Boletim Letras 360º #160



A semana está marcada por uma daquelas perdas irreparáveis: desta vez estamos sem o escritor Imre Kertész (imagem), Prêmio Nobel de Literatura de 2002. Esta é uma das notícias de destaque no conjunto de informações que deram forma aos vários encontros nossos com os leitores de nossa página no Facebook – página que chegou aos 25 mil amigos! Todos são muito bem-vindos!

Segunda-feira, 28/03

>>> Inglaterra: Vai a leilão um lote de 230 peças de cerâmica realizadas por Pablo Picasso

De 1947 até a década de 1970, Picasso dedicou a mesma paixão que tinha pela pintura à cerâmica –desde o desenho e a escultura. O encanto por essa forma de trabalho nasce no verão de 1946, quando o artista conheceu os ceramistas Suzanne Douly e Georges Ramié em seu estúdio Madoura, na cidade francesa de Vallauris. Foi ela quem convenceu a Picasso para que fizesse edições numeradas de cerâmica. O leilão é realizado pela Sotheby's no próximo 5 de abril e as peças estão avaliadas entre mil e cem mil euros.

>>> Inglaterra: Uma nova investigação defende que o crânio de Shakespeare terá sido roubado em 1794 da sua sepultura

Os detalhes foram mostrados no documentário Secret History: Shakespeare’s Tomb apresentado no Channel 4; a novidade – que não tem nada de nova – veio renovar algum interesse sobre a morte do bardo inglês que neste 2016 chega aos 400 anos. A história de que a tumba de Shakespeare foi violada e o seu crânio levado para longe da Igreja da Sagrada Trindade, em Stratford-Upon-Avon, onde foi sepultado data de 1879; na ocasião, a revista The Argosy publicou um artigo revelando que o roubo teria ocorrido em 1794 por um médico da localidade, Frank Chambers, numa altura em que a craniometria ganhava espaço no universo científico – ramo de estudo hoje rebaixado ao status de pseudociência. Naquele contexto, o crânio do genial Shakespeare só poderia ser alvo de especial cobiça. O artigo da The Argosy nunca foi levado a sério, mas Kevin Colls, do Centro de Arqueologia da Universidade do Strattfordshire e líder da equipe responsável pelas novas pesquisas diz agora que “se o relato do assalto à sepultura é uma história inventada, então é inacreditavelmente precisa em todos os detalhes”. Segundo contou ao New York Times, bate certo a profundidade das escavações para o roubo, bem como o percurso seguido pelos ajudantes de Frank Chambers; os resultados das pesquisas com georradar iniciadas em 2014 acusam ainda possível ausência do crânio do escritor.

Terça-feira, 29/03

>>> Portugal: Arquivo Herberto Helder já se encontra integralmente digitalizado

A notícia é do jornal português Público na data que se assinala um ano da morte do poeta. HH não era de guardar rascunhos ou de manter arquivos de correspondência, mas deixou, ainda assim, entre outros papéis, vários cadernos com inéditos, um livro de poemas em prosa que nunca foi publicado e uma antologia de quadras populares. A iniciativa de digitalização desse material é do ensaísta Arnaldo Saraiva, que conseguiu o apoio da Fundação Gulbenkian para custear o trabalho e intermediou o seu depósito na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP); ele espera ainda que a própria biblioteca de HH possa vir a ser depositada na instituição que recebe agora duas importantes bibliotecas, a do historiador da literatura e linguista Óscar Lopes (1917-2013) e a do escritor Vasco Graça Moura (1942-2014). O arquivo de HH teve conter perto de “duas mil e tal imagens”, incluindo reproduções de fotografias e alguns artigos de jornais que o poeta recortou, e que nem sempre dizem respeito à sua obra. Alguns desses manuscritos aparecem integrados a edição Letra aberta publicada na mesma data do anúncio e que recolhe inéditos organizados pela viúva do escritor.

>>> Inglaterra: Um conto inédito de Beatrix Potter será publicado em setembro.

