John Steinbeck no cinema

cena de As vinhas da ira, um dos filmes a partir de uma obra de John Steinbeck mais conhecidos.


O cinema foi generoso como Steinbeck e ele com o cinema. Foram feitas, desde que alcançou a notoriedade ainda jovem (publicou em plena efervescência liberal rooseveltiana As vinhas da ira em 1937 e havia nascido em 1902, tinha, portanto, 35 anos) 17 filmes sobre obras suas e não seria estranho ver outras nos próximos anos. O sucesso cedo levou também a ser quisto para a escrita de alguns roteiros – tarefa que levou ser indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original pelo filme Um barco e nove destinos, de Alfred Hitchcock.

Da extensa leva de títulos há quatro filmes mais famosos cuja narrativa é produto de uma adaptação da obra de Steinbeck. Além de As vinhas da ira, adaptada por John Ford em 1940, houve Boêmios errantes, dirigido pela solvência e sutileza com que Victor Fleming representava as ambiguidades sexuais nas relações entre amigos – Spencer Tracy e John Garfield executaram com maestria um desses primorosos duetos masculinos que aparecem nos ensaios a gênio de Hollywood.

Não possível esquecer, na sequência, do roteiro elaborado pelo escritor para o filme de Hitchcock em 1944; num bote salva-vidas no meio do Atlântico vemos uma das escassas aparições na grande tela da genial Tallulah Bankhead, uma das melhores atrizes da Broadway, o nome no qual Joseph Mankiewicz se inspirou para compor a personagem de Margo Channing que Bette Davis criou em A malvada. Depois, Vidas amargas, adaptação de Elia Kazan em 1955 da primeira parte do volumoso romance e que desencadeou o mito de James Dean.

Outros filmes de Steinbeck são The forgotten village, dirigido por Herbert Kline em 1941, sobre a vida de uma aldeia mexicana; as duas adaptações de Ratos e homens, realizada uma por Lewis Milestone em 1939 e a outra por Gary Sinise em 1992;  A lua no ocaso, dirigido em 1943 por Irving Pichel; A peróla, adaptação do conto de mesmo título realizada em 1946 pelo diretor mexicano Emilio Fernández; O pônei vermelho, novamente dirigido por Lewis Milestone em 1949; e Ciúme, tempero do amor de 1957 por Victor Vicas. A estes filmes sobre obras suas há que juntar os roteiros de O’Henry, sobre quatro contos deste raro e magnífico escritor nova-iorquino e o muito notável Viva Zapata! dirigido por Elia Kazan.

A dinamicidade e facilidade para isolar e encadear ações que se deixam dramatizar e visualizar é a raiz dessa formidável aparição na grande tela da obra de John Steinbeck. Muitos de seus textos podem ser vistos enquanto se leem. Mas isso, além de um lugar cativo na história do cinema, serviu ao menosprezo de um ou outro literato opaco e sem compreender o sentido sobre as imagens e suas conexões com a forma na construção de uma narrativa singular. Agora, tanto tempo depois, é possível visualizar que uma e outra coisa (o trato narrativo e ser bem-quisto pelo cinema) se igualavam na qualidade genial de sua obra.


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