que Benjamin reserva às crianças na cultura. O livro reúne 29 textos que serviram de base para os programas radiofônicos, apresentando, de forma “miniaturizada” os grandes temas que atravessam a obra do autor: arte, técnica, política, cultura, história, memória e experiência. A edição é da Nau Editora.

Sexta-feira, 27/03

>>> Morreu o poeta Tomas Tranströmer

O sueco, Prêmio Nobel da Literatura de 2011, morreu aos 83 anos. O anúncio foi feito esta sexta-feira pelo jornal sueco Svenska Dagbladet citando um membro da Academia Sueca. No seu Twitter oficial, a Academia Sueca expressou pesar e anunciou que o poeta morreu na quinta-feira. Psicólogo de formação, tinha sofrido um AVC em 1990, perdendo as faculdades motoras. A par da sua profissão de psicoterapeuta, que só abandonou depois de adoecer, era também pianista e organista. Mesmo depois de ter ficado doente publicou várias obras. Era desde 1973 o poeta sueco mais traduzido no mundo. Na altura em que lhe foi atribuído o Prêmio Nobel da Literatura, em 2011, o júri da Academia elogiou-lhe as "imagens condensadas e translúcidas" da sua poesia. Em julho de 2014 editamos uma matéria com inéditos do poeta sueco. Leia aqui.

>>> Inglaterra: Um filme sobre Agatha Christie

Agatha investigará um mistério real da vida da escritora: seu misterioso desaparecimento em dezembro de 1926, fato que causou grande comoção pública na época. Christie saiu de casa na noite de 3 de dezembro de 1926 depois de uma briga com o marido, o coronel Archibald Christie, após ele pedir o divórcio. Na saída apenas um bilhete com a sua secretária explicava que iria para o norte da Inglaterra. No entanto, o seu carro foi encontrado mais tarde, não muito longe de sua casa, perto de um lago, com várias roupas suas. O caso noticiado na primeira página do The New York Times levou 15 mil voluntários e mil policiais à procura da escritora; Arthur Conan Doyle chegou até contratar um médium e deu-lhe uma das luvas de Christie para tentar ajudar a investigação. Dez dias depois ela foi encontrada no Swan Hydropathic Hotel, em Harrogate, Yorkshire, onde tinha sido registrada como a senhora Teresa Neele, da Cidade do Cabo, África do Sul. Mas a intriga só aumentou após o seu regresso, quando dois médicos a diagnosticaram com amnésia, e ela insistiu que não tinha nenhuma lembrança dos acontecimentos dos últimos 11 dias. Christie nunca divulgou a razão pela qual esteve ausente por tanto tempo, mas supõe-se que a infidelidade do marido, a sua depressão por escrever constantemente e a morte da sua mãe no início daquele ano tenham lhe causado um colapso nervoso.

>>> Estados Unidos: 2666, de Roberto Bolaño para o teatro

Alguém duvida que as mais de 900 páginas servem para uma peça de teatro? Bom, Robert Falls, sim. O romance é adaptado para o teatro em Chicago e tudo porque Falls, um dia, passeando por Barcelona viu uma propaganda do livro com muitas cruzes cor de rosa. Aquilo lhe chamou atenção. Comprou o romance. Leu-o. E decidiu adaptá-la para o teatro. Agora, quem se aventuraria financeiramente num projeto desses? É quando Falls se cruza com Roy Cockrum, um ator que viu a obra como magnífica também (mas em Inglaterra) e decidiu que se encontrasse alguém interessado em adaptá-la financiaria. Pronto! Aí está, uma apresentação de pouco mais de cinco horas de duração que traz em cena, entre outras coisas, muitas cruzes cor de rosa.

>>> Brasil: Nova edição do livro-ícone do Concretismo brasileiro

Em 2001, a Ateliê Editorial publicou uma nova edição do livro Viva Vaia, de Augusto de Campos, revisada e com a ortografia atualizada, considerada pelo poeta a edição mais completa dessa sua obra. Agora, a editora reedita a obra que é, segundo o próprio poeta a mais completa. Com projeto gráfico original, de Julio Plaza, essa edição devolveu a impressão cromática a alguns poemas como os “popcretos” "Olho por Olho", "ss", "O Anti- Ruído", e "Goldweater", que foram expostos na Galeria Atrium, em 1964, juntamente com os quadros-objetos de Waldemar Cordeiro. Originalmente construídos com colagens de recortes de jornais e revistas, em dimensões de cartaz, e montados em chassis de madeira para a mostra, esses poemas não são fáceis de reproduzir. Este volume contém um encarte com o poema-objeto “Linguaviagem”, e traz ainda o cd Poesia é Risco, que contém quinze poemas musicados por Cid Campos, filho do autor.

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