Francisco Miguel de Moura

Por Pedro Fernandes



Há escritores que lemos uma única vez duas linhas e não esquecemos dele nunca mais. Adormecemos a lembrança, mas basta um spleen e trazemos de volta para nós. Assim foi quando li pela primeira vez o português José Saramago em seu Evangelho segundo Jesus Cristo. Assim foi também quando li pela primeira vez o poeta brasileiro Francisco Miguel de Moura em seu Poesia incompleta ainda quando da Graduação em Letras. Há nesse livro um poema cujo título não me vem à cabeça agora, mas que as imagens nele evocadas me marcou o suficiente para, mais tarde, eu compor um outro poema intitulado "cadáveres adiados", que está no e-book Palavras de pedra e cal

O fato de citar Francisco Miguel Moura por aqui é que à cata de alguma novidade na mesma biblioteca em que me deparei com Poesia incompleta reencontrei esse livro. E relembrei disso tudo que comentei anteriormente. E vi ainda que, por ser esse um poeta que tanto me marcou, é uma injustiça não ter ainda disposto seu nome na galeria d'Os escritores - coluna esparsa deste blog.

Num texto que mais que apresenta, diz o fazer poético de Francisco Miguel e suas engrenagens, Nelly Novaes Coelho, no já referido Poesia incompleta apresenta que o poeta se constitui enquanto tal por um caminho "incerto, hesitante, tateando o desconhecido, mas já pressentindo a grande força da poesia como nomeadora do Real". Diz isso ao referir-se ao seu livro de estreia, publicado ainda em 1966, Areias.

Recorto essa passagem do texto da professora por uma razão: ao ver que o imagético é uma estrutura de estatura óssea e envergadura tanta na obra do poeta de Poesia incompleta; tanto capaz de propiciar no leitor outras experiências com a linguagem, esse imagético guia-se, sobretudo, por um entendimento de a poesia, se não explica o real porque afinal toda tentativa linguística talvez possa se resumir a isso, funda um real próprio. Um universo com suas cadências próprias.

Francisco Miguel é exímio poeta, sim, mas descobri sê-lo também cronista, romancista, ensaísta e crítico literário e tudo justaposto à função de bancário. É de Francisco Santos, Piauí. Bacharelou-se em Literatura e Língua Portuguesa e fez Pós-graduação em Crítica de Arte.

Além de Areias e Poesia incompleta publicou os seguintes livros de poesia Pedras em sobressalto, Universo das águas, Bar Carnaúba, Quinteto em mi(m), Sonetos da paixão, Poemas Ou-tonais; os de ensaio Linguagem e comunicação em O. G. Rego de Carvalho, A poesia social de Castro Alves; os de romance Os estigmas, Laços de poder, Ternura; os de crônicas Eu e meu amigo Charles Brown, .. E a vida se fez crônica, entre outras obras.

Ligações a esta post:
>>> No blog do Caderno-revista 7faces é possível ler poemas de Francisco Miguel 
>>> Acesse a página do e-book palavras de pedra e cal e leia "cadáveres adiados."


* Essas notas foram escritas tomando por base o texto de Nelly Novaes Coelho, "Francisco Miguel: 30 anos de tensa comunhão com a palavra" e informações no Jornal de Poesia.

Comentários

CHIICO MIGUEL disse…
Meu caro Pedro,
Foi uma surpresa encontrar-me aqui e encontrar-te também. Surpresas da vida que fazem a felicidade. Ah, foram tantos elogios a mim, que fico meio envergonhado. Você escreve também quanto nós mais velhos, escritores chamados profissionais, mas que nunca ganharam um tostão. Mas elogios como o seu pagam e ainda merecem troco.
Abrace é esto novo amigo,
francisco miguel de moura
Pedro Fernandes disse…
Estimado Francisco Miguel, até passei uma vista nessas notas a fim de aplainar os erros - que como pude ver, não eram poucos. A mim apenas fica minha gratidão pelo seu trabalho; num mundo em tão acelerado processo de decadência a poesia é aquilo que mais necessitamos. E num universo onde todos se querem poetas, os de que fato merecem essa alcunha são raros. Considere-se uma dessas raridades. A opinião em relação a parte de sua obra é sincera. Abraço!

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