Mídia e eleição





Não é de hoje que a mídia brasileira tem estado em posição A ou B durante o período eleitoral. Antes, é verdade, a coisa corria mais sorrateira. Ou não. Talvez a sociedade brasileira ainda não estivesse em alerta para as decisões que eram tomadas na cúpula do poder. Hoje, me parece que a coisa não mudou muito, é verdade: ainda damos crédito a tudo que ela noticia e não vemos que o fato jornalístico é em si caleidoscópico. Isto é, passa-se pela mão de um grupo dotado de uma corrente ideológica, cujo interesse será sempre o de falar em nome de si próprio, fazendo do fato elemento de muitas faces, todas elas aplicáveis. De modo que, hoje e sempre, a mídia tem se posicionado muito claramente no lugar de si própria. O lado, infelizmente, de interesses escusos. E tudo me lembra muito ao cenário costurado no auge da Ditadura, em que a mídia, estando ao lado dos do eixo do mal por causa de seus próprios interesses esteve colocando a mercê toda a sociedade brasileira.

Há que se dizer que, por aqui, digo com conhecimento de causa, a mídia talvez não ocupe a posição de quarto poder, mas de poder único, entrelaçado pelo rol dos outros três poderes, manipulando-os ao seu bel prazer. E lembro, por exemplo, para sair por um só instante da relação mídia-política, da leva de casos jurídicos em que mídia esteve metida, propondo julgamentos antes mesmo de a Justiça considerá-los oportunos.

Retomo, entretanto, o período da Ditadura, em que no seu auge, a mídia esteve ao lado dos ditadores. Na época a escolha não se deu apenas porque os ditadores quisessem uma mídia para si, mas por uma escolha própria na ambição em se tornar o centro do poder. Anos depois da Ditadura, a mídia se vale daquele mesmo cenário para impor um terrorismo barato aos que lhe assistem. Em qualquer caso que se note uma dose pequena que seja de intervenção do Estado lá está ela ressuscitando o fantasma dos Anos de Chumbo para se por como vítima. A mídia tem duas caras. Quando deveria se colocar em pose neutra, ela se coloca em pose de entremeio pendendo sempre para o lado em que mais lhe favorece. Não tem opinião própria e acaba por se tornar tão vítima quanto nós que somos manipulados, quando ela está nas mãos dos outros poderes.

A mídia brasileira é terrorista. Lança-nos diariamente inocentes torpedos que aos menos avisados são capazes de desconstruir as estruturas de si. E sabendo que nossa estrutura é frágil porque ainda somos um rebanho que facilmente se vê teleguiado pela sombra do que ela propaga faz-nos de besta inocente usando a hipócrita palavra "imparcialidade". Eu pergunto o que é essa tal de imparcialidade. Nunca a vi. É-me totalmente estranha. É-me vocábulo vazio. Sem nexo. E levado a ferro e fogo, mareado constantemente pela boca da mídia. Temos antes de entender que a mídia trata-se de um corpo pulsante. Como corpo ela necessita de certos vitalismos que a sustentem. Os certos vitalismos que a sustentam vem da capacidade sempre nociva de intervencionista, principalmente naqueles momentos quando não se deve assim proceder.

Outra farjuta ideia é esta de que o usuário da mídia tem toda a liberdade de ser como realmente se é, afinal, ela se posiciona como a Democracia vestida de saia e tudo. Não conheço a palavra liberdade, como não conheço a palavra democracia. Uma mídia que prima pelo desrespeito para com os pobres, os gays e tudo aquilo que ela não considera "normal" não pode ser uma mídia que prima pela liberdade. Para além disso, uma mídia que cerceia a voz do povo quando mais o povo precisa dela - que é durante os quatro anos de mandato dos candidatos que elegemos - não pode ser vista como uma mídia democrática.

A mídia brasileira é uma farsa. Muito bem montada. Aproveita-se da capacidade de manipulação do real - porque tem o domínio da palavra e da imagem - e instaura bolhas de viver disfarçadamente. A mídia deforma o real, o corrompe. E nada é inocente, tudo se dá num plano escuro o qual não temos o acesso que devíamos ter. Em momentos de decisões tal qual esse que agora vivemos, ela costura, diariamente, sorrateiramente, tramas mal desenhadas para por em xeque nossa capacidade de decisão. Para ela, a realidade é um jogo de xadrez, ou uma novela das oito, facilmente manipulável e se possível o extremo do drama. Mas, como num jogo de xadrez ou numa novela das oito é preciso que nós, jogadores ou telespectadores, não acreditemos piamente no lance dado pelo adversário e nem pelo engodo do vilão, corremos o risco de perder o jogo ou de ser pego de surpresa por algo que não esperávamos que pudesse suceder a nós.

Nota: Emprego o termo mídia para o conjunto de meios jornalísticos, que não necessariamente a TV.


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