Filmes sobre a Inconfidência

Por Pedro Fernandes


Cena de Os inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade.


Encerrando a Semana sobre a Inconfidência posto uma dica de dois filmes brasileiros acerca do fato histórico. Sem dúvidas, o fato é o mais recorrente na cinematografia nacional, segundo observação da historiadora Miriam de Souza Rossini, docente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul na abertura do Cadernos IHU-Idéias edição 71, intitulado O passado e o presente em Os inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade. Prova disso, explica Rossini, são os onze filmes sobre o tema, entre longas e curta-metragens (levantamento feito até a altura de publicação do estudo).


1. Os inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade (1972)

A decisão de Joaquim Pedro de Andrade de filmar uma versão da Inconfidência Mineira teve vários fatores: “as duas experiências na prisão durante a Ditadura Militar (1966 e 1969); os relatos de ex-guerrilheiros torturados que apareciam na tevê renegando seus ideais; a leitura dos Autos de devassa, que voltavam a ser discutidos em função de sua nova edição para comemorar o Sesquicentenário da Independência; e a indignação contra a visão oficialista do filme Independência ou morte, também de 1972, de Carlos Coimbra, cooptado pelo governo militar para também ser utilizado naquela comemoração cívica”. Outro motivo decisivo para a filmagem foi o “tom ufanista daquele início dos anos 1970, que escondia seu lado mais cruel – a tortura, a repressão, a falta de liberdade. Fazer um filme que questionasse as verdades oficiais e, ao mesmo tempo, encontrasse outros sentidos para aqueles fatos era o interesse manifesto do diretor, e a Inconfidência Mineira parecia-lhe perfeita para isso” ressalta Miriam.

2. Tiradentes, de Oswaldo Caldeira, (1999)

Mergulhado em uma intensa pesquisa sobre Joaquim José da Silva Xavier para a defesa de sua tese de doutorado na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o cineasta Oswaldo Caldeira deparou-se com um Tiradentes sem rosto. Descobriu que não havia registros que o identificassem, mas um onipresente estereótipo de mártir da Inconfidência. A tese rendeu o projeto de Tiradentes, com apoio da Riofilme e da NUCINE - Núcleo de Cinema da ECO/UFRJ, além de dois livros. Um abrange o making of e o outro revela o roteiro, comentários e fontes de pesquisa. Identificado como o mentor da Inconfidência Mineira (1789), um dos mais importantes movimentos históricos do Brasil, o dentista autodidata foi enforcado em 1792 e seus companheiros conspiradores foram condenados ao degredo, o que contribuiu para consolidar uma figura santificada e trágica.

Para questionar e derrubar essa visão, Oswaldo Caldeira apresenta um Tiradentes aventureiro, visionário e um tanto ingênuo, apaixonado por causas justas e mulheres bonitas, um traço de semelhança com um dos personagens fascinantes de Caldeira, o louco de O Grande Mentecapto. O filme realiza uma colagem de citações literárias e fatos que recuperam o caráter humano de personagens fossilizados nos livros de história, como o delator dos inconfidentes, Joaquim Silvério dos Reis (Rodolfo Botino), o poeta Tomás Antônio Gonzaga, imortalizado pelos versos feitos a sua amada Dorotéia em Marília de Dirceu, e Cláudio Manoel da Costa (Emiliano Queiroz), um dos articuladores do movimento que sonhou com um Brasil diferente.

* Os dados acerca do filme Os inconfidentes são do texto da professora Miriam de Souza Rossini, docente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS - na abertura do Cadernos IHU Idéias edição 71, intitulado O passado e o presente em Os inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade; Já os acerca do fime Tiradentes são da página Zás Cinema.

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