The Tale of Kitty-In-Boots (O conto da Gata de Botas, tradução livre) foi escrita por Beatrix Potter há mais de 100 anos, mas ficou inacabado. Há dois anos a editora Jo Hanks, da Random House, encontrou uma referência à sua existência numa carta de Potter para o seu editor, em 1914. A autora referia a história de “uma gatinha preta bem comportada que na verdade leva uma vida dupla” e mencionava um manuscrito ainda não publicado. Uma pesquisa nos arquivos de Londres do Victoria & Albert Museum, que tem grande parte do espólio de Potter, permitiram encontrar três manuscritos em cadernos escolares, um desenho a cores de Kitty-in-Boots (imagem) e um desenho a carvão do vilão, Mr. Todd. Outras cartas no arquivo de Beatrix Potter mostram que a autora tencionava terminar este conto mas ele foi sucessivamente interrompido. Em 1914 começou a Grande Guerra, depois morreu o pai de Beatrix e ela, que tinha casado há pouco, começou uma nova vida, tomando conta da sua quinta. Potter morreu em 1943. Como a história original não estava ilustrada, Quentin Blake foi convidado a ilustrar esta história, a partir dos desenhos originais. O novo livro será publicado na Inglaterra, EEUU e Canadá em setembro – e assinala os 150 anos do nascimento da escritora inglesa.

>>> Brasil: Há muito fora de catálogo, O tradutor cleptomaníaco e outras histórias de Kornél Esti, de Dezsö Kosztolányi ganha reedição

Traduzido do húngaro e com notas de Ladislao Szabo, a obra é editada pela Editora 34. “Só o inverossímil é realmente verossímil, só o inacreditável é realmente acreditado” — diz, a certa altura, Kornél Esti, o protagonista deste livro. E é armado com essa lógica dos contrários, uma inteligência afiadíssima e uma simpatia transbordante pelos tipos humanos mais desajeitados que o escritor húngaro Dezsö Kosztolányi (1885-1936) monta e desmonta as suas histórias, assim como um mágico faz as coisas desaparecerem bem diante do nosso nariz para reaparecerem, num piscar de olhos, atrás das orelhas. Com um humor raro, ao mesmo tempo corrosivo e repleto de compaixão, os treze contos aí reunidos pertencem ao ciclo de relatos sobre esse personagem, composto por Kosztolányi em seus últimos anos de vida. Nestas páginas, o leitor é conduzido como que por encanto pela Budapeste dos anos 1920, e outras cidades europeias, onde a vida fervilha nas ruas e nos cafés, nos quartinhos de escritores e em requintados salões de conferência em que se desenrola um sem-número de episódios absurdos, um mais surpreendente que o outro.

Quarta-feira, 30/03

>>> Brasil: Vargas Llosa para os pequenos

O novo romance do escritor peruano Cinco esquinas deve chegar ainda em 2016 às livrarias brasileiras; enquanto isso, a Alfaguara Brasil editou O barco das crianças. Este é o segundo livro do gênero publicado pelo escritor. A primeira incursão de Vargas Llosa pela literatura infantil foi em 2010, ao publicar Fonchito e a lua. O pequeno Fonchito (que também é coadjuvente de vários livros adultos de Vargas Llosa, como O herói discreto) morria de vontade de beijar Nereida, que aceitaria o carinho do menino em troca de um presente: a lua. Em O barco das crianças, Fonchito já é um rapazote que todo dia, a caminho da escola passa por um velhinho que contempla o mar. Interrogado pelo menino, o velho se faz se Sherazade e promete contar uma história – mas só um pedaço por dia. Fonchito volta todas as manhãs para ouvir mais um capítulo da história de um barco apinhado de crianças que singra os mares desde o tempo das Cruzadas. O foi inspirado pelo conto A cruzada das crianças, de Marcel Schwob (1867-1905). O livro traz ilustrações de Zuzanna Celej.

>>> Portugal: Obra reúne pela primeira vez toda a poesia de Alberto Caeiro

Nascido em Lisboa, Caeiro foi um pastor que «viveu quasi toda a sua vida no campo» e que «não teve profissão nem educação quasi alguma». Ainda assim, Fernando Pessoa elevou-o à categoria de mestre de todos os heterônimos e de si mesmo. Mas que tipo de poeta é Caeiro: o mais natural ou o mais artificial que alguma vez existiu? Algumas respostas e outras perguntas poderão aparecer a partir da leitura dessa edição que além de reunir toda a poesia até então conhecida, inclui vários inéditos, a versão integral do caderno de «O Guardador de Rebanhos», repleto de correções e alterações, assim como os textos que Pessoa projetou para a grande apresentação europeia de Caeiro em 1914. A obra publicada pelas Edições tinta-da-china é organizada por Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari.

Quinta-feira, 31/03

>>> Uruguai: Leitores de língua espanhola já têm livro inédito de Eduardo Galeano

El cazador de historias é o último título do escritor que ficou corrigido e pronto para publicação; um ano depois da morte a obra chega aos leitores. São mais de 250 páginas, divididas em quatro partes: “Molinos de tiempo”, “Los cuentos cuentan”, “Prontuario” e “Quise, quiero, quisiera”. Trata-se de uma obra, segundo a crítica, de enorme riqueza, originalidade e crescimento incessante; uma obra cujo estilo é sempre de uma natureza inclassificável. O livro sai ao mesmo tempo na Espanha, México, Colômbia e Argentina e reaproxima dos leitores o Galeano de sempre, bem-humorado, um ativista do amor tomado curiosidade e a indignação.

>>> Hungria: Morreu Imre Kertész, Prêmio Nobel de Literatura de 2002

O escritor nascido em 9 de novembro de 1929 foi primeiro autor de língua húngara a receber o Nobel. Sua obra mais conhecida, Sem destino, publicada em meio à indiferença em 1975, foi finalmente reconhecida como uma obra que “sustenta a frágil vivência do indivíduo contra a bárbara arbitrariedade da História” e “defende o pensamento individual contra a submissão ao poder político”, segundo o júri do Nobel. Imre Kertész, também judeu, sobreviveu ao Holocausto; esteve no campo de concentração de Auschwitz, na Polónia, enquanto adolescente e a sua obra retrata o totalitarismo dos campos de extermínio nazis. Na sua obra, o escritor cruza gêneros literários, misturando o romance com o ensaio, uma meditação sobre o Holocausto e a ditadura. Há quatro anos, depois de escrever 15 livros, o escritor anunciara o abandono da escrita; Kertész é autor de, entre outros, Kaddish para uma criança que não vai nascer (1990), Eu, um outro (1997), A língua exilada (2004) e Liquidação (2005) - estes dois últimos publicados no Brasil pela Companhia das Letras.

Sexta-feira, 01/04

>>> Portugal: A obra como Franz Kafka queria

Em 1916, numa carta dirigida ao seu editor, Franz Kafka expressou a vontade publicar em conjunto três dos seus textos — O veredicto, O foguista e A metamorfose. Passados 100 anos, a editora portuguesa Ítaca decidiu republicar a obra cf. desejava o autor; a edição publicada por editoras como Assírio & Alvim, retorna às livrarias. Kafka chamou essa trilogia de Os filhos, “por existir entre eles uma conexão secreta”. O projeto, na ocasião, não chegou a sair do papel; venceu os interesses da editora que achou melhor publicar somente primeiro A metamorfose e depois os demais textos. Nos três textos torna-se evidente a maneira como Kafka elabora neles uma forma singular de violência que é a violência em família.

>>> Brasil: A arte de escrever sobre livros

A Ateliê Editorial publica Bibliomania, um livro que reúne o encontro entre Lincoln Secco e Marisa Midori Deacto nas páginas da Revista Brasileiros para falar sobre livros. A edição, em capa dura e projeto gráfico de Gustavo Piqueira, faz do livro um objeto raro sobre o próprio livro: das mudanças no mercado editorial, até sonhos, fé e razão.

>>> Portugal: Um dicionário sobre personagens da ficção portuguesa

Este é mais um desdobramento do projeto “Figuras da Ficção”, coordenado pelo prof. Carlos Reis, da Universidade de Coimbra. O trabalho privilegia a personagem enquanto categoria narrativa com reconhecido potencial semântico e diversificada elaboração, em várias épocas e gêneros narrativos. O Dicionário de Personagens da Ficção Portuguesa estará disponível online no segundo semestre de 2016 com acesso livre para todos.

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